Acessibilidade / Reportar erro

Cistadenoma mucinoso retroperitoneal primário - relato de caso

INTRODUÇÃO

O cistadenoma retroperitoneal primário é tumor muito raro, descrito por Handfield-Jones em 1924 e observado quase exclusivamente em mulheres11. Calo PG, Congiou A, Ferreli C, Nikolosi A, Tarquin A. Primary retroperitoneal tumors. Our experience. Minerva Chirurgica 1994;49:43-9.. A sintomatologia é geralmente inespecífica, o que dificulta o seu diagnóstico diferencial com outras massas retroperitoneais e torna os exames de imagem e a conduta cirúrgica essenciais para o diagnóstico e tratamento22. Roma AA, Malpica A: Primary retroperitoneal mucinous tumors: a clinicopathologic study of 18 cases. AmJ Surg Pathol 2009;33:526-33..

O presente estudo relata o caso de um cistoadenoma mucinoso retroperitoneal primário benigno.

RELATO DO CASO

Mulher de 51 anos referia dor abdominal há um ano, localizada no flanco direito e irradiando para a região lombar, com piora progressiva. Ao exame físico apresentava massa palpável em flanco direito, indolor. Realizou ultrassonografia que identificou uma volumosa lesão cística abdominal. A tomografia computadorizada (Figuras 1 e 2) revelou lesão cística retroperitoneal homogênea medindo 15x12,5x5,5 cm e deslocando medialmente o cólon ascendente, sugerindo o diagnóstico de linfangioma cístico. A paciente foi submetida à laparotomia exploradora (Figuras 3 e 4), que identificou volumosa lesão cística retroperitoneal a qual foi dissecada das estruturas adjacentes com facilidade, permitindo sua ressecção completa. O pâncreas e os ovários não apresentavam alterações nem contiguidade com a lesão. Não foram observadas intercorrências durante a evolução pós-operatória. O exame anatomopatológico da peça operatória revelou cistadenoma mucinoso retroperitoneal benigno (Figuras 5 e 6).

Figura 1
Tomografia computadorizada de abdome: imagem cística de paredes regulares, sem nódulos ou vegetações murais

Figura 2
Tomografia computadorizada do abdome: volumosa lesão cística retroperitoneal ocupando flanco e fossa ilíaca direita

Figura 3
Achado intraoperatório: volumosa lesão cística retroperitoneal deslocando medialmente o cólon ascendente

Figura 4
Peça operatória: lesão cística íntegra e completamente ressecada

Figura 5
Parede do cisto (Hematoxilina e Eosina -100x)

Figura 6
Parede do cisto: células caliciformes sem invasão tecidual, caracterizando cisto benigno Hematoxilina e Eosina - 400x)

DISCUSSÃO

A maioria dos pacientes apresenta uma massa palpável assintomática ou acompanhada de dor abdominal leve que pode estar associada à queixas gastrointestinais inespecíficas22. Roma AA, Malpica A: Primary retroperitoneal mucinous tumors: a clinicopathologic study of 18 cases. AmJ Surg Pathol 2009;33:526-33.. O diagnóstico diferencial deve ser realizado com linfangioma cístico, teratoma cístico, neoplasias císticas do pâncreas e do ovário. A avaliação através de TC ou RM identifica lesão cística retroperitoneal, mas não define sua exata natureza33. Falidas E, Konstandoudakis S, Vlachos K, Archontovasilis F, Mathioulakis S, Boutzouvis S et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma of borderline malignancy in a male patient. Case report and review of the literature. World Journal of Surgical Oncology 2011;9:98., de modo que a confirmação do diagnóstico só pode ser estabelecida após o exame histológico da peça operatória. Dessa forma, a conduta cirúrgica está indicada para avaliação adequada da topografia e ressecção da lesão.

