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Re-gastrectomia vertical laparoscópica para reganho de peso posteriormente à gastrectomia vertical laparoscópica modificada: primeiro relato de caso e cirurgia na América Latina

DESCRITORES:
Gastrectomia; Ganho de Peso

INTRODUÇÃO

Gastrectomia vertical laparoscópica modificada (MLSG) é boa opção para controlar o diabete melito tipo II, obesidade e outras co-morbidades. No entanto, um desafio comum das operações bariátricas é a recuperação do peso em longo prazo.

Re-gastrectomia vertical começou há alguns anos e é sugerida para ser opção viável para gerir essas situações. Na América Latina não há nenhum caso relatado de re-gastrectomia vertical após MLSG até este momento.

Portanto, é apresentado um relato de caso de um indivíduo submetido à re-gastrectomia vertical por recuperação do peso após sete anos de MLSG.

RELATO DE CASO

LSF, 48 anos, caucasiano, homem brasileiro, foi a consultório particular em São Paulo, SP, Brasil, em 2009, apresentando as seguintes condições: obesidade grave com IMC de 47, diabete melito tipo II, esteatose hepática e hipertensão. Portanto, ele tinha síndrome metabólica e obesidade grave. Foi submetido aos seguintes exames: peptídeo C (2,86), anti-GAD e anticorpo anti-insulina negativos e glicemia de jejum (285 mg/dl) em tratamento com Januvia e Glifage.

MLSG (Figura 1) foi realizada em 2009. Ela consiste basicamente na remoção de parte do fundo gástrico e do corpo do estômago até uma polegada a partir da veia pilórica, reduzindo a produção de grelina4. Nos seguintes oito meses após a operação, ele passou de IMC de 47 para 27,5. Como resultado, teve a sua síndrome metabólica e diabete controlados. Sete anos mais tarde retornou referindo capacidade de comer maior volume e recuperou o peso. Seu novo IMC foi de 34,5. Dado este cenário clínico foram solicitados ultrassonografia abdominal, esôfago, estômago e duodeno contrastado e endoscopia digestiva alta (Figura 1A).

FIGURA 1
A) Estudo contrastado do esôfago, estômago e duodeno demonstrando dilatação fúndica moderada; B) peça cirúrgica de re-gastrectomia vertical (12 cm de fundo gástrico)

Colecistectomia laparoscópica com colangiografia foi realizada e também re-gastrectomia vertical parcial (Figura 1B) usando grampeador linear articulado e carga azul com reforço de sutura com polidioxanona 3-0. A operação obteve bons resultados e sem quaisquer complicações intra ou pós-operatórias. Paciente permaneceu no hospital por 48 h.

Após seis meses do procedimento não apresentava nenhuma complicação; teve 12 kg de perda de peso e parou todos os medicamentos. Ele apresentava alteração no IMC=8%, perda de excesso de IMC (%EBMIL) de 84,21% e porcentagem de perda de peso total (%TWL) de 12,37%.

DISCUSSÃO

A literatura tem poucas publicações que descrevem re-gastrectomia vertical. Nenhuma delas na América Latina e nenhum relato MLSG como procedimento bariátrico primário.

Em 2006, Baltasar A, et al. relataram dois pacientes que foram submetidos à gastrectomia vertical laparoscópica e quando eles recuperaram o peso, re-gastrectomia laparoscópica e switch duodenal foram realizados e reduziu IMC após 3-4 meses11. Baltasar A, Serra C, Pérez N, Bou R, Bengochea M. Re-sleeve gastrectomy. Obes Surg. 2006 Nov;16(11):1535-8.. No entanto, switch duodenal é melhor indicação para super-super-obesidade, pois é técnica muito malabsortiva. Re-gastrectomia vertical é boa maneira em pacientes que precisam perder grande parte do peso que re-adquiriu sem outros problemas.

Em 2009, Iannelli A, et al. realizaram um estudo de viabilidade de revisão da gastrectomia vertical laparoscópica. Eles recrutaram 13 pacientes com recuperação do peso ou perda de peso insuficiente. Eles seguiram seus pacientes no 1º, 6º e 12º meses após a revisão da gastrectomia vertical laparoscópica. Antes da operação o IMC médio era de 44,6 kg/m2; um mês após o IMC médio era de 32,3 kg/m2; seis meses após o IMC médio era de 32 kg/m2 e em 12 meses de 27,5 kg/m2. Eles concluíram que, para um ano após a revisão o procedimento era seguro e efetivo33. Iannelli A, Schneck AS, Noel P, Ben Amor I, Krawczykowski D, Gugenheim J. Re-sleeve gastrectomy for failed laparoscopic sleeve gastrectomy: a feasibility study. Obes Surg. 2011 Jul;21(7):832-5..

Rebibo L et al. compararam re-gastrectomia vertical com a gastrectomia vertical primária. Descobriram que a re-gastrectomia podia gerar perda de peso similar à primária, mas com maior risco de complicações, tal como fístula gástrica5.

Em 2014 Cesana G et al. relataram seus resultados mostrando 201 pacientes que foram submetidos à re-gastrectomia vertical. Eles não relataram complicações intra ou pós-operatórias, e houve redução de anti-hipertensivos e hipoglicemiantes nos diabéticos e hipertensos22. Cesana G, Uccelli M, Ciccarese F, Carrieri D, Castello G, Olmi S. Laparoscopic re-sleeve gastrectomy as a treatment of weight regain after sleeve gastrectomy. World J Gastrointest Surg. 2014 Jun 27;6(6):101-6..

A segurança em curto prazo é consistente com a literatura uma vez que nenhuma complicação pré ou pós-operatória ocorreu. Estes resultados são também semelhantes aos de Cesana na redução de hipoglicemiantes. Há necessidade de seguimento destes pacientes para verificar se os resultados são consistentes no médio e longo prazo.

A nossa principal limitação foi o tamanho de amostra de apenas um paciente. Para ter-se resultados mais sólidos seguimentos maiores e maior número de pacientes são necessários.

REFERENCES

  • 1
    Baltasar A, Serra C, Pérez N, Bou R, Bengochea M. Re-sleeve gastrectomy. Obes Surg. 2006 Nov;16(11):1535-8.
  • 2
    Cesana G, Uccelli M, Ciccarese F, Carrieri D, Castello G, Olmi S. Laparoscopic re-sleeve gastrectomy as a treatment of weight regain after sleeve gastrectomy. World J Gastrointest Surg. 2014 Jun 27;6(6):101-6.
  • 3
    Iannelli A, Schneck AS, Noel P, Ben Amor I, Krawczykowski D, Gugenheim J. Re-sleeve gastrectomy for failed laparoscopic sleeve gastrectomy: a feasibility study. Obes Surg. 2011 Jul;21(7):832-5.
  • 4
    Pirolla EH, Jureidini R, Barbosa ML, Ishikawa LC, Camargo PR. A modified laparoscopic sleeve gastrectomy for the treatment of diabetes mellitus type 2 and metabolic syndrome in obesity. Am J Surg. 2012 Jun;203(6):785-92.
  • 5
    Rebibo L, Fuks D, Verhaeghe P, Deguines JB, Dhahri A, Regimbeau JM. Repeat sleeve gastrectomy compared with primary sleeve gastrectomy: a single-center, matched case study. Obes Surg . 2012 Dec;22(12):1909-15.
  • Fonte de financiamento: não há

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    05 Abr 2015
  • Aceito
    03 Maio 2016
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