Resumos
A reforma ortográfica da língua portuguesa promoveu modificações na escrita em menos de 2% das palavras do vocabulário, porém essas alterações têm-se mostrado sensíveis no cotidiano médico. Os autores apresentam as principais mudanças das regras ortográficas e reúnem um grupo de exemplos de palavras cuja grafia foi alterada pela nova reforma, enfatizando os termos dermatológicos.
Dermatologia; Linguagem; Vocabulário
The Brazilian Portuguese language orthographic reform has promoted changes in writing in less than 2% of its lexis. However, these changes have affected medical practice. The authors present in this article the main changes in the orthographic rules and gather a group of words that have had their spelling altered by this new language reform emphasizing the dermatological terms.
Dermatology; Language; Vocabulary
COMUNICAÇÃO
Reforma ortográfica da língua portuguesa no Brasil e na dermatologia* * Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista (FMB-Unesp) - Botucatu (SP), Brasil.
Hélio Amante MiotI; Paulo Müller RamosII
IProfessor assistente doutor do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista (FMB-Unesp) - Botucatu (SP), Brasil
IIResidente do Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista (FMB-Unesp) - Botucatu (SP), Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Hélio Amante Miot Departamento de Dermatologia e Radioterapia da Faculdade de Medicina da Unesp Campus Universitário de Rubião Jr 18618-000 Botucatu - SP, Brasil Tel./fax: 14 3882 4922 E-mail: heliomiot@fmb.unesp.br
RESUMO
A reforma ortográfica da língua portuguesa promoveu modificações na escrita em menos de 2% das palavras do vocabulário, porém essas alterações têm-se mostrado sensíveis no cotidiano médico. Os autores apresentam as principais mudanças das regras ortográficas e reúnem um grupo de exemplos de palavras cuja grafia foi alterada pela nova reforma, enfatizando os termos dermatológicos.
Palavras-chave: Dermatologia; Linguagem; Vocabulário
A língua é uma das manifestações culturais mais características de um povo, constituindo-se em elemento de integração nacional. Seu caráter dinâmico é inquestionável, o que promove a necessidade de reformas periódicas.1
O acordo ortográfico da língua portuguesa de 2009, ou reforma ortográfica, vigora no Brasil desde janeiro de 2009, e espera-se sua implantação definitiva até 2012. Apesar de controversa, houve a finalidade de aproximar as culturas dos oito países que empregam a língua portuguesa como idioma.2
Embora menos de 2% do léxico tenha sofrido mudanças, elas têm-se mostrado sensíveis no cotidiano da medicina e, por enquanto, geram divergências mesmo entre distintos dicionaristas.
Não há, até o momento, publicações que orientem as alterações decorrentes da reforma ortográfica na escrita médica. A dermatologia é especialidade com vocabulário vultoso, recheada de adjetivos e nomenclaturas próprias, que igualmente sofreram modificações.
A acentuação das palavras foi a alteração mais significativa.
Nas palavras homógrafas, os acentos diferenciais foram abolidos, como em: pelo, polo, pela, pera, para. Porém, nos casos em que distinguem os tempos e os números verbais, foram mantidos: pode/pôde, intervém/intervêm, tem/têm, vem/vêm, detém/detêm, convém/convêm, mantém/mantêm. Também foi mantido o acento diferencial em pôr/por.
Palavras grafadas com trema deixam de apresentá-lo. Dessa forma, unguento, arguição, frequente, subsequente, sequela, consequente, cinquenta, consanguíneo, sequência e tranquilo têm nova escrita. Os tremas decorrentes de nomes próprios e seus derivados não foram alterados, como em: Köbner, Schönlein, Schüller, Löfgren, Löwestein, Sjögren, Björnstad, Gökerman, Könen, Vörner, Münchausen, Müller e mülleriano.
Os acentos circunflexos foram excluídos das palavras terminadas no hiato oo, decorrendo disso: enjoo, voo, magoo, perdoo e povoo. Também foi suprimido o acento das palavras terminadas em eem; assim, as terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo de alguns verbos passam a ter nova grafia: creem, leem, veem e deem.
Cai o acento agudo dos verbos arguir e redarguir na segunda e terceira pessoas do singular e na terceira do plural do presente do indicativo: arguis, argui, arguem.
