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Joseph Plenck (1735-1807): autor do primeiro livro de Dermatologia

COMUNICAÇÃO

Joseph Plenck (1735-1807): autor do primeiro livro de Dermatologia

Rubem David Azulay

Professor Emérito da UFRJ e da UFF. Professor Titular da Fundação Técnico Educacional Souza Marques e da Universidade Gama Filho. Chefe do Instituto de Dermatologia do Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Rubem David Azulay Av. Atlântica, 3130 - apto. 701 - Copacabana 22070-000 Rio de Janeiro RJ Tel (21) 2522-1598

Hipócrates - o iniciador da Medicina - já fazia referência às doenças da pele e procurava utilizar a nomenclatura dos vegetais para identificação das dermatoses; como exemplo citamos: lichen em relação ao parasitismo vegetal e exantema com significado de floração.

Essa introdução é apenas para chamar atenção sobre a preocupação dos médicos a respeito das doenças da pele, conforme acima referido por parte de Hipócrates. Na verdade, vários médicos, no século XVIII, em seus trabalhos, já faziam referência às dermatoses e até mesmo as descreviam e classificavam. Entretanto, deve-se valorizar o trabalho de Joseph Plenck pelo fato de ter sido ele o autor do primeiro livro sobre doenças da pele, com apenas 124 páginas. Intitulava-se Doctrina de Morbis Cutaneis e foi publicado em Viena, em 1776. Nele, Plenck descreveu 115 tipos de dermatoses.

É interessante fazer discreta biografia desse excelente dermatólogo do século XVIII. Filho de Franck Plenck e Maria Anna Pochtl, Joseph Plenck nasceu em 28 de novembro de 1735. Sob orientação do Dr. Reitter, Plenck, aos 18 anos de idade, tornou-se cirurgião. Procurou melhorar seus conhecimentos ao freqüentar cursos na Escola de Medicina de Viena.

Em 1763, tornou-se cirurgião do Exército Imperial e professor de anatomia em Balli. Sua notoriedade levou a Imperatriz Marie Thèrese, da Áustria, a nomeá-lo professor de cirurgia e obstetrícia na Universidade de Tyrnau, na Hungria, e, em 1786, foi nomeado secretário da Academia de Medicina. Escreveu vários livros, alguns dos quais foram publicados em várias línguas - latim, alemão, francês e russo -, entre eles Pharmacia Chirurgica, de enorme sucesso, reeditado três vezes em latim, italiano, espanhol, alemão, francês e holandês.

Excelente professor, dois de seus alunos, Batei e Niimiya Ryotei, fizeram algumas traduções de seus livros para o holandês e japonês, respectivamente.

Era famoso cirurgião e destacou-se em obstetrícia, tendo introduzido, pela primeira vez, o uso de luvas na ocasião do parto de mães sifilíticas, para que o médico não contraísse a doença. Aos 62 anos de idade, sua fama como médico levou-o a tornar-se membro da nobreza, por decreto de François II.

Plenck também foi o pioneiro no uso do mercúrio no tratamento das doenças venéreas. Plenck era também excelente botânico, tendo escrito vários livros sobre os vegetais, inclusive um catálogo iconográfico das plantas medicinais.

Convém ressaltar a influência do cientista Lineu sobre seus trabalhos dermatológicos, destacando-se a função fundamental da observação e da sistematização.

Vale a pena fazer referência ao prefácio de um livro sobre Dermatologia, no qual Plenck escreveu: "O grande número e a diversidade das doenças cutâneas, a obscuridade de suas causas, suas diferenças, bem como a dificuldade de tratá-las, tornaram esse ramo da Medicina, um dos mais difíceis e dos mais incompreensíveis para o iniciante em medicina". Essa verdade, no meu entender, persiste, em grande parte, até os dias atuais. É interessante ressaltar que Plenck descreveu vários tipos de lesões elementares: mácula, pústula, crosta, escama, calosidade e excrecência. Esse livro de Plenck revolucionou a medicina, sobretudo no que diz respeito às doenças cutâneas. Daí a afirmação do eminente dermatólogo Hebra: "A Doctrina de Morbus Cutaneis, tal como um catecismo, impressiona por sua concisão e seus axiomas, que o tornam um guia para que alguém possa se familiarizar com as moléstias cutâneas".

Plenck atuou como médico até 1805; tornou-se paraplégico e faleceu em 24 de agosto de 1807, em seu domicílio, em Viena. Deixou, entretanto, as bases do conhecimento dermatológico.

Recebido em 20.12.2002

Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 10.01.2003

  • Endereço para correspondência

    Rubem David Azulay
    Av. Atlântica, 3130 - apto. 701 - Copacabana
    22070-000 Rio de Janeiro RJ
    Tel (21) 2522-1598
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Jun 2004
    • Data do Fascículo
      Fev 2004
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