Histologicamente, classifica-se o cistadenoma mucinoso retroperitoneal primário em três tipos: benigno, limítrofe e maligno44. Navin P, Meshkat B, McHugh S, Beegan C, Leen E, Prins H, Aly S. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma - A case study and review of the literature. International Journal of Surgery Case Reports 3 2012;486-488.. Benigno, o mais comum, sem recidiva após a ressecção cirúrgica; limítrofe com focos de epitélio colunar proliferativo e pequeno potencial de malignidade; maligno, que pode ser recidivante e metastático55. Min BW, Kim JM, Um JW, Lee ES, Son GS. Kim SJ et al. The First Case of a Retroperitoenal Mucinous Cystadenoma in Korea: A Case Report. The Korean Journal of Internal Medicine 2004;19:282-284.. Compartilha semelhanças histológicas com o cistadenoma mucinoso ovariano e pode localizar-se em qualquer lugar no retroperitônio, sem conexões com o ovário. A histogênese ainda permanece incompreendida; no entanto, existem duas principias hipóteses. Segundo a primeira, como há semelhança com o cistadenoma mucinoso ovariano, há a possibilidade de ele crescer a partir de um tecido ovariano ectópico66. Matsubara M, Shiozawa T, Tachibana R, Hondo T, Osasda K, Kawaguchi K, et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma of borderline malignancy: a case report and review of the literature. International Journal of Gynecological Pathology 2005;24:218-23.; no entanto, tecidos ovarianos foram achados na parede do cisto apenas em alguns casos77. Pennell TC, Gusdon Jr JP. Retroperitoneal mucinous cystadenoma. American Journal of Obstetrics and Gynecology 1989;160:1229-31. e foram descritos casos em homens88. Lai KKT, Chan YYR, Chin ACW, Ng WF, Huang YHH, Mak YLM, et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma in a 52-year-old man. Journal of Hong Kong College Of Radiologists 2004;7:223-5.. A segunda hipótese sugere que eles se originam a partir de uma invaginação de células mesoteliais multipotentes com subsequente metaplasia mucinosa das células mesoteliais de revestimento66. Matsubara M, Shiozawa T, Tachibana R, Hondo T, Osasda K, Kawaguchi K, et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma of borderline malignancy: a case report and review of the literature. International Journal of Gynecological Pathology 2005;24:218-23..

A ressecção cirúrgica completa da lesão, além de permitir a adequada avaliação diagnóstica, também representa o melhor tratamento99. Tapper EB, Shrewsberry AB, Oprea G, Majmudar B. A unique benign mucinous cystadenoma of the retroperitoneum: a case report and review of the literature. Archives of Gynecology and Obstetrics 2010;281:167-9..

REFERENCES

  • 1
    Calo PG, Congiou A, Ferreli C, Nikolosi A, Tarquin A. Primary retroperitoneal tumors. Our experience. Minerva Chirurgica 1994;49:43-9.
  • 2
    Roma AA, Malpica A: Primary retroperitoneal mucinous tumors: a clinicopathologic study of 18 cases. AmJ Surg Pathol 2009;33:526-33.
  • 3
    Falidas E, Konstandoudakis S, Vlachos K, Archontovasilis F, Mathioulakis S, Boutzouvis S et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma of borderline malignancy in a male patient. Case report and review of the literature. World Journal of Surgical Oncology 2011;9:98.
  • 4
    Navin P, Meshkat B, McHugh S, Beegan C, Leen E, Prins H, Aly S. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma - A case study and review of the literature. International Journal of Surgery Case Reports 3 2012;486-488.
  • 5
    Min BW, Kim JM, Um JW, Lee ES, Son GS. Kim SJ et al. The First Case of a Retroperitoenal Mucinous Cystadenoma in Korea: A Case Report. The Korean Journal of Internal Medicine 2004;19:282-284.
  • 6
    Matsubara M, Shiozawa T, Tachibana R, Hondo T, Osasda K, Kawaguchi K, et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma of borderline malignancy: a case report and review of the literature. International Journal of Gynecological Pathology 2005;24:218-23.
  • 7
    Pennell TC, Gusdon Jr JP. Retroperitoneal mucinous cystadenoma. American Journal of Obstetrics and Gynecology 1989;160:1229-31.
  • 8
    Lai KKT, Chan YYR, Chin ACW, Ng WF, Huang YHH, Mak YLM, et al. Primary retroperitoneal mucinous cystadenoma in a 52-year-old man. Journal of Hong Kong College Of Radiologists 2004;7:223-5.
  • 9
    Tapper EB, Shrewsberry AB, Oprea G, Majmudar B. A unique benign mucinous cystadenoma of the retroperitoneum: a case report and review of the literature. Archives of Gynecology and Obstetrics 2010;281:167-9.
Correspondência: Marco Aurelio Santo Filho Email: aureliosanto@uol.com.br
Conflito de interesses: não há
  • Fonte de financiamento: não há

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2014

Histórico

  • Recebido
    17 Jun 2013
  • Aceito
    13 Maio 2014
Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 6° - Salas 10 e 11, 01318-901 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (11) 3288-8174/3289-0741 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistaabcd@gmail.com