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Guerra, terrorismo de Estado e condição (des)humana

War, state terrorism and the (in)human condition

Resumo

Sob a inspiração do texto “Guerra, Terrorismo e Condição Humana”, de Antonio Valverde, o presente artigo busca discutir a questão da guerra, apontando as disparidades de gênero e de classe que ela comporta; tratando-a como um tipo de terrorismo de Estado e discutindo a condição desumana decorrente de todas as guerras, exemplificada por dois clássicos do cinema mundial.

Palavras-chave:
Valverde; Guerra; Terrorismo de estado.

Abstract

Under the inspiration of text “War, Terrorism and the Human Condition” by Antonio Valverde, this text seeks to discuss the issue of war, pointing out the gender and class disparities that it entails; treating it as a type of state terrorism and discussing the inhuman condition resulting from all wars, exemplified by two classics of world cinema.

Keywords:
Valverde; War; State terrorism.

“A arte da guerra se baseia no engano.”

Sun Tzu, A arte da guerra

Introdução

O nosso homenageado, Professor Titular do Departamento de Filosofia da PUCSP, Antonio José Romera Valverde, ao longo de quatro décadas e meia, construiu uma notável carreira acadêmica e uma vasta e diversificada produção intelectual, dentro da qual, após certa dificuldade de escolha, para inspirar este escrito, foram selecionados dois textos: “Guerra e condição humana - pausa e intervalo”, publicado na revista Margem1 1 Revista da Faculdade de Ciências Sociais e dos Programas de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais e História, da PUCSP, que não é mais editada desde 2003. , da PUCSP, em 2001 e “Guerra, Terrorismo e Condição Humana”, ao qual nosso título faz alusão, publicado na Revista de Filosofia Aurora, da PUCPR, em 2003, por abordarem a temática da guerra que - dado o preocupante momento em que vivemos - tem pautado inúmeras reflexões e escritas recentes. Todavia, como o primeiro texto não foi localizado, até o termina desta escrita2 2 VALVERDE, A. Guerra e Condição Humana - Pausa e Intervalo. Disponível em: https://protopia.fandom.com/pt-br/wiki/Guerra_e_Condi%C3%A7%C3%A3o_Humana_%E2%80%93_Pausa_e_Intervalo. Acesso em: 28 jun. 2023. , apenas o segundo pôde servir de mote a este modesto tributo3 3 Conforme o próprio autor, porém, o texto de 2001 constitui uma versão inicial do texto de 2003. .

Nesse artigo, Valverde, como sempre, brinda o leitor com sua inconteste erudição, tratando o tão árido tema da guerra, não apenas pelo viés da filosofia (Nietzsche e Foucault), mas também da literatura e do cinema. Por coincidência, há pouco tempo, antes mesmo de ler o texto de nosso querido multisciente, eu também abordei o tema numa palestra4 4 Apresentada no Colóquio “Guerra e História: os conflitos bélicos na formação do mundo contemporâneo”, organizado pelo Curso de Licenciatura em História, da FIH da UFVJM, em maio de 2022, da qual alguns trechos foram retirados para compor o presente texto. , articulando a filosofia de modo indireto com a literatura e direto com o cinema, mas, com certeza, de forma menos ilustrada, citando dois filmes, um dos quais, inclusive, foi também mencionado por Valverde no seu excelente escrito.

Feitas essas observações iniciais, vale notar ainda que, além das duas décadas que separam o texto inspirador desta modesta exposição, é preciso marcar o momento histórico em que cada um surgiu. O primeiro foi escrito após o fatídico 11 de setembro de 2001 e este em 2022, em pleno contexto da guerra (ainda não assumida) da Rússia contra Ucrânia. Seguramente, eles se referem a contextos diferentes, que ensejam reflexões também diferentes, embora, inegavelmente, conexas, não só por versarem sobre um tema comum: a guerra, mas por partirem da mesma inquietação: a filosófica.

Aqui, nosso objetivo é retomar e trazer para os dias de hoje alguns relevantes pontos ali tratados por Valverde. Contudo, como nosso título anuncia, aproximaremos a guerra não apenas ao terrorismo de modo geral, mas, a um tipo bem específico, o terrorismo praticado pelo Estado. Ademais, ela será tratada não como um episódio que marca e revela a chamada ‘condição humana’, mas, ao contrário, como algo que a põe em perigo e, nesse sentido, se revela como um elemento da ‘condição’ desumana ou, em outros termos, como algo que torna o Homem menos humano ou pior: desumano.

Para desenvolver nossa argumentação, em sintonia com o texto de nosso mentor, outros autores serão evocados, além de dois importantes tesouros da cinematografia mundial: o filme Guerra e paz (1956), também citado por Valverde e o filme Alemanha, ano zero (1948).

Desse modo, a exposição será feita em três diferentes momentos, buscando abordar cada um dos aspectos do título, a saber: 1. A guerra e duas inconvenientes disparidades: de gêneros e de classes; 2. Quando terrorista é o Estado e 3. A guerra no cinema e a condição (des)humana, seguidos de breves Considerações finais.

1. A guerra e duas inconvenientes disparidades: de gêneros e de classes

De saída, é essencial assentarmos o conceito de guerra. Valverde, inspirado por Debord, afirma que, já na virada dos séculos XX e XXI, tanto a guerra quanto o terrorismo se converteram - aliás, como quase tudo - em espetáculo. Mas Valverde é atento ao acrescentar que “na guerra transformada em espetáculo, o que se derrama não é sangue cênico.” (VALVERDE, 2003VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964.
https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964...
, p. 12). Assim, cabe ainda definir o que é guerra.

