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Solos urbanos formados pelo acúmulo de resíduos em Manaus, Amazonas, Brasil

Urban soils formed by the accumulation of waste in Manaus, Amazonas, Brazil

Resumos

Este estudo apresenta dados sobre a mineralogia e a química de dois solos urbanos em Manaus (Horto Minicipal e Novo Israel) formados a partir da disposição e degradação de resíduo urbano em condições tropicais úmidas. Foi determinada a concentração de Pb, Cu, Ni, Zn, Mn, Fe, Cd e Cr, investigado o grau de contaminação desses elementos no solo e o potencial deles comprometerem a qualidade da água subterrânea. Foi medido o fracionamento geoquímico por lixiviação sequencial dos elementos, além de determinado o pH, teor de matéria orgânica e caracterizados os grupos funcionais dos ácidos húmicos e fúlvicos. Comparativamente esses solos urbanos refletem a composição mineralógica dos solos naturais da região embora a caulinita tenha menor grau de ordenamento cristalino. Contudo, o pH e o conteúdo de matéria orgânica são bem mais elevados. Em termos absolutos ambos os solos têm aproximadamente a mesma sequência de concentração dos elementos: no Horto Municipal Fe>Zn>Mn>Cu>Pb>Cr>Ni>Cd e em Novo Israel Fe>Zn>Cu>Mn>Pb>Cr>Ni>Cd. As maiores acumulações foram nas frações hidróxido de Fe amorfo e óxi-hidróxidos de Fe seguidas da matéria orgânica. Comparativamente, essas frações tiveram maior enriquecimento no Horto Municipal, provavelmente em consequência dos efeitos de envelhecimento dos resíduos, enquanto as mais biodisponíveis e a residual se acumularam mais em Novo Israel. Esse acúmulo nas fases mais móveis em Novo Israel é a causa da contaminação da água subterrânea e indica que o mesmo deve ocorrer no Horto Municipal.

extração sequencial; matéria orgânica; metais pesados; lixões


This study presents the mineralogy and the chemistry of two urban soils in Manaus (Horto Minicipal and Novo Israel) formed by the accumulation and degradation of waste in tropical humid condition. It was quantified the content of Pb, Cu, Ni, Zn, Mn, Fe, Cd e Cr and investigated the score of the contamination and the capability of these elements affect groundwater quality. It was quantified the geochemical fraction by sequential leaching, besides pH, organic matter content and the functional groups from the humic and fulvic acids were also determined. The urban soils reflect to a considerable extent the mineralogical composition of the natural soil of the region although the kaolinite has lower dregree of cristaline order. They have higher pH and organic matter content than the natural soil. Both urban soils have almost the same order of concentration elements: in the Horto Municipal Fe>Zn>Mn>Cu>Pb>Cr>Ni>Cd and in Novo Israel Fe>Zn>Cu>Mn>Pb>Cr>Ni>Cd. The higher concentration occurs in the amorphous Fe hydroxide and Fe oxy-hydroxides followed by the organic matter fraction. These fractions have higher enrichment in the Horto Municipal probable in consequence of the ageing process of the waste, while the most exchangeable and the residual fractions have higher enrichment in the Novo Israel. This higher enrichment in the exchangeable phases is the cause of the groundwater contamination in Novo Israel and indicates a similar consequence in the Horto Municipal area.

sequential extraction; organic matter; heavy metals; landfill


QUÍMICA, ALIMENTOS, MICROBIOLOGIA

Solos urbanos formados pelo acúmulo de resíduos em Manaus, Amazonas, Brasil

Urban soils formed by the accumulation of waste in Manaus, Amazonas, Brazil

Keila Cristina Pereira AnicetoI; Adriana Maria Coimbra HorbeII

I Programa de Pós-Graduação em Geociências - Departamento de Geociências, Universidade Federal do Amazonas, Av. Gal. Rodrigo O. J. Ramos 3000, CEP 69077-000, Manaus - AM - Brasil

II Departamento de Geociências, Universidade Federal do Amazonas, Av. Gal. Rodrigo O. J. Ramos 3000, CEP 69077-000, Manaus - AM - Brasil. 92-3305-4026, ahorbe@ufam.edu.br

