Open-access INFLUÊNCIA DE IMPLANTE ESPLÊNICO EM SUBCUTÂNEO NA SOBREVIDA DE ANIMAIS ESPLENECTOMIZADOS

RESUMO

Racional:   O melhor sítio para implante esplênico não foi definido, principalmente avaliando a funcionalidade do implante.

Objetivo:   Avaliar os efeitos do implante esplênico autógeno subcutâneo na sobrevida de ratos esplenectomizados.

Métodos:  Foram estudados 21 ratos alocados aleatoriamente em três grupos (n=7): grupo 1 - manipulação da cavidade abdominal e preservação do baço; grupo 2 - esplenectomia total; grupo 3 - esplenectomia e implante do tecido retirado no subcutâneo. Os animais foram acompanhados por 90 dias pós-operatórios.

Resultados:  Houve mortalidade maior nos grupos 2 (p=0,0072) e 3 (p=0,0172) em relação ao grupo 1. Não houve diferença entre os grupos 2 e 3 (p=0,9817).

Conclusão:  O implante esplênico no subcutâneo é ineficaz na sobrevida de ratos submetidos à esplenectomia.

DESCRITORES: Baço; Esplenectomia; Transplante autólogo; Rato.

ABSTRACT

Background:   The best site for splenic implant was not defined, mainly evaluating the functionality of the implant.

Aim:   To evaluate the effects of autogenous splenic implantation on the subcutaneous tissue in the survival of splenectomized rats.

Method:   Twenty-one randomly assigned rats were studied in three groups (n=7): group 1 - manipulation of the abdominal cavity and preservation of the spleen; group 2 - total splenectomy; group 3 - splenectomy and implant of the tissue removed in the subcutaneous. The animals were followed for 90 days postoperatively.

Results:   There was a higher mortality in groups 2 (p=0.0072) and 3 (p=0.0172) in relation to group 1. There was no difference between groups 2 and 3 (p=0.9817).

Conclusion:   The splenic implant in the subcutaneous is ineffective in the survival of rats submitted to splenectomy.

HEADINGS: Spleen; Splenectomy; Rats; Transplants

INTRODUCÃO

O baço foi considerado até há poucos decênios como um órgão supérfluo, cuja retirada não altera a homeostase orgânica nem provoca complicações9,17. Contudo, estudos criteriosos mostraram muitas adversidades decorrentes da esplenectomia, principalmente com queda imunitária, sepse grave, distúrbios do metabolismo lipídico, alterações funcionais do fígado e medula óssea3,8,9,17,18. O evento mais grave nos pacientes asplênicos é a sepse fulminante e a mortalidade precoce em relação às pessoas com baço3,9,18.

Para prevenir as complicações da asplenia, a tendência atual em trauma, oncologia e hematologia tem sido o tratamento com preservação do baço1,2,4. Caso seja necessária a operação esplênica, indicam-se operações conservadoras de parte do baço ou, quando não for possível, a realização de implantes esplênicos.

De acordo com a literatura, o implante esplênico, para manter sua função, deve ser feito no abdome, em local com drenagem venosa para o sistema porta4,5, levando assim os produtos esplênicos para o fígado, que completará o metabolismo iniciado pelo baço ou a defesa orgânica. Outro aspecto relevante é a quantidade de tecido implantado que deve ser superior a 25% de um baço normal, para não ocorrer insuficiência esplênica7.

Apesar de terem sido constatadas complicações decorrentes da asplenia e que são evitadas com os implantes, ainda não foi determinado se o local do implante interfere na mortalidade.

O objetivo deste trabalho foi avaliar se o implante esplênico autógeno realizado no subcutâneo interfere na sobrevida de ratos esplenectomizados.

MÉTODOS

Este estudo foi realizado em 21 ratos (Rattus norvegicus) Wistar machos, com 15-20 semanas de vida e pesando entre 250-300 g. Foram mantidos no Biotério do Laboratório de Cirurgia Experimental da Universidade do Estado do Pará, Belém, PA em ambiente controlado. Água e ração foram oferecidas sem limite. Esta pesquisa seguiu as normas para experimentação animal (Lei 11.794/08) e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Estado do Pará, protocolo 27/11.

Os animais foram distribuídos aleatoriamente em três grupos (n=7): grupo 1 - laparotomia e manipulação intra-abdominal, com preservação do baço; grupo 2 - submetido à esplenectomia total; grupo 3 - esplenectomia total e implante do tecido esplênico retirado no subcutâneo.