Partindo de uma definição mais geral, temos que: “Guerra refere-se, na sua acepção mais habitual, à luta armada ou ao conflito bélico entre duas ou mais nações ou bandos.5 5 Aspecto que, deliberadamente, será deixado de lado, pois nosso foco são os conflitos entre as nações. Implica o rompimento de um estado de paz e dá origem a um confronto com todo o tipo de armas e que costuma provocar um elevado número de mortes6 6 Ou seja, embora o desfecho de qualquer guerra seja incerto, a única certeza que podemos ter, assim que ela é declarada, é a de que seu resultado ou ‘saldo’ será o de inúmeras mortes. Tantas mais quanto maior for a sua duração. .”7 7 Fonte: https://conceito.de/guerra. Acesso em: 23/05/2022.

Uma das principais referências sobre o tema, o teórico militar prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831) definiu a guerra como a “continuação da política por outros meios” (CLAUSEWITZ, 2014CLAUSEWITZ, C. von. Da Guerra [1827]. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2014. 845 p., [1827] p. 70).8 8 Segundo Michael Hardt, “Em suas palestras de 1976 no Collège de France, Michel Foucault invocou essa relação transformada entre política e guerra, ‘a inversão da fórmula de Clausewitz’, para apreender o funcionamento do poder (...). Quando Carl von Clausewitz, o teórico militar prussiano do século XIX, famosamente disse que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, ele pretendia enfatizar que a diplomacia entre Estados (que era o que ele primariamente queria dizer com “política”) não cessava com a eclosão da guerra, mas continuava, de outras formas. Ou, em outras palavras, o confronto militar não marca o fim da mediação política, mas sua persistência de um modo diferente.” Michael Hardt, “Guerra por outros meios”. Disponível em https://lavrapalavra.com/2021/03/17/guerra-por-outros-meios/ Acesso em 28/05/2022. Foucault, portanto, adota a lógica de Clausewitz, invertida: “a política é a mera continuação da guerra por outros meios”. Embora interessante, essa definição não diz muito sobre o seu objeto e seria de pouca valia para alguém que não tivesse a menor noção do que seja a guerra. Seria também preciso esclarecer que a guerra é um conflito armado, mesmo que nem todos os conflitos armados sejam, de fato, guerras. Portanto, seria ainda necessário, conforme Álvaro Nunes, explicitar que:

os conflitos armados intencionais de larga escala, mobilizando as forças armadas e uma importante parte dos recursos, em homens, meios e bens, de comunidades políticas, que são ou pretendem vir a ser estados (sic) são considerados guerras. (...) estes conflitos têm de ser sempre relativos ao governo de um território (...). Os exemplos clássicos de guerras são as guerras entre estados (sic), como as duas guerras mundiais. Mas as guerras civis, como a Guerra Civil Espanhola, e as guerras de guerrilha (...) são também guerras. [Enfim, as guerras] São conflitos entre comunidades políticas que pretendem governar ou influenciar o governo de um território e essas são as características essenciais de todas as guerras (NUNES, 2015NUNES, Á. Teorias filosóficas sobre a guerra. Crítica na rede, 2 de julho de 2015. Disponível em: https://criticanarede.com/anunesaguerra.html. Acesso em: 11 maio 2022.
https://criticanarede.com/anunesaguerra....
, pp. 1-2. Grifos nossos.).9 9 Álvaro Nunes, “Teorias filosóficas sobre a guerra” (pp. 1-2). Disponível em: https://criticanarede.com/anunesaguerra.html. Acesso em: 11/05/2022.

Para ampliar esta discussão, traremos alguns relevantes aspectos abordados no best-seller Sapiens - Uma breve história da humanidade, do escritor israelense Yuval Noah Harari (1976-), publicado em 2014. Embora o livro como um todo seja muito interessante, aqui, enfocaremos apenas os comentários que Harari faz acerca do tema.

Ele começa fazendo uma crítica ao que chama de ‘poder dos músculos’10 10 Título da sexta seção (pp. 162-163) do Capítulo 8 (Não existe justiça na história - pp. 141-168), da Parte II (A Revolução agrícola - pp. 85-168). , para desmitificar a ideia de que a força física, geralmente, atribuída mais aos homens que às mulheres - o que, de fato, nem sempre é comparativamente verdade - seja o fator preponderante para explicar o poder ou a maior relevância social dos homens em relação às mulheres. Harari defende que, na maioria das vezes, são as habilidades intelectuais e sociais e não as capacidades físicas que determinam a supremacia masculina. Declaração ainda mais polêmica que, com certeza, mereceria uma profunda discussão crítica. Contudo, para não fugir ao nosso tema, voltaremos ao texto, pois, no que se segue, Harari afirma que:

Outra teoria explica que a dominância masculina resulta não da força, mas da agressão. Milhões de anos de evolução tornaram os homens muito mais violentos que as mulheres. As mulheres podem se igualar aos homens no que diz respeito a ódio, ambição e violência, mas, quando a situação fica crítica, em tese, os homens estão muito mais dispostos a partir para a violência física. É por isso que, em toda a história, a guerra sempre foi uma prerrogativa masculina (HARARI, 2017HARARI, Y. N. Sapiens - Uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2017. 464p., p. 163. Grifos nossos.).