Desaparece o acento agudo nos grupos gue, gui, que, qui de verbos: enxague, averigue, apazigue, argui. Da mesma maneira, nos verbos terminados em guar, quar e quir quando pronunciados com o u tônico no presente do indicativo, subjuntivo e imperativo: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem. Porém, se pronunciados com a e i tônicos, essas vogais levam acento.
Paroxítonas com os ditongos abertos ói e éi perdem o acento (Tabela 1). Entretanto, oxítonas terminadas nos ditongos abertos éu, éus, éi, éis, ói, óis continuam acentuadas: herói, chapéu, troféu, papéis.
Palavras paroxítonas com i e u tônicos, quando precedidos de ditongo, deixam de ser acentuadas, como: feiura, baiuca e Bocaiuva. Contudo, oxítonas terminadas em i ou u seguidos ou não de s permanecem acentuadas; por exemplo: Piauí e tuiuiú.
A hifenização nunca foi assunto de lida fácil e constitui a maior polêmica da reforma. Usa-se o hífen diante de palavras iniciadas em h com os prefixos anti, macro, mini, proto, auto, sobre, super, ultra (Tabela 2 - linha a).
Por outro lado, quando o prefixo termina em vogal diferente da que inicia a segunda palavra, o hífen não é usado (Tabela 2 - linha b). Da mesma forma, não levam hífen palavras cujo prefixo termina em vogal e a primeira letra do segundo elemento começa com consoante diferente de r e s (Tabela 2 - linha c).
Não levam hífen e duplicam as letras as palavras cujo prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa em r ou s (Tabela 2 - linha d), exceto quando os prefixos terminam com r, como em: hiper-requintado, inter-resistente e super-revista.
São hifenizadas as palavras cujo prefixo termina com a mesma vogal que começa o segundo elemento (Tabela 2 - linha e).
Não levam hífen palavras com prefixo re seguido por elemento começando com letra e (Tabela 2 - linha f). Perdem o hífen as palavras cujo prefixo é póstero, assim como não são hifenizadas palavras que seguem o prefixo co, devendo-se suprimir a letra h do segundo elemento (Tabela 2 - linha g).
Levam hífen palavras cujo prefixo sub precede palavra iniciada com r: sub-região, sub-raça; assim como as palavras iniciadas por m, n e vogal precedidas pelos prefixos circum e pan (Tabela 2 - linha h).
Ganham hífen as palavras: tique-taque, tim-tim, mega-hertz e chá-da-índia. Por outro lado, passam a ser escritas sem hífen as palavras: xiquexique e tão só.
Composições de origem tupi-guarani exigem o hífen, como Mogi-mirim e jacaré-açu, bem como palavras precedidas pelos prefixos vice, ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró (Tabela 2 - linha i).
Palavras compostas que não contêm elemento de ligação e constituem unidade semântica, além de palavras ligadas à taxonomia, permanecem com hífen (Tabela 2 - linha j). São exceções as palavras que, pelo uso, perderam a noção de composição, não levando hífen: mandachuva, paravento, paraquedas, paraquedista, pontapé.
Deve-se ainda repetir o hífen no início da nova linha se, no final da anterior, a partição de uma palavra ou a combinação de palavras coincidirem com o hífen.
O alfabeto reincorporou as letras k, w e y, totalizando 26 elementos e autorizando símbolos de unidades e medidas (kg, km e W), estrangeirismos e seus derivados (bowenoide, show).
Casos de fonética ambígua, como clitóris e clítoris, mantêm as duas formas de acentuação.
Mais que simples erudição, ou para minimizar o trabalho dos revisores de periódicos e de editoras, as mudanças ortográficas são definitivas e devem ser incorporadas à prática da escrita diária, pois são pertinentes à adequada comunicação profissional para as próximas gerações.3,4
Recebido em 13.08.2009.
Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 27.11.09.
Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum
-
1Kirby S, Dowman M, Griffiths TL. Innateness and culture in the evolution of language. Proc Natl Acad Sci U S A. 2007;104:5241-5.
-
2Tufano D. Michaelis. Guia prático da nova ortografia. São Paulo: Melhoramentos; 2008.
-
3Dirckx JH. The doctor's dyslexicon: 101 pitfalls in medical language. Am J Dermatopathol. 2005;27:86-8.
-
4Ferguson WJ, Candib LM. Culture, language, and the doctor-patient relationship. Fam Med. 2002;34:353-61.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
21 Mar 2011 -
Data do Fascículo
Fev 2011
Histórico
-
Recebido
13 Ago 2009 -
Aceito
27 Nov 2009