abmvz
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia
Arq. Bras. Med. Vet.
Zootec.
0102-0935
1678-4162
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
Veterinária
The aim of this research was to evaluate, by preference tests, the ability of
perception of broiler chicks in the recognition of objects and foods of different
colors. The survey was conducted in Brazil and consisted in the conditioning of 60
sexed one-day-old chicks using 30 male chicks and 30 female chicks for three days
with blue balls and red food colors chosen for having opposed chromaticities. After
the conditioning phase, a preference test was performed, in which the animals were
placed individually in the center of an arena test with four options: red food, blue
food, red balls and blue balls. Each bird was measured for 10 minutes. Latency to the
first peck and the number of pecks, the number of sequential pecks at each object
type or food, the total time the bird in each occupied compartment and the first
occupied slot were recorded. According to the results, female chicks are less
inhibited when in contact with a new situation when compared with males. However,
males were able to establish a standard environment in the conditioning phase and
opted for the compartment which was closer to that situation, associating the blue
color to the ball and red color to the food. Overall, among the types of object
colors and between types of food colors, the birds took less time for the decision on
the choice of blue food and blue ball, showing a greater attraction, at first, to
this color. Between the two ball colors, shorter latency period, greater number of
interactions as well as more time spent on site were related to the blue sphere,
verifying greater preference for this object. When evaluating the types of food
colors, it was observed that the highest averages related to the number of pecks, and
sequential pecks occurred with red food. Therefore, it is concluded that the birds
recognized the red and blue food object, with the blue color having greater
attractiveness for broiler chicks when compared to red.
INTRODUÇÃO
O estudo das habilidades cognitivas de pintos de corte recém-nascidos, utilizando
diferentes cores de objetos e de alimentos, permite verificar o nível de percepção do
animal em relação ao ambiente em que ele se encontra, bem como compreender a sua
capacidade de retenção de memória e aprendizado, o que contribui para o reconhecimento
dos objetos que estão a sua volta.
A cognição ajuda o animal a lidar com o mundo exterior de uma forma flexível (Duncan, 2006). Assim, ao se descobrir as habilidades
cognitivas dos animais, isto é, a capacidade de aprender e compreender os progressos
relacionados ao seu nível de raciocínio lógico, é possível obter informações sobre o
intelecto dos mesmos e os direcionar em suas tomadas de decisões e escolhas (Griffin e Speck, 2004; Dawkins, 2006).
Com a avaliação da cognição, é possível determinar o nível de consciência do animal. A
consciência seria como uma "visão interior", que permite que o animal tenha conhecimento
de si mesmo, como as suas sensações de medo e de dor (Duncan, 2006).
Na determinação da consciência do indivíduo, é verificado se este é capaz de avaliar e
deduzir o significado de uma situação em relação a si mesmo durante um curto espaço de
tempo. O indivíduo não só seria sensível aos estímulos, mas também teria a memória de
acontecimentos e imagens mentais de eventos que pode ser usada para tomar decisões
adequadas, tanto para evitar consequências negativas como para aumentar as positivas
(Broom et al., 2009), fazendo escolhas com ações que eles acreditam
serem prováveis de levá-los onde preferem ou evitam o de que não gostam ou têm medo
(Griffin e Speck, 2004).
O estudo da preferência de cores por pintos é de suma importância, pois pode auxiliar no
manejo do animal por meio da escolha da cor ideal de comedouros, de enriquecimento
ambiental e de ração, visto que, de acordo com pesquisas já realizadas por outros
autores (Taylor et al., 1969;
Miklósi et al., 2002; Ham e Osorio, 2007), a preferência dessas aves por
determinados tipos de cores influencia diretamente na sua escolha por alimentos e
objetos.
Paralelamente, a interação dos pintos de corte com o ambiente em que estão assume níveis
diferentes em relação ao tipo de sexo da ave, principalmente quando estes são colocados
em locais diferentes ao que estão familiarizados (Vallortigara, 1996). As fêmeas possuem maior percepção do ambiente à sua
volta, melhor desempenho em tarefas de aprendizagem da cor, bem como interagem mais
rapidamente com o ambiente em que estão. Entretanto, os machos apresentam bom desempenho
na tarefa de aprendizagem de posições de objetos; porém, quando um padrão de ambiente é
estabelecido pelo mesmo, este demora mais a interagir com o ambiente (Jones, 1977; Andrew,
1972; Vallortigara, 1996).
De acordo com outros estudos já realizados (Taylor
et al., 1969; Salzen
et al., 1971), além do reconhecimento de objetos e
alimentos pelas cores e formas que possuem, fatores relacionados ao comportamento de
imprinting podem influenciar na tomada de decisão da ave para a
escolha do que mais a atrai, visto que o imprinting está relacionado ao
processo de aprendizagem da ave, determinando as suas preferências (Kirkden et al., 2008).
Partindo-se do pressuposto de que o reconhecimento de objetos e de alimentos é
influenciado pela experiência prévia do animal com os mesmos, bem como pelas cores que
possuem, o objetivo do presente trabalho foi avaliar, por meio de testes de preferência,
a capacidade de percepção de pintos de corte, machos e fêmeas, no reconhecimento de
objetos e alimentos de diferentes cores.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no Laboratório de Ambiência, localizado no Núcleo de Pesquisa
em Ambiência (NUPEA) da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade
de São Paulo (ESALQ/USP), no município de Piracicaba, São Paulo, Brasil.
