Palavras-chave
Testosterona; Hipertensão; Obesidade
A testosterona é o principal hormônio masculino e é responsável pelo desenvolvimento dos órgãos sexuais, tendo importância na libido e na função sexual de forma geral. Apesar de controverso, acredita-se que com a idade ocorra diminuição gradativa deste hormônio, e alguns trabalhos apontam a obesidade como principal fator da redução hormonal.11 Traish AM. Testosterone and Weight Loss: The Evidence. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2014;21(5):313-22. doi: 10.1097/MED.0000000000000086.
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,22 Kelly DM, Jones TH. Testosterone and Obesity. Obes Rev. 2015;16(7):581-606. doi: 10.1111/obr.12282.
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As diferenças hormonais no homem e na mulher podem explicar algumas peculiaridades no comportamento de determinadas doenças, principalmente as cardiovasculares (CV). A testosterona, atinge um pico aos 30 anos de idade, com declínio de 1-2% anualmente.33 Gray A, Feldman HA, McKinlay JB, Longcope C. Age, Disease, and Changing Sex Hormone Levels in Middle-aged Men: Results of the Massachusetts Male Aging Study. J Clin Endocrinol Metab. 1991;73(5):1016-25. doi: 10.1210/jcem-73-5-1016.
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Em idosos, o risco de apresentar deficiência de testosterona (DT) aumenta sensivelmente, podendo levar a diversos sintomas. Entretanto o efeito desta redução hormonal no risco CV ainda não está bem definido, pois em fases mais avançadas da vida surgem diversas comorbidades, principalmente a obesidade. Nesta mescla de fatores de risco fica um pouco difícil tipificar a importância da DT de forma objetiva. Alguns estudos como o de Laughlin et al.44 Laughlin GA, Barrett-Connor E, Bergstrom J. Low Serum Testosterone and Mortality in Older Men. J Clin Endocrinol Metab. 2008;93(1):68-75. doi: 10.1210/jc.2007-1792.
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evidenciaram que a DT aumentava o risco CV. Outros como o "The Longitudinal Cardiovascular Health Study"55 Shores MM, Biggs ML, Arnold AM, Smith NL, Longstreth WT Jr, Kizer JR, et al. Testosterone, Dihydrotestosterone, and Incident Cardiovascular Disease and Mortality in the Cardiovascular Health Study. J Clin Endocrinol Metab. 2014;99(6):2061-8. doi: 10.1210/jc.2013-3576.
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e o de Collet et al.66 Collet TH, Ewing SK, Ensrud KE, Laughlin GA, Hoffman AR, Varosy PD, et al. Endogenous Testosterone Levels and the Risk of Incident Cardiovascular Events in Elderly Men: The MrOS Prospective Study. J Endocr Soc. 2020;4(5):bvaa038. doi: 10.1210/jendso/bvaa038.
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não encontraram nenhuma relação.
Apesar de não haver uma conclusão objetiva entre a DT e o risco CV, a terapia de reposição da testosterona (TRT) é amplamente utilizada, especialmente em idosos com baixos níveis deste hormônio e com alguma expressividade sintomática. Entretanto a TRT apresenta resultados discrepantes em relação aos eventos CV, podendo aumentar a mortalidade, apesar da significante melhora dos sintomas da deficiência androgênica.77 Finkle WD, Greenland S, Ridgeway GK, Adams JL, Frasco MA, Cook MB, et al. Increased Risk of Non-fatal Myocardial Infarction Following Testosterone Therapy Prescription in Men. PLoS One. 2014 9(1):e85805. doi: 10.1371/journal.pone.0085805.
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Esta discrepância, prejudicando uma conclusão dos estudos, ocorre devido a existência, nesta faixa etária mais avançada, de diversas comorbidades principalmente a obesidade, o diabetes mellitus, pré-existência de doenças cardiovasculares e principalmente a hipertensão arterial (HA). Em relação a HA alguns estudos associam a DT a aumentos dos níveis pressóricos, porém ainda não temos estudos robustos que confirmem esta afirmação.88 Svartberg J, von Mühlen D, Schirmer H, Barrett-Connor E, Sundfjord J, Jorde R. Association of Endogenous Testosterone with Blood Pressure and Left Ventricular Mass in Men. The Tromsø Study. Eur J Endocrinol. 2004;150(1):65-71. doi: 10.1530/eje.0.1500065.
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Este estudo transversal de Negreto et al.99 Negretto LAF, Rassi N, Soares LR, Saraiva ABC, Teixeira MEF, Santo LR, et al. Deficiência de Testosterona em Homens Hipertensos: Prevalência e Fatores Associados. Arq Bras Cardiol. 2024; 121(3):e20230138. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230138
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avaliou a prevalência da DT em uma população hipertensa tendo o grande mérito de ser uma avaliação inédita na população brasileira.99 Negretto LAF, Rassi N, Soares LR, Saraiva ABC, Teixeira MEF, Santo LR, et al. Deficiência de Testosterona em Homens Hipertensos: Prevalência e Fatores Associados. Arq Bras Cardiol. 2024; 121(3):e20230138. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230138
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A avaliação da DT em uma determinada doença é complexa em vista de diversos fatores de confusão. Em relação a HA, a obesidade é o fator de confusão mais presente visto que está relacionado tanto com a HA quanto com a DT. De todas as comorbidades analisadas neste estudo foi a obesidade a que teve a relação com a DT, com estatística significante. Encontraram nesta população hipertensa 24,5% de DT, entretanto não sabemos qual a real prevalência na população brasileira. Os estudos em outras populações apresentam números muito variáveis. Mulligan et al estudando o hipogonadismo em 2.165 indivíduos com idade acima de 45 anos (média de 60,5 anos), encontraram prevalência de 38,7%.1010 Mulligan T, Frick MF, Zuraw QC, Stemhagen A, McWhirter C. Prevalence of Hypogonadism in Males Aged at Least 45 Years: The HIM Study. Int J Clin Pract. 2006;60(7):762-9. doi: 10.1111/j.1742-1241.2006.00992.x.
