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Notas etnobotânicas de espécies de Sapindaceae Jussieu

Ethnobotanical notes of species of the Sapindaceae Jussieu family

Resumos

Os autores apresentam o repertório etnobotânico referente a 52 espécies da família Sapindaceae Jussieu, compilando dados da sua utilização, procurando evidenciar a importância econômica para as populações humanas e os usos que fazem das diferentes espécies.

Sapindaceae; etnobotânica; utilização econômica


The authors present ethnobotanical notes on 52 species of the Sapindaceae Jussieu family with data of uses and economic importance for human populations, and the uses they make of different plant parts.

Sapindaceae; ethnobotany; economic utilization


NOTAS ETNOBOTÂNICAS DE ESPÉCIES DE SAPINDACEAE JUSSIEU

Germano Guarim Neto1 1 Departamento de Botânica e Ecologia, IB, Universidade Federal de Mato Grosso, CEP 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil

Santina Rodrigues Santana2 1 Departamento de Botânica e Ecologia, IB, Universidade Federal de Mato Grosso, CEP 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil

Josefa Valdete Bezerra da Silva3 1 Departamento de Botânica e Ecologia, IB, Universidade Federal de Mato Grosso, CEP 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil

Recebido em 12/01/1999. Aceito em 25/05/2000

RESUMO ¾ (Notas etnobotânicas de espécies de Sapindaceae Jussieu). Os autores apresentam o repertório etnobotânico referente a 52 espécies da família Sapindaceae Jussieu, compilando dados da sua utilização, procurando evidenciar a importância econômica para as populações humanas e os usos que fazem das diferentes espécies.

Palavras-chave ¾ Sapindaceae, etnobotânica, utilização econômica

ABSTRACT ¾ (Ethnobotanical notes of species of the Sapindaceae Jussieu family). The authors present ethnobotanical notes on 52 species of the Sapindaceae Jussieu family with data of uses and economic importance for human populations, and the uses they make of different plant parts.

Key words ¾ Sapindaceae, ethnobotany, economic utilization

Introdução

Nas últimas décadas, estudos em etnobiologia têm sido intensificados, procurando conhecer e divulgar as estratégias usadas pelos seres humanos e suas relações com os recursos biológicos, assim como para fortalecer conceitos e metodologias de trabalhos na área (Ford 1978; Posey & Overal 1990; Berlin 1992; Balick & Cox 1996).

Dessa forma, é através da etnobotânica que se busca o conhecimento e o resgate do saber botânico tradicional, particularmente relacionado ao uso dos recursos da flora, conforme já salientado e demonstrado em diferentes aspectos por autores como Siqueira (1981); Xolocotzy (1983); Gomez-Pompa (1986), Toledo (1986), Arenas (1986), Joyal (1987), Levi-Strauss (1987), Jain (1989), Martin (1995), Guarim Neto (1985a; 1996), Alexiades (1996), Amorozo (1996) e Begossi (1998).

O uso dos recursos vegetais está fortemente presente na cultura popular que é transmitida de pais para filhos no decorrer da existência humana. Este conhecimento é encontrado junto a populações tradicionais (Diegues 1996) e/ou contemporâneas, e pelo que se tem observado, tende à redução ou mesmo ao desaparecimento, quando sofre a ação inexorável da modernidade.

Segundo Jacomassi & Piedade (1994), admirável é a perpetuação do conjunto de conhecimentos acumulados que englobam a domesticação e a cultura das plantas, salientando que no Brasil os povos indígenas, antes mesmo do descobrimento, utilizavam espécies medicinais na cura de doenças.

Nesse contexto, vale salientar que o potencial econômico da flora é altamente significativo e, particularizando, na família Sapindaceae, este potencial é muito extenso, principalmente analisando as espécies componentes sob as mais diferentes formas de utilização (Guarim Neto 1978; 1985a; 1985b).

Apesar dos estudos já realizados com a família Sapindaceae (Guarim Neto 1978; 1985a; 1985b), a sua importância etnobotânica ainda não foi devidamente salientada, especialmente por ser família de ampla distribuição e ter espécies com usos diferenciados.

Portanto, este estudo objetiva recuperar e registrar o conhecimento etnobotânico sobre as espécies de Sapindaceae, principalmente através do referencial bibliográfico e regional mato-grossense, compilando dados sobre a diversificação de uso dessas espécies entre as populações humanas.

Material e métodos

Para a coleta dos dados etnobotânicos foi feita revisão bibliográfica para se detectar o uso diferenciado das espécies da família Sapindaceae, em nível geral, à semelhança da metodologia empregada por Motley (1994) em seus estudos na família Araceae e com base nos pressupostos de Martin (1995) e Alexiades (1996). Com referência à obtenção de dados para Mato Grosso, foram ainda realizadas excursões em áreas de cerrado, pantanal e floresta para o registro dos dados etnobotânicos (em alguns casos através do contato com moradores dessas áreas) e as coletas inerentes. Foram feitas anotações de dados referentes aos nomes vulgares, ocorrência, utilização regional, aspectos ecológicos das espécies catalogadas e distribuição geográfica.

Resultados e discussão

Foram catalogadas 52 espécies distribuídas em 17 gêneros, com formas de usos diferenciadas. Dentre os gêneros, os mais representativos, enquanto potencial de uso, foram Talisia Aublet, Cupania L. e Paullinia L. (Tab. 1).

Os dados obtidos com as 52 espécies catalogadas mostram diversificada utilização, incluindo as plantas com potencial ornamental, além da madeira, raízes, cascas do caule e dos ramos, folhas, frutos, sementes e a seiva. Entre as formas de uso, deve-se mencionar as propriedades medicinais e ictiotóxicas, uma vez que se destacam nas informações obtidas.

Percebe-se que a ocorrência e a distribuição das espécies são amplas, atingindo áreas distintas no mundo, nas mais diferenciadas regiões biogeográficas.

Por outro lado, a multiplicidade de usos de algumas das espécies catalogadas demonstra o etnoconhecimento de populações humanas distribuídas mundialmente e fornecem indícios da transmissão desse conhecimento através das gerações. O resgate desse conhecimento propicia elementos fundamentais para a conservação da biodiversidade, para as alternativas de subsistência e mesmo para a manutenção da diversidade cultural.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pelas Bolsas de Iniciação Científica e Mestrado concedidas à segunda autora, e à CAPES, pela Bolsa de Doutorado concedida à terceira autora.

2 Bióloga. Mestranda em Saúde e Ambiente, área de Etnobotânica, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, CEP 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil. Bolsista CNPq

3 Professora da Universidade Federal da Paraíba. Doutoranda em Saúde e Ambiente, área de Etnobotânica, Instituto de Saúde Coletiva, Universidade Federal de Mato Grosso, CEP 78060-900, Cuiabá, MT. Bolsista CAPES

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    Departamento de Botânica e Ecologia, IB, Universidade Federal de Mato Grosso, CEP 78060-900, Cuiabá, MT, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Ago 2001
    • Data do Fascículo
      Dez 2000

    Histórico

    • Aceito
      25 Maio 2000
    • Recebido
      12 Jan 1999
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