Harari continua, declarando que:

Em tempos de guerra, o controle dos homens sobre as forças armadas também os transformou nos senhores da sociedade civil. Eles, então, usaram o controle que tinham sobre a sociedade civil para travar cada vez mais guerras, e quanto maior o número de guerras, maior o controle dos homens sobre a sociedade. Esse ciclo retroalimentado explica tanto a onipresença da guerra quanto a onipresença do patriarcado (HARARI, 2017HARARI, Y. N. Sapiens - Uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2017. 464p., pp. 163-164).

Estranhamente, a seguir, Harari, ao invés de questionar a própria ocorrência das guerras, interroga por que as mulheres não puderam participar ativamente delas, como se isso fosse, realmente, resolver a milenar desigualdade entre homens e mulheres. Ao fazer isso, porém, Harari traz à baila outra inadmissível disparidade que também se torna, ainda mais, evidente nas guerras. Conforme o autor:

De fato, em inúmeras sociedades ao longo da história, os oficiais de mais alto escalão não começaram como soldados. Aristocratas, pessoas ricas e bem instruídas eram automaticamente designadas a patentes mais altas, sem nunca terem servido um único dia como soldados.

Quando o duque de Wellington, inimigo de Napoleão, se alistou no exército britânico aos 18 anos, foi imediatamente nomeado oficial. Ele não tinha muita consideração pelos plebeus sob seu comando. “Temos nas forças armadas a escória da Terra na função de soldados comuns”, escreveu a um companheiro aristocrata durante a guerra contra a França. Esses soldados comuns costumavam ser recrutados entre os mais pobres ou entre minorias étnicas (como os católicos irlandeses). A chance de subirem na hierarquia militar era irrisória. Os postos superiores estavam [como sempre estiveram] reservados para duques, príncipes e reis (HARARI, 2017HARARI, Y. N. Sapiens - Uma breve história da humanidade. Porto Alegre: L&PM, 2017. 464p., p. 164).

Essa declaração, revoltantemente elitista e classista, expressa, sem qualquer escrúpulo, o pensamento daqueles que declaram e se beneficiam com as guerras, usando, para isso, a parcela que definem como ‘a escória da sociedade’11 11 Título da sétima seção (pp. 163-165) do mesmo Capítulo 8, mencionado na nota anterior. . Desse modo, fica evidente que a guerra sempre serviu aos interesses dos homens pertencentes às classes dominantes, usando, sem o menor remorso ou pudor, os homens das classes subalternas.

Enquanto isso, nas narrativas épicas ou trágicas, às mulheres coube os lugares menos heroicos, que vão desde: motivo de uma guerra (como a bela Helena, esposa de Menelau), de virgem sacrificada (como Ifigênia) pelo próprio pai (Agamenon) visando atrair os bons ventos para a partida das embarcações, de butim (como a jovem troiana Criseida, que Agamenon ‘furtou’ ao bravo Aquiles), de esposa à (‘eterna’) espera (como a fiel Penélope, esposa de Ulisses), de irmã zelosa e destemida (como Antígona, que entregou sua vida ao contrariar as ordens do rei Creonte e enterrar seu irmão Polinice). De fato, pouquíssimas vezes na história foram guerreiras, como a francesa, que se tornou mártir, Joana d’Arc12 12 Que, sintomaticamente, não foi sequer citada por Harari. (1412-1431), ou a baiana Maria Quitéria (1792-1853), que lutou na Guerra pela independência do Brasil (1822).

Portanto, o que se constata é que as mulheres, juntamente com as crianças, os idosos e as pessoas com alguma deficiência, foram as principais vítimas de todas as guerras já travadas pelos homens, inclusive, como objetos de violência sexual, amplamente cometida pelos soldados e tolerada em todos os tempos.

Pode-se concluir que a guerra reflete duas inconvenientes disparidades, pois sempre serviu aos homens mais ricos e poderosos para se imporem não só às mulheres e pessoas mais indefesas, mas também a outros homens, sobretudo os mais pobres, como forma de demonstração do poder político, econômico e bélico ou, para simplificar, em termos psicanalíticos, fálico. Pois, no fundo, no fundo parece que é disso que se trata. As guerras servem à sede de poder, o que, por sua vez, parece ter a função de demonstrar (ou compensar) o tamanho ou a performance de seus venerados órgãos.13 13 Embora isso seja praticamente uma regra entre os homens, de forma geral, entre aqueles que vivem do e pelo poder essa questão é ainda mais determinante. É emblemático, o caso do ex-presidente norte-americano Lyndon B. Johnson (1963-1969), que não escondia de ninguém sua obsessão por seu pênis, que ele chamava ‘delicadamente’ de Jumbo. Cf. https://www.rfi.fr/br/americas/20161104-casa-branca-casa-de-loucos-ironiza-jornal-frances - Acesso em 30/10/2022.

