RESUMO
Racional: O íleo meconial é causa comum de obstrução intestinal em neonatos e diferentes métodos cirúrgicos foram descritos para seu manejo, como Santulli e ileostomia em alça.
Objetivo: Avaliar e comparar a eficácia clínica de Santulli e ileostomia em alça em neonatos com íleo meconial.
Métodos: Neste estudo retrospectivo, foram avaliados 58 pacientes. Após análise, 53 pacientes com prontuários hospitalares completos foram incluídos. Informações demográficas, parâmetros cirúrgicos e complicações pós-operatórias foram extraídos dos prontuários ou dos pais por telefone.
Resultados: Escoriações cutâneas (21,4% vs. 84%, p<0,001), estomia prolongada (0 vs. 28%, p=0,003) e infecção do sítio cirúrgico (7,1% vs. 28%, p=0,044) foram significativamente menores no grupo ileostomia Santulli. Além disso, a produção de ileostomia na primeira semana (70,53±15,11 ml vs. 144,6±19,99 ml, p <0,001) e na quarta semana (2,14±4,98 ml vs. 18,4±17,95 ml, p<0,001) foi significativamente menor no grupo de ileostomia Santulli em comparação com o de ileostomia em alça. Finalmente, o tempo de internação no grupo de ileostomia de Santulli foi de 12±2,34 e na ileostomia de alça de 14,24±1,47 dias (p<0,001).
Conclusão: A ileostomia de Santulli é melhor que a em alça, devido à menor frequência significativa de infecção do local cirúrgico, escoriação cutânea, prolapso da ostomia, volume da ileostomia e tempo de internação.
DESCRITORES: Ileostomia; Íleo meconial; Fibrose cística; Recém-nascido
ABSTRACT
Background: Meconium ileus is a common cause of intestinal obstruction in neonates that different surgical methods have been described for its management such as Santulli and loop ileostomy.
Aim: To evaluate and compare clinical efficacy of Santulli and loop ileostomy in neonates with meconium ileus.
Methods: In this retrospective study, 58 patients with meconium ileus were evaluated. After analyses of hospital records, 53 patients with completed hospital records were included. Demographic information, surgery parameters and postoperative complications were extracted from the hospital records or calling parents.
Results: Skin excoriation (21.4% vs. 84%, p<0.001), ostomy prolapsed (0 vs. 28%, p=0.003), and surgical site infection (7.1% vs. 28%, p=0.044) was significantly lower in Santulli ileostomy group. Furthermore, ileostomy output in first week (70.53±15.11 ml vs. 144.6±19.99 ml, p<0.001) and in 4th week (2.14±4.98 ml vs. 18.4±17.95 ml, p<0.001) was significantly lower in Santulli ileostomy group as compared to loop ileostomy group. Finally, hospital stay in Santulli ileostomy group was 12±2.34 and in loop ileostomy 14.24±1.47 days (p<0.001).
Conclusion: Santulli ileostomy is better than loop ileostomy due to significant less frequency of surgical site infection, skin excoriation, prolapse of ostomy, ileostomy volume output and hospitalization time.
HEADINGS: Ileostomy; Meconium Ileus; Cystic Fibrosis; Infant, newborn
INTRODUÇÃO
O íleo meconial é causa de obstrução intestinal em neonatos devido à fibrose cística e outros fatores que causam o acúmulo de intraluminal de mecônio ressecado4,13. Diferentes complicações foram descritas para ele, como vôlvulo, atresia, perfuração e cisto meconial. A primeira opção terapêutica no descomplicado é enema de gastrografina; ele causa importantes efeitos colaterais como enterocolite necrotisante, perfuração, choque e morte ocasional1,8. Outras opções para o gerenciamento do estado não complicado são os métodos cirúrgicos, incluindo as ileostomias de Bishop-Koop e em alça, procedimento de Santulli ou Mikulicz. São operações extensas associadas à ressecção do íleo dilatado e redução do comprimento do intestino e alto débito do estoma. Além disso, nos casos com íleo meconial, os cirurgiões enfrentam difícil decisão de realizar estomas ou não, o que causa piores complicações em alguns casos, incluindo retração do estoma, prolapso ou necrose2. Além disso, é necessária uma segunda operação para fechar o estoma em alguns procedimentos cirúrgicos, como a ileostomia de Bishop-Koop, que pode trazer complicações como febre, infecção da ferida, vazamento do fechamento da ileostomia, obstrução intestinal e morte9,10. Por outro lado, alguns outros procedimentos cirúrgicos, como a ileostomia de Santulli, não requerem ressecção intestinal e não há anastomose intraperitoneal e segunda operação5. Portanto, a taxa de complicações e resultados diferem entre os procedimentos cirúrgicos que, comparando diferentes procedimentos nos termos dos resultados, nos levam a escolher o melhor método com menores complicações.