RESUMO

Este estudo apresenta dados sobre a mineralogia e a química de dois solos urbanos em Manaus (Horto Minicipal e Novo Israel) formados a partir da disposição e degradação de resíduo urbano em condições tropicais úmidas. Foi determinada a concentração de Pb, Cu, Ni, Zn, Mn, Fe, Cd e Cr, investigado o grau de contaminação desses elementos no solo e o potencial deles comprometerem a qualidade da água subterrânea. Foi medido o fracionamento geoquímico por lixiviação sequencial dos elementos, além de determinado o pH, teor de matéria orgânica e caracterizados os grupos funcionais dos ácidos húmicos e fúlvicos. Comparativamente esses solos urbanos refletem a composição mineralógica dos solos naturais da região embora a caulinita tenha menor grau de ordenamento cristalino. Contudo, o pH e o conteúdo de matéria orgânica são bem mais elevados. Em termos absolutos ambos os solos têm aproximadamente a mesma sequência de concentração dos elementos: no Horto Municipal Fe>Zn>Mn>Cu>Pb>Cr>Ni>Cd e em Novo Israel Fe>Zn>Cu>Mn>Pb>Cr>Ni>Cd. As maiores acumulações foram nas frações hidróxido de Fe amorfo e óxi-hidróxidos de Fe seguidas da matéria orgânica. Comparativamente, essas frações tiveram maior enriquecimento no Horto Municipal, provavelmente em consequência dos efeitos de envelhecimento dos resíduos, enquanto as mais biodisponíveis e a residual se acumularam mais em Novo Israel. Esse acúmulo nas fases mais móveis em Novo Israel é a causa da contaminação da água subterrânea e indica que o mesmo deve ocorrer no Horto Municipal.

Palavras chave: extração sequencial, matéria orgânica, metais pesados, lixões.

ABSTRACT

This study presents the mineralogy and the chemistry of two urban soils in Manaus (Horto Minicipal and Novo Israel) formed by the accumulation and degradation of waste in tropical humid condition. It was quantified the content of Pb, Cu, Ni, Zn, Mn, Fe, Cd e Cr and investigated the score of the contamination and the capability of these elements affect groundwater quality. It was quantified the geochemical fraction by sequential leaching, besides pH, organic matter content and the functional groups from the humic and fulvic acids were also determined. The urban soils reflect to a considerable extent the mineralogical composition of the natural soil of the region although the kaolinite has lower dregree of cristaline order. They have higher pH and organic matter content than the natural soil. Both urban soils have almost the same order of concentration elements: in the Horto Municipal Fe>Zn>Mn>Cu>Pb>Cr>Ni>Cd and in Novo Israel Fe>Zn>Cu>Mn>Pb>Cr>Ni>Cd. The higher concentration occurs in the amorphous Fe hydroxide and Fe oxy-hydroxides followed by the organic matter fraction. These fractions have higher enrichment in the Horto Municipal probable in consequence of the ageing process of the waste, while the most exchangeable and the residual fractions have higher enrichment in the Novo Israel. This higher enrichment in the exchangeable phases is the cause of the groundwater contamination in Novo Israel and indicates a similar consequence in the Horto Municipal area.

Keywords: sequential extraction, organic matter, heavy metals, landfill.

INTRODUÇÃO

A geração de resíduos sólidos por atividades domésticas, industriais e agrícolas é um dos graves problemas ambientais enfrentados pelos grandes centros urbanos. Esses resíduos são uma mistura complexa de materiais orgânicos e inorgânicos com propriedades físicas e químicas variáveis que se acumulam ao longo de estradas, lixões ou aterros sanitários e cujas características acompanham as transformações tecnológicas e marcam o estágio de desenvolvimento de uma sociedade (Ensinas 2003). Ao serem depositados e se decomporem são incorporados aos constituintes dos solos naturais passando, assim a serem denominados de solos urbanos (Wilcke et al. 1998; Lu et al. 2003; Banat et al. 2005; Zhang et al. 2009 entre outros). Estão englobados nessa classificação os diretamente derivados da decomposição de lixões ou aterros sanitários, como os que estão no seu entorno e aqueles expostos a outras influências antrópicas como poeiras e percolação de águas contaminadas.

Os processos atuantes na degradação de resíduos são complexos, pois envolvem múltiplas reações de complexação, redução, precipitação, dissolução, adsorção, troca iônica, entre outras (Bozkurt et al. 2000; Borges e Gomes 2003), além da própria heterogeneidade natural do material que constitui os resíduos acumulados em lixões.

Ao longo do tempo os resíduos urbanos passam por três etapas de transformações que demandam pelo menos 100 anos de evolução (Bozkut et al. 2000; Ostman et al. 2006). A fase aeróbica é a mais curta e dura enquanto o oxigênio acumulado nos poros for abundante, é seguida da fase anaeróbia quando o oxigênio foi consumido e o pH é inicialmente ácido devido a grande quantidade de ácidos orgânicos formados por degradação da matéria orgânica. Esta fase evolui para a geração de metano e pH mais alcalino quando são formadas moléculas orgânicas menores e CO2. Assim que a matéria orgânica é totalmente degradada, se passa a fase de humidificação que é a mais estável e longa e quando o pH é alcalino. Em condições de saturação em água a matéria orgânica pode se manter estável por mais de 500.000 anos (Bozkut et al.1999). Se o resíduo for revolvido essa sequência de fases pode ser revertida ou as reações podem ser aceleradas. Durante essas etapas apenas 0,01% dos elementos químicos são lixiviados devido a forte atenuação provocada pelos mecanismos de sorção (Bozkut et al. 2000; Flyhammar et al. 1997). Apesar disso, águas subterrâneas e superficiais próximas a depósitos de lixo são normalmente contaminadas (Sisino e Moreira 1996; Abu-Rukah e Kofahi 2001).

