Resumos
INTRODUÇÃO: A úlcera péptica é uma lesão que ocorre na mucosa do trato gastrointestinal, sendo caracterizada por um desequilíbrio entre fatores agressores e protetores da mucosa gástrica, tendo como principal fator etiológico o H. pylori. A dietoterapia é fundamental na prevenção e tratamento dessa patologia.
OBJETIVO: Rever a terapia nutricional na úlcera péptica em adultos.
MÉTODOS: A metodologia utilizada foi um estudo exploratório de revisão do conhecimento disponível na literatura científica.
RESULTADOS: A dietoterapia bem como a distribuição calórica deve ser ajustada as necessidades do paciente com objetivo de normalizar o estado nutricional e promover a cicatrização. As recomendações de nutrientes podem ser diferenciadas nas fases aguda e de recuperação, havendo uma maior necessidade proteica e de alguns micronutrientes como vitamina A, zinco, selênio e vitamina C na fase de recuperação. Além disso, alguns estudos evidenciam que a vitamina C tem efeito benéfico na erradicação do H. pylori. As fibras e probióticos também possuem um importante papel no tratamento da úlcera péptica, reduzindo os efeitos colaterais dos antibióticos e auxiliando na redução do tempo de tratamento.
CONCLUSÃO: Percebe-se que poucos são os trabalhos que evidenciam a terapia nutricional da úlcera e não há consenso sobre o tema. Com isso, mais estudos são necessários para abordar com maior especificidade o tratamento dietoterápico da úlcera péptica. Dieta equilibrada é fundamental no tratamento da úlcera péptica, uma vez que o alimento pode prevenir, tratar ou mesmo aliviar os sintomas que envolvem esta doença. No entanto, existem poucos trabalhos que inovam dietoterapia; assim, são necessários estudos adicionais abordando mais especificamente a dietoterapia para o tratamento de úlcera péptica.
Nutrição; Dietoterapia; Helicobacter pylori; Terapia nutricional, alimentação; Tratamento
INTRODUCTION: Peptic ulcer is a lesion of the mucosal lining of the upper gastrointestinal tract characterized by an imbalance between aggressive and protective factors of the mucosa, having H. pylori as the main etiologic factor. Dietotherapy is important in the prevention and treatment of this disease.
AIM: To update nutritional therapy in adults' peptic ulcer.
METHODS: Exploratory review without restrictions with primary sources indexed in Scielo, PubMed, Medline, ISI, and Scopus databases.
RESULTS: Dietotherapy, as well as caloric distribution, should be adjusted to the patient's needs aiming to normalize the nutritional status and promote healing. Recommended nutrients can be different in the acute phase and in the recovery phase, and there is a greater need of protein and some micronutrients, such as vitamin A, zinc, selenium, and vitamin C in the recovery phase. In addition, some studies have shown that vitamin C has a beneficial effect in eradication of H. pylori. Fibers and probiotics also play a important role in the treatment of peptic ulcer, because they reduce the side effects of antibiotics and help reduce treatment time.
CONCLUSION: A balanced diet is vital in the treatment of peptic ulcer, once food can prevent, treat or even alleviate the symptoms involving this pathology. However, there are few papers that innovate dietotherapy; so additional studies addressing more specifically the dietotherapy for treatment of peptic ulcer are necessary.
Nutrition; Dietotherapy; Helicobacter pylori; Nutritional therapy, treatment
INTRODUÇÃO
Úlcera péptica é doença crônica caracterizada por desequilíbrio entre os fatores que danificam a mucosa e aqueles que a protegem, resultando em lesão mucosa do trato digestivo superior22. Tem sido uma das doenças mais prevalentes no mundo, e algumas das suas complicações têm sido as principais causas da morbimortalidade a ela referida34. A prevalência difere da população mundial entre as úlceras gástricas e duodenais, e a média de idade das pessoas portadoras é entre 30 e 60 anos, mas pode acontecer em qualquer idade. Também foi observada diferença racial e na África úlceras duodenais são consideradas raros em pessoas negras, mas nos Estados Unidos a incidência é a mesma para negros e brancos; em relação ao sexo, há predominância de úlceras em homens16.
