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Ressonância Magnética Cardíaca de Estresse em Idosos: Fornece as Respostas?

Palavras-chave
Espectroscopia de Ressonância Magnética/métodos; Doença Arterial Coronariana/cirurgia; Idoso; Diagnóstico por Imagem/tendências; Teste de Esforço/métodos

‘A vida é a arte de tirar conclusões suficientes de premissas insuficientes’

Samuel Butler

Após o ensaio clínico ISCHEMIA, apesar do debate em curso, os médicos precisam contemplar todas as estratégias para pacientes com doença cardíaca isquêmica crônica estável (DCICE).11 Thomas B, Hassan I. The wisdom in ISCHEMIA. Indian Heart J. 2020;72(6):623–4. DOI: 10.1016/j.ihj.2020.11.001
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O manejo da DCICE tem dois objetivos – melhorar o prognóstico e/ou aliviar os sintomas. A maioria dos estudos demonstrou que a revascularização oferece maior alívio de sintomas comparativamente com a terapêutica médica optimizada isoladamente, mas dados sobre os hard outcomes ainda são escassos. Portanto, é importante melhorar nossas ferramentas de tomada de decisão clínica na seleção de pacientes para revascularização. Isso se torna particularmente importante quando selecionamos pacientes idosos para revascularização, porque a relação risco-benefício é provavelmente mais tênue do que em uma coorte mais jovem. Os idosos apresentam dificuldades na avaliação da DCICE por múltiplos motivos. Um refinamento é a seleção adequada do método de avaliação da DCICE. Existe uma panóplia de técnicas não invasivas de imagem, incluindo tomografia computadorizada cardíaca, ecocardiografia, técnicas de medicina nuclear e ressonância magnética cardíaca (RMC). Combinar o paciente certo e o método certo de avaliação seguido da estratégia terapêutica certa melhora os resultados. Na medicina clínica, o importante não é o quanto fazemos, mas o quão bem nossos pacientes se saem depois do que fazemos.

A RMC de perfusão de estresse é um recurso valioso com alto valor preditivo negativo naqueles que não apresentam defeitos de perfusão, independentemente da presença ou ausência de doença arterial coronariana.22 Pezel T, Silva LM, Bau AA, Teixeira A, Jerosch-Herold M, Coelho-Filho OR. What Is the Clinical Impact of Stress CMR After the ISCHEMIA Trial? Front Cardiovasc Med. 2021;8(683434):1–11. doi: 10.3389/fcvm.2021.683434.
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Existem poucos estudos sobre o valor prognóstico da RMC de perfusão de estresse com adenosina em pacientes idosos com ou sem DCICE estabelecida. O estudo de Boonyasirinant e Kaolawanich,33 Kaolawanich Y e Boonyasirinant T. Prognostic Value of Adenosine Stress Perfusion Cardiac Magnetic Resonance Imaging in Older Adults with Known or Suspected Coronary Artery Disease. Arq Bras Cardiol. 2022; 119(1):97-106. embora não seja o primeiro, é uma adição bem-vinda ao repositório de literatura existente que fornece uma razão convincente para o uso de RMC de estresse para a avaliação de isquemia agora abordando a faixa etária idosa.33 Kaolawanich Y e Boonyasirinant T. Prognostic Value of Adenosine Stress Perfusion Cardiac Magnetic Resonance Imaging in Older Adults with Known or Suspected Coronary Artery Disease. Arq Bras Cardiol. 2022; 119(1):97-106. Seus achados demonstram que, embora os dados clínicos tenham sido combinados com informações sobre a função ventricular esquerda, nenhum valor incremental foi observado em comparação com os dados clínicos isolados na previsão de eventos cardíacos graves. A presença de isquemia detectada pela RMC ajudou a prever eventos de modo significativamente melhor. O poder preditivo não foi aumentado com a adição de informação do realce tardio com gadolínio. Esteban-Fernandez et al. verificaram que pacientes idosos com grau moderado ou grave de isquemia na RMC de estresse têm maior risco de ter um evento durante o seguimento.44 Esteban-Fernández A, Bastarrika G, Castanon E et al. Prognostic role of stress cardiac magnetic resonance in the elderly. Rev Esp Cardiol. 2020;73(3):241–7. doi: 10.1016/j.rec.2019.02.007.
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Juntos, esses dois estudos fornecem evidências para o uso da RMC de estresse com adenosina na previsão de resultados em pacientes idosos. Uma característica notável de ambos os estudos é a ausência de eventos adversos significativos de adenosina. No entanto, o ensaio clínico ISCHEMIA refletiu a disponibilidade limitada de equipamentos e experiência, onde a RMC foi o método menos escolhido para avaliar a isquemia (5%), refletindo a prática do mundo real.

