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Uso de Estatina Associado ao Treinamento Físico: Uma Combinação Perfeita

Palavras-chave:
Dislipidemias/prevenção e controle; Síndrome X Metabólica; Inibidores de Hidroximetilglutaril-CoA Redutases; Fatores de Risco; Exercício; Esportes; Natação

A dislipidemia e a síndrome metabólica crescem exponencialmente nos últimos anos, inclusive em crianças, principalmente pela baixa qualidade da alimentação e pelo elevado nível de sedentarismo populacional.11. Saklayen MG. The Global Epidemic of the Metabolic Syndrome. Curr Hypertens Rep. 2018;20(2):12. doi: 10.1007/s11906-018-0812-z.
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33. Reuter CP, Brand C, Silva PT, Reuter M, Renner JDP, Franke SIR, Mello ED, et al. Relação entre Dislipidemia, Fatores Culturais e Aptidão Cardiorrespiratória em Escolares. Arq Bras Cardiol. 2019;112(6):729-36. Essas duas doenças são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.44. Cesena FHY, Valente VA, Santos RD, Bittencourt MS. Risco Cardiovascular e Elegibilidade Para Estatina na Prevenção Primária: Comparação Entre a Diretriz Brasileira e a Diretriz da AHA/ACC. Arq Bras Cardiol. 2020;115(3):440-9. A redução da lipoproteína de baixa densidade (LDL), bem como do colesterol total (CT) e da relação CT pela lipoproteína de alta densidade (HDL – CT/HDL) são as principais formas de prevenção cardiometabólica.55. Stein EA, Raal FJ. Lipid-Lowering Drug Therapy for CVD Prevention: Looking into the Future. Curr Cardiol Rep. 2015;17(11):104. O uso de estatinas é considerado tratamento padrão, sendo a medida farmacológica mais eficaz para melhorar o perfil lipídico.66. Furtado RHM, Genestreti PR, Dalçóquio TF, Baracioli LM, Lima FG, Franci A, Giraldez RRCV, et al. Associação entre Terapia com Estatinas e Menor Incidência de Hiperglicemia em Pacientes Internados com Síndromes Coronarianas Agudas. Arq Bras Cardiol. 2021;116(2):285-94. No entanto, existem alternativas não farmacológicas que também são eficazes, sendo uma delas o exercício físico.

Diferentes evidências trazem a importância da adesão ao treinamento físico regular como forma de prevenção primária ou secundária no desenvolvimento ou agravamento de doenças cardiometabólicas.77. Costa RR, Buttelli ACK, Coconcelli L, Pereira LF, Vieira AF, Fagundes AO, e al. Water-Based Aerobic and Resistance Training as a Treatment to Improve the Lipid Profile of Women With Dyslipidemia: A Randomized Controlled Trial. J Phys Act Health. 2019;16(5):348-54.99. Marongiu E, Crisafulli A. Cardioprotection acquired through exercise: the role of ischemic preconditioning. Curr Cardiol Rev. 2014;10(4):336-48. No entanto, ainda não há um consenso sobre o efeito da combinação entre o uso de estatinas com o treinamento físico, duas poderosas ferramentas que, combinadas, podem promover um impacto ainda maior no perfil lipídico. Foi o que Costa et al.1010. Costa RR, Vieira AF, Coconcelli L, Fagundes AO, Buttelli ACK, Pereira LF, Stein R, Kruel LFM. Statin Use Improves Cardiometabolic Protection Promoted By Physical Training in an Aquatic Environment: A Randomized Clinical Trial. Arq Bras Cardiol. 2021; 117(2):270-278. doi: https://doi.org/10.36660/abc.20200197
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fizeram nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, analisando a influência do uso de sinvastatina nas adaptações lipídicas decorrentes do treinamento aeróbico e de força em meio aquático em mulheres idosas com dislipidemia. Para tal, foram analisadas 69 mulheres idosas (66,13±5,13 anos), sedentárias, dislipidêmicas, tanto não usuárias quanto usuárias de sinvastatina (20 mg e 40 mg).