2. Quando terrorista é o Estado

Ao abordar o tema do terrorismo, Valverde atesta que “segundo os libertários espanhóis: terrorismo é a “pedagogia dos fatos”, que expõe mazelas e fragilidades da tecnoburocracia contemporânea.” (VALVERDE, 2003VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964.
https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964...
, p. 12). Essa afirmação instigante merece ser comentada, algo que o próprio autor, obviamente, faz. Mas, antes de trazer uma de suas considerações sobre ela e sobre o tema desta seção, cabe elucidar que “O conceito moderno de terrorismo começou a ser gestado durante o Regime de Terror na França pós-Revolução, quando o governo ditatorial impunha o medo e a intimidação violenta como forma de levar adiante seu projeto político.” (BRASIL, Arquivo Nacional, 2021BRASIL, ARQUIVO NACIONAL, QUE REPÚBLICA É ESSA? Terrorismo de Estado. Arquivo Nacional, Que república é essa? - Portal de estudos do Brasil republicano, 13 de maio de 2021. Atualizado em 08 de junho de 2021. Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte-uma-historia/306-terrorismo-de-estado.html. Acesso em: 28 out. 2022.
http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte...
).14 14 Fonte: http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte-uma-historia/306-terrorismo-de-estado.html - Acesso em 28/10/2022. Ou seja, tal como o conhecemos hoje, o terrorismo tem suas raízes, no fim do século XVIII, nas ações de um governo que decidiu se impor pela violência.

Cem anos mais tarde, anarquistas apropriaram-se do termo, transformando-o em ferramenta política com o intuito de alterar a ordem vigente. Ao longo do século XX, atos terroristas foram apresentados cada vez mais pela mídia e pelos governos como atos ilegítimos e violentos contra pessoas inocentes na busca por um objetivo político por parte de grupos minoritários (BRASIL, Arquivo Nacional, 2021BRASIL, ARQUIVO NACIONAL, QUE REPÚBLICA É ESSA? Terrorismo de Estado. Arquivo Nacional, Que república é essa? - Portal de estudos do Brasil republicano, 13 de maio de 2021. Atualizado em 08 de junho de 2021. Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte-uma-historia/306-terrorismo-de-estado.html. Acesso em: 28 out. 2022.
http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte...
).

Assim, no século passado, surge o que atualmente identificamos como terrorismo, enquanto ações de grupos ‘extremistas’ contrários aos governos vigentes. Entretanto, é preciso frisar que “O terrorismo também é uma arma utilizada por alguns governantes, em especial em ditaduras (teocráticas ou não): de Hitler a Pinochet e Hussein, ditadores de variados matizes ideológicos assassinaram pessoas por trás das cortinas do poder, livrando-se de inimigos de forma ilegal e violenta. A isto se dá o nome de terrorismo de Estado.” (BRASIL, Arquivo Nacional, 2021BRASIL, ARQUIVO NACIONAL, QUE REPÚBLICA É ESSA? Terrorismo de Estado. Arquivo Nacional, Que república é essa? - Portal de estudos do Brasil republicano, 13 de maio de 2021. Atualizado em 08 de junho de 2021. Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte-uma-historia/306-terrorismo-de-estado.html. Acesso em: 28 out. 2022.
http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte...
).

Desse modo, é imprescindível distinguir entre o terrorismo em geral e o terrorismo de Estado. E, infelizmente,

No Brasil, os regimes autoritários instalados entre 1937-1945 e 1964-1985 além de impor pelas armas uma legislação autoritária, fizeram amplo uso de ações ilegais de intimidação e repressão (sequestros, desaparecimentos, mortes, bombas). Com a desculpa de que o “inimigo” (opositores do regime) andava armado e pretendia derrubar o Estado - supostamente - legítimo, tais governos dispensaram o uso da legislação vigente que eles mesmos haviam imposto (e que ainda lhes pareciam “limitantes”) e não só permitiram, mas incentivaram práticas de tortura e assassinato de adversários (BRASIL, Arquivo Nacional, 2021BRASIL, ARQUIVO NACIONAL, QUE REPÚBLICA É ESSA? Terrorismo de Estado. Arquivo Nacional, Que república é essa? - Portal de estudos do Brasil republicano, 13 de maio de 2021. Atualizado em 08 de junho de 2021. Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte-uma-historia/306-terrorismo-de-estado.html. Acesso em: 28 out. 2022.
http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte...
).

Após recordar um dos mais tristes períodos da nossa história, é preciso também apontar que o Estado pode praticar (ou promover) uma ação terrorista de diferentes modos: não só quando, ‘tradicionalmente’, faz uso “de ações ilegais de intimidação e repressão” contra seus adversários internos, mas, também, quando recruta sua população e/ou a expõe à violência de outra nação considerada inimiga, para alcançar seus próprios fins (quase sempre) ilegítimos, com base na chamada razão de Estado15 15 “Conceito fundamental para se compreender o Estado moderno, a razão de Estado (raison d’État) estabelece ao governante o imperativo de uso da força estatal e dos demais meios que forem necessários para a manutenção do poder. De origem atribuída aos escritos de Nicolau Maquiavel, a razão de Estado obteve amplo desenvolvimento e aplicação sob a ascensão dos governos absolutistas na Europa moderna; posteriormente, no século XX, ganharia novo fôlego como prática adotada por governos autoritários ao redor do globo.” Cf. “Estudo sobre a formação do conceito de razão de estado” Eugênio Mattioli Gonçalves (Bolsista PIBIC/CNPq) e Prof. Dr. Roberto Romano da Silva (Orientador), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH, UNICAMP. Disponível em https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xixcongresso/resumos/081262.pdf - Acesso em 30/10/2022. , expondo-a a um elevado risco, certamente desnecessário, comprometendo a sua forma, mas, pior, sua possibilidade de existência. É o que ocorre, portanto, numa guerra.

