Acessibilidade / Reportar erro
Revista de Sociologia e Política, Volume: 22, Número: 50, Publicado: 2014
  • Editorial

  • As grandes potências e as economias emergentes no pós-crise

    Jesus, Diego Santos Vieira de
  • A crise da potência inteligente: os EUA e a grande estratégia de acomodação no governo Obama

    Jesus, Diego Santos Vieira de

    Resumo em Português:

    Os objetivos do artigo são explicar (i) a adoção da grande estratégia de acomodação, pelos Estados Unidos da América (EUA), durante a administração de Barack Obama, para lidar com as principais ameaças a tal Estado no nível internacional e (ii) examinar os efeitos da crise econômico-financeira internacional iniciada em 2008 sobre a atuação internacional dos EUA. Foi desenvolvido, a partir da perspectiva analítica de Joseph S. Nye Jr. acerca do conceito de "poder inteligente", um estudo qualitativo no qual se buscou sustentar três argumentos centrais: (i) a adoção da grande estratégia de acomodação mostrou-se relacionada ao conceito de "poder inteligente" que informa as posições da administração Obama; (ii) a crise não provocou um desafio fundamental à posição predominante dos EUA no sistema internacional, mas confirmou a necessidade de reajuste da grande estratégia de tal Estado na direção da acomodação dos interesses de grandes potências, economias emergentes e Estados hostis aos EUA; (iii) o reajuste da grande estratégia norte-americana não atingiu plenamente os resultados almejados por tal administração em face da cooperação limitada por parte de outras grandes potências, economias emergentes e Estados hostis aos EUA. As principais conclusões apontam que os EUA podem reforçar sua posição de "potência inteligente" se investirem mais em bens públicos globais, oferecendo o que povos e governos ao redor do mundo desejam, mas não conseguem sozinhos. Ao complementarem seu poder militar e econômico com um investimento maior em seu poder brando, os EUA poderiam reconstruir a estrutura necessária para lidar com desafios globais.

    Resumo em Inglês:

    The purposes of this article are to explain the adoption of U.S. grand strategy of accomodation during the Barack Obama’s administration to deal with major threats to such state at the international level and examine the effects of the international financial and economic crisis that began in the late 2000s on the international role of the U.S.. Based on the analytical perspective of Joseph S. Nye Jr. about the concept of "smart power", this qualitative study presents three core arguments: 1) the adoption of a grand strategy of accommodation was related to the concept of "smart power" that informs the positions of Obama administration, 2) the crisis has not led to a fundamental challenge to the predominant position of the U.S. in the international system, but confirmed the need for adjustment of U.S. grand strategy toward the accommodation of interests of major powers, emerging economies and hostile states, 3) the adjustment of the U.S. grand strategy did not fully achieve the desired results in the light of the limited cooperation by other great powers, emerging economies and hostile states to the U.S.. The main findings indicate that the U.S. can reinforce its "smart power" if it invests more in global public goods and offers what the peoples and governments around the world want but can not have by themselves. If it complements its military and economic power with a greater investment in its soft power, the U.S. can rebuild the structure needed to deal with global challenges.
  • Crisis?: What (Type) of Crisis? The overlapping problems of the European Union

    Lehmann, Kai

    Resumo em Português:

    É comum, mesmo na imprensa europeia, tratar a atual crise da União Europeia exclusivamente como uma crise econômica. O presente artigo pretende mostrar que esse foco não está somente errado mas perigoso para o desenvolvimento futuro da organização em si. O artigo sustentará que a crise econômica simplesmente agravou – e muito – uma crise de legitimidade pela qual a União Europeia está passando há algum tempo. Mostrando que as tendências antieuropeias que estão se espalhando pelos países europeus ameaçam o futuro do projeto de integração europeia, o artigo fará sugestões para reformas na atuação da União Europeia e alerta pela necessidade de finalmente elaborar mais uma vez um argumento coerente para justificar a continuação do projeto europeu, colocando a população europeia no coração do processo político europeu em vez de somente se aplicarem medidas de austeridade. A pesquisa foi um estudo qualitativo, baseada numa revisão da literatura existente sobre a crise e entrevistas com especialistas e políticos da União Europeia. O artigo estabeleceu que a União Europeia está passando por múltiplos crises, tanto no nível político, quanto no nível econômico, de uma forma interdependente. O artigo também mostra que existe um reconhecimento dessa crise por parte de alguns oficiais da União Europeia mas também uma incapacidade de agir, por dificuldades políticas, assim como um entendimento errado da natureza da crise sendo enfrentada. A originalidade do artigo se dá pela definição da crise da União Europeia como uma crise política E econômica que interagem em um processo contínuo. O artigo mostra que se trata de um processo de "ação adaptativa", baseada nas perguntas "what", "so what", "now what?" Essas perguntas têm implicações importantes para as ações da União Europeia em resposta à crise atual, que o artigo aborda. Sendo assim, o artigo propôs uma visão diferente e original sobre o que representa a crise atual e o que tem que ser feita em resposta a ela.

