Open-access Rice protein concentrate in the feeding of silver catfish (Rhamdia quelen)

abmvz Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 1678-4162 Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária ABSTRACT The objective of this work was to evaluate the inclusion of protein concentrate from the distillation of ethanol from rice (CPA) in jundia feed. A total of 375 fish were distributed in water recirculation system with 15 boxes (125L). Three diets (37% PB and 3200kcal / kg digestible energy), one control and two were to test for the replacement of fishmeal protein by 25 (CPA-25%) and 50% (CPA-50%) by CPA. At 30 days, the variables of performance, body composition and somatic indexes were evaluated. The animals submitted to the CPA-25% treatment presented a growth response equivalent to those that received the Control treatment, but superior to the fish submitted to the CPA-50%. There were no significant differences between treatments for the somatic indices evaluated. Animals submitted to diets containing CPA had higher body fat content. Body fat deposition was higher for fish fed with CPA-25% and lower body protein deposition for those fed with CPA-50%. The results indicate that CPA can substitute up to 25% fish meal protein, without compromising the growth of jundias, and this level of substitution provided an 8% reduction in diet cost. INTRODUÇÃO A criação de peixes constitui uma das áreas da produção animal que mais se desenvolve no Brasil (Matias, 2015). Para atenderem a expansão desse setor e da demanda do mercado, as técnicas de produção foram intensificadas ao longo dos últimos anos (Pezzato et al., 2009), o que exigiu a formulação de dietas completas de elevado valor biológico a fim de proporcionar aos peixes adequado crescimento. Muitos estudos sobre a nutrição de peixes têm dado ênfase à substituição de fontes proteicas de origem animal por fontes proteicas vegetais, já que a farinha de peixe está se tornando cada vez mais escassa (Hardy, 2010; Lovatto et al., 2014; Lovatto, 2015). Entretanto, considerando o elevado valor biológico e a alta palatabilidade dessa fonte, torna-se um desafio encontrar ingredientes que possam substituir ou reduzir sua inclusão na dieta dos peixes. A simples substituição por fontes vegetais in natura pode ser um problema devido ao balanço inadequado de aminoácidos e à presença de antinutrientes (Rodrigues et al., 2013). As fontes proteicas vegetais caracterizam-se pela disponibilidade constante ao longo do ano, composição homogênea e custo inferior às de origem animal. A combinação equilibrada de ingredientes proteicos alternativos apresenta maior possibilidade de sucesso na alimentação de peixes, pois, além de reduzir o impacto ambiental (excreção de nitrogênio e fósforo), torna a ração mais palatável, tendo maior aceitação pelos animais (Rodrigues et al., 2013). Estudos indicam potencial para utilização de ingredientes de origem vegetal na dieta do jundiá. Para a recria de peixes dessa espécie (15g), entretanto, os melhores índices de crescimento são obtidos quando fornecidas dietas contendo fontes de origem animal combinadas com farelo de soja (Lazzari et al., 2008). Ao avaliarem diferentes fontes proteicas para o jundiá, Lazzari et al. (2006) encontraram maior fator de condição (0,7-1,0) em dietas contendo farinha de carne e ossos ou farinha de peixe associada com farelo de soja. A associação das fontes proteicas de farelo de soja e levedura de cana também proporcionou maior fator de condição (0,9-1,07) para essa espécie (Coldebella e Radünz Neto, 2002). Diante disso, a utilização de ingredientes alternativos na dieta dessa espécie poderá possibilitar redução dos custos com a fabricação de ração, porém esses ingredientes precisam ser avaliados em ensaios biológicos para se conhecerem os efeitos e os níveis adequados de inclusão na dieta. O uso de quirera e de farelo de arroz para geração de etanol é motivado pela sua ampla disponibilidade e pelo baixo custo na região Sul do país. Porém, a geração de resíduos intermediários nesse processo pode ser um entrave para o sucesso da biorrefinaria arrozeira, já que nesse processo são gerados aproximadamente 77% de resíduo úmido e 3,6% de resíduo seco (dados não publicados). Nesse cenário, estudos de aplicabilidade desses resíduos na nutrição de peixes são alternativas factíveis, que podem minimizar impactos ambientais, contribuir para a sustentabilidade da cadeia arrozeira e agregar valor produtivo à piscicultura. Diante disso, o presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de estudar a possibilidade de substituir a farinha de peixe pelo resíduo de etanol obtido da quirera de arroz. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Piscicultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Santa Maria, após aprovação do Comitê Interno de Ética em Experimentação Animal da UFSM, sob n°2789270616. A obtenção do CPA foi realizada na Usina Experimental do Colégio Politécnico da UFSM. A matéria-prima (quirera de arroz) foi moída em moinho de martelo, obtendo-se granulometria média de 180µm. Ao material farelado foi adicionada água na proporção de 1:10 (peso/volume). A solução foi aquecida a 90ºC com agitação constante por 30 minutos, o pH da solução foi corrigido para 6,5 com HCL 1N e adicionou-se a enzima α-Amilase (Termamyl 2x - Novozymes/Lote: AYVD0065), que atuou por 30 minutos. Na sequência, a temperatura e o pH foram ajustados para 60ºC e 4,5 respectivamente, e foi adicionada a enzima amiloglicosidade (AMG 300L Novozymes/Lote:AMS30084), que atuou por mais 30 minutos. A fase sólida foi separada por filtragem, em peneira de 300µm. A massa obtida foi novamente dispersa em água a 60ºC, na proporção de 3:1, e filtrada na mesma malha, congelada e liofilizada (Solab/SL -404) a uma temperatura de -45ºC, pressão -775Hg, por 50 horas. O material seco foi moído em micromoinho de facas (granulometria média de 200µm) e armazenado em temperatura média de -18ºC, para posterior utilização. O experimento foi conduzido em sistema de recirculação de água, constituído por reservatório principal de 2000L, 15 caixas de 125L de volume útil, com entrada e saída de água independentes, dois filtros biológicos com pedra britada e caixa de decantação. Além disso, a temperatura do local do experimento foi controlada por meio de climatizador de ar de 12000BTUs. Inicialmente, os peixes passaram por período de 10 dias de adaptação às instalações experimentais, quando receberam ração comercial com 42% de proteína bruta (PB). Na biometria inicial, 375 juvenis de jundiá (em média 3,56g) foram selecionados e distribuídos em 15 unidades experimentais (25 peixes/caixa). As dietas experimentais foram formuladas para atender as exigências de 37% de PB, conforme Meyer e Fracalossi (2004) e cerca de 3200kcal ED/kg e aminoácidos, conforme Montes-Girao e Fracalossi (2006). As exigências dos aminoácidos essenciais foram atendidas com a formulação utilizada, sendo necessário suplementar apenas com metionina. A proteína da farinha de peixe (52,21% PB) foi substituída parcialmente pela proteína do concentrado proteico de arroz - CPA (61,03% PB; 88,06% de matéria seca (MS); 2,02% de matéria mineral (MM); 36,59% de fibra em detergente neutro (FDN) e 9,07% de gordura), nas proporções de 0% (dieta controle); 25% e 50% (Tab. 1). Tabela 1 Composição das dietas experimentais Conteúdo Dietas1 Controle CPA-25% CPA-50% Ingredientes (%) CPA 0,00 8,55 17,12 Farinha de peixe2 40,00 30,00 20,00 CPS3 26,20 26,20 26,20 Amido 21,96 20,67 19,36 Óleo de peixe 0,00 1,00 2,00 Óleo de soja 2,10 2,10 2,10 Mistura vitamínica e mineral4 3,00 3,00 3,00 Fosfato bicálcico 1,00 1,30 1,50 Cloreto de sódio (NaCl) 0,25 0,25 0,25 Calcário calcítico 1,00 0,85 0,65 Metionina 0,20 0,20 0,20 Celulose5 4,29 5,88 7,62 Composição proximal (%)6 Proteína bruta 37,01 37,01 37,02 Gordura 6,95 6,90 6,84 Energia digestível (kcal/kg)7 3200,23 3200,24 3200,28 Cálcio 0,82 0,81 0,76 Fósforo 0,75 0,71 0,66 Composição de aminoácidos essenciais na dieta (%) Histidina 0,95 0,97 1,00 Arginina 3,16 3,26 3,37 Treonina 1,80 1,73 1,67 Valina 1,99 2,06 2,13 Metionina + cistina 1,40 1,43 1,45 Isoleucina 1,72 1,81 1,90 Leucina 3,06 3,11 3,15 Fenilalanina 1,89 1,96 2,04 Lisina 2,60 2,37 2,15 Triptofano8 - - - 1 Dietas: controle - sem inclusão do concentrado proteico de arroz; CPA 25 e 50% - substituição de 25 e 50% da proteína da farinha de peixe pela proteína do concentrado proteico de arroz. 