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7. Doença valvar

DOENÇA VALVAR

7. Doença valvar

Walkiria Samuel Ávila; Cláudia Maria Vilas Freire

7.1 - Valvulopatias adquiridas e congênitas

No Brasil, a doença reumática é a causa mais frequente de cardiopatia na gravidez, e sua incidência é estimada em 50%, quando consideradas todas as cardiopatias1.

O conhecimento das modificações fisiológicas da gestação é fundamental para o entendimento e manejo das valvulopatias na gestação. Costuma ocorrer um aumento de 50% do volume circulante e leve aumento da frequência cardíaca, com consequente elevação de 30 a 50% do débito cardíaco. Essas alterações sofrem aumento máximo entre a metade do segundo trimestre e o terceiro trimestre, com aumento adicional no pós-parto imediato. Além disso, há redução da resistência vascular periférica, com secundária queda da pressão arterial sistêmica. Devido a essas modificações, as lesões valvares obstrutivas - como estenose mitral (EM) e estenose aórtica (EAo) - apresentam pior evolução clínica e, consequentemente, estão associadas a maiores índices de complicações materno/fetais, quando comparadas às lesões regurgitantes, como insuficiência mitral (IM) e aórtica (IAo)2.

Classes funcionais I e II, no início do pré-natal, não se associam obrigatoriamente a bom prognóstico em relação às valvulopatias, especialmente na EM e EAo. Contudo, as classes funcionais III e IV relacionam-se à má evolução, necessitando-se, nessa situação, ponderar sobre a necessidade de medidas terapêuticas intervencionistas3,4. De um modo geral, os parâmetros clínicos que se correlacionam com o mau prognóstico materno na gravidez em portadoras de valvulopatias são: classe funcional III e IV, obstrução do VE, disfunção do VE (fração de ejeção < 40%), hipertensão pulmonar grave (acima de 75% da pressão arterial sistêmica), cianose materna, fibrilação atrial e antecedentes de tromboembolismo ou endocardite infecciosa5,6.

Para estimar o prognóstico fetal, além dos parâmetros maternos, adicionam-se a gestação múltipla, o uso de anticoagulante oral e tabagismo5.

7.1.1 - Patologias de pior prognóstico na gravidez

1) Estenose mitral

A EM é a mais frequente patologia valvular no ciclo gravídicopuerperal e a que mais chance tem de descompensação neste período. Complica de forma isolada cerca de 40% dos indivíduos que tiveram surto reumático, especialmente mulheres. Não raro, a primeira manifestação clínica da EM ocorre na gestação ou no puerpério imediato. O surgimento dos sintomas se associa a um aumento da mortalidade. O quadro clínico e as alterações dos exames complementares são descritos abaixo:

- Quadro clínico - Fadiga, dispneia, congestão pulmonar, arritmia paroxística supraventricular ou fibrilação atrial e, às vezes, o primeiro sintoma pode ser um fenômeno tromboembólico ou hemoptise.

- Eletrocardiograma - Sobrecarga atrial esquerda, fibrilação atrial, extrassístoles supraventriculares frequentes, taquiarritmias supraventriculares e sobrecarga ventricular direita.

- Ecodopplecardiograma - Deve ser realizado nas pacientes com EM para avaliar a gravidade da lesão (área valvar, gradiente médio e pressão arterial pulmonar), as causas de mudança de classe funcional ou discrepância entre sintomatologia e gravidade da valvulopatia, e para avaliação do escore ecocardiográfico pré-intervenção percutânea. O ecocardiograma transesofágico deve ser solicitado para avaliar presença de trombo em átrio esquerdo e pré-valvuloplastia mitral por cateter balão7.

Na gestação, devido ao aumento dos gradientes transvalvares pela sobrecarga volumétrica, a área valvar deve ser o parâmetro utilizado para estimar a gravidade da lesão, especialmente a calculada pela equação de continuidade.

2) Estenose aórtica

Em nosso meio, a EAo reumática ainda é bastante frequente, porém geralmente está associada à valvulopatia mitral. Em determinada faixa etária, deve-se buscar também causas de EAo congênita por válvula bicúspide. A história natural da EAo é mais longa que a da mitral, levando maior tempo para sua manifestação clínica, apesar das sobrecargas hemodinâmicas impostas pela gestação. O ventrículo esquerdo adapta-se à sobrecarga sistólica da pressão por meio de hipertrofia de suas paredes, na tentativa de manter as pressões intracavitárias e o estresse de parede dentro da normalidade. Se a hipertrofia é inadequada ou insuficiente, ocorre a redução da contratilidade, com queda da fração de ejeção (FE).