Como quase todos os estudos significativos em medicina cardiovascular, a escolha dos desfechos é discutível. Este estudo definiu eventos cardíacos graves como infarto do miocárdio não fatal e mortalidade cardíaca. Com a terapia atual, a maioria dos infartos do miocárdio não é fatal, e as definições em evolução de infarto do miocárdio o tornam um alvo móvel. Em segundo lugar, embora todos tentemos usar a medicina baseada em evidências como base de nossa prática clínica, precisamos lembrar que a medicina é essencialmente um negócio de varejo, como observado eloquentemente por Atul Gawande.55 Gawande A. The Checklist Manifesto. New York: Metropolitan Books of Henry Holt and Company LLC; London:Profile Books; 2010. ISBN:9781846683138 Como tratamos cada paciente individualmente e não a população em si, a significância estatística nem sempre é sinônimo de relevância clínica para o paciente individual.

Outro ponto importante a ser lembrado é que o risco de eventos cardíacos adversos, inerente à presença de marcadores como isquemia, pode ser amenizado com TMI adequada. Nenhuma informação clara sobre a terapia usada nos dois grupos é fornecida. Notou-se uma diferença muito significativa nas taxas de tabagismo entre aqueles com e sem isquemia. Embora não seja estatisticamente significativo para ser inserido no modelo, os médicos sabem como o tabagismo continuado contribui para os eventos clínicos. Na prática clínica do mundo real, a imagem geralmente é solicitada quando a revascularização é contemplada naqueles com DCICE conhecida e não necessariamente para estratificar o risco dos pacientes. Nenhuma técnica de imagem para avaliar DCICE é o santo graal, e todas são essencialmente complementares. Com o envelhecimento da população mundial, devemos buscar as melhores formas de avaliar e gerenciar a DCICE.

O Dr. Thomas atuou como Consultor do Centro de Coordenação Clínica do estudo ISCHEMIA no NYU Langone Medical Center.

  • Minieditorial referente ao artigo: Valor Prognóstico da Imagem de Ressonância Magnética Cardíaca de Perfusão em Estresse com Adenosina em Idosos com Doença Arterial Coronariana Conhecida ou Suspeita

Referências

  • 1
    Thomas B, Hassan I. The wisdom in ISCHEMIA. Indian Heart J. 2020;72(6):623–4. DOI: 10.1016/j.ihj.2020.11.001
    » https://doi.org/10.1016/j.ihj.2020.11.001
  • 2
    Pezel T, Silva LM, Bau AA, Teixeira A, Jerosch-Herold M, Coelho-Filho OR. What Is the Clinical Impact of Stress CMR After the ISCHEMIA Trial? Front Cardiovasc Med. 2021;8(683434):1–11. doi: 10.3389/fcvm.2021.683434.
    » https://doi.org/10.3389/fcvm.2021.683434
  • 3
    Kaolawanich Y e Boonyasirinant T. Prognostic Value of Adenosine Stress Perfusion Cardiac Magnetic Resonance Imaging in Older Adults with Known or Suspected Coronary Artery Disease. Arq Bras Cardiol. 2022; 119(1):97-106.
  • 4
    Esteban-Fernández A, Bastarrika G, Castanon E et al. Prognostic role of stress cardiac magnetic resonance in the elderly. Rev Esp Cardiol. 2020;73(3):241–7. doi: 10.1016/j.rec.2019.02.007.
    » https://doi.org/10.1016/j.rec.2019.02.007
  • 5
    Gawande A. The Checklist Manifesto. New York: Metropolitan Books of Henry Holt and Company LLC; London:Profile Books; 2010. ISBN:9781846683138

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    Jul 2022
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