2 Resíduo da filetagem de tilápia - Copisces®, Toledo-PR. 3 Concentrado proteico de soja (60% proteína bruta) - Selecta®, Goiânia-GO. 4 Composição da mistura vitamínica e mineral (kg): ácido fólico: 997,50mg; ácido pantotênico: 9975,00mg; biotina: 159,60mg; cobalto: 39,90mg; cobre: 2800,00mg; etoxiquina: 24,78g; ferro 19,62g; iodo: 120,00mg; manganês: 5200,00mg; niacina 19,95g; selênio: 119,70mg; vit. A 1995000UI; vit. B1 4987,50mg; vit. B12 5985,00mg; vit. B2 4987,50g; vit. B6 4987,50mg; vit. C 70,00g; vit. D3 198000,05UI; vit. E 19950,00UI; vit. K 997,50mg; zinco 28,00g - Nutron® (Cargil), Campinas-SP. 5 Synth®, Diadema/SP. 6 Calculada com base nas análises dos ingredientes. 7 Energia digestível calculada com base nos ingredientes=[(PB*5640kcal/kg*0,9)+(EE*9510kcal/kg *0,85)+(CSDN*4110kcal/kg *0,50)]/100 (JOBLING, 1983). 8 Não calculado. As dietas experimentais foram confeccionadas no Laboratório de Piscicultura (UFSM). Os ingredientes secos (moídos e pesados) foram homogeneizados manualmente e, posteriormente, adicionaram-se o óleo e a água, e, em seguida, eles foram peletizados. As rações foram secas em estufa (50°C), por 24 horas. As dietas experimentais foram oferecidas aos peixes até saciedade aparente, três vezes ao dia (8 horas, 13h e 17h). Além disso, foram realizadas sifonagens duas vezes ao dia, para remoção de fezes e eventuais sobras de ração. Foi mensurada diariamente a temperatura (24,8±1,27°C) com termômetro. Semanalmente, foram determinados o oxigênio dissolvido (7±0,5mg L-1 O²), o pH (7,63±0,25), a alcalinidade (44±12,96mg L-1 CaCO3), a dureza (34±11,2mg L-1 CaCO3), a amônia (0,19±0,13mg L-1 N-NH3) e o nitrito (0,01±0,01mg L-1 N-NO2) da água do sistema de recirculação, pelo método colorimétrico, utilizando-se o kit colorimétrico Alfakit®. Os valores encontrados para os parâmetros mensurados se encontram dentro da faixa ideal para cultivo de jundiá (Baldisserotto e Radünz Neto, 2004). No início do experimento, os peixes foram pesados e medidos individualmente para obtenção do peso médio inicial e dos valores de comprimento padrão e total. Aos 30 dias de experimento, foi realizada biometria para coleta de dados de desempenho. Para tanto, os peixes foram submetidos a jejum de 12 horas e anestesiados com benzocaína (100mg/L) (Anziliero et al., 2008). Com base nos dados coletados, foram estimados os seguintes parâmetros: consumo (g); conversão alimentar aparente (CAA): ração consumida/peso obtido; biomassa total (BT); peso médio final (g); comprimento total (cm); ganho de peso (g): GP= (peso final - peso inicial); taxa de crescimento específico (TCE): [(ln (peso final) - ln (peso inicial)) /dias] x 100, sendo: In= logaritmo neperiano; sobrevivência. No final do período experimental, foram abatidos cinco animais/tratamento para determinação dos índices somáticos: índice hepato-somático (IHS) (%): (peso fígado/peso do peixe inteiro) x 100; índice digestivo-somático (IDS) (%): (peso do trato digestório/peso do peixe inteiro) x 100; quociente intestinal (QI): (comprimento do trato digestório/comprimento total do peixe); rendimento de carcaça (%): RC = ((peso eviscerado com cabeça e brânquias)/(peso inteiro))*100. Além disso, foram abatidos cinco animais por tratamento para determinação da composição centesimal: proteína bruta (método de micro-Kjeldahl, usando-se o fator N x 6,25), teor de umidade e o conteúdo de cinzas, determinados de acordo com AOAC (Official..., 1995). A gordura foi extraída e quantificada seguindo o método de Bligh e Dyer (1959). A retenção de nutrientes foi calculada por meio das equações: deposição de proteína corporal (g): DPC= [Pf * (%PBCf/100)] - [Pi * (%PBCi/100)]; deposição de gordura corporal (g): DGC= [Pf * (%GCf/100)] - [Pi * (%GCi/100)]; em que: PBCi= proteína corporal inicial; PBCf = proteína corporal final; GCi: gordura corporal inicial; GCf: gordura corporal final. A viabilidade econômica das dietas foi determinada por meio da multiplicação do custo total dos ingredientes na dieta pela conversão alimentar dos peixes submetidos aos tratamentos (custo por kg da dieta). O custo por kg da carcaça foi calculado mediante a multiplicação do rendimento da carcaça (RC%) de cada tratamento pelo custo total dos ingredientes. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente ao acaso, com três tratamentos e cinco repetições. Todos os dados obtidos foram submetidos a teste de normalidade (Shapiro-Wilk), sendo considerados de distribuição normal aqueles que apresentaram P >0,05. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de significância. O modelo matemático está descrito a seguir: Yij= m + ti + eij , em que: Yij= valor observado da variável Y na unidade experimental que recebeu o tratamento i na repetição j; m= constante; ti= efeito do tratamento i; eij= erro experimental. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados deste estudo antecipam informações relevantes da utilização do concentrado proteico de arroz (CPA), como ingrediente alternativo e de elevado valor biológico para a alimentação do jundiá. A substituição da proteína da farinha de peixe por CPA influenciou significativamente os parâmetros zootécnicos dos jundiás (Tab. 2). O consumo de ração foi superior para os peixes alimentados com a dieta contendo CPA-25%. A conversão alimentar aparente (CAA) foi menor (P<0,0001) para os animais alimentados com as dietas controle e CPA- 25% e maior para os peixes alimentados com a dieta CPA- 50%. Sugere-se que, na dieta CPA-50%, podem ter ocorrido perdas de ração, o que levou à superestimação do consumo e refletiu em maior CAA. Além disso, resultados obtidos por Tyska et al. (2013), com inclusão de concentrados proteicos vegetais na dieta do jundiá, proporcionaram valores de CAA (0,80-1,85) similares aos valores encontrados no presente estudo. Tabela 2 Desempenho de jundiás alimentados com dietas contendo níveis de substituição da proteína da farinha de peixe por concentrado proteico de arroz Variáveis* Dietas (%) epmz ANOVA (valor de P) Controle CPA -25% CPA -50% Consumo (g) 258,26b 317,58a 259,18b 8,22 <0,0001 CAA 1,56a 1,34a 2,57b 0,16 <0,0001 Biomassa (g) 333,36a 286,87a 220,50b 14,47 0,0004 PF (g) 14,24a 12,48a 9,52b 0,61 0,0005 CT (cm) 11,76a 11,41a 10,49b 0,17 0,0006 GP (g) 9,06a 7,82ab 5,71b 0,52 0,0135 TCE 4,16a 3,87ab 3,18b 0,15 0,0154 Sobrevivência (%) 100 99,20 99,20 0,36 0,6186 Médias (n=5) seguidas por letras diferentes e sobrescritas (a, b) na linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (P<0,05). * CAA= conversão alimentar aparente, PF= peso final, CT= comprimento total, GP= ganho de peso, TCE= taxa de crescimento específico. zepm= erro padrão da média. Peso médio inicial= 3,56±0,6g e comprimento médio inicial= 7,07±0,46cm A biomassa foi superior para os jundiás alimentados com as dietas controle e CPA-25%. Esse mesmo comportamento foi observado para as variáveis peso final (PF) e comprimento total (CT) (Tab. 2). O ganho de peso (GP) e a taxa de crescimento específico (TCE) foram superiores para os peixes alimentados com a dieta controle, e não diferiram do ganho apresentado pelos animais alimentados com a dieta CPA -25% (Tab. 2). Não foram observadas diferenças (P=0,6186) na sobrevivência dos peixes alimentados com as dietas experimentais (Tab. 2). Ao se analisarem as variáveis zootécnicas descritas na Tab. 2, observa-se que a substituição de 50% da proteína da farinha de peixe pela proteína do CPA afetou negativamente a maioria dos parâmetros de desempenho dos jundiás. Estudos demonstram que há efeitos sinérgicos de fontes proteicas quando usadas em conjunto, e esses efeitos estão relacionados com as proporções combinadas das fontes (Martinelli, 2013). Sugere-se que as dietas controle e CPA-25% proporcionaram melhor sincronismo nutricional com disponibilidade mais estável dos nutrientes advindos da dieta, o que reflete positivamente no desempenho dos animais. Após analisar mais