Quanto ao nosso conhecimento, não há estudos prospectivos suficientes sobre a eficácia de dois métodos cirúrgicos, como a ileostomia em alça e o procedimento de Santulli, relatados como as melhores opções de operação. Portanto, este estudo foi desenhado para avaliar e comparar a eficácia clínica da ileostomia de Santulli e ileostomia de alça em neonatos com íleo meconial.
MÉTODO
O estudo recebeu aprovação ética do Comitê de Ética da Universidade de Ciências Médicas Ahvaz Jundishapur (IR.AJUMS. REC. 1396.1071)
Desenho do estudo e grupo alvo
Trata-se de uma análise retrospectiva realizada no Departamento de Cirurgia do Hospital Ahvaz Imam Khomeini, sudeste do Irã, de novembro de 2014 a maio de 2017. Os resultados cirúrgicos de neonatos com íleo meconial submetidos à ileostomia Santulli foram comparados aos casos de ileostomia em alça.
Os critérios de inclusão consistiram em recém-nascidos com diagnóstico de íleo meconial operados por uma das ileostomias, Santulli ou alça, e que preenchidos registros hospitalares de forma completa. Os critérios de exclusão consistiram em insatisfação dos pais em participar do estudo, casos prematuros, recém-nascidos com baixo peso ao nascer, outras anomalias congênitas, casos com registros hospitalares incompletos, casos perdidos no seguimento.
Participantes
O fluxograma do estudo é mostrado na Figura 1. Foram incluídos 58 prontuários de pacientes com diagnóstico de íleo meconial, diagnosticados por cirurgião pediátrico com base em achados clínicos e paraclínicos e inseridos nos critérios de inclusão e exclusão. Em seguida, com base na descrição cirúrgica, os registros hospitalares foram divididos em dois grupos cirúrgicos: Santulli ou ileostomia em alça
Após avaliação foram incluídos 53 casos com prontuários hospitalares completos (chamando os pais em casos com dados incompletos), sendo 28 no grupo de ileostomia a Santulli e 23 no grupo em alça.
Informações demográficas, complicações pós-operatórias, como escoriação cutânea, prolapso da ostomia, retração do estoma, necrose, infecção do local cirúrgico, vazamento anastomótico, débito da ileostomia, tempo de internação e obstrução intestinal foram avaliadas em ambos os grupos.
Na realização da ileostomia a Santulli, a alça proximal é levada como ostomia e a extremidade distal re-anastomosada ao intestino proximal, a partir de 5 cm proximal ao local do ostoma. Na realização da ileostomia em alça, as duas alças intestinais eram exteriorizadas como ostomias.
Análise estatística
Os dados foram analisados e relatados apenas para pacientes com informações completas. A análise estatística dos dados foi realizada no software SPSS versão 22 (SPSS Inc., Chicago, IL, EUA). O teste do qui-quadrado foi utilizado para comparar variáveis qualitativas entre os grupos. O de Kolmogorov-Smirnov para avaliar a distribuição normal de todos os parâmetros quantitativos estudados. O teste t de Student foi utilizado para variáveis com distribuição normal; por outro lado, os de Mann-Whitney e Wilcoxon para variáveis sem distribuição normal. Valor de p menor que 0,05 foi considerado significativo.
RESULTADOS
As características demográficas em termos de idade (p=0,899) e gênero (p=0,833), ambos os grupos foram semelhantes (Tabela 1). Cinquenta e cinco pacientes não foram incluídos e, finalmente, 53 completaram o estudo. Os resultados mostraram que complicações como necrose, vazamento anastomótico, obstrução intestinal por aderências (p>0,05) não diferiram entre os grupos. Porém, escoriações cutâneas (21,4% vs. 84%, p<0,001), prolapso da ostomia (0 vs. 28%, p=0,003) e infecção do sítio cirúrgico (7,1% vs. 28%, p=0,044) foram significativamente menores no grupo ileostomia a Santulli em comparação ao grupo em alça. Além disso, o débito da ileostomia na primeira semana (70,53±15,11 ml vs. 144,6±19,99 ml, p<0,001) e na quarta semana (2,14±4,98 ml vs. 18,4±17,95 ml, p<0,001) foi significativamente menor no grupo Santulli em comparação com o grupo em alça. Finalmente, a internação no grupo Santulli foi de 12±2,34 dias e na em alça foi de 14,24±1,47 dias (p<0,001).
DISCUSSÃO
De acordo com nossos resultados, a ileostomia a Santulli teve melhores efeitos no débito da ileostomia em comparação com ileostomia de alça. Além disso, a taxa de complicações cirúrgicas e hospitalização foi significativamente menor na ileostomia a Santulli em comparação a em alça.