    Resumo em Inglês:

    It is common today, even in the European media, to treat the current crisis of the European Union almost exclusively as an economic crisis. The present article pretends to show that such a focus is not only wrong but is indeed dangerous for the future development of the European Union as a whole. The article will argue that the present economic crisis simply aggravated – and a lot – a crisis of legitimacy through which the European Union has been passing for some time. Showing that the anti-European tendencies which are spreading throughout the countries of the continent threaten the very future of the European project, the article will make suggestion on reforms for the future development of the EU, alerting to the necessity to finally elaborate once again a coherent argument for the continuation of the European integration process which puts the European population at the heart of the political process instead of just austerity.
  • Potências médias emergentes e reforma da arquitetura financeira mundial?: Uma análise do BRICS no G20

    Ramos, Leonardo

    Resumo em Português:

    A partir de 2000, na cúpula de Okinawa, o sistema G7/8 começou um movimento de outreach, ou seja, tanto de "alcançar" aqueles que se encontravam fora quanto de "expandir" o sistema G7/8. Neste sentido, pela primeira vez países não-participantes do G8 foram envolvidos tanto em encontros do G8 quanto em consultas pré-cúpula. Neste processo a cúpula de Gleneagles, em 2005, foi um marco, pois nesta pela primeira vez há um documento conjunto emitido por Brasil, Índia, China, África do Sul e México (BICSAM) - Outreach Five ou Grupo dos Cinco (+5). Tal articulação entre tais países tendo como foco o sistema G7/8 vai ocorrer até a cúpula de L’Aquila, em 2009. Não obstante, como desde 2008 o G20 vem lidando com tais questões como um fórum de líderes e a partir de 2009 o BRIC passa a se reunir como coalizão, tal articulação paralela ao G8 perde sua relevância. Neste contexto, uma questão que surge diz respeito à relação entre BRICS e G20. Como se dá a ação de tal bloco emergente neste fórum? Qual seu impacto para as decisões tomadas no âmbito de tal fórum? Qual a importância da China neste processo? Questões deste tipo são relevantes uma vez que muitas abordagens sobre o G20 e sobre as potências médias emergentes falam a respeito da legitimidade e da representatividade do G20 sem, contudo, dar a devida atenção às potências médias emergentes, suas coalizões e formas de engajamento e articulação no âmbito do G20, e é neste contexto que se insere o presente artigo, que busca analisar a inserção e articulação do BRICS no âmbito do G20, suas potencialidades e limites.

    Resumo em Inglês:

    In 2000, at the Okinawa Summit, the G8 started an outreach movement. In such process it was the first time that non-participants countries of G8 were involved in G8 summits as well as in pre-summit meetings. In such process the G8 Gleneagles summit, in 2005, was a point of reference, once it was the first time that a document made by Brazil, India, China, South Africa and Mexico (BICSAM) – the Outreach Five (O5) or Group of Five (+5). Such engagement between such countries focusing the G8 occurred until the G8 L’Aquila Summit, in 2009. Nevertheless, once the G20 starts to cope with such themes as a leader’s summit since 2008 and the BRIC(S) countries started to meet as a summit since 2009, such parallel engagement lost its relevance. In this context, a question that emerges concerns to the relationship between BRICS and the G20. How such bloc engages with this forum? what is its impact to decisions adopted in such forum? What is the relevance of China in such process? Questions like these are relevant once many approaches about G20 and emerging middle powers talks about the G20 legitimacy and responsiveness with little attention to emerging middle powers, their coalitions, blocs and engagement with the G20. Hence, the aim of the article is to point some of the principal questions concerning BRICS engagement with G20, its potentials and limitations.
  • Índia em transformação: o novo crescimento econômico e as perspectivas pós-crises

    Banik, Arindan; Padovani, Fernando

    Resumo em Português:

    O objetivo do artigo é sistematizar dados e informações recentes sobre a economia indiana, no sentido de caracterizar o contemporâneo modelo de crescimento indiano, aqui chamado de "novo crescimento", avaliando suas fontes, lógicas, setores e atores, bem como sua inter-relação com setores específicos da sociedade indiana, como as estruturas sociais, o Estado e o setor público, a agricultura e o mundo rural, e, ainda, sobre as dinâmicas de inserção internacional. Essa sistematização visa averiguar as condições e perspectivas de sustentabilidade econômica do modelo de crescimento em curso, considerando também os desafios imediatos colocados pela crise financeira internacional. A análise aponta para a existência de condições concretas de sustentabilidade econômica do modelo indiano, baseada na perspectiva de expansão de seus setores dinâmicos, como o setor de exportação de serviços tecnológicos e de manufaturas destinadas ao mercado interno. Evoluções paralelas relacionadas à transição demográfica, à disponibilidade interna de poupança e de investimento, ao crescimento das novas classes médias, às perspectivas de continuidade de oferta de investimentos estrangeiros e de conexão com as cadeias produtivas globais, além da identificação de dinâmicas sociais de transformação e adaptabilidade, reiteram a existência de condições de sustentabilidade do atual modelo de crescimento. Entretanto, não se trata de uma sustentabilidade sem riscos, ao serem identificados também desafios de percurso importantes, como a tarefa de garantir-se a sustentabilidade financeira do Estado indiano e a consequente viabilização dos importantes investimentos em infraestrutura, educação e inovação, capazes de garantir as necessárias condições de estabilidade, absorção de mão de obra, crescimento equitativo, oferta de mão de obra qualificada e inovação, além de segurança alimentar. Essas tendências de adaptabilidade dialogam com as recorrentes interpretações elaboradas sobre a economia e a sociedade indiana que enfatizam seu extremo particularismo, focando aspectos como pobreza, arcaísmo, rigidez social, instabilidade política, diversidade cultural, entre outros elementos que dificultariam a mobilização da ação coletiva e a sustentabilidade do modelo de crescimento.

    Resumo em Inglês:

    This paper aims to systematize recent data and information on the Indian economy, in order to characterize the contemporary Indian growth model, here called "the new Hindu growth". For this, it will be necessary to evaluate its source, its logics, main dynamic sectors and actors, as well its impacts on specific sectors such as the traditional society, the State and the public sector, agriculture and the rural society, and also the Indian foreign policy and its international insertion pattern. This interpretation aims to enquire the conditions and prospects for economic sustainability of this growth model, also considering the short term challenges brought by the international crisis. The analysis is based on updated data collected from reports and public documents produced by government and market institutions dedicated to the monitoring of the Indian economy, as well the various sectorial impacts of the new growth model. The analysis points to the existence of the concrete conditions of economic sustainability for the Indian model, based on the prospect of expanding their dynamic factors, such as the export from the technological services sector, the new urban middle classes, renewed market structures, the integration in global production chains, modernization of agriculture, in a clear perspective of transformation and adaptability. These identified trends dialogue with the common interpretations on the Indian economy and society emphasizing its "particularism" and diversity, what would make difficult to mobilize the collective action towards the sustainability of a growth model based on increasing international integration.
  • Turkey's role as a regional and global player and its power capacity: Turkey's engagement with other emerging states

    Gürzel, Aylin

    Resumo em Português:

    O papel da Turquia como uma potência regional ampliou-se desde que o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) chegou ao poder. A liderança do AKP aspirava não apenas à posição da Turquia como potência regional, mas também à posição de uma potência global. Assim, a Turquia assumiu diferentes papeis: o "líder natural" da região; um "grande irmão" histórico e o "protetor" das minorias islâmicas. A Turquia também assumiu o papel de mediadora e de facilitadora ao tentar negociar um acordo em parceria com uma potência emergente como o Brasil a fim de buscar resolver a controversa questão nuclear iraniana. Utilizando-se de desenvolvimentos recentes, a Turquia tentou solidificar seu papel há muito tempo desejado de "potência em ascensão" ao ampliar sua influência na sua vizinhança e se engajar com outras potências emergentes. O conceito de "potência regional" é uma noção baseada no contexto. Em outras palavras, a localização e a geografia são perspectivas contestáveis e disputadas. Considerando o fato de que conceitos como "região" e "potência" são realidades socialmente construídas, esse artigo analisa a noção de "potência regional" como uma subcategoria de "potência". O artigo fará uso dos critérios desenvolvidos por Stefan Schim ao analisar a capacidade de projeção de poder da Turquia na região. Schim coloca que uma potência regional precisa ter uma "definição de papel" e deve ter poder material (poder bruto). Ela também deve ter capacidades econômicas bem como diplomáticas e organizacionais. Seu poder - seja o brando (atração pelas ideias e/ou a habilidade de definir a agenda política de forma a moldar as preferências de outros atores) ou o bruto (poder material que pode ser medido, como o econômico e o militar) - precisa ser reconhecido pelos outros atores na região. Ela também deve ser aceita pelas grandes potências e potências emergentes que são determinantes no sistema internacional. Ademais, a potência regional (e/ou a potência global) deve ter alavancagem; assim, sua projeção de poder precisa produzir resultados. A teoria de papeis de Kalevi Holsti será utilizada como o marco teórico de referência para a análise do comportamento de política externa do AKP. Este artigo buscará apontar os papeis assumidos pela Turquia.

