Open-access Protease em dietas com baixa proteína contendo farinha de Penas para codornas de corte

[Protease in low-protein diets for meat-type quails containing feather meal]

RESUMO

Objetivou-se avaliar a suplementação de protease em dietas com baixa proteína contendo farinha de penas (FP) sobre o desempenho e o rendimento de carcaça de codornas de corte. Foram utilizadas 240 codornas, machos, distribuídas em delineamento inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 2x 3 (com e sem protease x 3 níveis de FP (0%, 5% e 10%)), totalizando seis tratamentos (dieta reduzida (DR) em 8% da exigência de proteína bruta e aminoácidos + 0% FP; DR + 5% FP; DR + 10% FP; DR + 0% FP + protease; DR + 5% FP + protease e DR + 10% FP + protease), quatro repetições de 10 codornas por parcela, nas fases de oito-21 dias e oito-35 dias de idade. Observou-se interação (P≤0,05) entre os níveis de FP e protease no ganho de peso de oito-21 dias. Os níveis de FP influenciaram (P≤0,05) o consumo de ração e o ganho de peso de oito-21 e oito-35 e a conversão alimentar de oito-21 dias. Verificou-se interação (P≤0,05) entre aprotease e a inclusão de FPpara o peso corporalaos 35 dias. Conclui-se que aFP pode ser utilizada em até 5% em dietas para codornas de corte semsuplementação comprotease.

Palavras-chave: alimentos alternativos; aminoácidos sulfurosos; digestibilidade; enzimas exógenas

ABSTRACT

The objective of this study was to evaluate protease supplementation in low-protein diets containing feather meal (FP) on the performance and carcass yield of meat-type quails. Twenty male quails were used in a completely randomized design, in a 2 x 3 factorial scheme (with and without protease x 3 FP levels (0, 5 and 10%)), totaling six treatments (Reduced diet (RD) in 8 % of the requirement of crude protein and amino acids + 0% FP; RD + 5% FP; RD + 10% FP; RD + 0% FP + protease; RD + 5% FP + protease and RD + 10% FP + protease), four replicates of 10 quails per plot, in the phases of 8-21 days and 8-35 days of age. Interaction (P≤0.05) was observed between FP and protease levels on weight gain over the period of 8-21 days. The levels of FP influenced (P≤0.05) the feed intake and the weight gain of 8-21 and 8-35 and the feed conversion ratio of 8-21 days. There was interaction (P≤0.05) between protease supplementation and FP inclusion for body weight at 35 days. It is concluded that FP can be used up to 5% in diets for meat-type quails without protease supplementation.

Keywords: alternative foods; sulfur-containing amino acids; digestibility; exogenous enzymes

INTRODUÇÃO

Em dietas avícolas, o farelo de soja constitui o principal ingrediente proteico, e sua utilização em larga escala onera o custo produtivo. Assim, é necessário o conhecimento de pesquisas envolvendo a utilização de ingredientes proteicos de baixo custo, que não prejudiquem o desempenho das aves. Entre os ingredientes proteicos atualmente disponíveis, a farinha de penas (FP) pode ser uma alternativa viável para ser utilizada. De acordo com Eyng et al. (2012), a FP, se bem processada industrialmente, apresenta proteína bruta em torno de 70% a 80%, com digestibilidade de aminoácidos essenciais de até 79%. Entretanto, a baixa padronização da composição nutricional da FP e as variações existentes nos mecanismos de processamento envolvendo altas temperaturas proporcionam geralmente baixa digestibilidade para aves. Isso é ainda mais evidente ao se comparar a FP com ingredientes proteicos de origem vegetal, como o farelo de soja (Rostagno et al., 2011). Apesar da baixa digestibilidade e da ausência de padronização, existem vantagens em se utilizar a FP em dietas para aves. Khosravinia et al. (2015) citam que a utilização da farinha de subprodutos animais pode trazer consequências vantajosas em relação aos aspectos econômicos, diminuindo custos de produção das dietas e problemas ambientais, com a redução de contaminação dos recursos naturais, bem como problemas sociais.