A História da Humanidade, lamentavelmente, é plena desses exemplos, mas, para ficar só nos mais recentes, poderíamos citar as guerras da Síria, ou a dos EUA contra o Afeganistão, ou a guerra da Rússia contra a Ucrânia, em que se pode observar, com justificada indignação, que os Estados, alegando que as nações declaradas inimigas promovem ou abrigam grupos que praticam algum tipo de terrorismo, destroem completamente (material e espiritualmente) tais países, reduzindo suas populações sobreviventes a uma massa de refugiados. Logo, o terrorismo de Estado pode ser contra a própria população ou contra a de outros países com os quais se trava uma guerra.

Voltando à afirmação de Valverde, trazida no início desta seção, caberia, agora, inserir o comentário que ele acrescenta a ela em seguida:

Regressamos à antiga fórmula: em política também há leis físicas, em especial a da gravidade: sobressai-se, em geral, o que primeiro produz fatos e os divulga abertamente. Política, sob um enfoque imediatista, apresenta-se como a arte do controle social e de desnaturar palavras. Neste último round, o terror parece ter saído à frente. E o “lego-mental” finda incompleto dada dificuldade de encaixar a peça “terrorismo”, em cena desde os zelotes em guerra de guerrilhas contra os romanos (VALVERDE, 2003VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964.
https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964...
, p. 13).

Valverde oferece uma interessante definição de política “como a arte do controle social e de desnaturar palavras”; nada mais adequado para descrever a realidade do Brasil atual. Além disso, ele reconhece a existência do terrorismo já nos primeiros exércitos do Ocidente. Em seguida, ele fecha seu comentário com um tom didático e também, algo bem a seu gosto, poético:

Se o terror opera pela “pedagogia dos fatos” e como quer a poeta paulista Fontela ( 1996, p. 39), “...fatos/ são pedras duras./ Não há com[o] fugir. / Fatos são palavras/ ditas pelo mundo”, a globalização, que é sinônimo de padronização cultural, econômica, política, não conseguiu - não tem conseguido - assimilá-lo e incorporá-lo. Eis a questão! Eis o desafio. Poderá assimilá-lo? Poderá eliminá-lo? Se nenhum futurólogo de plantão nos socorre.” (VALVERDE, 2003VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964.
https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964...
, p. 13).

Nesse sentido, vivemos sob a égide da chamada ‘globalização’, que tenta ocultar a imposição do terror ou terrorismo de Estados, que se voltam contra as populações do Mundo (as próprias e as dos países reduzidos à posição de inimigos, quer vizinhos ou distantes). Em outros termos, vivemos hoje o império do terrorismo de Estado e as consequências não poderiam ser mais lamentáveis e catastróficas, sobretudo, quando, graças às ultra avançadas tecnologias, as armas usadas são cada vez mais destrutivas e seus efeitos potencialmente irreversíveis. Não por acaso, segundo Valverde, “A condição humana na atualidade tem qualquer coisa, ou muita coisa de ‘fáustica’.”16 16 Lembrando que o termo fáustico se refere “a Fausto, personagem literária e dramática que vende a alma ao diabo em troca de poder e privilégios, inspirada num astrónomo e necromante alemão do século XVI e celebrizada pelo escritor Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). [Em sentido] figurado revela avidez ou excessiva paixão pelo saber e pelo poder [e também se refere àquilo] que traz vantagens imediatas mas implica consequências perniciosas no futuro. Fonte: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/f%C3%A1ustico - Acesso em: 29/10/2022. (VALVERDE, 2003VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964.
https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964...
, p. 16).

Para encerrar, na próxima seção, buscaremos ‘ilustrar’ os efeitos perniciosos das guerras, citando dois filmes que abordam de forma exemplar esse complexo tema.

3. A guerra no cinema e a condição (des)humana

Para esta terceira e última parte, dentro da vasta cinematografia sobre guerras, escolhemos dois filmes clássicos, a fim de ‘ilustrar’ nossa exposição. Lembrando que o primeiro também consta na ampla e bem cult lista que Valverde oferece em seu artigo (Cf. VALVERDE, 2003VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964.
https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964...
, p. 15).

a. Filme Guerra e paz (1956)

Inspirado na obra prima do escritor russo Leon Tolstói, estrelado pela irretocável Audrey Hepburn (Natasha Rostova) e pelo galã Henry Fonda, interpretando o jovem Pierre Bezukhov que, embora filho ilegítimo, com a morte do pai - que só o reconhece no leito de morte - herda toda a fortuna e o título de conde, tornando-se um cobiçado pretendente. Nas primeiras cenas, vemos os dois jovens, da janela de um belo casarão, assistindo ‘maravilhados’ à marcha dos soldados russos que se preparam para defender o país da iminente invasão de Napoleão, a quem o desavisado Pierre declara admirar, apesar de confessar, mais adiante, não compreender ‘por que os homens vão à guerra?’

Para além dos dramas pessoais e familiares vividos pelos protagonistas durante as quase três horas e meia de filme, compreendemos que não existe uma resposta única a tal questão: há os que buscam poder e glória, os que querem provar sua virilidade, os que querem escapar de suas vidas vazias, além daqueles que se alistam por puro (e ingênuo) patriotismo, sem falar daqueles (talvez a grande maioria) que não tiveram opção (representando a tal da “escória”, nas execráveis palavras do duque de Wellington).

Portanto, embora nada razoável, a guerra atende a várias ‘razões’ de caráter subjetivo, mas, como veremos nas considerações finais, há um fator objetivo que, além da sede de poder, inegavelmente, sempre determinou a ocorrência das guerras: o interesse econômico.

