Acessibilidade / Reportar erro

Perfil de isolamento e resistência a antimicrobianos de Fusobacterium spp. isolados do sulco gengival eqüino

Isolation profile and antimicrobial resistance of Fusobacterium spp. isolated from equine gengival sulcus

Resumo

A total of 30 strains of Fusobacterium sp. isolated from gengival sulcus of 28 equines was studied in the period between January/1997 and April/1998. Bacterial isolation and antimicrobial resistance were determined by biochemical analyses and by the disk elution method. The species most frequently isolated was Fusobacterium nucleatum. The following resistance rates were observed: 10% for penicillin G, 87% for eritromycin, and 97% for sulfonamide. Theses results emphasize the need for monitoring the susceptibility patterns of this important bacterial group frequently isolated from normal sites in equines.

Equine; Fusobacterium; antibiogram


Equine; Fusobacterium; antibiogram

Eqüino; Fusobacterium; antibiograma

COMUNICAÇÃO

(Communication)

Perfil de isolamento e resistência a antimicrobianos de Fusobacterium spp. isolados do sulco gengival eqüino

(Isolation profile and antimicrobial resistance of Fusobacterium spp. isolated from equine gengival sulcus)

I.N.G. Silva¹, A.Q. Pinheiro², M.M.N.P. Rocha³, C.B.M. Carvalho³**Autor para correspondência Recebido para publicação, após modificação, em 12 de agosto de 1999. Autor para correspondência E-mail: cbmc@sec.secrel.com.br

¹Bolsista do CNPq – FAVET /UECE *Autor para correspondência Recebido para publicação, após modificação, em 12 de agosto de 1999. Autor para correspondência E-mail: cbmc@sec.secrel.com.br ²Faculdade de Veterinária – UECE *Autor para correspondência Recebido para publicação, após modificação, em 12 de agosto de 1999. Autor para correspondência E-mail: cbmc@sec.secrel.com.br ³ Departamento de Patologia e Medicina Legal