Com o objetivo de aumentar a digestibilidade da FP e melhorar o seu aproveitamento, o uso de enzimas exógenas é uma ferramenta nutricional importante. Afinal, a sua utilização promove maior degradação do alimento e de seus fatores antinutricionais, proporciona maior disponibilidade de nutrientes para as codornas e auxilia na elaboração de dietas com reduzidos níveis de proteína bruta e de aminoácidos (Ribeiro et al., 2015).

Entre as enzimas exógenas, o uso de protease em dietas formuladas com baixo teor de proteína bruta, associada à inclusão de farinhas de subprodutos animais contendo penas, pode proporcionar desempenho das aves semelhante àquelas alimentadas com dietas com os requerimentos nutricionais comercialmente utilizados (Mahmood et al., 2017). Isto ocorre em razão de a suplementação com protease aumentar a digestibilidade e o incremento do valor nutricional da FP e de resíduos de abatedouros de aves que foram incluídos em dietas formuladas com baixo teor de proteína bruta, não afetando, portanto, o desempenho de frangos de corte e perus (Sahir et al., 2016; Mahmood et al., 2017). Nesse sentido, a suplementação com protease associada à inclusão de FP na alimentação de codornas de corte pode ser uma opção favorável para o maior aproveitamento da fração proteica da dieta. Apesar de pesquisas (Santos et al., 2006; Holanda et al., 2009) relatarem benefícios da inclusão de FP na dieta de codornas de corte, ainda não existem relatos avaliando a inclusão de FP em dietas formuladas com reduzido teor de proteína bruta e aminoácidos associado à suplementação com protease.

Assim, objetivou-se avaliar a suplementação com protease em dietasreduzidas em proteína bruta e aminoácidos contendo diferentes níveis deinclusão de farinha de penas, sobre o desempenho e o rendimento de carcaça e de cortes de codornas de corte.

MATERIAL E MÉTODOS

Todos os procedimentos deste estudo foramaprovados pelo Comitê de Ética no Uso de Animais de Produção (Ceuap) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), sob o protocolo nº026/2016.

O experimento foi realizado no Laboratório de Pesquisas com Animais Monogástricos, da UFVJM, em Diamantina, MG. Foram utilizadas 240 codornas de corte, machos, com oito dias deidade e peso médio de 35g, distribuídas em delineamento inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 2 x 3 (duas inclusões da protease (com e sem) x três níveis de farinha de penas (FP) (0%, 5% e 10%)), totalizando seis tratamentos com quatro repetições de 10 codornas por unidade experimental. Os tratamentos experimentais foram: T1: dieta reduzida (DR) em 8% da exigência de proteína bruta e aminoácidos (lisina, metionina + cistina e treonina) + 0% de FP; T2: DR + 5% FP; T3: DR + 10% FP; T4: DR + 0% FP + protease; T5: DR + 5% FP + protease e T6: DR + 10% FP + protease.

Todas as dietas experimentais foram fornecidas na forma farelada e formuladas à base de milho e farelo de soja, conforme as exigências nutricionais para cada fase, de acordo com Silva e Costa (2009), exceto em proteína bruta e aminoácidos (Tab. 1 e 2). A enzima protease (com características de serina) foi adicionada às dietas seguindo a recomendação do fabricante (0,02%).

Tabela 1
Composição percentual e valores nutricionais calculados das dietas para codornas de corte de oito a 21 dias de idade
Tabela 2
Composição percentual e valores nutricionais calculados das dietas para codornas de corte de 22 a 35 dias

Para o cálculo das dietas experimentais, foi realizada anteriormente a determinação da energia metabolizável aparente da FPpara codornas de corte, pelo método de coleta total de excretas, obtendo-se o valor de 3006,65kcal/kg na matéria natural. Os níveis de aminoácidos totais considerados da FP foram: ácido aspártico (5,85%), ácido glutâmico (8,81%), alanina (4,12%), arginina (5,40%), cistina (4,03%) e fenilalanina (4,21%), conforme informações do fabricante. Os demais aminoácidos seguiram o descrito por Rostagno et al. (2011). A FP possui a digestibilidade em pepsina de 1:10000 a 0,2% em HCl 0,075N (mínimo) de 65%. A composição bromatológica dos demais ingredientes seguiu as informações de Rostagno et al. (2011).