Mas, para voltar ao filme, uma das cenas mais emblemáticas é a de Pierre Bezukhov, no campo de batalha, inicialmente como mero espectador, em seguida como alguém que se envolve e, finalmente, se dá conta dos horrores da guerra e, nesse momento, amaldiçoa Napoleão que, até então, tanto admirava. Configurando o que na teoria teatral ou cinematográfica é conhecido como plot twist.17 17 “Plot twist é uma reviravolta inesperada no enredo de um filme ou série, que muda completamente o resultado final de uma história ficcional.” Fonte: https://www.significados.com.br › plot-twist - Acesso em 30/10/2022.

b. Alemanha, ano zero (1948)

Foi o outro filme escolhido para abordar os horrores da guerra. Germania anno zero, no título original, é um clássico do neorrealismo italiano, dirigido pelo cineasta Roberto Rossellini (1906-1977). Ele retrata a dura vida de Edmund, uma criança de 12 anos que, nos escombros da Berlim do pós-guerra, busca de todas as maneiras possíveis sustentar sua família: um pai doente, sua jovem irmã e seu irmão, ex-soldado nazista que se esconde das autoridades, por medo de ter de responder por seus crimes de guerra.

O filme mostra a dura realidade de um povo destruído pela guerra e a dificuldade de se preservar a vida e a dignidade em tão adversa situação. O desespero e a falta de perspectiva conduzem o personagem a um trágico desfecho. Mas o ponto mais relevante para nossa reflexão é o fato de mostrar que a guerra impõe a suspensão não só da normalidade, mas, também, das normas, tanto legais quanto morais. A guerra instaura uma espécie de ‘vale tudo’ e, mesmo quando ela termina, a normalidade não retorna imediatamente, a vida se torna miserável, não apenas do ponto de vista material, o que é muito bem representado pelos escombros, mas também do ponto de vista humano. Pois as pessoas, reduzidas ao mais baixo nível da ‘sub-existência’, perdem suas referências e se tornam capazes de qualquer coisa, mesmo contra aqueles que mais amam.

Os dois filmes elucidam as condições desumanas a que as pessoas são submetidas durante e, mesmo, depois das guerras. É nesse sentido que podemos considerar que as guerras, longe de expressarem aquilo que Valverde defende no seu texto como a condição humana, ao contrário, representam um risco, uma grave ameaça a tudo que é próprio do humano, não apenas no plano material, mas também cultural, político, intelectual, ou seja, também no âmbito espiritual.

A seguir, passaremos às nossas...

Considerações finais

Ao longo deste texto, buscamos abordar: 1. A questão da guerra apontando as disparidades de gênero e de classe que elas comportam; 2. A questão do terrorismo de Estado; e 3. A condição desumana decorrente de todas as guerras, exemplificada pelos dois clássicos do cinema mencionados.

Após a breve exposição desses relevantes temas, trazidos para pensarmos a nossa preocupante situação atual, frente a todos os riscos colocados pela escalada armamentista, que prenuncia um iminente conflito global, caberia perguntar: ainda que (supostamente) ‘necessária’, a guerra é, ainda hoje, justificável?

É sabido que, após a criação da bomba atômica e de tantos outros armamentos nucleares altamente sofisticados e letais, as guerras estão cada vez mais destrutivas, por isso, cada vez mais, é necessário, a todo custo, evitá-las, no entanto, ao contrário, elas estão cada vez mais recorrentes, pois há aqueles que ganham e muito com a sua realização. De fato, se a guerra não fosse um negócio tão lucrativo, certamente, elas não existiriam mais. Mas há toda uma indústria da guerra, que fatura cifras estratosféricas às custas da dor, morte e sofrimento de inúmeras pessoas, anualmente, em todo o mundo.

Por seu turno, os governantes, em nome de uma suposta ‘razão de Estado’, impõem a ‘seus’ povos - e aos demais tornados inimigos -, um fardo extremamente pesado, seja para aqueles que se dispõem a lutar e, mesmo, a morrer para defenderem os interesses de seu país (ou, na maioria das vezes, daqueles que exercem o poder político ou econômico), seja daqueles que, mesmo não se engajando diretamente nas lutas, são as principais vítimas dos bombardeios, das atrocidades praticadas pelos ‘inimigos’; não raro, sendo reduzidos à condição de refugiados, expatriados que, subitamente, são tornados miseráveis, fadados a vagar como apátridas por terras em que quase nunca são bem-vindos. O que, lamentavelmente, se constata nos inúmeros relatos de casos de xenofobia nos países da Comunidade Europeia.

Nesse sentido, como vimos, o Estado é responsável por praticar um tipo ainda mais inadmissível de terrorismo, porque é realizado por aquele(s) que, supostamente, deveria(m) proteger a sua população. A guerra é e, na verdade, sempre foi o mais funesto exemplo de terrorismo de Estado e quanto maior o avanço da tecnologia bélica, mais essa afirmação se mostra verdadeira.

Lamentavelmente, é desumana a condição a que as pessoas são reduzidas durante e/ou depois das guerras - uma vez que, mesmo quando não morrem, são feitas prisioneiras, ou são forçadas a sobreviver nos locais em que os conflitos ocorreram, e a ‘reconstrução’ não é imediata e jamais será eficiente o bastante. Pois, de fato, jamais será possível voltar à vida de antes e a humanidade - mais até do que os prédios e cidades - se vê completamente destruída, sendo impossível reparar toda a destruição material e espiritual, humana e ambiental provocada.