Úlcera péptica de causa multifatorial. Os elementos ambientais, tais como álcool e nicotina, podem inibir ou reduzir a secreção de muco e bicarbonato e o aumento da secreção ácida. Fatores genéticos podem influenciar, e os filhos de pais com úlcera duodenal são três vezes mais propensos a ter úlcera do que a população em geral14. Nas últimas décadas, a identificação do Helicobacter pylori e a associação da úlcera com a utilização crônica de drogas anti-inflamatórias, contribuíram para melhor compreensão dos eventos associados à ulcerogênese36.
Nutrição e recomendações dietéticas para orientar vida saudável e estabelecer parâmetros nutricionais, são reconhecidas como forma de promover a saúde e prevenir e tratar doenças. Assim, a dietoterapia tem desempenhado papel fundamental na prevenção e tratamento de úlcera péptica, com o objetivo principal de recuperar e proteger o revestimento gastrointestinal, melhorando a digestão, aliviando a dor e contribuindo para estado nutricional satisfatório29.
A úlcera péptica é conhecida desde a antiguidade, mas há poucos estudos inovadores em dietoterapia como tratamento para esta doença. Por este motivo, o objetivo deste estudo foi revisar a terapia nutricional de úlceras pépticas em adultos.
MÉTODO
Revisão do conhecimento disponível na literatura científica sobre a terapia nutricional de úlcera péptica, sem restrições de data, contidos nas bases Scielo, PubMed, Medline, ISI e Scopus. Também foram incluídos dados dos comitês nacionais e internacionais de saúde. Para a pesquisa em bases de dados, foram utilizados os seguintes descritores: dietoterapia, nutrição, úlcera péptica, Helicobacter pylori, pimenta, ferro, proteínas, antioxidantes, biodisponibilidade de nutrientes, fibras alimentares, zinco, probióticos, vitaminas C e E.
RESULTADOS
Fisiopatologia e etiologia
Úlcera péptica é caracterizada por solução de continuidade da mucosa do trato digestivo superior exposta à secreção cloridropéptica. Muitas vezes ocorre no duodeno (5-10% da população), mas também no estômago e esôfago36. É doença crônica, com períodos de ativação e de remissão e sua patogênese é caracterizada pelo desequilíbrio entre os fatores que prejudicam a mucosa (ácido clorídrico, pepsina e drogas ulcerosas) e aqueles que a protegem, como barreira mucosa, prostaglandinas e secreção mucosa18. As manifestações clínicas são caracterizadas por desconforto epigástrico, queimação ou dor intensa e contínua, o que tende a ser pior à noite. A dor geralmente ocorre 1-3 horas após a ingestão, e pode ser seguida por náuseas, vômitos, desconforto gastrointestinal, flatulência e perda significativa de peso22.
Fatores importantes na sua etiopatogenia são o tabaco, o álcool e Helicobacter pylori - que é capaz de se mover em meio de alta viscosidade, aderindo ao epitélio da mucosa, onde permanece protegido18. O diagnóstico da infecção pode ser conseguido através de vários testes, cada um com sensibilidade e especificidade superiores a 80%. O teste padrão-ouro é a endoscopia digestiva alta, que permite coleta de material para verificar se há H. pylori, além de outros procedimentos terapêuticos36.
Avaliação nutricional em úlcera péptica
O objetivo é identificar possíveis alterações nutricionais e determinar a intervenção adequada para garantir a saúde dos indivíduos. Desnutrição neste caso pode ocorrer, especialmente quando há estenose, o que impede a ingestão normal dos alimentos18.