Após o nascimento, as aves foram alojadas em piso coberto com maravalha, em galpão de alvenaria, até o sétimo dia de idade, e foram alimentadas com dieta que atendia suas exigências nutricionais para o período em questão, conforme recomendações de Silva e Costa (2009). No oitavo dia, as aves foram pesadas e transferidas para as gaiolas de arame galvanizado (60cm de comprimento, 60cm de largura e 35cm de altura; 360cm2/ave), contendo comedouro tipo calha, bebedouro tipo copo de pressão e lâmpadas incandescentes para manter o aquecimento. O fornecimento de água e de ração para as codornas foi à vontade.

As variáveis climáticas foram monitoradas diariamente às oito horas da manhã, por meio de termômetros de máxima e mínima e de umidade relativa do ar, e, ao final da fase experimental, foram calculadas as médias. Para a fase de oito a 21 dias, foram obtidas as médias de 28,8oC de máxima e 25,1oC de mínima e umidade relativa do ar de 68,7% e, para o período total (oito a 35 dias), foram: 27,7ºC (máxima) e 24,16ºC (mínima) e 74% de umidade do ar.

As variáveis de desempenho avaliadas foram: o consumo de ração (g/ave), o ganho de peso (g/ave) e a conversão alimentar (g/g). O consumo de ração foi avaliado por meio da diferença entre a quantidade de ração fornecida e as sobras existentes no final de cada período, e foi corrigido pela data da mortalidade, quando houve. Para determinação do ganho de peso, as aves foram pesadas no início e no final do período experimental. A conversão alimentar foi calculada pela relação entre o consumo de ração pelo ganho de peso.

Aos 35 dias de idade, foram retiradas três aves de cada unidade experimental para avaliação do peso vivo, do rendimento de carcaça e de cortes nobres. As aves foram identificadas, pesadas individualmente e submetidas a jejum alimentar de seis horas. Posteriormente as codornas foram abatidas, depenadas, evisceradas e, em seguida, efetuaram-se os cortes e as pesagens. Os parâmetros avaliados foram o peso absoluto (g) e o rendimento (%) de carcaça e de cortes nobres (peito e coxa+sobrecoxa). Após a pesagem das carcaças, o rendimento foi calculado em relação ao peso vivo após jejum, por meio da equação: Rendimento de carcaça (%) = [(peso da carcaça/peso vivo) x 100]. O rendimento percentual dos cortes foi realizado em função do peso da carcaça eviscerada sem pés e sem cabeça, segundo a equação: Rendimento de cortes (%) = [(peso do corte/peso da carcaça) x 100].

As médias das variáveis analisadas foram submetidas à análise de variância, considerando-se um nível de significância de até 5% pelo teste de Tukey, conforme modelo estatístico, sendo inicialmente testadas e atendidas as pressuposições:Yij(k) = µ + ENZi + FPj + ENZxFPij +ϵij(k),em que:Yij(k)= valor médio observado na parcela que recebeu o nível de farinha de penas i, no nível de enzima j; µ= efeito da média geral; ENZi= efeito do i-ésimo nível de enzima (0,00 e 0,02); FPj= efeito do j-ésimo nível de farinha de penas (0%, 5% e 10%); ENZxFPij= efeito da interação entre os níveis de enzima e de farinha de penas; ϵij(k) = erro aleatório associado a cada observação.

Os dados experimentais foram submetidos às análises de regressão polinomial quadrática e linear simples, considerando-se os níveis de farinha de penas e a suplementação comprotease na dieta como variáveis independentes. Para verificar o ajuste dos modelos, foram considerados a soma dos quadrados dos desvios, a significância do teste F e os coeficientes de determinação (R2).