O pH, o EH e a presença de substâncias sortivas controlam a mobilidade dos elementos e reduzem o seu potencial de contaminação (Kabata-Pendias e Pendias 1987; McBride et al. 1997; Barbosa e Otero 1999; Bozkut et al. 2000). As principais substâncias sortivas que constituem barreiras à difusão dos elementos, são as unidades funcionais carboxílicas e fenólicas originadas pela dissociação de grupamentos hidroxila da matéria orgânica, além de óxi-hidróxidos de Fe, Mn e Al, carbonatos, sulfetos e cloretos (Bozkut et al. 2000; Ostman et al. 2006). Dentre essas substâncias, a matéria orgânica e os óxi-hidróxidos de Fe, devido a maior proporção e a forte capacidade de sorver elementos são os mais importantes, pois atuam em condições distintas. Enquanto o primeiro favorece o ambiente mais ácido e redutor, o segundo necessita de condições mais alcalinas e oxidantes para se formar (McBride et al. 1997; Bozkurt et al. 2000).

Quando a carga química é excessiva e há saturação da capacidade de sorção, os elementos migram por difusão e se tornam fonte de contaminantes para a vegetação ou a água da chuva, ao se infiltrar, os arrasta e contamina a água subterrânea (Barrow 1989; Barbosa e Otero 1999; Bozkut et al. 2000; Alcântara e Camargo 2001; Fontes et al. 2001; Sodré et al. 2001). Mobilização semelhante pode ocorrer se o resíduo/solo for oxigenado o que promove a maior degradação da matéria orgânica, mas neste caso o ambiente favorece a formação de amorfos de Fe e Mn que agem como fortes absorvedores de metais (Östman et al. 2006).

Há dificuldade em comparar diferentes solos urbanos, pois nem sempre são analisados os mesmos elementos e pela mesma técnica analítica, além de não necessariamente serem produto da degradação de lixões e aterros como descrito anteriormente. Além disso, os elementos tóxicos e a intensidade da contaminação provocada pela deposição de resíduo variam em função do tipo e quantidade de material depositado e das características do substrato (Fontes e Gomes 2003; Covelo et al. 2007). Por exemplo, Sisino e Moreira (1996) constataram que Mn, Pb e Zn são os elementos com maior concentração que Cd, Cr, Co e Ni, enquanto em Ostman et al. (2006) foram Zn e Cu mais elevados que Pb, Ni e Cd. Outro fator que deve ser considerado é o clima a que estão submetidos, pois ambientes tropicais chuvosos propiciam a lixiviação mais intensa, mas ao mesmo tempo favorecem a formação de óxi-hidróxidos de Fe e Mn, que ajudam a fixar os elementos.

Para quantificar o potencial de contaminação dos metais e medir seletivamente a sua distribuição nos constituintes de um material sólido, determina-se o seu modo de ocorrência pela técnica de extração seqüencial (Tessier et al. 1979; Miller et al. 1986; Keller et al. 1994). Apesar dessa técnica não ser eficiente em solubilizar os óxidos mais cristalinos, é considerada eficiente na liberação dos elementos adsorvidos aos constituintes do material sólido (Flyhammar 1997; Lã et al. 2003), que quando móveis são os responsáveis pela contaminação. Assim, pode-se identificar e quantificar de modo eficiente os elementos químicos mais biodisponíveis e prever possíveis efeitos tóxicos, além de avaliar o potencial de remobilização de metais e caracterizar as formas de associação elemento/constituinte.

Rocha e Horbe (2006) ao analisarem a água de poços de abastecimento do bairro de Novo Israel onde há um antigo lixão, constataram conteúdos acima do permitido pelo CONAMA em Fe, Cd, Pb, Mn e Zn e compostos nitrogenados e os atribuíram aos resíduos acumulados nas proximidades. Com o objetivo de determinar: 1) a influência, 2) o grau de contaminação provocado pelo acúmulo de resíduos em Novo Israel e 3) o potencial de comprometer a qualidade da água subterrânea, foram estudadas as características mineralógicas e da matéria orgânica da porção sólida do solo e a biodisponibilidade de Pb, Cu, Ni, Zn, Mn, Fe, Cd e Cr. De modo a complementar o estudo, foi determinada a influência do tempo de degradação do resíduo, para isso foi estudado um outro solo urbano um pouco mais antigo acumulado a algumas quilômetros de distância, no bairro do Aleixo onde hoje se localiza o Horto Municipal de Manaus. Ambos foram comparados a um solo natural típico da região para determinar a taxa de acumulação.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram selecionados dois solos urbanos gerados pela degradação de material acumulado em antigos lixões em Manaus localizados nos bairros do Aleixo (zona centro-oeste) e Novo Israel (zona norte) (Figura 1) submetidos as condições tropicais quentes e úmidas da Amazônia. O lixão do Aleixo foi desativado em 1969, enquanto o de Novo Israel em 1986 e, atualmente a área ocupada por eles está densamente habitada. Em parte do lixão do Aleixo foi instalado um Horto Municipal onde foram coletadas as amostras (60°00'11" W e 03°06'11"S), enquanto que no do Novo Israel é retirada até hoje terra preta para comercialização. Próximo a esse local foi feita a amostragem (60°00'54" W e 03°01'49"S). Os resíduos foram acumulados sobre solo natural típico da região que é derivado do intemperismo de arenitos e siltitos da Formação Alter do Chão.