O estudo realizado por Kumar et al.6, relatou que a ileostomia a Santulli é eficaz com menor morbidade e complicações, principalmente escoriação cutânea, prolapso da ostomia e falha no crescimento quando comparada a em alça, e pode ser usada como alternativa à ileostomia de alça. Em outro trabalho Eltayeb et al 3 demonstraram que o uso dos métodos cirúrgicos de Bishop-koop e Santulli melhoram a sobrevida de recém-nascidos com atresia intestinal e minimiza as complicações pós-operatórias, como vazamento intestinal, atraso do trânsito intestinal, septicemia e coagulopatia intravascular disseminada. Rygl e et al.12 mostraram que a ileostomia a Santulli é técnica cirúrgica eficaz e segura para o tratamento de recém-nascidos de muito baixo peso com perfuração intestinal. Ao descrever o melhor manejo no íleo meconial não complicado, Hasan et al.5 relataram que o tempo médio de operação e o tempo médio para iniciar os movimentos intestinais foram significativamente menores nos métodos a Santulli em comparação à ileostomia de Bishop Koop, enquanto as complicações pós-operatórias, tempo de alimentação oral e a remoção do drenos não mostraram diferença significativa. Finalmente, eles concluíram que a ileostomia a Santulli é procedimento eficaz e seguro para o manejo do íleo meconial não complicado. Mak et al.7 mostraram que em neonatos com íleo meconial descomplicado, não aliviados pelo enema de contraste, a ileostomia a Santulli é tratamento eficaz e seguro. Rondelli e et al.11 demonstraram que a ileostomia em alça convencional aumenta o tempo necessário para a emissão de gases e fezes através do estoma, vazamento anastomótico clínico e complicações pós-operatórias. Vijayraj Patil et al.9 relataram que a ileostomia em tubo é eficaz e viável como procedimento de desvio em comparação à ileostomia clássica em alça e reduz a morbidade. Todos esses resultados são semelhantes aos nossos. Obtivemos com os resultados a definição de que a ileostomia a Santulli fornece melhores resultados estéticos com complicações mínimas e melhor que a em alça para tratamento do íleo meconial descomplicado.
Artigo publicado por van de Pavoordt et al.14 mostrou que a taxa global de complicações após ileostomia em alça era de 17%, com 13% de complicações pós-operatórias precoces, além disso, a principal complicação foi obstrução e complicações sépticas abdominais. Eles concluíram que o fechamento da ileostomia em alça é operação segura e com baixa morbidade. No entanto, foram encontradas taxas mais altas de complicações no fechamento da ileostomia em alça, o que pode ser devido aos diferentes tamanhos das amostra, diferentes características demográficas e controle de variáveis de confusão.
A limitação deste estudo é ele ser realizado em um único centro com baixa adesão familiar e complicações em longo prazo não incluídas. Portanto, é necessário outro ensaio clínico prospectivo com maior tamanho de amostra para controlar as variáveis de confusão também dividindo os pacientes em dois grupos com base no método de forma aleatória.
CONCLUSÃO
Existem efeitos benéficos da ileostomia a Santulli sobre a em alça nos resultados pós-operatórios, nos melhores resultados cosméticos e nas complicações que foram mínimas. Em curto seguimento, leva significativamente ao melhor controle das complicações cirúrgicas, e em um acompanhamento mais prolongado aumenta a qualidade de vida.
AGRADECIMENTOS
Os dados utilizados neste estudo foram da tese de residência do Dr. Amin Ayatipour (U-96173). Agradecemos os esforços dedicados dos pesquisadores, coordenadores e pacientes voluntários que participaram deste estudo.
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Fonte de financiamento:
Este estudo foi apoiado pelo Technology and Research Development Department of Ahvaz, Jundishapur University of Medical Sciences, Ahvaz, Khouzestan, Iran.
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Mensagem central
Em nosso estudo, a ileostomia de Santulli é melhor que a ileostomia de alça, devido à menor frequência significativa de infecção do local cirúrgico, escoriação cutânea, prolapso da ostomia, volume de ileostomia e tempo de internação.
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Perspectiva
Foram comparadas ileostomia de Santulli e ileostomia de alça no neonato com íleo mecônio. A ileostomia de Santuli pode ser uma melhor escolha no tratamento de recém-nascidos com íleo em comparação com a ileostomia de alça, porque há menos frequência de infecção no local, escoriação cutânea e prolapso de ostomia
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
13 Nov 2020 -
Data do Fascículo
2020
Histórico
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Recebido
09 Jul 2019 -
Aceito
22 Out 2019