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Cirurgia sob anestesia local: quando o inesperado ocorre

CORRESPONDÊNCIA

Cirurgia sob anestesia local: quando o inesperado ocorre* * Trabalho realizado na Faculdade de Medicina do ABC, Serviço de Dermatologia.

Marcos A. R. MartinezI; Maurício PaixãoII; Carlos D' Aparecida Santos MachadoIII

IMédico dermatologista assistente do Hospital de Clínicas de Santo André - Serviço de Dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC. Mestrando em Dermatologia - Departamento de Dermatologia da Faculdade de Medicina da USP

IIMédico Residente do Serviço de Dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC

IIIProfessor Adjunto e chefe interino do Serviço de Dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC. Doutor em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Marcos A. R. Martinez Rua Cantagalo 692 cj 814 03319-000 São Paulo SP Tel.: (11) 6193-8873 Tel/Fax: (11) 4493-5455 E-mail: marcosmartinez@uol.com.br

Os autores relatam complicação ocorrida em uma paciente, durante a realização de exérese de carcinoma basocelular sob anestesia local no Centro Cirúrgico do Hospital Estadual de Santo André.

Paciente do sexo feminino, 53 anos, hipertensa, controlada com uso de Aldomet (500mg/dia), encaminhada ao serviço de dermatologia do Hospital Estadual de Santo André (vinculado à Faculdade de Medicina do ABC), devido a um epitelioma basocelular no dorso nasal, confirmado pelo anatomopatológico, sendo programada exérese da lesão. A paciente foi submetida à avaliação clínica e pré-anestésica, procedimento de rotina em todos os pacientes com cirurgia programada no hospital, com exames clínico e laboratoriais pré-operatórios dentro da normalidade. No Centro Cirúrgico, estando a paciente monitorada eletrocardiograficamente, foram ministrados 6ml de solução anestésica (15 ml de SF a 0,9% + 5ml de lidocaína a 2% + 0,15ml de adrenalina 1:1000), e poucos minutos após a paciente começou a apresentar pico hipertensivo (PA = 180 x 110mmHg), associado com taquicardia supraventricular com freqüência de 175 batimentos por minuto, sem sinais de descompensação hemodinâmica. Por opção do anestesista na sala, foi realizada prontamente a administração de 5mg de Metoprolol, com estabilização dos níveis pressóricos e da freqüência cardíaca. Optou-se pela suspensão da cirurgia a pedido da paciente, tendo sido posteriormente realizados avaliação e acompanhamento cardiológicos complementares.

O motivo desse breve relato é lembrar os riscos potenciais dos anestésicos locais com vasoconstrictor, principalmente em grupo de pacientes que apresentam um padrão de resposta exacerbada a este último, incluindo descrição na literatura de episódio de infarto agudo de miocárdio após crise hipertensiva associada com infiltração local de solução anestésica.1 Entre as arritmias possíveis, existe o relato de um caso de taquicardia ventricular sustentada não revertida por droga, exigindo medidas de suporte avançado, entre elas cardioversão.2 É importante o profissional saber lidar com potenciais complicações passíveis de ocorrer na prática cotidiana ambulatorial, devendo saber reconhecer, intervir e conduzir situações que possam colocar em risco a vida do paciente. Deve-se salientar a necessidade de cuidado adicional em pacientes idosos e/ou com morbidades associadas, incluindo a realização de procedimento em ambiente cirúrgico, quando possível, onde os riscos de complicações podem ser minimizados com medidas de suporte mais adequadas. Entretanto, a prática cirúrgica ambulatorial quando bem indicada não oferece riscos proibitivos para sua realização,3 mesmo em procedimentos maiores, como lipoaspirações em pacientes devidamente selecionados, desde que realizados vigilância rigorosa durante e após o procedimento.4,5

REFERÊNCIAS

1. Chelliah YR, Manninem PH. Hazardsof epinephrine in transsphenoidal pituitary surgery. J Neurosurg Anesthesiol 2002; 14(1):43-6.

2. Karns JL. Epinephrine-induced potentially lethal arrythmia during arthroscopic shoulder surgery. AANA J 1999; 67(5):419-21.

3. Coldiron B. Office surgical incidents: 19 months of Florida data. Dermatol Surg 2002; 28(8):710-2; discussion 713.

4. Comment In: N Engl Med 1999 Sep. 23; 341 (13): 1000-1; discussion 1002-3.

5. Beck-Shimmer B, Pasch T. Tumescent technique for local anesthesia. Anasthesiol Intensivmed Notfallmed Schmerzther 2002; 37(2):84-8.

Recebido em 21.03.2003.

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 04.04.2003.

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    Trabalho realizado na Faculdade de Medicina do ABC, Serviço de Dermatologia.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Set 2004
    • Data do Fascículo
      Ago 2004
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