No Horto Municipal, localizado no topo de um platô, a amostragem foi efetuada ao longo do perfil do solo utilizando-se um trado manual, enquanto que em Novo Israel, devido à grande quantidade de sacos plásticos a amostragem foi feita aproveitando um desnível mais abrupto na encosta da colina que expôs o perfil do solo. Ambas as coletas, realizadas do topo para a base dos perfis, foram efetuadas em 2006. Nos perfis, com espessura de 7 m no Horto Municipal e 10 m em Novo Israel, foram coletas amostras a cada 30 cm de profundidade num total de 18 e 27 amostras, respectivamente. Para obter parâmetros de referência, foi amostrado 1,5 m do solo natural (5 amostras a cada 30 cm) que ocorre nas proximidades do lixão do Novo Israel e que representa o solo da região. Após secas à temperatura ambiente e a retirada de materiais grossos (cacos de vidro e cerâmica, pregos, material plástico e de construção), as amostras foram desagregadas e quarteadas manualmente. Com base na textura, variabilidade de cor e tipo de material encontrado foram selecionadas 24 amostras para as análises químicas e mineralógicas.

As análises mineralógicas foram realizadas no difratômetro da Shimadzu XRD 6000 do Laboratório de Difração de Raios-x da Universidade Federal do Amazonas. As leituras foram feitas com anodo de Cu, com intervalo de leitura entre 3º a 60 º2θ para as frações total, areia e silte-argila e de 18 a 22 º2θ para o estudo do ordenamento da caulinita (Hinckley 1963). As frações areia e silte-argila foram obtidas por separação granulométrica a úmido com peneira de 0,062 mm.

O material desagregado passado em peneira de 2 mm foi imerso em suspensão solo:água na proporção 1:2,5 e em solução de KCl 1 mol L-1, mantendo-se a mesma proporção solo:solução. Na solução foi medido o pH com eletrodo específico.

Na determinação da matéria orgânica foi utilizado o método volumétrico pela titulação do excesso de dicromato de potássio com sulfato ferroso amoniacal (EMBRAPA 1997). Para a obtenção dos ácidos húmicos e fúlvicos tomou-se 5 g do material desagregado, adicionou-se 50 mL de HCl 0,1 mol.L-1 e ajustou-se o pH para 1,5 com HCl 1 mol.L-1. A mistura foi agitada por 1 h, centrifugada por 10 minutos. A seguir ajustou-se o pH do resíduo para 7 com NaOH 1 mol.L-1 e adicionou-se 50 mL de NaOH 0,1 mol.L-1. O sobrenadante foi desprezado. A mistura foi agitada por 4 horas, centrifugada por 10 minutos e o resíduo desprezado (humina). O sobrenadante foi acidificado para pH 1,5 com HCl 6 mol.L-1 e reservado por uma noite para posterior centrifugação. O resíduo corresponde ao ácido húmico e a solução ao ácido fúlvico. Ambos foram liofilizados e analisados por espectroscopia de absorção no infravermelho por transformada de Fourier (FT-IR) num Perkin Elmer, Modelo Spectrum 2000 na Central Analítica da Universidade Federal do Amazonas.

Para o procedimento de extração sequencial o material desagregado foi passado em peneira de 0,177 mm. Foram selecionadas seis frações em duplicata para extração em função das características geoquímicas: solúvel em água, trocável e adsorvida, hidróxidos de Fe amorfos, matéria orgânica, óxi-hidróxidos de Fe e residual a partir da adaptação do método de Tessier (Tessier et al. 1979). Foram utilizados, respectivamente os seguintes extratores sob agitação: 1) água pura por 2 horas, 2) ácido acético 1 mol L-1 +acetado de sódio 1 mol L-1 por 5 horas, 3) oxalato de amônio 0,175 mol L-1+ácido oxálico 0,1 mol L-1 por 4 horas, 4) peróxido de hidrogênio 30% (m/v) e ácido nítrico 0,02 mol L-1 a 85°C por 1 horas e 5) cloridrato de hidroxilamina 1 mol L-1 e ácido acético 25% (v/v) por 5 horas. A fração residual (6) foi digerida com ácido fluorídrico e perclórico puros a quente até a total dissolução do material.

Após cada extração o sobrenadante, contendo o material dissolvido, foi separado do resíduo por centrifugação durante 10 minutos. O resíduo foi lavado com água deionizada e depois centrifugado. A água de lavagem foi descartada e o resíduo submetido à extração seguinte. Depois de filtrado e acidificado com HNO3, o sobrenadante foi analisado para Pb, Cu, Ni, Zn, Mn, Fe, Cd, e Cr no espectrofotômetro de absorção atômica com chama Perkin Elmer 3300 da Central Analítica da Universidade Federal do Amazonas. Para efeito de quantificação foram preparados padrões a partir de soluções certificadas de 1000 ppm para cada elemento.

