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Novo Editor-Chefe, Novos Desafios

Palavras-chave
Publicações Periódicas como Assunto/história; Publicações Periódicas como Assunto/tendências; Fator de Impacto de Revistas; Editoração/tendências

É uma grande honra e felicidade ter sido indicado para servir como novo Editor-Chefe dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia para o período de 2018 a 2021. Gostaria de agradecer nesse primeiro editorial aos meus pares e colegas que têm manifestado franco e total apoio à minha indicação. É sem dúvida alguma também um grande desafio tentar contribuir para este que é o nosso mais importante periódico científico de Cardiologia na América do Sul.

E é sobre os ombros de editores-chefes anteriores que me coloco para humildemente colaborar com este importante veículo de transmissão de informação científica da nossa comunidade. O trabalho feito até aqui é grandioso e só foi possível graças à colaboração de editores associados e dos revisores que fazem parte desta grande família dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. E assim continuará. Por isso peço o apoio de todos nesta tarefa dos próximos anos.

Proposta por Dante Pazzanese e Luiz V. Décourt a constituição de um comitê de redação para a revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia, os Arquivos Brasileiros de Cardiologia tiveram como primeiro “diretor” Dr. Jairo Ramos, que consta como o proponente deste nome que persiste desde 1948 até hoje. Desde então, as histórias da Cardiologia Brasileira, de sua Sociedade e dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia se confundem através das décadas. Interessante notar que o primeiro trabalho publicado, inteiramente em inglês, foi "The electrocardiographic evidence of local ventricular ischemia", assinado por Robert H. Bayley e Jolm S. La Due, de Oklahoma City, Estados Unidos (Figura 1).11 Bayley RH, Due JSL. The electrocardiographic evidence of local ventricular ischemia. Arq Bras Cardiol. 1948;1(1):1-18. Isso demonstra claramente que o potencial de internacionalização dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia sempre esteve no seu DNA. Cabe a nós como sociedade desenvolvê-lo plenamente.

Figura 1
Primeira página do primeiro artigo publicado pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia em 1948.

Em especial gostaria de agradecer ao nosso editor-chefe passado Dr. Luiz Felipe P. Moreira pela sua excelente gestão e por passar os Arquivos Brasileiros de Cardiologia para mim bem estruturado e organizado. Seu editorial de dezembro último revê as conquistas dos últimos oito anos, período em que atuei como editor associado dos métodos diagnósticos e imagem.22 Moreira LFP. O Desafio de oito anos na direção editorial dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2017,109(6):502-6. O aprendizado a que me expus durante sua gestão e seu apoio foram fundamentais para que tomasse a decisão de me candidatar a editor-chefe dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia.

Muitas ações estão planejadas para que possamos tornar os Arquivos Brasileiros de Cardiologia mais ágil no processo de revisão de artigos e mais atrativo para os autores. A evolução da ciência e dos periódicos que a veicula é constante e os nossos Arquivos Brasileiros de Cardiologia precisam se preparar para acompanhar essas mudanças e inovações.

Na gestão 2018-2021, duas vigas mestres serão as bases para guiar essa inovação: a internacionalização e a busca da melhora do fator de impacto do nosso periódico. Os motivos para essa escolha estão nos dados apresentados nos últimos anos pelo nosso periódico indicando estabilidade do fator de impacto pouco acima de 1 e a não aderência aos quesitos de internacionalização recomendados pela Scielo.

A primeira guia vem sendo defendida pela Scielo já há algum tempo e será mais enfatizada nos próximos anos. Um primeiro aspecto da internacionalização é a participação de editores associados internacionais. Iniciaremos 2018 com dois novos editores internacionais e um co-editor internacional e assim atingiremos o recomendado pela Scielo de aproximadamente 30% de editores associados internacionais. Com essas medidas, procuramos dar mais visibilidade internacional e atrair a “boa ciência” para os Arquivos Brasileiros de Cardiologia no formato de artigos originais. Ainda nos artigos de revisão deveremos manter a tradição de revisar assuntos da Cardiologia e dos limites dessa com outras especialidades, sempre apontando para quais os passos futuros na área, como no artigo de revisão deste nosso número de janeiro.33 Síndromes Genéticas Associadas a Defeitos Cardíacos Congênitos e Alterações Oftalmológicas - Sistematização para o Diagnóstico na Pratica Clínica. Arq Bras Cardiol. 2018 Estamos renovando nossos editores associados, os revisores internacionais e nosso conselho editorial com objetivo de dar mais agilidade e qualidade aos artigos publicados nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia.

A colaboração internacional tem sido um mecanismo de melhora do fator de impacto em periódicos internacionais em alguns países europeus. Creio que precisamos melhorar nosso desempenho nesse quesito e o caminho é a adoção de medidas para internacionalização dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Fica claro que nossos dois objetivos principais nesta gestão são sinérgicos entre si.

Além disso, estão programadas medidas para modernizar e agilizar o processo de revisão de artigos, na tentativa de obter uma rápida resposta aos autores sobre a aceitação ou não de seus artigos nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Queremos atingir um maior grau de satisfação dos autores e revisores durante os processos editoriais dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Um primeiro e importante passo é a adoção de um novo sistema eletrônico de submissão, mais provavelmente o ScholarOne, que permitirá um manejo mais prático e rápido dos artigos de todos os pontos de vista, dos autores, editores associados, editor-chefe, revisores e assistentes editoriais. Além disso, vamos trabalhar de forma muito próxima aos autores e revisores para obtermos uma revisão rápida e efetiva e que permita a tomada de decisão pelos editores da forma mais precisa e eficiente possível.