Por tudo o que foi dito, é preciso reafirmar o que o título de nossa exposição anunciou: a guerra é sim, cada vez mais, uma expressão inequívoca do terrorismo de Estado(s) e causa da mais cruel desumanização da condição de nossos semelhantes.

Se muitas guerras foram e ainda são declaradas sob a alegação da chamada ‘razão de Estado’, é preciso pôr fim a essa tragédia, com base nas razões da vida. O Estado não pode estar acima da vida, sobretudo, porque ele existe para assegurar, entre outros, esse que é um dos direitos naturais de todo indivíduo. E quando, em função das guerras, isso se torna uma ameaça real, não apenas as vidas humanas se veem destruídas ou reduzidas a uma condição desumana, mas a própria existência daquele que as promovem, visando atender os seus desejos fáusticos (retomando o que apontou nosso homenageado) de poder, isto é, o Estado também se coloca sob ameaça, pois se não houver vida humana, também não haverá Estado, nem ninguém para (quem) exercer o poder.

É preciso concordar com as sábias palavras de Valverde, sobre o espírito fáustico de nosso tempo, uma vez que hoje, mais do que no pior momento do século XX, as guerras têm potencial para desencadear uma reação/destruição de proporções catastróficas e até mesmo apocalípticas para a nossa espécie e parte significativa (se não toda) da biosfera.

Frente à tão terrível constatação, é preciso reconhecer que, apesar de todo avanço da nossa civilização tecnológica (expressão que subintitula a obra mais conhecida de Hans Jonas, um dos filósofos a quem Valverde se dedica), nós nunca estivemos tão próximos de um desastre de proporções globais, que expõe à humanidade a um risco real de desumanização, senão da simples e crua aniquilação.

  • 1 Revista da Faculdade de Ciências Sociais e dos Programas de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais e História, da PUCSP, que não é mais editada desde 2003.
  • 2 VALVERDE, A. Guerra e Condição Humana - Pausa e Intervalo. Disponível em: https://protopia.fandom.com/pt-br/wiki/Guerra_e_Condi%C3%A7%C3%A3o_Humana_%E2%80%93_Pausa_e_Intervalo. Acesso em: 28 jun. 2023.
  • 3 Conforme o próprio autor, porém, o texto de 2001 constitui uma versão inicial do texto de 2003.
  • 4 Apresentada no Colóquio “Guerra e História: os conflitos bélicos na formação do mundo contemporâneo”, organizado pelo Curso de Licenciatura em História, da FIH da UFVJM, em maio de 2022COLÓQUIO GUERRA E HISTÓRIA OS CONFLITOS BÉLICOS NA FORMAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO. Diamantina, 2022. FONSECA, L. S. G. Guerra: regra ou exceção? Diamantina. Anais... Colóquio Guerra e História: os conflitos bélicos na formação do mundo contemporâneo, 2022., da qual alguns trechos foram retirados para compor o presente texto.
  • 5 Aspecto que, deliberadamente, será deixado de lado, pois nosso foco são os conflitos entre as nações.
  • 6 Ou seja, embora o desfecho de qualquer guerra seja incerto, a única certeza que podemos ter, assim que ela é declarada, é a de que seu resultado ou ‘saldo’ será o de inúmeras mortes. Tantas mais quanto maior for a sua duração.
  • 7 Fonte: https://conceito.de/guerra. Acesso em: 23/05/2022.
  • 8 Segundo Michael Hardt, “Em suas palestras de 1976 no Collège de France, Michel Foucault invocou essa relação transformada entre política e guerra, ‘a inversão da fórmula de Clausewitz’, para apreender o funcionamento do poder (...). Quando Carl von Clausewitz, o teórico militar prussiano do século XIX, famosamente disse que “a guerra é a continuação da política por outros meios”, ele pretendia enfatizar que a diplomacia entre Estados (que era o que ele primariamente queria dizer com “política”) não cessava com a eclosão da guerra, mas continuava, de outras formas. Ou, em outras palavras, o confronto militar não marca o fim da mediação política, mas sua persistência de um modo diferente.” Michael Hardt, “Guerra por outros meios”. Disponível em https://lavrapalavra.com/2021/03/17/guerra-por-outros-meios/ Acesso em 28/05/2022HARDT, M. Guerra por outros meios. LavraPalavra, 17 de março de 2021. Disponível em: https://lavrapalavra.com/2021/03/17/guerra-por-outros-meios/ Acesso em: 28 maio 2022.
    https://lavrapalavra.com/2021/03/17/guer...
    . Foucault, portanto, adota a lógica de Clausewitz, invertida: “a política é a mera continuação da guerra por outros meios”.
  • 9 Álvaro Nunes, “Teorias filosóficas sobre a guerra” (pp. 1-2). Disponível em: https://criticanarede.com/anunesaguerra.html. Acesso em: 11/05/2022.
  • 10 Título da sexta seção (pp. 162-163) do Capítulo 8 (Não existe justiça na história - pp. 141-168), da Parte II (A Revolução agrícola - pp. 85-168).
  • 11 Título da sétima seção (pp. 163-165) do mesmo Capítulo 8, mencionado na nota anterior.
  • 12 Que, sintomaticamente, não foi sequer citada por Harari.
  • 13 Embora isso seja praticamente uma regra entre os homens, de forma geral, entre aqueles que vivem do e pelo poder essa questão é ainda mais determinante. É emblemático, o caso do ex-presidente norte-americano Lyndon B. Johnson (1963-1969), que não escondia de ninguém sua obsessão por seu pênis, que ele chamava ‘delicadamente’ de Jumbo. Cf. https://www.rfi.fr/br/americas/20161104-casa-branca-casa-de-loucos-ironiza-jornal-frances - Acesso em 30/10/2022RFI. “Casa Branca, casa de loucos”, ironiza jornal francês. RFI, 4 de novembro de 2016. Disponível em: https://www.rfi.fr/br/americas/20161104-casa-branca-casa-de-loucos-ironiza-jornal-frances Acesso em: 30 out. 2022.
    https://www.rfi.fr/br/americas/20161104-...
    .
  • 15 “Conceito fundamental para se compreender o Estado moderno, a razão de Estado (raison d’État) estabelece ao governante o imperativo de uso da força estatal e dos demais meios que forem necessários para a manutenção do poder. De origem atribuída aos escritos de Nicolau Maquiavel, a razão de Estado obteve amplo desenvolvimento e aplicação sob a ascensão dos governos absolutistas na Europa moderna; posteriormente, no século XX, ganharia novo fôlego como prática adotada por governos autoritários ao redor do globo.” Cf. “Estudo sobre a formação do conceito de razão de estado” Eugênio Mattioli Gonçalves (Bolsista PIBIC/CNPq) e Prof. Dr. Roberto Romano da Silva (Orientador), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - IFCH, UNICAMP. Disponível em https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xixcongresso/resumos/081262.pdf - Acesso em 30/10/2022.
  • 16 Lembrando que o termo fáustico se refere “a Fausto, personagem literária e dramática que vende a alma ao diabo em troca de poder e privilégios, inspirada num astrónomo e necromante alemão do século XVI e celebrizada pelo escritor Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832). [Em sentido] figurado revela avidez ou excessiva paixão pelo saber e pelo poder [e também se refere àquilo] que traz vantagens imediatas mas implica consequências perniciosas no futuro. Fonte: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/f%C3%A1ustico - Acesso em: 29/10/2022FÁUSTICO. In: Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/fáustico. Acesso em: 29 out. 2022.
    https://www.infopedia.pt/dicionarios/lin...
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  • 17Plot twist é uma reviravolta inesperada no enredo de um filme ou série, que muda completamente o resultado final de uma história ficcional.” Fonte: https://www.significados.com.br › plot-twist - Acesso em 30/10/2022SIGNIFICADOS. O que é um plot twist? Significados. Disponível em: https://www.significados.com.br/plot-twist. Acesso em: 30 out. 2022.
    https://www.significados.com.br/plot-twi...
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Referências

