Acessibilidade / Reportar erro

Minieditorial: Hipertensão Arterial em Populações Especiais: Um Desafio Epidemiológico

Palavras-chave
Hipertensão/epidemiologia; Hipertensão/prevenção e controle; Grupo com Ancestrais do Continente Africano/genética; Fatores de Risco; Tabagismo; Alcoolismo

A hipertensão arterial (HA) é a doença crônica mais prevalente em todo o mundo e o principal fator de risco da maioria das doenças cardio cerebrovasculares.11 Picon RV, Fuchs FD, Moreira LB, Riegel G, Fuchs SC. Trends in prevalence of hypertension in Brazil: a systematic review with meta-analysis. PLOS One. 2012;7(10):e48255. A verdadeira prevalência no Brasil ainda é desconhecida, e os dados que temos advêm do Estudo Vigitel, onde as informações são obtidas por contato telefônico. Estima-se por volta de 31% a prevalência da HA no Brasil em indivíduos adultos.22 Chor D, Ribeiro AL, Carvalho MS, Duncan BB, Lotufo PA, Nobre AA, et al. Prevalence, awareness, treatment and influence of socioeconomic variables on control of high blood pressure: results of the ELSA-Brasil Study. PLOS One. 2015;10(6):e0127382. Em recentes dados do Estudo Vigitel, a prevalência foi de 25,7% da população brasileira adulta.33 Brasil.Ministério da Saúde.Vigitel Brasil 2016. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. [Internet]. [Acesso em 2019 abr 23]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2016_fatores_risco.pdf
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoe...
O conhecimento da real prevalência e a distribuição geográfica é importante não só para medidas de prevenção e tratamento, mas também contribuir para o conhecimento da gênese da doença.

Algumas populações, e em especial os indivíduos afrodescendentes, a HA apresenta características próprias desde prevalência, resposta terapêutica e gravidade.44 Kimura L, Angeli CB, Auricchio MT, Fernandes GR, Pereira AC, Vicente JP, et al. Multilocus family-based association analysis of seven candidate polymorphisms with essential hypertension in an African-derived semi-isolated Brazilian population. Int J Hypertens. 2012;2012:859219.,55 Musemwa N, Gadegbeku CA. Hypertension in African Americans. Curr Cardiol Rep. 2017; 19(12):129. O aspecto multifatorial da HA só é compreendido quando se avalia populações especiais em habitats e hábitos próprios, como no caso dos quilombolas, onde os indivíduos com ancestralidade negra ainda mantém algumas características genéticas e culturais da origem africana.66 Santos DMS, Prado BS, Oliveira CCC, Almeida-Santos MA. Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390. A análise neste contexto tem importância visto que podemos detectar aspectos próprios dos fatores relacionados com o desenvolvimento da HA.

Neste estudo66 Santos DMS, Prado BS, Oliveira CCC, Almeida-Santos MA. Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390. a prevalência da HA nas comunidades quilombolas de Sergipe foi de 26%, relatando os autores que a média no estado é bem inferior (20,4%).77 Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). [Internet]. Censo demográfico: características da população e dos domicílios. 2010. [Citado em 2013 jan 12]. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2010/universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios
https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo...
Entretanto os valores se assemelham em muito aos encontrados no Estudo Vigitel que tenta refletir a população brasileira. Em relação aos fatores de risco para a HA, nesta população com certo grau de vulnerabilidade, o estudo evidenciou hábitos de vida inadequados principalmente a inatividade física, o tabagismo e consumo de álcool. A quantificação do sal na dieta não foi precisa, pois são necessários exames mais complexos para se determinar os valores, e os autores justificam o fato pela própria limitação do estudo.88 Jacobson MF, Campbell NRC. Shaking out the truth about salt. J Clin Hypertens (Greenwich). 2019;21(7):1018-9.

O conhecimento destes fatores de risco, tanto para a HA quanto para eventos cardiovasculares é importante para o planejamento de ações de saúde nestas populações de risco. Este trabalho66 Santos DMS, Prado BS, Oliveira CCC, Almeida-Santos MA. Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390. apresenta um valor epidemiológico bastante significativo, pois permite considerações sociais e extrapolação a outras comunidades quilombolas para uma intervenção de equipes de saúde para uma melhor prevenção cardiovascular.

  • Minieditorial referente ao artigo: Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil

References

  • 1
    Picon RV, Fuchs FD, Moreira LB, Riegel G, Fuchs SC. Trends in prevalence of hypertension in Brazil: a systematic review with meta-analysis. PLOS One. 2012;7(10):e48255.
  • 2
    Chor D, Ribeiro AL, Carvalho MS, Duncan BB, Lotufo PA, Nobre AA, et al. Prevalence, awareness, treatment and influence of socioeconomic variables on control of high blood pressure: results of the ELSA-Brasil Study. PLOS One. 2015;10(6):e0127382.
  • 3
    Brasil.Ministério da Saúde.Vigitel Brasil 2016. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. [Internet]. [Acesso em 2019 abr 23]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2016_fatores_risco.pdf
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2016_fatores_risco.pdf
  • 4
    Kimura L, Angeli CB, Auricchio MT, Fernandes GR, Pereira AC, Vicente JP, et al. Multilocus family-based association analysis of seven candidate polymorphisms with essential hypertension in an African-derived semi-isolated Brazilian population. Int J Hypertens. 2012;2012:859219.
  • 5
    Musemwa N, Gadegbeku CA. Hypertension in African Americans. Curr Cardiol Rep. 2017; 19(12):129.
  • 6
    Santos DMS, Prado BS, Oliveira CCC, Almeida-Santos MA. Prevalência da Hipertensão Arterial Sistêmica em Comunidades Quilombolas do Estado de Sergipe, Brasil. Arq Bras Cardiol. 2019; 113(3):383-390.
  • 7
    Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). [Internet]. Censo demográfico: características da população e dos domicílios. 2010. [Citado em 2013 jan 12]. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2010/universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios
    » https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-demografico/demografico-2010/universo-caracteristicas-da-populacao-e-dos-domicilios
  • 8
    Jacobson MF, Campbell NRC. Shaking out the truth about salt. J Clin Hypertens (Greenwich). 2019;21(7):1018-9.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Out 2019
  • Data do Fascículo
    Set 2019
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br