Vamos destacar os principais pontos metodológicos do artigo a seguir: trata-se de um ensaio clínico randomizado, com 3 grupos (treinamento aeróbico em meio aquático – WA; treinamento de força em meio aquático – WR; grupo controle – GC). A intervenção teve duração de 10 semanas (2 vezes por semana) para todos os grupos. O grupo WA foi composto por 23 mulheres (10 em uso de estatina e 13 sem uso de estatina); o grupo WR foi composto por 23 mulheres (9 em uso de estatina e 14 sem uso de estatina); e o GC foi composto por 23 mulheres (9 sem uso de estatina e 14 sem uso de estatina). Destacamos aqui o primeiro ponto positivo do estudo: randomização bem executada com n amostral igual em todos os grupos e distribuição correta de uso de estatina.

Em relação ao programa de treinamento físico aquático, as participantes dos grupos WA e WR realizaram 2 sessões de familiarização antes do início do seguimento. Além disso, a intensidade de exercício foi aumentada após 5 semanas de intervenção. As sessões de exercício tiveram duração de 45 minutos, sendo 8 minutos de aquecimento, 30 minutos de parte principal e 7 minutos de desaquecimento. Para o grupo WA, adotou-se o treinamento intervalado com intensidade entre 90% e 100% da frequência cardíaca correspondente ao limiar anaeróbio (FCLA). Já o grupo WR realizou os exercícios adotando velocidade máxima de execução, e também manteve um tempo fixo de 1 minuto e 20 segundos para cada exercício, enquanto o GC realizou um programa não periodizado de exercícios de relaxamento em imersão, com a finalidade de manter a mesma quantidade de sessões semanais dos outros grupos. O segundo mérito do trabalho foi controlar a intensidade de exercício pela FCLA, além de periodizar o treinamento físico, planejando o incremento da intensidade durante o seguimento.

A seguir, destacaremos os principais achados do estudo: em resumo, o uso de estatina associado ao treinamento físico melhora LDL, CT e CT/HDL. Quanto? Participantes medicadas para LDL: −5,58 a 25,18 mg.dl−1; CT: −3,41 a 25,89 mg.dl−1; CT/HDL: −0,37 a 0,61 mg.dl−1, com p significativo quando comparado às participantes não medicadas, sendo essa redução estatisticamente significativa apenas para o grupo WR. De modo geral, o uso de estatina associado ao treinamento de força em meio aquático parece ser a estratégia mais eficaz na redução dos parâmetros lipídicos avaliados no presente estudo.

Sabemos da importância do treinamento físico aeróbico, principalmente pela sua proteção em relação a diversos fatores de risco cardiovascular. No entanto, diferentes evidências sugerem que o treinamento de força é a ferramenta mais eficaz para melhorar o perfil lipídico, principalmente aumentando o HDL, e consequentemente reduzindo CT/HDL.1111. Correa CV; Teixeira BC; Bittencourt A; Oliveira AR. Effects of strength training on blood lipoprotein concentrations in postmenopausal women. J Vasc Bras. 2014;13(4):312-7. Durante a prática clínica, os especialistas sabem que o treinamento físico combinado, ou seja, aeróbico e força juntos, na mesma sessão ou em sessões diferentes, apresenta benefícios em diversos parâmetros e acaba sendo o mais utilizado no dia a dia profissional, somando os benefícios tanto do exercício aeróbico quanto do exercício de força. O estudo apresenta muitos méritos, no entanto podemos sugerir que para os próximos estudos, seja comparado o efeito do treinamento combinado e também em homens dislipidêmicos, inclusive ampliando a faixa etária, visto que os resultados do presente estudo servem apenas para mulheres idosas.

  • Minieditorial referente ao artigo: Uso de Estatinas Melhora a Proteção Cardiometabólica Promovida pelo Treinamento Físico em Ambiente Aquático: Um Ensaio Clínico Randomizado

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de doutorado e ao Programa de Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares pertencente à Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela oportunidade de trabalho.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Set 2021
  • Data do Fascículo
    Ago 2021
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