  • CLAUSEWITZ, C. von. Da Guerra [1827]. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2014. 845 p.
  • COLÓQUIO GUERRA E HISTÓRIA OS CONFLITOS BÉLICOS NA FORMAÇÃO DO MUNDO CONTEMPORÂNEO. Diamantina, 2022. FONSECA, L. S. G. Guerra: regra ou exceção? Diamantina. Anais... Colóquio Guerra e História: os conflitos bélicos na formação do mundo contemporâneo, 2022.
  • XIX CONGRESSO INTERNO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA UNICAMP. Campinas, 2011. Estudo sobre a formação do conceito de razão de Estado. Unicamp, Campinas. Anais... XIX Congresso Interno de Iniciação Científica, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH - Unicamp), 2011. Disponível em: https://www.prp.unicamp.br/pibic/congressos/xixcongresso/resumos/081262.pdf Acesso em: 30 out. 2022.
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  • CONCEITO.DE. Guerra - O que é, conceito e definição. Conceito.de, 12 de Maio de 2012. Atualizado em 17 de Janeiro de 2020. Disponível em: https://conceito.de/guerra
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  • BRASIL, ARQUIVO NACIONAL, QUE REPÚBLICA É ESSA? Terrorismo de Estado. Arquivo Nacional, Que república é essa? - Portal de estudos do Brasil republicano, 13 de maio de 2021. Atualizado em 08 de junho de 2021. Disponível em: http://querepublicaeessa.an.gov.br/conte-uma-historia/306-terrorismo-de-estado.html Acesso em: 28 out. 2022.
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  • FÁUSTICO. In: Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/fáustico Acesso em: 29 out. 2022.
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  • NUNES, Á. Teorias filosóficas sobre a guerra. Crítica na rede, 2 de julho de 2015. Disponível em: https://criticanarede.com/anunesaguerra.html Acesso em: 11 maio 2022.
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  • RFI. “Casa Branca, casa de loucos”, ironiza jornal francês. RFI, 4 de novembro de 2016. Disponível em: https://www.rfi.fr/br/americas/20161104-casa-branca-casa-de-loucos-ironiza-jornal-frances Acesso em: 30 out. 2022.
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  • VALVERDE, A. J. R. Guerra, Terrorismo e Condição Humana. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba: PUCPR, v. 15, n. 16, p. 11-18, jan./jun. 2003. DOI: https://doi.org/10.7213/rfa.v15i16.964
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  • SIGNIFICADOS. O que é um plot twist? Significados Disponível em: https://www.significados.com.br/plot-twist Acesso em: 30 out. 2022.
    » https://www.significados.com.br/plot-twist

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    31 Out 2022
  • Aceito
    02 Abr 2023
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