RESULTADOS

Houve interação (P<0,05) entre a inclusão de FP e a suplementação com proteasesomente para o ganho de peso na fase de oito a 21 dias de idade das codornas (Tab. 3). Houve efeito (P<0,05) da inclusão de FPsobre o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar no período de oito a 21 dias.Houve ajuste linear decrescente para o consumo de ração (CR = 211,3494 - 1,0272FP; R²= 0,60) à medida que aumentou a inclusão de FP nas dietas. Com o desdobramento dos fatores para o ganho de peso das aves, verificou-se ajuste linear decrescente para a inclusão da FP (GP = 102,1398 - 1,3783FP; R²=0,97) nas dietas com suplementação de protease. A conversão alimentar piorou devido ao aumento da inclusão de FP nas dietas, de acordo com o ajuste da equação linear crescente (CA = 2,0802 + 0,0181FP; R² = 0,95).

Não foi observada interação (P>0,05) da inclusão de FP e da suplementação com protease sobre o desempenho das codornas no período de oito a 35 dias de idade (Tab. 4). A inclusão de FP influenciou (P≤0,05) o consumo de ração, o ganho de peso e a conversão alimentar das codornas na fase de oito a 35 dias. Para o consumo de ração, verificou-se efeito linear decrescente (CR=526,276 - 2,6879FP; R²= 0,86), revelando que a inclusão de FP reduziu o consumo. Da mesma forma, obteve-se ajuste linear decrescente para o ganho de peso (GP = 185,332 - 2,395FP; R²=0,98) à medida que houve inclusão da FP. Para a conversão alimentar, observou-se ajuste linear crescente CA= 2,8105 + 0,02931FP (R2= 0,82), devido à inclusão de FP na dieta das codornas.

Tabela 3
Média e desvio-padrão do consumo de ração (CR), do ganho de peso (GP) e da conversão alimentar (CA) de codornas de corte alimentadas com dietascontendo farinha de penas suplementadas ou não com protease, no período de oito a 21 dias de idade
Tabela 4
Média e desvio-padrão do consumo de ração (CR), do ganho de peso (GP) e da conversão alimentar (CA) de codornas de corte alimentadas com dietas contendo farinha de penas suplementadas ou não com protease, no período de oito a 35 dias de idade

Houve interação (P≤0,05) entre a suplementação com protease e a inclusão de FP sobre o peso corporal das aves aos 35 dias de idade (Tab. 5). O peso corporal das codornas apresentou efeito (P≤0,05) para os níveis de FP estudados, porém não foi observado efeito (P>0,05) para a suplementação com protease.

Após o desdobramento da interação entre a inclusão de FP e a suplementação com protease nas dietas para o peso corporal, observou-se ajuste linear decrescente para ambas as situações (equação ajustada para peso corporal das codornas aos 35 dias que receberam dietas suplementadas com protease e inclusão de FP: PC = 223,055 - 2,033FP (R2= 0,54); equação ajustada para o peso corporal das codornas aos 35 dias que receberam dietas sem suplementação com protease e inclusão de FP: PC= 221,167 - 1,50FP (R2= 0,59)). Assim, independentemente da suplementação com protease, o peso corporal das aves aos 35 dias reduziu devido à inclusão de FP nas dietas.

Tabela 5
Média e desvio-padrão do peso corporal (PC), do rendimento de carcaça (RC), do rendimento de peito (RP) e do rendimento de coxa+sobrecoxa (RCXSB) de codornas de corte alimentadas com dietas contendo farinha de penas, suplementadas ou não com protease, aos 35 dias de idade

DISCUSSÃO

No presente estudo, foi observado que a inclusão de FPacima de 5% nas dietas com reduzido teor de proteína bruta e aminoácidos para codornas de corte, independentemente da suplementação com protease, reduziu o consumode ração, o ganho de peso e piorou a conversão alimentar na fase de oito a 21 dias. Santos et al. (2006) também identificaram redução linear no consumo de ração de codornas de corte na fase de um a 21 dias de idade, em que o nível de inclusão de FP foi em até 9%. Khosravinia et al. (2015) e Mahmood et al. (2017) também observaram que, ao se aumentar a inclusão de farelo misto de abatedouro de aves (penas, cabeça, pés, vísceras e sangue) em dietas para frangos de corte, ocorreu redução no consumo de ração na fase de um a 21 dias de idade.