Os procedimentos operatórios foram realizados sob anestesia geral (quetamina 70 mg/kg e xilazina 10 mg/kg, intraperitoneal) e condições assépticas. Todos os animais foram submetidos à laparotomia mediana supra e paraumbilical com extensão de 3 cm. Nos grupos 2 e 3, os vasos esplênicos foram ligados com fio de algodão 4-0 e, em seguida, o baço foi retirado. No grupo 3, o baço foi pesado e dele foram retiradas duas fatias, que correspondiam a 30% do tecido esplênico. Esses segmentos foram implantados no tecido subcutâneo e fixados com um ponto de náilon 6-0. O fechamento da cavidade abdominal de todos os animais foi em dois planos: musculoapouneurótico com fio de náilon 4-0 e pele com fio de náilon 6-0.

No pós-operatório, eles ficaram em gaiolas individuas, receberam analgesia (dipirona 30 mg/kg de 8/8 h) durante 5 dias, água e ração à vontade. Seu acompanhamento pós-operatório foi de 90 dias ou até sua morte. Os ratos que morreram durante o período de acompanhamento foram submetidos à necropsia, para identificar-se o implante esplênico e a causa do óbito. Os que sobreviveram durante 90 dias foram mortos com superdose das drogas utilizadas na anestesia e submetidos à necropsia para identificar os implantes subcutâneos.

Análise estatística

O software BioEstat® 5.4 (Belém, PA, Brasil) foi utilizado para realizar análise estatística. A análise da sobrevida foi avaliada pelas curvas de Klapan-Meier e comparadas pelo teste de Log-Rank. Foi adotado valor de p<0,05 para significância das comparações entre os três grupos.

RESULTADOS

Todos os animais do grupo 1 sobreviveram durante todo o período de acompanhamento. No grupo 2 houve cinco óbitos, um no 30°, 41°, 50° e dois no 52° dias pós-operatórios (p=0,0072) em relação ao grupo 1. No grupo 3, houve quatro óbitos, no 21°, 36°, 40° e 45° dias pós-operatórios (p=0,0172) em relação ao grupo 1. Não houve diferença quanto à sobrevida dos animais entre os grupos 2 e 3 (p=0.9817, Figura 1). À necropsia constatou-se que todos os ratos morreram em decorrência de peritonite por E. coli.

Todos os animais apresentavam o tecido esplênico implantado íntegro e com vascularização em seu contorno.

FIGURA 1
Curvas de sobrevida de acordo com os grupos, 1 (com baço), 2 (esplenectomia) e 3 (esplenectomia e implante esplênico no subcutâneo)

DISCUSSÃO

As operações conservadoras do baço11-14 estão se tornando cada vez mais comuns em diversos serviços, tanto no trauma quanto em doenças relacionadas ao baço. O implante esplênico é reservado para os casos em que não se consegue preservar parte de baço eutópico, por isquemia generalizada ou dificuldades técnicas1,2,4-7,15. O tecido esplênico implantado readquire a integridade morfofuncional em até três meses, desde que implantado em tecido com drenagem venosa para a veia porta e em quantidade suficiente5,6,15.

Neste estudo, o implante esplênico na região subcutânea acompanhou-se de óbitos em mais da metade dos animais submetidos à esplenectomia, sem diferença com relação aos asplênicos que não receberam implantes. Esse resultado ocorreu a despeito de todos os implantes manterem sua vitalidade. De acordo com a literatura o tecido esplênico mantém a vitalidade em qualquer tecido onde for implantado1,4,6,15. Esse conhecimento existe há quase um século, quando iniciaram os estudos da esplenose, implantes esplênicos naturais, que ocorrem após um trauma maior do baço. Parte desse órgão rompido fixa-se a diversas partes do abdome (peritônio, omento, serosa intestinal e ligamentos) e até extra-abdominal, em tórax (pleura, mediastino, pulmão) e em membros inferiores (subcutâneo, fáscias e músculos)10,16.

Na literatura há evidências de que os implantes esplênicos no omento maior, no mesocólon e no retroperitônio aumentam a resistência de animais à infecções por Escherichia coli e Staphilococcus aureus, reduzindo a mortalidade após esplenectomia. Entretanto, implantes esplênicos fora de tecidos com drenagem ao sistema porta, apesar de permanecerem viáveis, não funcionam adequadamente e de acordo com este estudo, acompanham-se de elevada mortalidade8,18. A morte por peritonite mostrou que os ratos, habitualmente muito resistentes à infecção, quando asplênicos perdem a capacidade de defesa contra bactérias peritoneais, mesmo em presença de implantes esplênicos no subcutâneo.

Há a necessidade de mais estudos para compreender-se a importância da drenagem dos produtos esplênicos para o fígado através do fluxo porta.

CONCLUSÃO

O implante esplênico no subcutâneo foi ineficaz na sobrevida de ratos submetidos à esplenectomia.

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  • Fonte de financiamento:
    não há

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2018

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2018
  • Aceito
    15 Mar 2018
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