    Resumo em Inglês:

    Turkey's role as a regional power has increased since Justice and Development Party (AKP) came to power. AKP leadership not only aspired to become a regional power but also a global player. Turkey has, therefore, assumed different roles: the "natural leader" of the region; a historical "big brother;" and the "protector" of the Muslim minorities. Turkey has also assumed a "mediator" and a "facilitator" role by trying to negotiate a deal with an emerging power such as Brazil in order to attempt to resolve the controversial Iranian nuclear issue. By making use of recent developments, Turkey tried to solidify its long desired role as a "rising power" by increasing its influence in its neighborhood and engaging with other emerging powers. The concept "regional power" is a context-based notion. In other words, the location and geography are contesting and disputed approaches. Notwithstanding the fact that concepts such as "region" and "power" are social constructed reality, this paper analyzes the notion of 'regional power' as a subcategory of 'power'. In this context, this paper will make use of Stefan Schim's criteria while analyzing Turkey's power capacity in the region. Schim posits that the "regional power" needs to have a "role definition," and it should possess material power (hard power). It should also have economic as well as diplomatic and organizational capacity. Its power whether it is 'soft power' (attraction of ones idea's and or the ability to set the political agenda in a way that shapes the preferences of other actors) or 'hard power' (material power that can be measured-economic and military power) needs to be acknowledged by other actors in the region. It should also be accepted by great powers and emerging powers that are determinant in the international system. dditionally, the regional power (and/ or global power) needs to have leverage, thus its power projection needs to yield results. Kalevi Holsti's role theory will be used as theoretical framework to analyze foreign policy behavior of the AKP. The paper will, thus, seek to find out Turkey's roles.
  • Novos liberalismos e a Grande Recessão: princípios para uma política externa crítica

    Abdalla, Igor

    Resumo em Português:

    O artigo analisa a emergência, nas últimas décadas, de novo liberalismo internacionalista de cunho tecnocrático, que se divorcia do liberalismo clássico criado pelo filósofo crítico Immanuel Kant. O novo liberalismo, que coincide com o processo de globalização das finanças, inverte o elemento emancipatório do liberalismo kantiano para apresentar-se como instância de ratificação do poder. Como resultado, os novos liberais são incapazes de analisar criticamente eventos como a Grande Recessão. Em contraposição ao novo liberalismo tecnocrático propõem-se princípios para uma política externa crítica para o Brasil. Em termos empíricos, escrutina-se a evolução do processo de globalização das finanças do ponto de vista do poder, com enfoque sobre as crises financeiras no mundo em desenvolvimento e a Grande Recessão de 2008. Propugnam-se os seguintes argumentos: (i) o novo liberalismo contradiz o liberalismo clássico; (ii) o novo liberalismo legitima interesses de atores hegemônicos voltados para a liberalização e a desregulamentação financeiras sem limites, que se encontram na raiz da Grande Recessão; (iii) a política externa brasileira deve resgatar elementos do liberalismo clássico no contexto de crise gerado pela Grande Recessão.