Para avaliação nutricional, alguns indicadores importantes são utilizados neste processo, como os antropométricos, bioquímicos, e avaliações clínicas. As avaliações antropométricas consistem na verificação de peso e altura que podem ser utilizados em conjunto na avaliação do estado nutricional, por meio de IMC (índice de Massa Corporal); contudo, este método não distingue as perdas de gordura ou de massa magra. Além disso, o peso pode ser escondido por hiper-hidratação ou a desidratação, não resultando em determinação precisa do estado nutricional18.
Bioimpedância corporal total é método utilizado para medir a massa corporal, o volume de líquido e gordura corporal, sendo reconhecido pelo Ministério da Saúde e nos USA pelo Food and Drugs Administration como técnica valiosa14. A calorimetria indireta é método não-invasivo para determinar as necessidades nutricionais e a taxa de utilização de substratos de energia a partir do consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono obtido por análise do ar inspirado e expirado pelos pulmões8.
A circunferência muscular do braço é medida para avaliar proteína somática, e a área muscular do braço corrigida é método mais preciso, pois reflete a magnitude real de alterações musculares. A prega cutânea tricipital é mais utilizada, porque é a região do tríceps que melhor representa a camada adiposa subcutânea28.
Os testes bioquímicos são capazes de diagnosticar eventuais deficiências ainda na fase subclínica e inclui a albumina do soro, que desempenha papel chave na avaliação do estado nutricional - pré-albumina, é indicador sensível da deficiência de proteína -, tendo várias vantagens para ajudar a determinar o estado nutricional e necessidades de intervenção18. Hemograma completo é frequentemente utilizado neste caso, porque envolve a contagem de glóbulos brancos e vermelhos, plaquetas, reticulócitos e índices hematológicos; assim, permite monitorar alterações no sangue e análise do progresso da doença18. O balanço de nitrogênio é técnica não invasiva e acessível que consiste na diferença entre a tomada em oxigênio e oxigênio excretado utilizado para avaliar o estresse metabólico; é bom parâmetro para avaliar a ingestão e degradação de proteínas17.
Características da terapia nutricional
O objetivo dietoterapia na úlcera péptica é evitar hipersecreção cloridopéptica, a fim de reduzir a úlcera e dor. Além disso, a terapia nutricional destina-se a promover a cicatrização, com base em sequência complexa de eventos que vão desde o trauma inicial para a reparação do tecido danificado. Investigação de deficiências nutricionais é essencial para a preparação de dieta de recuperação adequada. No início do século 20, Sippy propôs dieta à base de leite e creme de leite, combinada com antiácidos, para o tratamento de úlcera gastrointestinal, com base no princípio de que o leite iria fornecer alcalinização gástrica e aliviar a dor. Hoje leite não é recomendado devido ao efeito de tamponamento e de estímulo rebote na secreção de ácido gástrico por ele provocado29.
De acordo com Marrota e Floch18, a distribuição de calorias para os pacientes com úlcera péptica deve ser normal, com valores que variam de 50-60% de hidratos de carbono, 10-15% de proteínas, e de 25-30% de lipídeos, com o valor total de energia suficiente para manter ou recuperar o estado nutricional.
Reis29 sugeriu que a distribuição de calorias deve ser ajustada de acordo com as necessidades do paciente para normalizar o estado nutricional, tendo como macronutrientes recomendados a ingestão de proteínas em até 1,2 g/kg/peso/dia na fase aguda (5ª- 8ª semana) e até 1,5 g/kg/peso/dia na fase de recuperação. Os hidratos de carbono devem ser ajustados às necessidades do paciente, sem concentração de dissacarídeos, de modo a evitar a fermentação, e lipídeos sem concentração de gorduras saturadas.
Para acelerar o processo de cura, além de proteína, podem contribuir micronutrientes tais como zinco, que é essencial para manter a função do sistema imunitário, como resposta ao estresse oxidativo, e para curar feridas25. O selênio pode reduzir complicações infecciosas e melhorar a cicatrização10. Além disso, a vitamina A pode ser utilizada como a suplemento, mas a pesquisa que apoia esta prática é de eficácia limitada, porque dosagens muito elevadas não promovem a cura e o consumo excessivo pode ser tóxico2. Recomendações nutricionais de pacientes com úlcera péptica, são descritas na Tabela 1.