A redução no desempenho das aves na fase inicial à medida que houve inclusão de FP nas dietas pode ser justificada pelo fato de que a FP possui basicamente proteínas de estrutura terciária em sua composição, com alta estabilidade e elevado grau de insolubilidade e hidrofobicidade devido às pontes dissulfeto, impedindo, dessa forma, a ação de enzimas proteolíticas (Schrooten et al., 2001; Eyng et al., 2012). Além de aspectos ligados à composição da fração proteica da FP, fatores associados ao processamento desse alimento podem afetar diretamente o seu aproveitamento pelas aves. Holanda et al. (2009) observaram piora da conversão alimentar de frangos de corte alimentados com dietas contendo FP e justificaram que o mau cozimento das penas nos digestores industriais acarreta a formação do dipeptídeo lantionina. Segundo Leeson e Summers (2001), a lantionina afeta o balanço aminoacídico das dietas, podendo ocasionar mudanças na estrutura da proteína com a ligação dela entre substâncias como carboidratos e lipídeos, prejudicando, assim, a disponibilidade dos aminoácidos e o aporte energético.

Outro fator que contribui para a redução do desempenho das codornas com inclusão acima de 5% de FP é a imaturidade do sistema digestivo para favorecer a secreção enzimática para a digestão proteica. De acordo com Ding et al. (2016),o pâncreas e o duodeno de aves jovens não produzem tripsina em quantidade adequada, em razão de não estarem totalmente maduros, e a suplementação com protease em dietas reduzidas em proteína bruta e formuladas à base de milho e farelo de soja aumenta a atividade de tripsina em frangos aos 21 e 42 dias. Tendo em vista que a FP possui a queratina como componente proteico, essa informação pode justificar, em parte, a redução do ganho de peso observadano presente estudo para as aves alimentadas com dietas com inclusão de FP, independentemente da suplementação com protease. Assim, a ausência de efeito da protease pode ser devido à não especificidade enzimática em relação à fonte proteica.

No presente estudo, todas as dietas foram formuladascom reduzido nível de proteína bruta e dos principais aminoácidos limitantes (lisina, metionina e treonina). Apesar de a protease aumentar a digestibilidade proteica e a energia metabolizável das dietaspara aves jovens, esse efeito pode não ser significativo ao ponto de aumentar o desempenho, devido ao desbalanço de aminoácidos essenciais e ao reduzido teor de nitrogênio endógeno para a síntese de aminoácidos não essenciais quando as aves são alimentadas com dietas com reduzido teor de proteína bruta (Angel et al., 2011; Sahir et al., 2016). Portanto, a não especificidade da protease e o reduzido substrato para ação dela em outras fontes proteicas na dieta, como o farelo de soja, contribuíram para a ausência de efeito da suplementação enzimática no desempenho das codornas alimentadas com dietas reduzidas em proteína bruta e aminoácidos com inclusão de FP.

No presente estudo, na fase de oito a 35 dias, a inclusão de até 5% de FP na dieta de codornas proporcionou ganho de peso semelhante ao das aves alimentadas com dietas à base de milho e de farelo de soja.De maneira semelhante, Holanda et al. (2009), ao avaliarem níveis de inclusão de FP em dietas para frangos de corte, no período de um a 42 dias de idade, verificaram que a inclusão de até 8% de FP proporcionouganho de peso das aves semelhante ao dos frangos alimentados com dieta à base de milho e farelo de soja. Mahmood et al. (2017) também observaram que a inclusão de até 3% de farinha mista de abatedouro de aves, em dietas com nível de proteína reduzido, não afetou o desempenho de frangos de corte até os 35 dias de idade.

A redução do consumo de ração das codornas observada na fase de oito a 35 dias pode ser devido também ao perfil proteico e aminoácidico da FP. A digestibilidade ileal estandardizada de lisina, metionina+cistina e treonina na FP é de 24%, 25% e 17%, respectivamente, inferior ao farelo de soja (Rostagno et al., 2011). Ainda de acordo com Wang e Parsons (1998), os procedimentos para obtenção da FP, em relação ao tempo de processamento e à temperatura, influenciam na sua qualidade. Segundo esses autores, aumento de temperatura e de tempo de processamento provoca queda na biodisponibilidade de aminoácidos, além de ocasionar queima do produto e redução do seu valor nutricional.