Os valores de acumulação foram calculados usando a fórmula: FA = AR/AN, onde AR é a média do elemento na amostra do resíduo e AN da amostra do material natural.

RESULTADOS

Características físicas

O solo urbano resultante da degradação do resíduo acumulado no Horto Municipal tem aproximadamente 7 m de espessura, apresenta estrutura friável, textura argilo-arenosa e cor amarelada na base, enquanto é areno-argiloso, marrom a preto da porção intermediária até o topo. Uma variedade de resíduos encontra-se misturada ao material fino do solo, principalmente restos metálicos e cacos de porcelana e vidro. Não há informação sobre a origem e tipo dos resíduos, mas considerando que foi desativado em 1969 e anterior ao início do Distrito Industrial de Manaus, a maior parte dele deve ser de origem doméstica, portanto com predomínio de material orgânico.

O solo resultante da degradação dos resíduos acumulados em Novo Israel tem aproximadamente 10 m de espessura, é friável, constituído por três zonas acinzentadas argilo-arenosas de aproximadamente 1 m de espessura cada uma, alternadas por porções areno-argilosas de até 2 m avermelhadas e marrons. Foi encontrada grande quantidade de sacos plásticos, restos metálicos e cacos de vidro e de material de construção. Levantamento realizado por Lima (1991) sobre o tipo de material recolhido em Manaus, apesar de ser posterior a desativação do lixão de Novo Israel em 1986, sugere que a maior parte do material acumulado é constituído de matéria orgânica, papel e papelão (80%).

O solo natural tem 1,5 m de espessura, é argilo-arenoso, friável, constituído de areia fina a média, tem coloração vermelha a amarelo-rosada na base e amarelo a cinza em direção ao topo.

Composição mineralógica

Os solos são compostos majoritariamente por caulinita e quartzo, enquanto na fração silte, além desses minerais, ocorre anatásio, goethita, hematita, illita/muscovita e outros não identificados (Figura 2). Desses a calcita ocorre exclusivamente no resíduo do Novo Israel e provavelmente está associada a restos de material de construção. Na fração argila os difratogramas de raios-x apresentaram background mais elevado entre 20º e 30º 2θ, exceto no material natural, o que indica a presença de material amorfo.


O estudo de detalhe entre 18º e 22º 2θ mostra que a caulinita presente nos três locais estudados apresenta suas três reflexões típicas em 020, 110 e 111, contudo próximo a superfície elas se deterioram e desaparecem totalmente, especialmente no Horto Municipal e em Novo Israel (Figura 2). Isso mostra desordenamento crescente da sua estrutura e se reflete no tamanho minúsculo dos cristalitos < 1 µm de diâmetro.

Análises físico-químicas

Na tabela 1 estão apresentados os resultados de pH em água e KCl e o conteúdo de matéria orgânica. O pH, além de medir a acidez, determina a carga líquida que predomina no material e a mudança em seu caráter eletroquímico. Uma característica marcante do solo urbano é o pH próximo da neutralidade em relação a maior acidez no material natural (Tabela 1). Outro fato importante é a carga superficial, essencialmente negativa (∆pH negativos) no material natural, enquanto no Horto Municipal é tanto negativa como positiva e em Novo Israel predominantemente positiva (Tabela 1).

O conteúdo de matéria orgânica varia ao longo dos solos, é menor e crescente em direção ao topo no solo natural (1,3 a 6,9%), enquanto no Horto Municipal alcança seu maior valor entre 30 e 60 cm de profundidade (de 0,6 a 12,97%) e em Novo Israel com maior conteúdo entre 60 e 90 cm (de 2,3 a 15,8%) (Tabela 1).

No espectro de infravermelho as bandas de absorções dos ácidos húmicos e fúlvicos mostram a presença de alcoóis, fenóis ou ácidos carboxílicos e estiramento N-H (3464-2900 cm-1), estiramentos C=O de cetonas (1717 cm-1) e aminas (1653 cm-1), vibrações de estiramento C=C de alcenos, C=O de quinonas, amidas e grupos carboxílicos e íon COO- (1630-1620 cm-1) em ambos os solos (Figura 3). Há indicativo da presença de compostos alifáticos (1456 cm-1 e 1384 cm-1) e grupos carboxílicos complexados com ferro (1398-1261 cm-1). As bandas em 3692 e 3622 cm-1, bem como entre 1100 e 1000 cm-1 e em 914 cm-1 podem ser atribuídas a ligações Si-OH resultantes de impurezas (caulinita) no processo de purificação.


De forma geral, os espectros de infravermelho do Horto Municipal e Novo Israel são similares entre si e com a matéria orgânica de solos naturais da região (Horbe et al. 2004), apenas a amostra da base do perfil do Horto Municipal apresentou ausência das bandas características de cetonas e ácidos carboxílicos e dos compostos alifáticos o que indica menor influência dos resíduos.