    Resumo em Inglês:

    The article analyzes the emergence, in recent decades, of a new international liberalism of technocratic nature, which contrasts with the classical liberalism created by critical philosopher Immanuel Kant. The new liberalism, which coincides with the process of financial globalization, reverses the emancipatory element of Kantian liberalism to present itself as an instance of power ratification. As a result, the new liberals are incapable of critically analyzing events such as the Great Recession.I propose principles for a critical foreign policy for Brazil, in contrast to the new technocratic liberalis. In empirical terms, I investigate the evolution of the globalization of finance from the perspective of power, focusing on the financial crises in the developing world and the 2008 Great Recession. I argue that 1) the new liberalism contradicts the classical liberalism; 2) the new liberalism legitimates interests of hegemonic actors towards financial liberalization and unrestrained deregulation, which are the roots of the Great Recession, 3) Brazilian foreign policy must bring back elements from classical liberalism in the context of crisis generated by the Great Recession.
  • A ideologia em Althusser e Laclau: diálogos (im)pertinentes

    Motta, Luiz Eduardo; Serra, Carlos Henrique Aguiar

    Resumo em Português:

    A teoria política de Ernesto Laclau é uma das principais referências no campo da Ciência Política ao debate sobre o populismo e a democracia contemporânea, além de sua contribuição ao conceito de ideologia e na análise de discurso. Contudo, os estudos sobre este autor não têm explorado a influência do marxismo, sobretudo de Louis Althusser, em sua obra. O objetivo deste trabalho é resgatar essa influência e apontar o diálogo entre esses dois autores, tendo como elo os conceitos (que possuem certa ligação com a psicanálise de Lacan) de ideologia e sobredeterminação, além da questão da contingência que se tornou um dos aspectos mais relevantes na obra de ambos os autores a partir da década de 1980. Para compreendermos a contribuição de Althusser e Laclau ao conceito de ideologia, analisamos dois eixos: (i) o primeiro trata da inovação que Althusser dá a esse conceito ao situá-lo no plano das relações imaginárias e na definição de sujeito descentrado; (ii) em seguida, a contribuição de Laclau a partir dos pressupostos althusserianos, dando uma nova definição à ideologia populista-nacionalista, e a redefinição de sua teoria ao privilegiar o conceito de discurso em substituição ao de ideologia. Na conclusão apontamos que o conceito de ideologia de Althusser demonstra ter mais precisão conceitual por ser definido como uma prática articulada a outras práticas distintamente da concepção discursiva (e reducionista) defendida posteriormente por Laclau. Percebemos, portanto, que a teoria da ideologia de Althusser mantém-se atual no campo do pensamento crítico, não somente no que concerne aos aspectos reprodutores, mas também transformadores das relações de poder.

    Resumo em Inglês:

    The political theory of Ernesto Laclau is a major reference in the field of political science to the debate on contemporary populism and democracy, as well as its contribution to the concept of ideology and discourse analysis. However, studies of this author have not explored the influence of Marxism, especially Louis Althusser in his work. The objective of this work is to rescue this influence and point the dialogue between these two authors, whose link concepts (which have some connection with Lacan's psychoanalysis) of ideology and overdetermination, beyond the issue of contingency that has become one of the most relevant to the work of both authors from the 1980s. To understand the contribution of Althusser and Laclau to analyze the concept of ideology on two axes: the first deals with the innovation that Althusser calls this concept to situate it in terms of imaginary relationships, and the definition of the decentered subject, then the contribution Laclau's from the assumptions Althusserians giving a new definition to the populist-nationalist ideology, and the redefinition of his theory by privileging the concept of discourse to replace the ideology. In the conclusion we point out that the concept of ideology Althusser demonstrates more conceptual precision by be defined as a practice distinctly articulated with other practices of discursive conception (and reductionist) subsequently advocated by Laclau. We realize, therefore, that the theory of ideology Althusser remains current in the field of critical thinking, not only in regard to the reproduction aspects, but also the relations of power transformers.
  • Voto econômico retrospectivo e sofisticação política na eleição presidencial de 2002

    Pereira, Frederico Batista

    Resumo em Português:

    Este artigo aborda o tema do voto econômico a partir da perspectiva da desigualdade de sofisticação política entre os eleitores. Diversos estudos mostram que os eleitores brasileiros tendem a se basear na economia para votar e avaliar os presidentes. Essas evidências algumas vezes servem de suporte para a afirmação de que, mesmo não utilizando os partidos, os rótulos ideológicos e outras questões politicamente relevantes como referências para suas escolhas, o eleitorado de massa no Brasil seria capaz de tomar decisões criteriosas na política. Utilizando dados de pesquisa de painel coletados ao longo de 2002 em Caxias do Sul e Juiz de Fora, o artigo testa até que ponto o efeito da avaliação retrospectiva da economia (tanto do país quanto pessoal) sobre o voto para presidente depende do nível de sofisticação política do respondente. Os resultados mostram que a avaliação da economia tende a ser uma opinião instável ao longo do período analisado, e tem impacto sobre a escolha do candidato a presidente apenas entre os eleitores mais politicamente sofisticados. As implicações dos achados são discutidas e aponta-se para a relevância de se levar em conta o impacto da desigualdade de sofisticação política entre os eleitores no entendimento da dinâmica das eleições e da opinião pública no Brasil.