Laboratório de Microbiologia – Setor de Anaeróbios– UFC

Caixa Postal 3163

60441-750 - Fortaleza, CE

O sulco gengival dos eqüinos apresenta concentrada e variada população microbiana, composta principalmente por bactérias anaeróbias estritas e facultativas. No conjunto dos anaeróbios estritos, as fusobactérias têm sido relacionadas a uma ampla variedade de infecções no homem e nos animais domésticos (Quinn et al., 1994). As espécies Fusobacterium necrophorum e F. nucleatum são as mais comumente envolvidas em infecções odontogênicas e as mais freqüentemente isoladas do gênero. Contudo, a distribuição de fusobactérias como microbiota normal do sulco gengival de eqüinos, bem como os sítios de isolamento dessas espécies em processos infecciosos têm sido pouco estudados. No tratamento das infecções causadas por esse grupo bacteriano constituem antibióticos de primeira escolha os do grupo dos b-lactâmicos, entretanto, o isolamento de cepas produtoras de b-lactamases tem sido documentado (Tuner et al., 1985). Estudos de resistência com cepas de bactérias anaeróbias estritas, isoladas da microbiota normal, têm sido realizados. O interesse por esses patógenos resulta no fato deles serem os prováveis patógenos de numerosos processos infecciosos no homem e nos animais (Stark et al., 1993). Pela importância das fusobactérias, da sua incidência nos sítios bucais e da escassez de estudos sobre este grupo bacteriano em eqüinos, foi realizado este trabalho com os objetivos de identificar as espécies de Fusobacterium isoladas do sulco gengival de eqüinos, traçar o perfil de resistência a antimicrobianos das cepas isoladas e verificar a produção de b-lactamase das espécies identificadas. Entre janeiro/97 e abril/98 foi colhido material do sulco gengival de 28 eqüinos, na faixa etária de 8 a 18 anos, pertencentes à Cavalaria da Polícia Militar de Fortaleza. Na coleta, foram utilizados swabs estéreis e transportados em Cary-Blair (meio pré-reduzido e esterilizado em anaerobiose - PRAS). A semeadura foi feita em placas de ágar sangue para anaeróbios e ágar verde brilhante (Sebald & Petit, 1994) ambos acrescidos dos antibióticos vancomicina (5mg/ml) e neomicina (100mg/ml). As placas foram incubadas em jarras de anaerobiose com envelope gerador de anaerobiose1*Autor para correspondência Recebido para publicação, após modificação, em 12 de agosto de 1999. Autor para correspondência E-mail: cbmc@sec.secrel.com.br e incubadas a 37°C durante 48 a 72 horas. O meio de cultura líquido utilizado foi o Brain Heart Infusion suplementado com hemina (5mg/ml) e menadione (0,1mg/ml) (BHIs). Subcultivos de 24 a 48 horas das colônias suspeitas e crescidas em caldos BHIs foram semeados em ágar sangue sem antibiótico e incubados a 37°C em atmosfera de aerobiose, microaerofilia e anaerobiose. Os isolados que só cresceram em anaerobiose foram considerados anaeróbios estritos. A identificação das fusobactérias foi realizada considerando-se os seguintes itens: morfologia e características coloniais, aspectos morfotintoriais na coloração de Gram, padrão hemolítico, provas bioquímicas (produção de indol, hidrólise do hipurato, hidrólise da esculina, crescimento em bile a 20% e fermentação dos carboidratos frutose, glicose e manose) e testes bioquímicos utilizando-se método de automação (VITEK) para amostras de identificação duvidosa. Para avaliação da resistência a antimicrobianos foi utilizada a técnica da eluição do disco em caldo (NCCLS, 1985). O teste foi realizado em tubos com tampa de borracha contendo BHI–PRAS e avaliados os seguintes antimicrobianos: penicilina G (10U), cefoxitina (30mcg), clindamicina (2mcg), cloranfenicol (30mcg), eritrominica (15mcg), tetraciclina (30mcg), metronidazol (50mcg) e sulfonamida (300mcg). A pesquisa da produção de b-lactamase foi realizada em 22 das 30 cepas estudadas pelo teste da cefalosporina cromogênica (teste da b-lactamase- PROBAC). Como controle negativo foi utilizada a cepa Staphylococcus aureus ATCC 25922. A partir do material coletado de 28 animais, foram isoladas 30 cepas das quais 21 (70%) foram identificadas como Fusobacterium nucleatum e 9 (30%) apenas como Fusobacterium sp. Encontraram-se 97% de resistência à sulfonamida, 87% à eritromicina e 10% à penicilina G (Fig. 1).