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Evidentemente que a composição das populações estudadas e a relação multidirecional entre a hipertensão, DT e aumento de peso corpóreo, impactam de forma expressiva em uma análise correta de qualquer uma destas variáveis. Entretanto, apesar dos possíveis vieses envolvendo estas doenças e comorbidades, a DT teve associação positiva como o índice de massa corpórea. Quanto mais obeso menor o nível de testosterona. Nesta população brasileira hipertensa, o nível de testosterona caiu um pouco mais de 8ng/dL para o aumento de 1Kg/m2 e reduziu 3,7 ng/dL para cada ano a mais de idade. Estes números são importantes na escassez de dados nacionais.
A participação dos hormônios no contexto cardiovascular é bastante ampla e ainda complexa, principalmente esta relação da testosterona com a HA, que é uma doença multifatorial, onde a obesidade participa de forma expressiva. A maioria dos fatores que elevam a pressão arterial estão relacionados com a obesidade e vice-versa, e neste cenário a DT se agrega a esta complexa dupla de fator de risco CV.
Ainda necessitamos mais estudos com a população brasileira para uma ideia da verdadeira prevalência da DT e para que possamos decifrar com precisão qual o papel do hormônio e da obesidade no mecanismo da HA.
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Minieditorial referente ao artigo: Deficiência de Testosterona em Homens Hipertensos: Prevalência e Fatores Associados
Referências
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1Traish AM. Testosterone and Weight Loss: The Evidence. Curr Opin Endocrinol Diabetes Obes. 2014;21(5):313-22. doi: 10.1097/MED.0000000000000086.
» https://doi.org/10.1097/MED.0000000000000086 -
2Kelly DM, Jones TH. Testosterone and Obesity. Obes Rev. 2015;16(7):581-606. doi: 10.1111/obr.12282.
» https://doi.org/10.1111/obr.12282 -
3Gray A, Feldman HA, McKinlay JB, Longcope C. Age, Disease, and Changing Sex Hormone Levels in Middle-aged Men: Results of the Massachusetts Male Aging Study. J Clin Endocrinol Metab. 1991;73(5):1016-25. doi: 10.1210/jcem-73-5-1016.
» https://doi.org/10.1210/jcem-73-5-1016 -
4Laughlin GA, Barrett-Connor E, Bergstrom J. Low Serum Testosterone and Mortality in Older Men. J Clin Endocrinol Metab. 2008;93(1):68-75. doi: 10.1210/jc.2007-1792.
» https://doi.org/10.1210/jc.2007-1792 -
5Shores MM, Biggs ML, Arnold AM, Smith NL, Longstreth WT Jr, Kizer JR, et al. Testosterone, Dihydrotestosterone, and Incident Cardiovascular Disease and Mortality in the Cardiovascular Health Study. J Clin Endocrinol Metab. 2014;99(6):2061-8. doi: 10.1210/jc.2013-3576.
» https://doi.org/10.1210/jc.2013-3576 -
6Collet TH, Ewing SK, Ensrud KE, Laughlin GA, Hoffman AR, Varosy PD, et al. Endogenous Testosterone Levels and the Risk of Incident Cardiovascular Events in Elderly Men: The MrOS Prospective Study. J Endocr Soc. 2020;4(5):bvaa038. doi: 10.1210/jendso/bvaa038.
» https://doi.org/10.1210/jendso/bvaa038 -
7Finkle WD, Greenland S, Ridgeway GK, Adams JL, Frasco MA, Cook MB, et al. Increased Risk of Non-fatal Myocardial Infarction Following Testosterone Therapy Prescription in Men. PLoS One. 2014 9(1):e85805. doi: 10.1371/journal.pone.0085805.
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8Svartberg J, von Mühlen D, Schirmer H, Barrett-Connor E, Sundfjord J, Jorde R. Association of Endogenous Testosterone with Blood Pressure and Left Ventricular Mass in Men. The Tromsø Study. Eur J Endocrinol. 2004;150(1):65-71. doi: 10.1530/eje.0.1500065.
» https://doi.org/10.1530/eje.0.1500065 -
9Negretto LAF, Rassi N, Soares LR, Saraiva ABC, Teixeira MEF, Santo LR, et al. Deficiência de Testosterona em Homens Hipertensos: Prevalência e Fatores Associados. Arq Bras Cardiol. 2024; 121(3):e20230138. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20230138
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10Mulligan T, Frick MF, Zuraw QC, Stemhagen A, McWhirter C. Prevalence of Hypogonadism in Males Aged at Least 45 Years: The HIM Study. Int J Clin Pract. 2006;60(7):762-9. doi: 10.1111/j.1742-1241.2006.00992.x.
» https://doi.org/10.1111/j.1742-1241.2006.00992.x
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
06 Maio 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
28 Fev 2024 -
Revisado
20 Mar 2024 -
Aceito
20 Mar 2024