    Resumo em Inglês:

    This article discusses economic voting from the perspective of unequal political sophistication among voters. Several studies show evidence that Brazilian voters are able to connect their perceptions about the economy to their vote choice and to their evaluations of the president. This evidence is often used to support the claim that Brazilian mass electorates are capable of making reasonable choices by basing their judgments on the economy instead of paying too much attention to parties, issues, or ideological labels. This article analyzes panel survey data from Caxias do Sul and Juiz de Fora in 2002 in order to test whether the effect of retrospective economic evaluations on vote choice depends on voters' levels of political sophistication. The results show that retrospective economic evaluations tend to be quite unstable over time, and that their impact is limited to the vote choice of more sophisticated voters. Finally, the article discusses the implications of the findings and the importance of taking into account the inequality of political sophistication in understanding the dynamics of elections and public opinion in Brazil
  • Representação como processo: a relação Estado/sociedade na teoria política contemporânea

    Almeida, Debora Rezende de

    Resumo em Português:

    O conceito de representação política vem passando por uma reformulação profunda na teoria política contemporânea, motivada pela constatação empírica do papel da sociedade civil como representante político. O reconhecimento da representação no campo societal impõe novos desafios à teoria democrática, alguns dos quais serão discutidos neste trabalho. Primeiro, o artigo propõe repensar o conceito de representação política, baseado em duas ideias principais, a saber: (i) a representação é vista como um processo e como uma construção; (ii) a fim de compreender o potencial democratizante dessas transformações, o artigo reinterpreta os critérios de legitimidade democrática da representação. Sugere-se que a legitimidade é construída durante a representação e não apenas obtida por meio da autorização eleitoral. Isso não requer abandonar a tensão entre representante e representado, tampouco os mecanismos de autorização e accountability, mas repensá-los a partir de um processo contínuo e distinto entre os variados exemplos de representação da sociedade. Finalmente, o trabalho argumenta que as práticas de representação da sociedade civil nas instituições de cogestão de políticas públicas no Brasil trazem contribuição distinta à teoria da representação. Elas colocam em destaque a importância de distinguir-se os atores do Estado e da sociedade a partir da consideração da atividade representativa e autoridade mobilizada, e não primariamente a partir de sua esfera de atuação. Diferentemente dos espaços informais de influência, os atores coletivos que participam dessas instituições ganham uma autoridade posicional, quando investidos com o poder legal de deliberação e decisão pelo Estado. Ademais, as instituições de cogestão introduzem novos elementos para avaliar-se o processo de autorização, prestação de contas e responsividade, não tematizados pela literatura internacional.

    Resumo em Inglês:

    The concept of political representation has undergone a major overhaul in contemporary political theory motivated by the empirical observation of the role of civil society as a political representative. The acknowledgment of representation in societal field has imposed new challenges to democratic theory, some of them will be addressed in this paper. First, the article proposes to rethink the concept of political representation, based on two main ideas, namely, the representation is a process and it is a construction. Second, in order to understand the democratizing potentials of these transformations, this paper reinterprets the criteria of legitimacy of representation. It suggests that legitimacy is built during the representation and not only achieved by electoral authorization. This requires neither we abandon the tension between representative and represented, nor we leave the authorization mechanisms and accountability. But to rethink them from a continuous and distinct process among the varied examples of representation of society. Finally, the article argues that the practices of civil society representation in public policies co-management institutions in Brazil bring distinctive contribution to the theory of representation. These institutions put emphasis on the importance of distinguishing between the actors of the State and society from a consideration to the representative activity and authority mobilized, and not primarily from their sphere of action. Different from informal spaces of social influence, the collective actors that participate in these institutions gain a positional authority, when invested with legal power of deliberation and decision by the State. Moreover, the co-management institutions introduces new elements to evaluate the process of authorization, accountability and responsiveness, not thematized in the international literature.
Universidade Federal do Paraná Rua General Carneiro, 460 - sala 904, 80060-150 Curitiba PR - Brasil, Tel./Fax: (55 41) 3360-5320 - Curitiba - PR - Brazil
E-mail: editoriarsp@gmail.com