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Frequência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em suínos abatidos sem inspeção em Belém

Serologic diagnosis of Toxoplasma gondii in swines slaughtered without inspection in Northern Brazil

COMUNICAÇÃO COMMUNICATION

Frequência de anticorpos anti-Toxoplasma gondii em suínos abatidos sem inspeção em Belém

Serologic diagnosis of Toxoplasma gondii in swines slaughtered without inspection in Northern Brazil

J.A. FreitasI; J.P. OliveiraII; O.S. RamosIII; M.M. IshizukaIV

IInstituto de Saúde e Produção Animal - UFRA – Belém, PA

IIAgência de Defesa Agropecuária do Pará – Belém, PA

IIILaboratório Nacional Agropecuário-PA – Belém, PA

IVFaculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - USP – São Paulo, SP

Palavras-chave:Toxoplasma gondii, suínos, abate clandestino, hemaglutinação indireta, vigilância sanitária

ABSTRACT

To survey the occurrence of IgM and IgG anti-T. gondii antibodies in pigs slaughtered without inspection, 110 serum samples from different localities were submitted to indirect hemaglutination test. A frequency of 50.0% (confidence interval 40.7% |...| 59.3%, 95% significance) of positive sera was detected, with a distribution of frequency of 1.83% and 1.83%, 6.36% and 15.45%, 20.0% and 25.4%, 17.3% and 7.3%, and 4.5% and 0.0% for IgM and IgG antibodies, respectively in 1:16, 1:64, 1:256, 1:1024, and 1:2048 serum dilutions. The toxoplasmic infection was present among pigs in the city of Belém.

Keywords: Toxoplasma gondii, swine, non-inspected slaughtering, indirect hemaglutination test, sanitary surveillance

O Toxoplasma gondii é um protozoário coccídeo heteroxeno de ampla distribuição mundial e tem como hospedeiro intermediário os animais domésticos e silvestres, e o homem como hospedeiro acidental (Taylor e Webster, 1998; Rey, 2001).

O T. gondii determina no homem uma doença zoonótica, geralmente latente e associada ao contato com animais infectados, às suas excreções e à ingestão de carne crua ou mal cozida. Nos animais domésticos, causa também uma infecção latente e em ambos uma grave doença, que pode ser confundida com outras de sintomatologia semelhante e para a qual a pesquisa sorológica é o diagnóstico definitivo (Dubey, 1986, 1996; Bonametti et al., 1997; Dias e Freire, 2005). A infecção por T. gondii tem sido identificada nos animais domésticos em diferentes sistemas de criação, animais submetidos ao abate, alimentos e em graves ocorrências relacionadas à saúde coletiva (Vidotto et al., 1990; Barci et al., 1998; Silva e Langoni, 2000; Fialho e Araújo, 2003).

A frequência de anticorpos anti-T. gondii em suínos no Brasil é variável e tem sido levantada por meio de inquéritos sorológicos realizados em várias partes do país. O T. gondii ocorre independentemente de região, raça, tipo, aptidão e faixa etária (D'Angelino e Ishizuka, 1986; Guimarães et al., 1992; Barci et al., 1998; Garcia et al., 1999).

O abate clandestino de suínos ocorre em diversos locais na região metropolitana de Belém, PA, sem que ocorram medidas e ações de vigilância sanitária da carne, que é consumida por diferentes camadas socioeconômicas da população. Assim, o objetivo deste trabalho foi levantar a ocorrência de patógenos em suínos abatidos clandestinamente na região metropolitana de Belém. Para tal, foram coletadas 110 amostras de soros, aleatoriamente, em nove locais, que foram submetidas à hemaglutinação indireta, para detecção de anticorpos IgM e IgG anti-T. gondii (Camargo et al, 1986; Fialho e Araujo, 2002). Foi considerado positivo reação a partir da diluição 1:16.

Observou-se frequência de 50,0% de positivos (intervalo de confiança 40,7% |...| 59,3%, 95% de significância), com a maior frequência na diluição 1:256 e distribuição de frequências de 1,8% e 1,8%, 6,4% e 15,4%, 20,0% e 25,4%, 17,3% e 7,3% e 4,5% e 0,0% para anticorpos IgM e IgG em cada um dos soros testados (Marascuillo, 1971), respectivamente, nas diluições 1:16, 1:64, 1:256, 1:1024 e 1:2048.

Frequências de anticorpos IgM e IgG anti-T. gondii inferiores às determinadas nesse inquérito foram observadas em suínos abatidos em Belo Horizonte-MG e em Porto Alegre-RS (Passos et al., 1984; Fialho e Araújo, 2003). D'Angelino e Ishizuka (1986), Vidotto et al. (1990) e Garcia et al. (1999) também determinaram frequências mais baixas de anticorpos anti-T. gondii, em suínos em Pirassununga-SP, em suínos criados na região de Londrina-PR e em suínos criados no norte do Paraná.

Frequências de anticorpos anti-T. gondii inferiores foram, também, determinadas em reprodutores suínos no estado de São Paulo e em matrizes suínas na região de Goiânia-GO, (Barci et al., 1998). Frequência mais alta que a determinada neste inquérito foi observada em suínos da raça Piau no estado de Minas Gerais (Guimarães et al., 1992).

Conclui-se que a infecção toxoplásmica está presente entre os suínos abatidos clandestinamente na região metropolitana de Belém, com elevado risco sanitário para a saúde humana.

Recebido em 29 de fevereiro de 2008

Aceito em 31 de agosto de 2009

E. mail: jaf.bel@terra.com.br

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Nov 2009
  • Data do Fascículo
    Out 2009
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