Todas as cepas apresentaram sensibilidade à cefoxitina, clindamicina, tetraciclina, cloranfenicol e metronidazol. Das 30 cepas isoladas 22 foram testadas quanto à produção de betalactamase e apresentaram reação negativa. As oito cepas restantes tiveram seu crescimento suprimido por bactérias contaminantes. Jang & Hirsh (1994) cultivaram 1067 espécimes clínicos de vários sítios anatômicos e de diversos animais. Em eqüinos, a espécie F. necrophorum foi a mais freqüentemente isolada, seguida por F. nucleatum e Fusobacterium sp. A cavidade oral é o principal sítio de colonização do F. nucleatum no homem. É um patógeno oportunista com vários fatores de virulência descritos, enfatizando-se a cápsula e a presença de lipopolissacarídeos com forte atividade biológica. Em eqüinos muito pouco tem sido documentado quanto à composição da microbiota normal da cavidade oral (Quinn et al., 1994). No presente estudo, F. nucleatum foi a espécie mais isolada e em 30% das cepas não se identificou a espécie. Sabendo-se da natureza assacarolítica desse grupo bacteriano e dos poucos testes bioquímicos disponíveis para a diferenciação das espécies, justifica-se a dificuldade de identificação laboratorial conforme reiteradamente menciona a literatura (Summanen et al., 1993). Em geral, as fusobactérias apresentam amplo espectro de sensibilidade aos agentes antimicrobianos (Bennett & Eley, 1993). Carter et al. (1990) citam penicilina G, sulfonamida, tetraciclina e eritromicina como as drogas de escolha no tratamento de infecções causadas por F. necrophorum em animais. A penicilina G é também a droga de escolha para o tratamento de infecções causadas por outras espécies de fusobactérias. Entretanto, nos últimos anos, resistência à penicilina G tem sido documentada entre as cepas de Fusobacterium nucleatum (Tuner et al., 1985). Collingnon et al. (1988) determinaram a sensibilidade de 1117 cepas de bactérias anaeróbias estritas frente a 10 antimicrobianos, utilizando a técnica de referência de diluição em ágar. Com relação à penicilina G, foram testadas, dentre outras, 20 cepas de Fusobacterium spp. O percentual de resistência encontrado foi de 25% na concentração crítica de 8mg/ml. No presente trabalho, o percentual de resistência à penicilina G foi de 10% na concentração de 16mg/ml. É possível que a resistência verificada envolva outros mecanismos bioquímicos que não a produção de betalactamases visto que nenhuma das cepas testadas apresentou resultado positivo quando da aplicação do teste. Segundo Finegold et al. (1992), a eritromicina é menos ativa que a penicilina G contra os anaeróbios mais importantes do ponto de vista clínico. A maioria das cepas do grupo Bacteroides fragilis é resistente, bem como mais da metade das cepas de Fusobacterium sp. O percentual de resistência de 87% obtido é semelhante aos relatos na literatura (Bennett & Eley, 1993; Brumbaugh, 1987). Vale ressaltar a ausência de resistência à tetraciclina entre as cepas isoladas neste estudo. Até o final da década de 60, a tetraciclina era um dos antibióticos de escolha no tratamento de infecções causadas por bactérias anaeróbias estritas. Com os crescentes relatos de resistência, a tetraciclina não mais constitui uma alternativa na terapêutica das infecções por esse grupo bacteriano (Finegold et al., 1992). Segundo Brumbaugh (1987), a tetraciclina não é antibiótico de escolha no tratamento de processos infecciosos em eqüinos, seja ele causado por bactérias anaeróbias estritas ou por facultativas. A ausência de resistência observada neste estudo pode ser devida à não utilização da tetraciclina na prática veterinária em eqüinos. Diferentes estudos mostram as sulfonamidas e associações com trimethoprim como eficientes contra bactérias anaeróbias estritas in vitro (Indiveri & Hirsh,1986). Por ser amplamente utilizada na prática veterinária, julgou-se relevante verificar o perfil de sensibilidade para sulfonamidas nas cepas de Fusobacterium nucleatum isolados neste estudo. A resistência de 97% sugere o aparecimento de cepas resistentes pelo freqüente uso desse quimioterápico na clínica veterinária, e ratifica sua não recomendação na terapêutica de infecções causadas por bactérias anaeróbias estritas. Até o final da década de 80, o teste de sensibilidade a antimicrobianos para anaeróbios pela eluição do disco no caldo era recomendado pelo NCCLS (1985). Na década de 90, vários estudos apontaram para discrepâncias nos resultados quando aquela técnica era realizada em comparação com a de referência. Na última resolução do NCCLS de 1997, essa técnica já não consta no manual. Acredita-se, entretanto, na possibilidade de uso desse teste como método de triagem e da sua contribuição para uma área ainda tão pouco explorada no nosso meio. O perfil de resistência observado neste trabalho reafirma a importância dos estudos de epidemiologia da resistência a antimicrobianos que, ao serem realizados, possibilitam implementar medidas de controle do uso desses agentes terapêuticos.