A suplementação com protease não influenciou as variáveis consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar na fase total (oito a 35 dias). De forma semelhante, Ribeiro et al. (2015) avaliaram a suplementação das enzimas protease, fitase e amilase nas dietas para codornas japonesas em postura e não observaram efeito no consumo de ração e na conversão alimentar. Por outro lado, Wang et al. (2006) observaram aumento no ganho de peso e melhora na conversão alimentar de frangos de corte com a suplementação da enzima queratinase em dietas reduzidas em proteína bruta e aminoácidos essenciais, tendo o farelo de soja como fonte proteica.

É importante salientar que as dietasformuladas tiveram redução de 8%nos teores de proteína bruta e aminoácidos em relação às exigências para codornas de corte recomendadas por Silva e Costa (2009). De acordo com Wang et al. (2006), em dietas com teor proteico deficiente em relação às exigências das aves, existe potencial de resposta de proteases exógenas na liberação de aminoácidos no trato digestivo, favorecendo o desempenho. No entanto, no presente estudo, a suplementação comprotease na dieta não influenciou o desempenho das aves. Como citado anteriormente, a ausência de efeito da protease no desempenho está diretamente ligada com sua atuação no substrato, pois a FP contém, em sua forma estrutural, queratina; essa, por sua vez, é hidrolisada por meio da enzima queratinase (Farage Hassan, 2004; Wang et al., 2006).

Sahir et al. (2016) afirmam que a quantidade e a qualidade da proteína influenciam no desempenho das aves, bem como na eficácia de atuação das proteases exógenas adicionadas às dietas.Contudo, existem relatos da utilização de enzimas na melhoria do desempenho das aves alimentadas com dietas contendo FP e formuladas com adequados teores de proteína bruta e de aminoácidos. Mutucumarana et al. (2010) observaram que a farinha mista de abatedouro de frangos pode ser usada em até 10% nas dietas, associadaà suplementação com complexo enzimático SSF e lipase, sem prejudicar o desempenho de codornas de corte até os 35 dias de idade. Já Mahmood et al. (2018) observaram que a farinha mista de abatedouro de aves pode ser utilizada em até 3%,associada à suplementação de protease,sem prejudicar o desempenho e o rendimento de carcaça de frangos de corte aos 35 dias de idade.

No presente estudo, para as características de carcaça, observou-se que apenas o peso corporal das codornas aos 35 dias foi influenciado pela inclusão de FP, independentemente da suplementação com protease.Além disso, os valores de rendimento de peito e de coxa + sobrecoxa foram inferiores aos observados por Santos et al. (2006), quando avaliaram diferentes níveis de FP (0%, 3%, 6% e 9%) para codornas de corte, em dietas formuladas com níveis adequados de proteína bruta e aminoácidos. Isso pode ser justificado pela redução de proteína bruta e de aminoácidos, como lisina e metionina, que estão ligados diretamente ao aumento de deposição proteica na carcaça.

De acordo com Kerr e Easter (1995), apesar de a redução unitária de proteína bruta em dietas para suínos em crescimento reduzir em até 8% o nitrogênio excretado, ocorre prejuízo em relação às características de carcaça. Gomez et al. (2002), Le Bellego et al. (2002) e Mahmood et al. (2017) afirmaram que, independentemente de as exigências dos demais nutrientes estarem adequadas nas dietas, se houver a redução da proteína bruta em níveis maiores que 3% a 4%, ocorre perda da eficiência do crescimento. Tais resultados justificam a redução do peso corporal das codornas aos 35 dias, indicando que a redução proteica e de aminoácidos na dieta em até 8% pode não ser uma alternativa nutricional viável para a produção de codornas de corte.

CONCLUSÃO

A inclusão de até 5% de farinha de penas em dietas formuladas com baixa proteína para codornas de corte pode ser recomendada para o período de oito a 21 dias e de oito a 35 dias de idade. A suplementação com protease nas dietascom baixa proteína e aminoácidos não contribuiu para melhorara digestão da farinha de penas, havendo necessidade de estudos utilizando a enzima queratinase.

AGRADECIMENTO

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2020

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2018
  • Aceito
    27 Nov 2019
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