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Pseudocâncer. Lesões pré-cancerosas. Carcinoma in situ

Pseudo-cancer. Pre-cancerous lesions. Carcinoma in situ

EDITORIAL

Pseudocâncer. Lesões pré-cancerosas. Carcinoma in situ

Pseudo-cancer. Pre-cancerous lesions. Carcinoma in situ

Em Medicina é primordial a precisão diagnóstica para estabelecer prognóstico seguro e tratamento adequado. Em Dermatologia a meta permanece a mesma, e peculiaridades próprias da especialidade, decorrentes do fácil acesso ao órgão pele, propiciam uma análise visual cuidadosa, além de a realização de exames complementares facilitar o diagnóstico correto.

Dentre a multiplicidade de dermatoses sobressaem as de natureza tumoral, benignas e malignas, cujo diagnóstico diferencial se impõe. Lesões diversas podem simular o câncer cutâneo, fato, às vezes, devido puramente ao aspecto insólito, outras vezes, motivado pela evolução anormal ou por aspectos histopatológicos incomuns, como a hipercelularidade, mitoses numerosas e algumas atipias.

Fronteiras bem definidas entre o pseudocâncer e o verdadeiro são de importância capital, exigindo, muitas vezes, a aplicação de técnicas laboratoriais mais sensíveis e de maior especificidade. Métodos de colorações, a microscopia eletrônica, a histoquímica, a imuno-histoquímica, os recursos da biologia molecular e sorológicos, o Soutern-blot, a hibridização in situ, a PCR, são exemplos que podem ser úteis para ampliar a acurácia diagnóstica.

Algumas entidades outrora consideradas benignas, graças à possibilidade tardia de transformação maligna, passaram a ser incluídas no grupo das pré-cancerosas, indicando a necessidade de remoção precoce, antes que o evento indesejável aconteça; o nevo sebáceo de Jadassohn serve de exemplo. Há necessidade, portanto, de conhecer a evolução biológica dos tumores. Outras lesões do grupo das pré-cancerosas exigem acompanhamento continuado, visando detectar, precocemente, sinais indicativos de transformação - cicatrizes de queimaduras e outras, como a vacinal, e o edema crônico dos membros após linfadenectomia radical estão nesse grupo de risco -, sendo exemplos a úlcera de Marjolin e o linfossarcoma de Stewart-Treves.

As proliferações histiócito-fibroblásticas, com presença de número maior de mitoses, por vezes atípicas podem simular algum tipo de sarcoma - no grupo incluem-se a fasceíte nodular pseudo-sarcomatosa e mesmo outras fibromatoses localizadas. O diagnóstico errôneo pode conduzir a uma terapêutica radical, muitas vezes mutilante, como foi registrado em passado recente.

No grupo do carcinoma verrucoso encontram-se lesões que foram anteriormente classificadas como papilomatoses pseudocarcinomatosas - carcinoma gigante de Buschke-Lowenstein, papilomatose oral florida, epitelioma cuniculatum. A evolução arrastada, o aspecto por vezes vegetante, a pronunciada acantose e, às vezes, mitoses atípicas em número reduzido explicam de certa forma a demorada conceituação. São considerados por muitos autores carcinomas de baixa malignidade. Há lesões que podem simular o melanoma, servindo de exemplo clássico o nevo de Spitz, inicialmente chamado de melanoma juvenil. Lesões residuais de nevos pigmentados eletrocoagulados parcialmente podem mostrar melanócitos atípicos passíveis de falsear imagem de malignidade.

O grupo dos pseudolinfomas era, antigamente, muito extenso, abrangendo numerosas entidades. Com a evolução do conhecimento científico e de técnicas loboratoriais mais sofisticadas, foi possível fazer uma redução, mediante maior individualização das dermatoses. O infiltrado linfocítico de Jessner, o linfocitoma cutis, a hiperplasia angiolinfóide (Kimura), reações diversas provocadas pela picada de insetos e algumas farmacodermias passaram a ser mais bem conhecidos e individualizados, e receberam adequada denominação, libertando-se do grupo dos pseudolinfomas. Os marcadores imuno-histoquímicos com anticorpos monoclonais e policlonais possibilitaram uma separação segura entre linfomas verdadeiros de células B ou T e alguns pseudolinfomas - a policlonalidade destes últimos difere da monoclonalidade dos primeiros. Importante é o reconhecimento de diferentes substâncias antigênicas que seriam capazes de induzir resposta linfocitária intensa; são exemplos: a presença da Borrelia burgdorferi em casos de linfocitoma cutis; a detecção de vários tipos de papiloma vírus oncogênicos16,18,31,33 e outros em lesões genitais e extragenitais.

Uma contribuição relevante foi a aceitação internacional das neoplasias intra-epiteliais crônicas com gradação da intensidade de alterações epidérmicas indicativas dos carcinomas in situ. Lesões leucoplásicas eritroplásicas (eritroplasia de Queyrat), em placas (Bowen) ou condilomatosas, passaram a ser mais bem interpretadas e receberam o correto tratamento.

Graças ao aprimoramento técnico-laboratorial, à atualização dos profissionais médicos, em busca do saber, consideram-se possíveis maior precisão diagnóstica e melhor terapêutica em benefício dos portadores de neoplasias.

"Saber não é conhecer coisas, eternamente desconhecidas em sua profundeza, e sim querer sabê-las, um desejo inestingüível, e não uma posse."

(Gustavo Maranõn, 1887-1960)

REFERÊNCIAS

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3. Burg G, Braun Falco O. Cutaneous lymphoma pseudo lymphomas and reladed disorders, 1ª ed. Berlim: Springer Verlag; 1983.

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5. Neves RG, Mendonça A0MN, Nascimento LV, Pereira Jr AC, Castro OF, Schettini AP. Papilomatoses pseudo-carcinomatoses. Rev Brás Cancerol 1983; 11-8.

6. Neves RG, Lupi O, Talhari S. Câncer da Pele. 1ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI; 2001.

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8. Paniago P, Pereira C, Maize JC, Ackerman AB. Nevus of large spindle and/or epithelioid cells (Spitz's nevus). Arch Dermatol 1978; 14: 1811-23.

9. Pham-Huu V, Derancourt C, Clavel C, Durlach A, Birembaut P, Bernard P. Infecdion à papillomavirus humains oncogènes à tropisme muqueux et maladie de Bowen acrale. Ann Dermatol Venereol 1999; 126: 808-12.

Leninha Valério do Nascimento

Diretora Responsável

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Ago 2003
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