- Quadro clínico - Assintomático, na maioria das vezes, ou apresenta sintomas, como angina pectoris, dispneia, síncope e raramente morte súbita.

- Eletrocardiograma - Sobrecarga ventricular esquerda, com alteração da repolarização ventricular e/ou arritmia ventricular6.

- Ecodopplecardiograma - Deve ser solicitado para avaliar a gravidade da estenose e da hipertrofia do VE, FE e presença de valvulopatias associadas, e sempre que houver discrepâncias entre a gravidade da estenose e a sintomatologia. Durante a gravidez, enfatizamos que se deve valorizar mais a área valvar aórtica do que o gradiente transvalvar, devido à sobrecarga volumétrica7.

- Holter - Para avaliação de sintomas arrítmicos e registro da presença de arritmias ventriculares ou supraventriculares, ou bradiarritmias sintomáticas.

7.1.2- Patologias de melhor prognóstico na gravidez

1) Insuficiência aórtica

Várias podem ser as causas da IAo, como a válvula áortica bicúspide, valvulopatia áortica degenerativa ou reumática, dilatação do anel valvar áortico por dissecção, hipertensão, aortopatias por doenças do tecido conectivo ou síndrome de Marfan, e até o uso de anorexígenos. A evolução na maioria das vezes é lenta, com aumento progressivo das câmaras esquerdas e de longo período assintomático. Dissecção, endocardite e trauma são exceções nesse tipo de evolução. Na gestação, as regurgitações tendem a reduzir na ausência de outras patologias associadas.

• Quadroclínico - Aspacientessãonamaioriaassintomáticas, mas podem evoluir para dispneia aos médios e mínimos esforços, dor precordial e síncope. O percentual de progressão da fase assintomática para sintomas de disfunção do VE é de menos de 6% ao ano.

• Eletrocardiograma - Sobrecarga ventricular esquerda.

• Ecodopplercardiograma - É fundamental para o diagnóstico e avaliação da causa e gravidade da lesão. Sinais de equilíbrio rápido das pressões intracavitárias e fechamento precoce da válvula mitral indicam regurgitação grave.

2) Insuficiência mitral

Em pacientes jovens as principais causas de IM são a doença reumática, endocardite infecciosa, prolapso da válvula mitral e doenças do colágeno. Como na IAo, pode ser de evolução crônica ou aguda, com apresentações clinicas bem distintas. A regurgitação mitral crônica também tende a reduzir na gestação e é a forma de apresentação mais frequente.

• Quadro clínico - Geralmente depende da gravidade da lesão, sendo a dispneia e palpitações os sintomas mais frequentes. Refletem a presença de grande volume regurgitante ou redução da função sistólica do VE. Geralmente leva-se de 6 a 10 anos para uma paciente com IM grave desenvolver sintomas ou disfunção ventricular. Os casos de IM leve e moderada têm boa evolução na gestação.

• Eletrocardiograma -Sobrecarga atrial esquerda e ventricular esquerda.

• Ecodopplercardiograma -Indicado para avaliação do tamanho das câmaras, da função do VE, hipertensão pulmonar, gravidade e causa da regurgitação1,7.

3) Lesão tricúspide

As patologias de tricúspide geralmente acompanham as lesões mitrais ou são secundárias à anomalia de Ebstein. A maioria se deve à dilatação do ventrículo direito decorrente da hipertensão pulmonar; nesta condição, associa-se à má evolução materna1,8.

4) Prolapso de valva mitral (PVM)

(A) O PVM é o deslocamento de um ou dois folhetos da válvula mitral para dentro do AE por pelo menos 2 mm no plano paraesternal do ecocardiograma. O PVM pode ocorrer com ou sem espessamento (espessura do folheto em diástole acima de 5 mm) e com ou sem regurgitação mitral. Pode ser familiar ou não, e quando familiar é transmitido autossomicamente, com comprometimento de vários locos genéticos, e muitas vezes associado a doenças do tecido conectivo7. A maioria das pacientes tem um bom prognóstico durante a gestação e o uso de betabloqueadores estaria reservado para as portadoras de arritmia9.