Apesar do pequeno número de referências que abrangem as quantidades necessárias de nutrientes no tratamento da úlcera péptica, pode ver-se que os autores concordam com as recomendações para melhorar a cicatrização, diferenciando-se apenas quando o paciente está na fase ativa ou remissão. Portanto, para ajudar a planejar ação mais específica e segura, é importante investigar o estado nutricional do indivíduo e se o paciente tem alguma doença associada.
O uso de fibras alimentares no tratamento de úlcera péptica
As propriedades fisicoquímicas das frações de fibras produzem diferentes efeitos fisiológicos do organismo. As fibras solúveis, encontradas na maçã, farinha de aveia e pera são responsáveis, por exemplo, para aumento da viscosidade do conteúdo intestinal. As fibras insolúveis (grãos integrais, granola, linhaça) aumentam o volume das fezes - reduzindo o tempo de trânsito no intestino grosso - e fazendo a eliminação fecal mais fácil e rápida. As fibras regulam o funcionamento do intestino, o que é vital para o bem-estar das pessoas saudáveis e para o tratamento dietético de muitos doenças19.
Räihä et al.26 relataram grande número de pacientes com úlcera péptica com dietas pobres em fibras e antioxidantes. É aconselhável dieta rica em fibras para indivíduos com úlcera péptica (20-30 g /dia, de acordo com a OMS - Organização Mundial de Saúde), porque as fibras atuam como tampões, reduzem a concentração de ácidos biliares no estômago e o tempo de trânsito intestinal com menor distensão abdominal, diminuindo assim o desconforto e dor18.
Uso de probióticos na úlcera péptica
Os probióticos são definidos como suplemento alimentar à base de microrganismos vivos, que afetam beneficamente o organismo humano e proporcionando balanço microbiano33. Há interesse especial em probióticos para tratamento da infecção por H. pylori, uma vez que desempenha papel crucial na patogênese da gastrite e úlcera péptica em adultos9. Os probióticos têm agentes terapêuticos contra H. pylori que pode ser demonstrado por dados clínicos que comprovem a eficácia de alguns probióticos em diversas doenças gastrointestinais e também devido ao aumento da resistência de bactérias patogênicas para antibioticos35.
Uma das medidas que podem contribuir para reduzir a taxa de infecção por H. pylori é a modulação da dieta, com a adição de probióticos. No entanto, organismos probióticos não aparecem para a erradicação de H. pylori, mas têm a capacidade de reduzir a carga bacteriana e infecção em animais e humanos32. Estudos em humanos indicam que os probióticos melhoram um pouco a taxa de eliminação no tratamento contra H. pylori, sendo útil para diminuir a carga bacteriana e provavelmente melhorar simptomas dispépticos37. Assim, a ingestão de 10⁹ para 10¹¹ CFU/dia de bactérias de ácido láctico é recomendada.
O melhor indicador documentado entre as aplicações clínicas dos probióticos é a redução dos efeitos colaterais associados com antibióticos. De acordo com Cats et al.4 em estudo de intervenção, 14 pacientes infectados com H. pylori receberam L. acidophilus (108 CFU) durante três semanas e mostrou ser capaz de inibir o crescimento de H. pylori em 64% dos voluntários. Da mesma forma em estudo realizado por Wang et al.38 com 59 voluntários que receberam Bifidobacterium animalis e L. acidophilus (10¹0 CFU) duas vezes por dia durante seis semanas, concluíram que a ingestão regular de iogurte contendo essas bactérias pode efetivamente suprimir a infecção por H. pylori em humanos.