Algumas mudanças de formato dos artigos também estão sendo planejadas, para torná-los mais concisos, diretos e pragmáticos. Em recente visita do Prof. Valentin Fuster, Editor-in-Chief do JACC, perguntamos “How do you do it?” e obtivemos como resposta um “Keep it simple!!”. Acho que devemos ouvir e seguir esse conselho. Assim, mini-editoriais para os artigos originais e a Figura 1 sumarizando o artigo são modificações formais que estamos implementando.

Mas nem tudo está planejado linearmente como descrito acima. Novos desafios vão demandar a participação de todos os “players” deste processo científico, incluindo nossos associados da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Em recente reunião da Scielo, essa determinou novas diretrizes para serem seguidas pelos periódicos latino-americanos, algumas delas com características disruptivas e efeitos finais ainda imprevisíveis. Como exemplos mais importantes estão a publicação continuada e o conceito de “ciência aberta”. Esse último inclui a publicação em repositórios dos dados fontes que geraram os resultados daquele manuscrito. Essa publicação torna os dados públicos e passivos de serem usados, checados e re-analisados por outros grupos que não os autores originais. Apesar de extremamente controverso, esse mecanismo parece aumentar o número de citações dos artigos e, portanto, do impacto desses e do periódico, além do ganho de credibilidade dos artigos e periódicos. Isso funcionaria da mesma forma no nosso ambiente científico nacional? Essa é uma resposta que apenas a comunidade científica pode dar e cuja decisão de adoção pelos nossos Arquivos Brasileiros de Cardiologia terá que passar por profunda e ampla discussão. Nessa mesma linha, e possivelmente ainda mais controversa, a “ciência aberta” propõe a aceitação de artigos no formato “preprint”. De forma sumária, já existem repositórios online que aceitam artigos científicos ainda sem passar pelo processo de revisão pelos pares ou peer-review. Isso garante que os autores mantenham a “propriedade” da ideia e dados ali contidos de forma imediata, com capacidade de serem citados por outros autores, mas pode gerar a exposição de artigos de baixa qualidade. Por outro lado, durante a exposição, como num fórum de internet, podem ser feitos comentários que os autores podem usar para melhorar a qualidade de sua publicação. Muitos periódicos já aceitam a submissão de artigos que foram publicados como “preprint”. Devem os Arquivos Brasileiros de Cardiologia também aceitar? Novamente, ampla discussão e um grande desafio se coloca à nossa frente para nos adaptarmos a essa nova realidade digital deste nosso mundo virtual. A Scielo parece estar apoiando fortemente essas medidas que em breve serão consideradas como mandatórias. Na literatura existem evidências que movimentos em direção à “ciência aberta” aumentam o fator de impacto dos periódicos.44 Piwowar HA, Day RS, Fridsma DB. Sharing detailed research data is associated with increased citation rate. PLoS One. 2007;2(3):e308.,55 Metcalfe TS. The Citation impact of digital preprint archives for solar physics papers. Solar Phys. 2006;239(1-2):549-53. Acho que temos que acompanhar a mudança dos tempos...

Planejamos ainda utilizar de forma mais intensa as mídias sociais para a divulgação do conteúdo dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Já temos dados claros na literatura, por exemplo, de que a presença dos periódicos no Twitter aumenta sobremaneira o número de citação dos artigos e o seu impacto.66 Ortega JL. The presence of academic journals on Twitter and its relationship with dissemination (tweets) and research impact (citations). Aslib J Inform Manag. 2017;69(6):674-87.

Mas algumas coisas nunca mudam e a “boa ciência” e a relevância dos artigos continuam dependendo de aspectos científicos tradicionais, como modificar a prática clínica, gerar novos conhecimentos ou ideias sobre a fisiopatologia, história natural ou tratamento de uma doença. Baseado nessa “boa ciência” que tem sido cultivada pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia ao longo de sete décadas de existência, e por representar a ciência de uma das maiores sociedades de cardiologia do mundo é que tenho certeza que o futuro do nosso periódico Arquivos Brasileiros de Cardiologia é brilhante e continuará se mesclando com a história da Cardiologia brasileira.

References

  • 1
    Bayley RH, Due JSL. The electrocardiographic evidence of local ventricular ischemia. Arq Bras Cardiol 1948;1(1):1-18.
  • 2
    Moreira LFP. O Desafio de oito anos na direção editorial dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2017,109(6):502-6.
  • 3
    Síndromes Genéticas Associadas a Defeitos Cardíacos Congênitos e Alterações Oftalmológicas - Sistematização para o Diagnóstico na Pratica Clínica. Arq Bras Cardiol 2018
  • 4
    Piwowar HA, Day RS, Fridsma DB. Sharing detailed research data is associated with increased citation rate. PLoS One 2007;2(3):e308.
  • 5
    Metcalfe TS. The Citation impact of digital preprint archives for solar physics papers. Solar Phys 2006;239(1-2):549-53.
  • 6
    Ortega JL. The presence of academic journals on Twitter and its relationship with dissemination (tweets) and research impact (citations). Aslib J Inform Manag 2017;69(6):674-87.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan 2018
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