7.1.3 - Condutas na gravidez em portadoras de doença reumática

1) Medidas gerais, descritas em princípios gerais (IC).

2) Prevenção da doença reumática, da endocardite infecciosa e do tromboembolismo, já descritos em profilaxias (IIaC).

3) Na estenose mitral sintomática

A - restringir atividade física;

B - uso de fármacos para controlar a frequência cardíaca e reduzir a pressão no átrio esquerdo;

C - tratamento intervencionista, caso a terapêutica medicamentosa otimizada não seja bem-sucedida.

D - tratamento medicamentoso:

- Betabloqueadores (sem atividade simpaticomimética intrínseca) - Devem ser usados para tratar ou prevenir taquicardia, com a intenção de aumentar o tempo de enchimento diastólico. O propranolol, em dose inferior a 80 mg/dia, tem se mostrado eficaz no controle dos sintomas e não tem acrescentado risco ao concepto. O atenolol tem efeito semelhante, na dose de 50 a 75 mg/dia1 (IIbC). O metoprolol seria o preferido por estar associado à menor incidência de crescimento intrauterino restrito7.

- Diurético - Deve ser iniciado caso a paciente apresente sinaisdecongestãopulmonar, apesardouso debetabloqueador. A furosemida está indicada na dose média e fracionada de 40 a 60 mg/dia, cuidando para evitar a hipovolemia (IIaC).

- Digital - Utilizado na presença de insuficiência cardíaca direita e na fibrilação atrial, associado ou não ao betabloqueador, para reduzir a resposta ventricular. As doses variam entre 0,25 a 0,50 mg/dia (IC).

- Antagonistas do cálcio (verapamil, diltiazem) - Associados ou não ao digital, para reduzir a frequência cardíaca, em pacientes com contraindicação ao betabloqueador. (IC)

E - Valvuloplastia mitral percutânea por cateter balão (VMPCB) - Indicada nos raros casos que não respondem ao tratamento medicamentoso otimizado. A VMPCB realizada por mãos experientes e em centros de referência, com tempo de fluoroscopia de um a dois minutos e proteção de avental de chumbo pélvico e abdominal, é de grande valia para esse tipo de paciente. O procedimento deve ser evitado no primeiro trimestre para não expor o feto à radiação2,6,7,9 (IC).

4) Na estenose aórtica

Estenose aórtica leve com função sistólica normal evolui bem e sem necessidade de tratamento. Pacientes com estenose moderada ou grave, com fração de ejeção normal, que se mantêm assintomáticas ou oligossintomáticas, podem ser tratadas conservadoramente com repouso, O2 e betabloqueadores. As com estenose grave, associada a sintomas de insuficiência cardíaca, baixo fluxo cerebral ou baixo fluxo coronariano, apresentam indicação de interrupção da gestação e/ou de tratamento cirúrgico da válvula aórtica, independente da idade gestacional (IC). A valvuloplastia aórtica por cateter balão é uma alternativa secundária (IIbC) e extrema no tratamento da estenose aórtica complicada, em vista da sua alta morbidade6,9 (IIbC).

5) Na insuficiência mitral e aórtica

Só requerem tratamento quando associadas à insuficiência cardíaca, a qual pode se desenvolver pela primeira vez durante a sobrecarga volumétrica da gestação. O tratamento é o da ICC descompensada, com digoxina nas doses de 0,25 mg a 0,50 mg/dia; diurético, como furosemida, nas doses de 20-60 mg/dia; vasodilatador, como hidralazina, na dose média de 75 mg/dia; e associada ou não a nitratos, na dose de 30 mg/dia (IIaC). Não deve ser esquecida a reposição de potássio, nas doses habituais, com cloreto de potássio. Na fase de manutenção do tratamento, o uso de diurético deve ser criterioso e na dose mínima necessária para estabilização do quadro clínico6.

Nos casos refratários ao tratamento anterior, é seguida a conduta clássica com o uso de dobutamina, dopamina (dose beta) e o nitroprussiato de sódio, sendo o uso deste na dose mínima efetiva e no menor intervalo de tempo (< de 6h), a fim de evitar intoxicação do concepto pelo cianeto1,7 (IIbC).

