Acessibilidade / Reportar erro

25 anos de ABCD relação cirurgião-paciente no passado e no presente

EDITORIAL

25 anos de ABCD relação cirurgião-paciente no passado e no presente

Nelson Adami Andreollo; Ivan Cecconello; Cleber Dario Pinto Kruel; Osvaldo Malafaia

Nota do Editor: O texto na figura abaixo foi reproduzido do primeiro Editorial do ABCD - Arq Bras Cir Dig. 1986; 1(1):1

Clique para ampliar

RELAÇÃO PACIENTE - CIRURGIÃO: O QUE MUDOU ?

E mbora o texto anterior tenha sido escrito há 25 anos representando o primeiro artigo do ABCD Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva, os conceitos emitidos na época continuam muito atuais.

Nos últimos anos ocorreram avanços importantes na medicina e na cirurgia gastrintestinal, tanto nos meios diagnósticos - tomografia computadorizada, ressonância magnética, pet-scan, endoscopia e imagenologia intervencionistas - como nos procedimentos cirúrgicos que se diferenciaram do passado - videocirurgia, cirurgia robótica e transplantes de órgãos. Ocorreu também grande progresso na terapêutica clínica com o descobrimento de novos fármacos. Atualmente a formação do cirurgião é mais longa, necessitando cumprir dois anos de residência médica em cirurgia geral e depois mais dois ou três de na especialidade escolhida. Considerando todos estes aspectos a medicina tornou-se mais onerosa para o paciente. O número de escolas médicas triplicou no país e aumentou mais ainda o número de médicos à procura de mercado de trabalho.

Nos dias atuais, os pacientes têm acesso com mais facilidade aos vários aspectos que envolvem sua doença e métodos de tratamento, obtendo informações preciosas na internet. Este novo tempo permite aos pacientes questionarem e discutirem com o seu cirurgião a melhor forma de tratá-los.

Apesar de todos estes avanços a relação paciente-cirurgião continua imprescindível para que o objetivo final seja atingido, ou seja, o de cuidar, tratar e recuperar tanto física como emocionalmente a quem os procura. Aí reside o binômio coração e arte cirúrgica e a base indispensável para propiciar elevada qualidade em saúde.Na maioria das vezes a insatisfação do paciente - e muitas de suas reclamações - são em função da relação médico-paciente deficiente. Apesar de estarmos em um novo século e estes fatos serem conhecidos há muitos décadas, os médicos tendem a subestimar sua capacidade de comunicação.

A interação paciente-cirurgião é um processo complexo e a falta de adequada comunicação é armadilha potencial, principalmente na compreensão dos pacientes sobre os objetivos, cuidados, resultados esperados, e o prognóstico das muito frequentes doenças neoplásicas digestivas. A boa capacidade de comunicação dos cirurgiões permite que os pacientes participem de todas as discussões e dúvidas relacionadas ao ato operatório. A empatia é uma das formas mais importantes de fornecer atenção e apoio para diminuir as sensações de insegurança, isolamento e angústia do paciente.

A boa relação paciente-cirurgião facilita a compreensão da informação médica, e permite identificar melhor as necessidades, as expectativas e a regular as emoções dos pacientes. Estes sentem na boa comunicação com o cirurgião probabilidade de estarem satisfeitos com seus cuidados, compartilhando melhor as informações relacionadas ao diagnóstico preciso de seus problemas, aderindo e concordando com os tratamentos sugeridos. Retornam de boa vontade para seguimento e recuperam-se mais rapidamente. A boa comunicação com intenção colaborativa irá proporcionar relação recíproca e dinâmica.

O modo ideal é os cirurgiões colaborarem com os seus pacientes e oferecerem o melhor atendimento, evitando tomarem decisões baseadas em avaliações rápidas sem minucioso entendimento da situação que o caso exige, perdendo oportunidades de oferecer e discutir opções de tratamento, compartilhando responsabilidades e trocando informações equilibradas e seguras. Seguindo esta abordagem, o médico facilita a discussão quanto às opções de tratamento, principalmente se estiver indicando tratamento cirúrgico, em que as opções de cuidados precisam da estreita colaboração entre a equipe cirúrgica e paciente, quanto ao nível de aceitação de risco, o envolvimento familiar, os custos associados se houverem, maximizando a adesão e garantindo os melhores resultados e evolução favorável.

Os médicos não nascem com habilidades de comunicação, pois eles têm interesses e diferentes formações. É necessário praticar muito durante o curso médico, residência médica e especialização, adquirindo ao longo de alguns anos habilidades, entendimentos e compreendendo os sentimentos dos pacientes. Alguns especialistas afirmam que a educação médica deve ir além das competências de formação nas escolas médicas, pois têm observado que as habilidades de comunicação tendem a diminuir como o progresso dos estudantes de medicina e ao longo do tempo os médicos em formação tendem a perder seu foco no paciente. Além disso, as dificuldades, barreiras e a necessidade do tempo longo para sua formação médica, principalmente durante os estágios e residência, suprimem a empatia, desviando sua atenção para os aspectos meramente técnicos, envolvendo os procedimentos diagnósticos, terapêuticos e cirúrgicos. Existem muitas barreiras para uma boa comunicação paciente-cirurgião, e é responsabilidade do cirurgião saber transpô-las, principalmente no que diz respeito à ansiedade, medo de litígios e insegurança.

A maioria das queixas sobre cirurgiões estão relacionados às questões de comunicação, não de competência. Os pacientes querem cirurgiões que podem diagnosticar e tratar habilmente suas enfermidades, bem como se comunicar com eles efetivamente. Cirurgiões com melhor comunicação e habilidades inter-pessoais são capazes de detectar problemas mais cedo e proporcionar melhor apoio aos seus pacientes, levando à maior satisfação, redução de custos de atendimento e melhor adesão ao tratamento. A decisão em conjunto entre cirurgiões e pacientes permite atingir os objetivos acordados, resultados favoráveis e o significado final é a obtenção de qualidade de vida.

A comunicação paciente-cirurgião eficaz pode ser uma fonte de motivação, incentivo, confiança e componente importante do processo de saúde. A boa relação pode aumentar a satisfação no trabalho e reforçar a auto-confiança, influenciar e garantir a evolução final do tratamento.

Em síntese, muito pouca coisa mudou em 25 anos de atendimento médico quando se foca o homem e suas necessidades como ser vivente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 278 - 6° - Salas 10 e 11, 01318-901 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (11) 3288-8174/3289-0741 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revistaabcd@gmail.com