As frações geoquímicas

Na fração solúvel em água o Zn foi o elemento com maior contribuição na composição química (Figura 4). O Horto Municipal apresenta concentrações significativas apenas para Zn (até 904 µg.kg-1), encontrado em todo o solo e, contribuição bem menor de Cu na porção intermediária e no topo (até 42 µg.kg-1) (Tabela 2 e figura 4). Em Novo Israel Zn (valor máximo de 1244 µg.kg-1) seguido de Mn e Cu (até 92 e 60 µg.kg-1 respectivamente) são os elementos que apresentam as maiores contribuições (Figura 4), enquanto Pb e Ni têm menores concentrações e distribuição errática (de < 0,5 a 19 µg.kg-1 e < 0,5 a 66 µg.kg-1 respectivamente) (Tabela 2). Em ambos os solos urbanos Fe e Cr mostram teores abaixo do limite de detecção. No solo natural, além do Zn (até 996 µg.kg-1) e Mn (5 a 22 µg.kg-1) ao longo de todo o perfil, foi detectado Cu e Fe (até 2 e 715 µg.kg-1 respectivamente) no topo e Cd na base (até 8 µg.kg-1) (Tabela 2).


Na fração trocável e adsorvida ocorreu maior diversificação na composição química, com Zn e Mn mais abundantes no Horto Municipal e em Novo Israel enquanto que no solo natural tem maior variabilidade (Figura 4). O Cr está sistematicamente abaixo do limite de detecção nesta fração, Cd ocorre apenas na base do solo do Horto Municipal (8 µg.kg-1) e Fe apenas no topo do Novo Israel (548 µg.kg-1) (Tabela 2). Zinco e Mn são os mais abundantes, tanto no Horto Municipal (até 10869 µg.kg-1 e 5237 µg.kg-1, respectivamente) como no Novo Israel (até 5400 µg.kg-1 e 3948 µg.kg-1, respectivamente). A diferença entre os solos está que, enquanto Zn e Mn são mais elevados no Horto Municipal, Cu, Pb e Ni são mais persistentes e elevados em Novo Israel (até 2122, 1063 e 179 µg.kg-1). No solo natural somente Ni está acima do limite de detecção em todo o pacote (entre 46 a 89 µg.kg-1), os demais são erráticos e com conteúdo baixo (<150 µg.kg-1).

Na fração hidróxidos de ferro amorfos, o conteúdo dos elementos analisados é maior que nas frações anteriores. A principal diferença entre os dois solos está no Ni abaixo do limite de detecção e no baixo conteúdo de Pb no Horto Municipal. Cromo e Cd estão abaixo do limite de detecção tanto nos solos urbanos quanto no solo natural. O Fe é o elemento mais abundante por constituir os minerais dissolvidos nesta extração (até 183040 µg.kg-1 no Horto Municipal e 182160 µg.kg-1 no Novo Israel) e é seguido de Zn (até 22288 µg.kg-1 no Horto Municipal e 17192 µg.kg-1 no Novo Israel) e Cu (até 9352 µg.kg-1 no Horto Municipal e 10648 µg.kg-1 no Novo Israel) (Tabela 2, Figura 5). No solo natural somente o Fe está acima do limite de detecção no topo do perfil (até 32168 µg.kg-1) e Ni na porção intermediária (59 µg.kg-1) (Figura 4).


Na fração matéria orgânica, o Horto Municipal é marcado por elevadas proporções de Zn (até 32168 µg.kg-1), Cu (até 8936 µg.kg-1), Mn (até 33218 µg.kg-1) e Fe (até 30406 µg.kg-1), especialmente na porção média superior do solo (Figura 4) e por Pb, Ni, Cr e Cd abaixo do limite de detecção (Tabela 2). Em Novo Israel Zn, Cu, Mn também estão em média mais elevados especialmente na porção intermediária do solo (Figura 4), enquanto Fe é inferior ao do Horto Municipal e Pb e Ni estão acima do limite de detecção apenas próximo a base do solo (até 36 µg.kg-1). No solo natural o conteúdo dos elementos é bem inferior ao dos solos urbanos.

A fração oxi-hidróxidos de Fe tem esse elemento como o de conteúdo mais elevado (Figura 4), pois constitui a hematita e goethita presentes nesta fração. No Horto Municipal o conteúdo de Zn, Cu e Mn é inferior a dos hidróxidos amorfos e Pb e Fe são superiores (Tabela 2). Novo Israel, com os teores mais elevados que no Horto Municipal, se caracteriza pela maior concentração de Ni que alcança 1007 µg.kg-1. No solo natural a concentração dos elementos é errática e inferior a dos solos urbanos. Cu e Mn são os únicos que estão levemente mais concentrados nesta fração que na dos amorfos de Fe.