6) Fibrilação atrial aguda

A cardioversão elétrica é o procedimento eletivo, abrevia a duração da arritmia, o que minimiza os efeitos hemodinâmicos prejudiciais à circulação útero-placentária (IC) (vide capítulo 4).

7) Fibrilação atrial crônica

Indicadocontrole dafrequência cardíaca com antiarrítmicos, associados à anticoagulação (IB) (vide cap. 18).

8) Bioprótese

Atualmente, é reconhecido que a gravidez não influencia a degeneração da bioprótese (IIaB). A presença de degeneração valvar em gestantes com sintomas ou sinais de congestão pulmonar indica reoperação imediata (IC). Em situação de disfunção da prótese em pacientes assintomáticas, opta-se pelo seguimento clínico10,11 (IIaC).

7.2 - Prótese valvar cardíaca mecânica

Citânia Lúcia Tedoldi

A necessidade do uso contínuo de anticoagulante acarreta aumento do risco tanto materno como fetal. A hipercoagulabilidade da gestação favorece a trombose (manifesta por trombose de prótese, embolia cerebral, periférica ou coronariana), cuja incidência varia de 7% a 23%. Metade dos casos de trombose são decorrentes de trombose da prótese, complicação que é fatal em 40% das pacientes13. Além disso, o uso de anticoagulante oral entre a 6ª e a 12ª semana de gestação acarreta o risco de embriopatia varfarínica, cuja incidência é de 4,3% em estudo conduzido no Brasil14. Outras complicações esperadas são: hemólise (diagnosticada pela DHL aumentada, diminuição da haptoglobina, reticulocitose e anemia nas formas mais graves), endocardite infecciosa (com mortalidade de até 40%) e insuficiência cardíaca (mais comum nas pacientes com fração de ejeção diminuída e nas portadoras de próteses pequenas)12,15.

No período do parto, existe um risco aumentado de hemorragias graves (2,4% a 8,1%)16 que podem ser fatais. Certos cuidados, como uma adequada hemostasia cirúrgica (para reduzir hematoma de ferida operatória) e medidas para evitar a permanência de restos placentários (reduzindo hemorragias vaginais), podem contribuir para diminuir as complicações hemorrágicas em 13% dos casos14. A mortalidade materna varia de 2,3%14 a 5,6%12. A incidência de aborto e de outras malformações fetais não parece diferir das de outras gestantes de alto risco, mas o uso do anticoagulante oral parece favorecer a mortalidade fetal quando o efeito da droga é excessivo, atingindo níveis de RNI maiores que o terapêutico14. Além disso, um acompanhamento a longo prazo constatou um aumento mínimo de disfunção neurológica, com redução do QI (< 80) em crianças na idade escolar com história de exposição pré-natal à varfarina, mas sem comprometimento das funções cognitivas12.

Os fatores que mais contribuem para a trombose são a anticoagulação inadequada e a prótese em posição mitral. A HNF por via SC pode favorecer níveis inadequados de anticoagulação14,15. Outros fatores que aumentam o risco são: modelos de próteses mais antigas (próteses de bola ou de disco único), mais de uma prótese, presença de fibrilação atrial (FA) e história de tromboembolismo. Qualquer modelo de prótese em posição aórtica confere critério de baixo risco. As heparinas (HNF e HBPM) não atravessam a placenta e são mais seguras para o feto, mas podem provocar trombocitopenia materna e, quando utilizadas por um período de tempo maior, também osteoporose. A HNF por via SC é menos eficaz que quando utilizada por via IV ou que a HBPM, e a troca do anticoagulante oral por uma das heparinas deve ser feita em ambiente hospitalar, a fim de assegurar monitorização adequada da eficácia anticoagulante. Devido às modificações do débito cardíaco que ocorrem na gestação, e com o consequente aumento do débito e da depuração renal, o controle da dose das HBPM pelo peso da paciente pode ser insuficiente, e a dosagem do antifator Xa necessária para garantir uma anticoagulação efetiva12 . Na avaliação pré-gestacional, além da valorização dos sintomas, exame físico adequado e história de complicações prévias, devem ser realizados ECG e ecodopplercardiograma. Um teste de esforço com a determinação do consumo máximo de oxigênio permite obter uma estimativa objetiva da capacidade funcional12 .