O uso de anti-oxidantes para a erradicação do Helicobacter pylori
Alguns autores mostraram que o melhor tratamento é a erradicação da bacteria18. Assim, alguns estudos em humans40 usando antioxidantes para erradicar H. Pylori observaram que a vitamina C tem efeitos importantes na erradicação de bactérias em pacientes com úlcera péptica. Mas, estes estudos mostraram que as doses pequenas de vitamina C por um período mais longo de tempo tiveram resposta melhor, quando comparados com doses mais elevadas. Assim, observa-se que os pacientes com úlcera péptica por H. pylori podem usar até 500 mg/dia de vitamina C por um período de três meses, o qual não excede a UL recomendada de 2000 mg, de acordo com DRIs13.
Outro antioxidante usado para erradicar o H. pylori é a capsaicina presente na pimenta e pimentões. Estudos em animais mostraram que ela tem efeito na cura de lesões gastrointestinais. Da mesma forma, alguns pesquisadores39 estudaram o efeito da capsaicinoides em indivíduos com úlcera péptica por H. pylori ou aspirina e mostraram que essas substâncias são gastroprotetoras apenas em indivíduos com lesões induzidas por aspirina. É interessante notar que as pimentas podem estar associadas às irritações da mucosa gástrica, e podem não ter efeito gastroprotetor em alguns indivíduos com úlcera péptica.
Substâncias que podem potencializar os sintomas da úlcera péptica
De acordo com César et al.5, danos causados pela úlcera podem ser revertidos muitas vezes após o tratamento da infecção causada pelo H. pylori, por mudança de dieta e estilo de vida. Ferri-de-Barros et al.11 observaram que o consumo de álcool causa danos ao aparelho digestivo, com aparecimento de sintomas da úlcera e outras doenças relacionadas com o álcool, como esofagite, pancreatite crônica, gastrite, entre outros.
De acordo com Reis29, fumar diminui a secreção de muco e bicarbonato, o aumenta do fluxo duodenal e gástrico e o risco de formação de úlceras. Estudos prospectivos e retrospectivos mostram maior mortalidade por úlcera péptica em fumantes quando comparados aos não-fumantes. Pesquisas mostram que, entre outros constituintes do tabaco, conta a nicotina com a maior parte do desenvolvimento de úlceras pépticas, porque tem efeito nocivo sobre o muco protetor do epitélio gástrico, alterando bicarbonatos30.
Café, mesmo descafeinado, aumenta a produção de ácido gástrico, resultando em irritação das mucosas. O mesmo vale para os refrigerantes, que, além de aumentarem a produção de ácido, são gasosos e causam distensão gástrica e dispepsia18. No entanto, é importante levar em conta as tolerâncias individuais, com atenção para a existência de equívocos sobre os alimentos e suas ações no corpo. A Tabela 2 indica os alimentos que são proibidos e devem ser evitados por pessoas com úlcera péptica.
Alimentos permitidos, alimentos que devem ser consumidos com cautela, e os alimentos que devem ser evitados
Antiácidos versus nutrientes com biodisponibilidade
A deficiência de vitamina B12 é comum em pacientes com úlcera péptica devido à utilização prolongada de antiácidos, o que dificultava a biodisponibilidade desta vitamina. A vitamina B12 pode ser sintetizada por microbiota intestinal no cólon, mas não é absorvida. A deficiência desta vitamina provoca a divisão celular prejudicada e anemia megaloblástica. Estima-se que 80-90% dos doentes com falta de vitamina B12 podem desenvolver alterações neurológicas, se não tratados24. Como resultado, a recomendação é de 2,4 µg/dia de vitamina, que pode ser obtida a partir de alimentos de origem animal, tais como leite, carne e ovos.
A absorção de ácido fólico pode ser alterada em indivíduos que fazem uso crônico de antiácidos à base de alumínio (Pepsamar(r), Gastran(r), Alca-Luftal(r)), porque antiácidos fazer o pH do jejuno mais alcalino23. Nestes casos, a ingestão de 400 µg/dia de vitamina é necessária, o que pode ser fornecido com a ingestão de alimentos de leguminosas, tais como lentilhas e carnes. É importante ressaltar que a redução da acidez gástrica por antiácidos ou anti-ulcerosos (Lanzol(r), Prazol(r), Omeoprazol(r)) altera a digestão de proteínas e afeta a boa digestão dos alimentos21.