profundamente o relato apresentado no trabalho, pode-se dizer que fontes proteicas vegetais têm maior velocidade de digestão, nesse caso, levando a um assincronismo na digestão/absorção dos nutrientes da dieta, o que acarreta maior desaminação e aproveitamento dos esqueletos carbonados como fonte de reserva energética. Essa hipótese é levantada pela observação do maior teor de gordura apresentado pelos peixes dos tratamentos CPA-25% e CPA-50%. Segundo Nelson e Cox (2004), quando a proteína é desaminada, os esqueletos de carbono são utilizados no ciclo de Krebs, para produção de energia. Se houver excesso de cadeias de carbono e consequente excesso de produção de energia, esta será armazenada na forma de gordura. O menor desempenho dos peixes quando são utilizadas dietas com níveis crescentes de fontes proteicas vegetais já foi documentado em muitos estudos (Deng et al., 2006; Lazzari et al., 2006; Nagel et al., 2012). Porém, no presente estudo, observou-se que é possível substituir pelo menos 25% da proteína da farinha de peixe pela proteína do CPA, sem comprometer o desempenho. É consenso que a substituição das fontes proteicas de origem animal, principalmente a farinha de peixe, por proteínas de origem vegetal, é uma necessidade atual, que visa garantir a consolidação dos sistemas produtivos na aquicultura (Fuertes et al., 2013). Além disso, o jundiá, por ser uma espécie onívora, tem boa aceitação de ingredientes vegetais na dieta. Estudos com essa espécie indicam que há potencial de substituição parcial da proteína de origem animal por concentrados proteicos de farelo de girassol e crambe (Lovatto et al., 2014) e por concentrado proteico de farelo de semente de abóbora (Lovatto, 2015). Os resultados aqui apresentados aliam-se aos estudos citados, confirmando-se, assim, a possibilidade de uso de fontes proteicas vegetais na dieta de jundiás. Alterações morfológicas e fisiológicas podem ser detectadas pela mensuração dos índices somáticos, que auxiliam na indicação de adaptações do animal em relação ao fornecimento de diferentes dietas. No presente estudo, não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) nos índices somáticos IHS, IDS e QI dos peixes (Tab. 3). De acordo com Pedron et al. (2006), os índices somáticos são indicativos de adaptação do trato gastrointestinal ao alimento ingerido. Os resultados obtidos para essas variáveis sugerem que os níveis de CPA utilizados não causaram modificação na estrutura e/ou na capacidade absortiva do sistema digestório. Também não houve efeito (P>0,05) das dietas experimentais sobre o rendimento de carcaça dos peixes. Tabela 3 Índices somáticos de jundiás alimentados com dietas contendo níveis de substituição da proteína da farinha por concentrado proteico de arroz Variáveis* Dietas (%) epmz ANOVA (valor de P) Controle CPA-25% CPA-50% IHS (%) 1,51 1,42 1,57 0,07 0,7049 IDS (%) 3,91 3,91 4,20 0,11 0,5207 QI (%) 1,21 1,36 1,25 0,05 0,5318 RC (%) 87,66 87,44 87,16 0,25 0,7426 Médias (n=5) seguidas por letras diferentes e sobrescritas (a,b) na linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (P<0,05). *IHS= índice hepato-somático, IDS= índice digestivo-somático, QI= quociente intestinal e RC= rendimento de carcaça. epmz= erro padrão da média. Na Tab. 4, encontram-se os resultados de composição e deposição de nutrientes corporais dos jundiás. Os peixes alimentados com as dietas contendo 25 e 50% de CPA apresentaram maior teor de gordura corporal (P<0,0001). Além disso, os jundiás alimentados com a dieta CPA-25% apresentaram maior deposição de gordura corporal (DGC) e os animais que receberam a dieta CPA-50% obtiveram menor deposição de proteína corporal (DPC) (P=0,0156). Não foram observadas diferenças significativas (P>0,05) no teor de proteína, cinzas e umidade corporal dos peixes submetidos às dietas experimentais. Tabela 4 Composição centesimal e deposição de nutrientes de jundiás alimentados com dietas contendo níveis de substituição da proteína da farinha por concentrado proteico de arroz Variáveis* Dietas (%) epmz ANOVA (valor de P) Controle CPA-25% CPA-50% Proteína (%) 15,65 15,27 14,94 0,21 0,4305 Umidade (%) 77,69 77,42 77,24 0,17 0,6036 Cinzas (%) 3,04 2,89 2,94 0,08 0,7600 Gordura (%) 4,22b 6,35a 6,07a 0,28 <0,0001 DPC (g) 1,53a 1,29ab 0,94b 0,09 0,0156 DGC (g) 0,42b 0,61a 0,45b 0,03 0,0035 Médias (n=5) seguidas por letras diferentes e sobrescritas (a,b) na linha diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (P<0,05). *DPC= deposição de proteína corporal e DGC= deposição de gordura corporal. Zepm= erro padrão da média. Considerando-se que as dietas experimentais foram similares quanto à composição nutricional, infere-se que as diferenças observadas na composição corporal dos peixes são devido às diferentes proporções e combinações dos ingredientes que compuseram as dietas. Apesar do maior teor (6,35%) e deposição de gordura corporal (0,61%), apresentado pelos peixes submetidos às dietas contendo níveis (25 e 50%) do CPA, esses valores são similares aos resultados obtidos em outros estudos, que testaram fontes vegetais para a mesma espécie 9,13-12,83% (Lovatto et al., 2014); 3,6-6,5%, (Lazzari et al., 2006). Além disso, as reservas corporais dos peixes na fase inicial de crescimento são fundamentais para a manutenção metabólica nessa fase de vida, principalmente quando enfrentam alguma situação adversa. A análise de viabilidade econômica da substituição da proteína da farinha de peixe pelo CPA na dieta do jundiá (Tab. 5) demonstrou que, em produção de larga escala, há economicidade de R$0,13 para cada quilo de ração (R$130,00/ton) quando é feita a substituição de 25% da proteína da farinha peixe pela proteína do CPA. Isso representa um custo 8% menor/kg na produção da dieta CPA-25% em comparação com a produção da mesma quantidade da dieta padrão. O custo por kg da dieta CPA-50% foi maior (R$112,18/kg) devido à maior conversão alimentar apresentada pelos peixes submetidos a esse tratamento. Porém, para produzir 1kg de ração CPA-50%, o custo é R$0,16 menor em relação à dieta controle, sendo uma alternativa viável para a redução de custos em dietas para peixes. Tabela 5 Viabilidade econômica da substituição da proteína da farinha de peixe por concentrado proteico de arroz Dietas experimentais (R$/kg) Controle CPA-25% CPA-50% Custo por kg da dieta - 68,53 58,49 112,18 Custo por kg da carcaça - 38,26 38,16 38,04 Custo por ingrediente para produzir 1 kg de ração CPA 0,50 0 0,04275 0,0856 Farinha de peixe 1,82 0,728 0,546 0,364 CPS 2,25 0,5895 0,5895 0,5895 Amido 1,00 0,2196 0,2067 0,1936 Óleo de peixe 5,00 0 0,005 0,1 Óleo de soja 3,00 0,063 0,063 0,063 Mistura vitamínica e mineral 4,00 0,12 0,12 0,12 Fosfato bicálcico 0,020 0,0002 0,00026 0,0003 Cloreto de sódio (NaCl) 0,8 0,002 0,002 0,02 Calcário calcítico 0,010 0,0001 0,000085 0,00065 Metionina 25,00 0,05 0,05 0,05 Celulose 1,00 0,0429 0,0588 0,0762 Total 43,65 1,62 1,49 1,46 CONCLUSÃO A proteína da farinha de peixe pode ser substituída em até 25% pela proteína do concentrado proteico de arroz, sem comprometimento ao desenvolvimento dos jundiás e com menor custo de produção em relação à dieta controle. A dieta CPA-50% foi insatisfatória para o crescimento adequado dos peixes. REFERÊNCIAS ANZILIERO, D.; KREUTZ, C.L.; BARCELLOS, G.J.L. Avaliação de quatro diferentes anestésicos para sua utilização no manejo de jundiás (Rhamdia quelen). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 35., 2008, Gramado. Anais... Gramado, Rio Grande do Sul: Conbravet, 2008. Disponível em: <http://www.sovergs.com.br/ conbravet2008/anais/cd/resumos/R0813-1.pdf>. Acessado em: 19 de ago. 2016. ANZILIERO D. KREUTZ C.L. BARCELLOS G.J.L Avaliação de quatro diferentes anestésicos para sua utilização no manejo de jundiás (Rhamdia quelen) CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 35 Gramado, Rio Grande do Sul Conbravet 2008 http://www.sovergs.com.br/ conbravet2008/anais/cd/resumos/R0813-1.pdf BALDISSEROTTO, B.; RADÜNZ NETO, J. Criação de jundiá. Santa Maria: UFSM, 2004. 23p. BALDISSEROTTO B. RADÜNZ J NETO Criação de jundiá Santa Maria UFSM 2004 23p BLIGH, E.G.; DYER, W.J. 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