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Sobre o universo hormonal, música e encantamento

EDITORIAL

Sobre o universo hormonal, música e encantamento

César Luiz Boguszewski

Professor Adjunto-Doutor e Vice-Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Medicina Interna do Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) – Regional do Paraná e Presidente do Departamento de Neuroendocrinologia da SBEM

O UNIVERSO HORMONAL ME FASCINA desde meus primeiros contatos com a Medicina. Ainda hoje me parece mágico que os hormônios viajem longamente no interior do corpo humano, fazendo com que glândulas e tecidos situados tão distantes uns dos outros possam conversar entre si, e que esta comunicação seja tão importante para manter nosso corpo – e quiçá nossa alma! – em equilíbrio.

Quem sabe não foi o encanto dos primeiros endocrinologistas em descobrir o maravilhoso funcionamento desta engrenagem que fez surgir, lá pelos idos da década de 30, a idéia de uma "orquestra endócrina" no organismo humano, que de maneira ritmada executa dia após dia as mais variadas e fascinantes partituras biológicas, concedendo-nos, com isto, a graça da vida. Num primeiro momento, coube à hipófise a responsabilidade de desempenhar o papel de maestro (ou maestrina?) desta orquestra especial. Entretanto, novas descobertas ampliaram os conhecimentos sobre a fisiologia endócrina e acabaram por transferir a tarefa de regência para o cérebro, ou mais precisamente, para o hipotálamo, com a hipófise assumindo a posição de spalla. Maestro-spalla-músicos! Hipotálamo-hipófise-órgãos alvos! Na música, eixos de conexão que transformam sons em sinfonias. No organismo humano, eixos de conexão que integram as funções do corpo e da mente, como imaginado primordialmente por Descartes, que sob este ângulo, foi um precursor da Neuroendocrinologia.

A reflexão sobre a organização perfeita e harmônica de nossa orquestra endócrina serviu-me de inspiração para colaborar e dar vida a esta edição especial dos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia (ABE&M). Ao receber o honroso convite do meu amigo (que nos últimos e-mails trocados também virou "mermão!") Claudio Kater, imediatamente coloquei-me na posição da hipófise recebendo instruções do comando central hipotalâmico. Para completar este eixo, faltava identificar "órgãos alvos" responsivos e com mecanismos de feedback ativados. E, mais uma vez, a orquestra endócrina serviu-me de exemplo... Assim como o sistema endócrino conta com a colaboração de glândulas e hormônios atuantes em diferentes partes do organismo, esta edição também foi organizada com um grupo de colaboradores dos diversos cantos do nosso país, a fim de demonstrar o dinamismo e a qualidade das pessoas envolvidas mais de perto com a Neuroendocrinologia brasileira. Aos inúmeros e ilustres colegas colaboradores, gostaria de agradecer pelo empenho, amizade e dedicação na elaboração das revisões desta edição. Apesar da difícil missão e do árduo trabalho dos últimos meses, chego aqui com a sensação de que conseguimos montar uma orquestra bem afinada.

Naturalmente, caberá aos nossos expectadores – ou melhor, leitores – o julgamento final sobre as músicas do repertório – digo, sobre os artigos deste ABE&M especial. Creio, entretanto, que de um modo ou de outro será possível satisfazer a todos os gostos! Para os fãs de clássicos, há ótimas revisões sobre acromegalia, síndrome de Cushing, hiperprolactinemia, diabetes insipidus, hipopituitarismo, testes de GH e tumores hipofisários. Para os menos tradicionais, as revisões sobre somatopausa, haste hipofisária, alterações genéticas no hipogonadismo, interações dos glicocorticóides com o eixo somatotrófico, crescimento em crianças com puberdade precoce ou o relato da experiência brasileira no tratamento da deficiência de GH em adultos, serão boas pedidas. Finalmente, para os alternativos, temos artigos que abordam os aspectos neuroendócrinos de doenças bastante comuns na população, como obesidade, síndrome metabólica, síndrome dos ovários policísticos e osteoporose. Um repertório propositalmente abrangente, para realçar a enorme quantidade de informação e conhecimento que tem sido gerado na pesquisa básica e clínica no campo da Neuroendocrinologia.

Ao amigo leitor, o meu desejo sincero é que esta edição soe como uma música agradável aos seus ouvidos! E que as informações aqui registradas sejam bastante úteis na sua vida profissional.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Ago 2003
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