Palavras-Chave: Eqüino, Fusobacterium, antibiograma

AGRADECIMENTOS

Aos funcionários da cavalaria da Polícia Militar de Fortaleza e a Antonio Jaldir G. Vieira, pelo auxílio técnico.

ABSTRACT

A total of 30 strains of Fusobacterium sp. isolated from gengival sulcus of 28 equines was studied in the period between January/1997 and April/1998. Bacterial isolation and antimicrobial resistance were determined by biochemical analyses and by the disk elution method. The species most frequently isolated was Fusobacterium nucleatum. The following resistance rates were observed: 10% for penicillin G, 87% for eritromycin, and 97% for sulfonamide. Theses results emphasize the need for monitoring the susceptibility patterns of this important bacterial group frequently isolated from normal sites in equines.

Keywords: Equine, Fusobacterium, antibiogram

1Difco

  • BENNETT, K.W., ELEY, A. Fusobacteria: new taxonomy and related diseases. J. Med. Microbiol., v.39, p.246-254,1993.
  • BRUMBAUGH, G.W. Rational selection of antimicrobial drugs of treatment of infections of horses. Vet. Clin. North Am.: Equine Pract. v.3, p.191-220, 1987.
  • CARTER, G.R., CLAUS, G.W., RIKIHISA, Y. Fundamentos de bacteriologia e micologia veterinária São Paulo: Roca, 1990.
  • COLLINGNON, P.J., MUNRO, R., MORRIS, G. Susceptibility of anaerobic bacteria to antimicrobial agents. Pathology, v.20, p.48-52, 1988.
  • FINEGOLG, S.M., BARON, E.J., WEXLER,H.M. A clinical guide to anaerobic infections. California: Star Publ., 1992. p.140-142.
  • INDIVERI, M.C., HIRSH, D.C. Susceptibility of obligate anaerobes to trimethoprim-sulfamethoxazole. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.188, p.46-48, 1986.
  • JANG, S.S., HIRSH, D.C. Characterization, distribution and microbiological associations of Fusobacterium sp in clinical specimens of animal origin. J. Clin. Microbiol., v.32, p.384-387,1994.
  • NCCLS, NATIONAL COMITTEE FOR CLINICAL LABORATORY STANDARDS. Alternative methods for antimicrobial susceptibility testing of anaerobic bacteria Proposed Guideline. M17-p. Villanova: NCCLS, 1985.
  • QUINN, P.J., CARTER, M.E., MARKEY, B.K. et al. Clinical veterinary microbiology. London: Mosby, 1994.
  • SEBALD, M., PETIT, J.C. Méthods de laboratoire. Bactéries anaérobies et leur identification. Paris: Institute Pasteur, 1994.
  • STARK, C.A., EDLUND, C., SJÖSTEDT, S. et al. Antimicrobial resistance in human oral and intestinal anaerobic microflora. Antimicrob. Agents Chemother, v.37, p.1665-1669, 1993.
  • SUMMANEN, P., BARON, E.J., CITRON, D.M. et al. Wadsworth anaerobic bacteriology manual. 5.ed. California: Star Publ., 1993.
  • TUNER, R., LINDQVIST, L., NORD,.C.E. Characterization of new beta-lactamase from Fusobacterim nucleatum 69 substrate profiles and chromatofocusing patterns. J. Antimicrob. Chemother., v.16, p.23-30, 1985.
  • *Autor para correspondência
    Recebido para publicação, após modificação, em 12 de agosto de 1999.
    Autor para correspondência
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Abr 2001
    • Data do Fascículo
      Dez 1999

    Histórico

    • Recebido
      12 Ago 1999
    Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Veterinária Caixa Postal 567, 30123-970 Belo Horizonte MG - Brazil, Tel.: (55 31) 3409-2041, Tel.: (55 31) 3409-2042 - Belo Horizonte - MG - Brazil
    E-mail: abmvz.artigo@gmail.com