Os antiácidos também podem diminuir a absorção de ferro, causando anemia por deficiência dele. Hemorragia gastrointestinal pode ser observada na úlcera gastroduodenal e infecção por H. pylori 1 e pode estar associada com o desenvolvimento da anemia. Hemorragia gástrica é uma das principais complicações da úlcera péptica22.
A infecção por H. pylori também pode levar ao desequilíbrio da homeostase de ferro no organismo, devido à crescente demanda por ferro que ele necessita. De modo semelhante a outros tipos de bactérias, o ferro é essencial para o crescimento de H. pylori 1. Para prevenir ou tratar deficiência de ferro, é recomendada uma dose de 45 mg de ferro por dia, que pode ser fornecido pela ingestão de carnes, a principal fonte de heme ferro. Estima-se que 100 g de carne correspondem à 1 kg de grãos (de ferro não heme). O consumo concomitante de suco de frutas que contenham vitamina C aumenta a absorção do ferro não-heme da dieta1.
Tratamentos alternativos sem eficácia comprovada em úlcera péptica
O potencial das plantas como fonte de novas drogas ainda oferece grande campo para a pesquisa científica. Apesar do grande número de plantas conhecidas, somente pequena porcentagem delas já foi fitoquimicamente investigada e apenas uma fração avaliada para determinar seu potencial farmacológico. Mesmo entre as plantas medicinais tradicionais ainda há grande percentagem que não foi estudada para confirmar sua eficácia e segurança em humanos27.
Em úlcera péptica este fato é também observado. Em um estudo realizado por Mentz e Schenkel20, no qual avaliaram a plantas com efeitos conhecidos popularmente e prová-los cientificamente, observaram que plantas como o Symphytum officinale L. (confrei), além de não ter nenhuma eficácia comprovada, pode ser prejudicial por causa de seus alcalóides pirrolizidínicos, com hepatotoxicidade comprovada. Outra planta estudada foi Zantoxylon rhoifoliun Lan ("mamica-de-cadela"), popularmente indicado para úlceras e cura, mas seus benefícios não foram comprovados também. Além disso, Maytenus ilicifolia Mart, vulgarmente conhecida no Brasil como "espinheira-santa" e utilizada para a cicatrização da úlcera péptica, não tem mostrado esse eficácia em ensaios realizados.
Estudou-se também os efeitos de Peumus boldus ("boldo") e Baccharis genistelloides ("carqueja"), ambos comumente usado para tratar problemas digestivos e úlceras. Os estudos revelaram que várias atividades popularmente atribuídas a elas estão associados com os compostos químicos isolados, tais como, por exemplo, flavonoides e antioxidantes encontrados tanto em boldo como na carqueja. No entanto, os benefícios dos chás na cura da úlcera péptica não foram cientificamente provados27.
A utilização de produtos naturais no tratamento de úlcera tem sido amplamente estudada. No entanto, a maior parte dos ensaios que têm provado efeito anti-úlcera7 foram realizados em animais, e, por conseguinte, não proporcionam confiabilidade como tratamentos alternativos para a prevenção de recaídas, ou para tratamento de úlcera péptica em humanos.
CONCLUSão
Dieta equilibrada é fundamental no tratamento da úlcera péptica, uma vez que o alimento pode prevenir, tratar ou mesmo aliviar os sintomas que envolvem esta doença. No entanto, existem poucos trabalhos que inovam dietoterapia; assim, são necessários estudos adicionais abordando mais especificamente a dietoterapia para o tratamento de úlcera péptica.
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Fonte de financiamento: não há
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
Nov-Dec 2014
Histórico
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Recebido
13 Fev 2014 -
Aceito
23 Maio 2014