A fração residual concentra os elementos contidos nos minerais que não foram solubilizados nas extrações anteriores. É nessa fração que todos os elementos estão mais concentrados, especialmente em Novo Israel (Tabela 2). No solo natural os conteúdos de Ni, Cr, Mn, Fe e Cd são inclusive mais elevados que no Horto Municipal (Tabela 2). Nesta fração bem como na amorfa e na dos óxi-hidróxidos, o ferro é o elemento mais abundante em quase todo os perfis (Figura 4).

A somatória dos teores das frações de cada elemento ao longo dos perfis indica variações acentuadas (Figura 5). Contudo, no Horto Municipal há um padrão geral, Zn, Cu, Pb, Mn e Fe tendem a aumentar de teor em direção ao topo e Ni e Cd diminuem e Cr quase não varia. Todos os elementos tem teores menores na superfície em relação a amostra precedente. Em Novo Israel também há variações de teores ao longo do solo. Eles tendem a serem menores na base e maiores na porção intermediária, a amostra 4 que é a que apresenta as maiores concentrações de Zn, Cu, Pb e Mn e em relação a amostra 6 para Ni, amostra 3 para Fe e amostra 7 para Cd. Ao contrário do Horto Municipal os teores aumentam na superfície em relação a amostra precedente exceto para Cu, Ni e Cr. Em relação a matéria orgânica somente Fe e Pb mostram o mesmo padrão de distribuição no Horto Municipal, além de também haver acréscimo de teor para o topo do solo, mas decréscimo em superfície (Figura 5). No Novo Israel o padrão da matéria orgânica se assemelha ao do Fe e na base do solo aos do Zn, Cu, Pb, Mn e Cd.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

A quantidade de resíduos depositados nos dois locais estudados é desconhecida, contudo considerando os efeitos de degradação e compactação natural do material, a formação de pelo menos 7 m de solo no Horto Municipal e de 10 m em Novo Israel indica um volume considerável. Apesar disso, e da grande quantidade de matéria orgânica em relação ao solo natural e do componente amorfo identificado, eles refletem a composição mineralógica do solo natural.

Os dois solos estudados estão altamente contaminados em elementos-traços quando comparados com o solo natural, em termos absolutos ambos tem aproximadamente a mesma sequência de concentração dos elementos: no Horto Municipal Fe>Zn>Mn>Cu>Pb>Cr>Ni>Cd e em Novo Israel Fe>Zn>Cu>Mn>Pb>Cr>Ni>Cd (Tabela 3). As maiores acumulações foram nas frações hidróxido de Fe amorfo e óxi-hidróxidos de Fe seguidas da matéria orgânica (Tabela 4) e entre os elementos Zn, Cu e Mn foram os que mais se acumularam (+ de 1161 vezes) inclusive Pb na fração residual do Horto Municipal (7405 vezes) e Ni (1697 vezes) em Novo Israel. Comparativamente, essas frações tiveram em geral maior enriquecimento em elementos no Horto Municipal, enquanto as mais biodisponíveis e a residual acumularam-se mais em Novo Israel.

Quando os elementos são sorvidos por interações eletrostáticas ou de van der Walls por complexos com baixa estabilidade (Camargo e Alleoni 2001; Sposito 1989) eles são os realmente biodisponíveis para a água e vegetação. Nesse tipo de ligação os elementos podem ser trocados facilmente por outros (troca iônica) devido à agitação térmica quando há variações no pH e, portanto são fonte permanente de elementos para as soluções (Kabata-Pendias e Pendias 1987) e, conseqüentemente para o meio ambiente. Nos solos urbanos estudados o Zn com o teor mais elevado exceto em relação ao Fe nas frações óxi-hidróxidos e residual, é o mais reativo e é seguido, principalmente do Mn e Cu nas frações mais biodisponíveis e de Pb e Cu nas frações óxi-hidróxido (Tabela 4).

Os compostos orgânicos na forma de alcoóis, fenóis ou ácidos carboxílicos, alcenos, quinonas, aminas e compostos alifáticos, identificados nos resíduos estudados, e o pH mais alcalino sugerem que os resíduos já passaram da fase anaeróbica ácida e estão na fase de geração de metano e humificação. Nessa condição a mobilidade dos elementos é baixa, pois além dos grupos funcionais da matéria orgânica, que formam ligações fracas de troca iônica em condições de pH mais ácido e covalentes em pH mais alcalino (Stevenson 1994; Lu et al. 2003), formam-se os amorfos de Fe, sulfetos e carbonatos que tem alta capacidade de imobilizar metais (Bozkurt et al. 2000). Além disso, o ambiente tropical chuvoso ao qual estão submetidos os solos estudados intensifica o desenvolvimento de óxi-hidróxidos de Fe que chegam a formar crostas com até 2 m de espessura (Peixoto e Horbe 2008).