Condutas na gestação12,14,15,17

1) Pacientes com comprometimento da função ventricular e/ou valvular e com sintomas relevantes (CF III e IV) devem ser orientadas a não engravidar (IC).

2) Discutir com a paciente e os familiares a forma mais adequada de profilaxia anticoagulante, ponderando os riscos e benefícios de cada uma das opções (IIaC).

3) Classificar a paciente em alto ou baixo risco, de acordo com os critérios já descritos, e adotar uma das condutas sugeridas a seguir (IIaC):

A) Em pacientes de baixo risco:

Próteses de disco duplo e qualquer uma em posição aórtica

• Suspender o anticoagulante oral antes da concepção ou ao ser diagnosticada a gestação;

• Usar HNF SC 12/12h (TTPA 2-3x o basal) ou HBPM SC 12/12h (anti-Xa pré-dose ~ 0,6 ou dose ajustada ao peso) até a 12ª semana;

• Reiniciar com anticoagulante oral (INR entre 2,5-3) e manter até a 35ª-36ª semana;

• Usar novamente HNF ou HBPM nas doses já descritas até o parto;

• Ou manter com HNF ou HBPM SC nas doses descritas, durante toda a gestação.

B) Em pacientes de alto risco:

Próteses de modelo mais antigo em posição mitral, mais de uma prótese, história de tromboembolismo, FA

• Usar anticoagulante oral (INR 2,5-3,5) até a 35ª semana, seguindo com HNF (TTPA > 2,5x o basal) ou HBPM (anti-Xa pré-dose ~ 0,7 ou dose ajustada ao peso) até o parto, em associação com AAS 80-100 mg/dia;

• Ou HNF ou HBPM até a 12ª semana e anticoagulante oral até 35ª semana, seguido por HNF ou HBPM até o parto, associados ao AAS nas doses já descritas.

4) Controlar o efeito dos anticoagulantes a cada duas semanas durante toda a gestação. Lembrar que a insuficiência renal aumenta a meia-vida das heparinas e que a insuficiência cardíaca ou a hepática aumentam a meia-vida do anticoagulante oral (IC).

5) A indicação da via de parto é obstétrica e de acordo com os recursos de cada hospital. Se após o uso do anticoagulante oral não foi possível completar duas semanas com HNF ou HBPM (tempo necessário para que o feto metabolise o anticoagulante oral) e a paciente entrar em trabalho de parto, está indicado parto cesáreo. Tal conduta evita hemorragia cerebral no neonato, provocada por sua passagem pelo canal de parto e ainda sob efeito do anticoagulante oral (IC).

6) Observar se há uma adequada hemostasia cirúrgica e evitar permanência de restos placentários, com inspeção direta, se parto cirúrgico, ou com adequada estimulação da contratilidade uterina (mecânica e/ou química), se parto vaginal (IIaB).

7) Reiniciar com HNF ou HBPM 6 horas após o parto e anticoagulante oral no dia posterior, se não ocorrer nenhuma hemorragia (IIaC).

8) Profilaxia da endocardite infecciosa e da febre reumática, de acordo com o descrito no capítulo 3 (IC).

9) Na suspeita de trombose de prótese (diminuição dos ruídos da prótese ou surgimento de novos sopros), o diagnóstico é confirmado por ecodopplercardiograma, sendo adotada uma das condutas a seguir:

• HNF IV se o trombo tem < 5 mm de diâmetro e não está obstruindo a prótese, ou na contraindicação ao uso de trombolíticos (vide cap. 6);

• Trombolíticos ou troca valvar, se trombos maiores ou obstrutivos (IIaC).

Reversão da anticoagulação

Para extrações dentárias, não há necessidade de suspender a anticoagulação, desde que o INR seja < 3 no dia do procedimento. Em situações de emergência, em que se deseja uma reversão rápida da anticoagulação, são recomendados:

A) Quando são utilizados inibidores da vitamina K:

• 5 a 10 mg IV ou VO de vitamina K;

• E/ou concentrado de fatores de coagulação;

• Ou plasma fresco.

B) Com HNF:

• Sulfato de protamina. A HNF tem uma meia-vida de 8-12h por via SC e de 1-2h por via IV.

C) Com HBPM:

• Sulfato de protamina (sendo que a protamina reverte parcialmente o efeito da HBPM).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Ago 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
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