A retenção mais elevada no Horto Municipal deve estar relacionada ao maior tempo de interação dos constituintes mais estáveis do resíduo e a maior degradação e humificação da matéria orgânica como indica a correlação entre Zn, Cu, Pb, Mn, Fe e matéria orgânica(r>0,67), enquanto em Novo Israel os elementos se correlacionam entre si (r>0,65), mas não com o Fe e a matéria orgânica (r<0,40). No solo natural somente Fe, Zn, Cr e matéria orgânica mantêm correlações significativas (r<0,52). A maior retenção no Horto Municipal deve estar também relacionada ao caráter eletroquímico tanto positivo quanto negativo como indicado pelo ∆ pH, enquanto em Novo Israel, que é mais jovem, é predominantemente positivo sugere menor capacidade de sorver metais e menor humificação. Contudo, modificações na estabilidade da matéria orgânica associada a sua oxigenação e conseqüente acidificação, podem facilmente liberar os elementos sorvidos para as soluções. Esse fato está ocorrendo no Horto Municipal, onde há decréscimo de todos os elementos na superfície, enquanto em Novo Israel o aumento de Zn, Pb, Mn, Fe e Cd (Figura 5) indica maior estabilidade.

Apesar da abundância de matéria orgânica nos solo (até 15,8%) as frações dos óxidos amorfos e óxi-hidróxidos de Fe têm maior capacidade de acumulação (Tabela 4). Restos metálicos, chapas, fios e pregos encontrados especialmente em Novo Israel, são os responsáveis pelos conteúdos mais elevados em Fe e da maioria dos demais elementos na fração dos hidróxidos amorfos. Os constituintes amorfos, bem como o baixo grau de ordenamento da caulinita encontrada nos resíduos, facilitam e elevam a capacidade de troca catiônica (Melo et al. 2001) e contribuem para o acúmulo de Zn, Cu, Pb e Mn nessa fração e na trocável. Por outro lado, o tempo também é um aliado na fixação dos elementos, pois à medida que os materiais amorfos envelhecem eles tendem a estruturas mais organizadas (Shuman 1975), isto permitiria a acumulação um pouco mais acentuada de Zn e Cu nessa fração no Horto Municipal. Além disso, a maturação dos resíduos torna o pH menos ácido e facilita a estabilização dos óxi-hidróxidos e a consequentemente fixação dos elementos (Andreottola e Cannas 1997; Bozkurt et al. 2000; Zapusek e Lestan 2009). A maior capacidade de retenção dos materiais amorfos, também observada em ambientes similares (Flyhammat et al. 1997), pode estar relacionada à matéria orgânica. Esta desestabiliza os minerais herdados do solo, como constatado pelo desordenamento crescente da estrutura da caulinita, e é um dos principais agentes inibidores no processo de formação dos óxi-hidróxidos de Fe (Sposito 1989; Schwertmann e Cornell 1991), mas estabiliza os amorfos e, consequentemente a capacidade de adsorção de elementos.

É interessante o grande acúmulo de Pb na fração residual e óxi-hidróxido de Fe. A não ser que esse elemento tenha sido adicionado em uma forma cristalina estável, tanto no Horto Municipal como em Novo Israel, há forte indício de rápido processo de estabilização desse elemento, especialmente quando se considera o seu menor acúmulo na fração amorfa. Essa estabilização, que deve ocorrer também com os demais elementos, mas em uma taxa mais lenta, deve estar associada à baixa mobilidade desse elemento no ambiente superficial que pode precipitar como carbonato em pH>5.5 (Drever 1997) e ao efeito de envelhecimento e desidratação dos amorfos de Fe (Zapusek e Lestan 2009). Nesse processo eles tendem para fases mais cristalinas e residuais e, portanto com maior predominância de ligações covalentes com capacidade de difundir os elementos sorvidos para o interior da estrutura (Barrow 1979).

Este estudo mostra que parte dos elementos químicos está retida no solo o que minimiza o potencial atual de impacto ambiental. Contudo, a associação com as fases mais móveis e a expansão da pluma de contaminação no período chuvoso constatada por Rocha e Horbe (2006), indicam que o pH ácido da água da chuva em Manaus (pH=4,1- Honório et al. 2010) tem capacidade de mobilizar os elementos retidos no solo exatamente por estarem mais associados às fases mais biodisponíveis (frações solúvel, trocável/adsorvida, amorfa e matéria orgânica) e contaminar a água subterrânea. Prevê-se contaminação semelhante no entorno do Horto Municipal, mas em menor escala já que o conteúdo dos elementos é menor e há maior estabilidade dos solos, apesar dos indícios de remobilização serem evidentes no topo. A possibilidade que esses solos sejam revolvidos no futuro pode potencializar a liberação de elementos para o meio ambiente e agravar a contaminação da água subterrânea.

AGRADECIMENTOS

Ao curso de pós-graduação em Geociências da UFAM pelo apoio logístico, a CAPES pela bolsa ao primeiro autor e ao CNPq pela bolsa de produtividade ao segundo autor. Aos revisores pelas suas correções e sugestões.

BIBLIOGRAFIA CITADA

Recebido em 30/10/2010

Aceito em 12/12/2010

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 2012

Histórico

  • Recebido
    30 Out 2010
  • Aceito
    12 Dez 2010
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