Foram utilizados 30 pintos fêmeas e 30 pintos machos com um dia de idade, sendo as
fêmeas identificadas por anilhas. As aves foram alojadas em um único círculo de proteção
com dois metros de diâmetro, sendo a manutenção da zona de termoneutralidade das aves
realizada por meio do aquecimento do ambiente utilizando campânulas. A temperatura do ar
foi de 32-34ºC, de acordo com as recomendações de Nascimento et al. (2013).
O presente estudo foi realizado em duas etapas, sendo elas: fase de condicionamento e
teste de reconhecimento de objetos e de alimentos.
Com a finalidade de se avaliar o reconhecimento de objetos e de alimentos por pintos de
corte, duas cores de ração e de esferas foram utilizadas, sendo elas: azul e vermelha.
Para tanto, as rações foram coloridas segundo a recomendação estabelecida por Roper e Marples (1997). Dessa forma, a cor vermelha
na ração foi obtida por meio da mistura de 0,5mL de corante alimentício vermelho com
1,5mL de água, e a coloração azul foi obtida por meio da mistura de 1mL de corante azul
com 1mL de água para 11g de ração.
O condicionamento teve duração de 3 dias (Rugani
et al., 2009) e consistiu no fornecimento de 60 esferas em
isopor de cor azul, com diâmetro de 50mm, distribuídas no círculo de proteção
aleatoriamente, e ração de cor vermelha, distribuída em comedouros transparentes. As
esferas foram escolhidas em função do estudo desenvolvido por Vallortigara et al. (1998), em que as utilizaram
como parceiro social durante testes cognitivos com pintos. A utilização de ração como
objeto de estudo foi com o intuito de verificar, também durante os testes, qual a
prioridade que a ave daria, quanto à sua alimentação ou aproximação a um companheiro
social, quando em um ambiente diferente do qual estava familiarizada (Regolin et al., 2005). A água
oferecida às aves não teve alteração de cor e foi colocada em bebedouros infantis
pintados de branco na base, para não influenciar no experimento de cores. O alimento e a
água foram ad libitum.
A escolha das cores do alimento e das esferas foi baseada em estudos já realizados por
outros autores. Nesses estudos, a cor preferida por pintos esteve relacionada a
alimentos que transmitem comprimentos de onda de luz longos (laranja e vermelho) (Roper e Marples, 1997; Miklósi et al., 2002) e objetos que transmitem
comprimento de onda curto (azul), ou seja, cores de cromaticidades opostas, perceptíveis
aos olhos das aves (Salzen et al.,
1971; Davis e Fisher, 1978) e sensíveis
aos cones fotorreceptores da retina desses animais (Osorio et al., 1999).
Após a fase de condicionamento, procedeu-se à fase de teste utilizando uma caixa (arena)
para testar os animais individualmente. A arena de teste foi construída em madeira
branca nas laterais e papel branco no piso, formando quatro ambientes com dimensões de
30cm de profundidade, 20cm de largura e 20cm de altura.
O layout da arena em formato "x" foi desenvolvido para que o pinto, no
momento em que fosse deixado no centro da mesma, pudesse observar de maneira clara todas
as opções de escolha disponíveis (Fig. 1).
Figura 1.
Vista superior e tridimensional da arena de teste utilizada.
Os compartimentos consistiram em quatro tratamentos, sendo eles: ração de cor azul,
ração de cor vermelha, esfera de cor azul e esfera de cor vermelha. Esses tratamentos
eram sorteados nos compartimentos a cada troca de animal.
Os pintos foram colocados individualmente em um recipiente transparente, no centro da
arena, durante 1 minuto, para observarem a área. Após esse procedimento, a ave era
liberada para caminhar livremente e escolher o ambiente de preferência.
O período de observação de cada ave foi de 10 minutos. Para avaliação da interação
animal/objeto ou animal/alimento, foram registrados o período de latência para a entrada
no primeiro compartimento, o número de bicadas, a quantidade de bicadas sequenciais em
cada tipo de objeto ou alimento, o tempo total da ave em cada compartimento ocupado e a
frequência de troca, uma adaptação da metodologia proposta por Jones et al. (2000).
Adotou-se o delineamento experimental com estrutura de parcela do tipo inteiramente
aleatorizada e, como estrutura de tratamento, o esquema fatorial de 2x4 para avaliação
dos comportamentos observados nos diferentes tratamentos (dois sexos e quatro opções de
escolha nos compartimentos). Para a análise relacionada ao primeiro compartimento
ocupado, foi realizado o teste de Qui-quadrado. Para a análise estatística das variáveis
dos demais comportamentos observados, foram utilizados os modelos lineares
generalizados, assumindo a distribuição de Poisson, com função de ligação logarítmica
(Molenberghs e Verbeke, 2005).
RESULTADOS
Durante a fase de teste, observou-se que as fêmeas obtiveram um menor período de
latência para a escolha do primeiro compartimento a ser ocupado, permaneceram por um
período maior dentro dos compartimentos e interagiram mais com o alimento ou objeto de
preferência em relação aos machos, cujo fato foi evidenciado pelo maior número de
bicadas (Tab. 1). Isso indica que as fêmeas são
menos inibidas quando em contato com uma nova situação em relação aos machos.
Tabela 1.
Valores médios dos comportamentos observados em relação ao sexo
Sexo
Comportamentos observados
Latência (segundos)
Número de bicadas
Número de bicadas sequenciais
Tempo total no compartimento (segundos)
Frequência de ocupação
Fêmeas
90,52 b
0,009 a
0,003 a
101,83 a
2,22 a
Machos
95,78 a
0,007 b
0,003 a
98,56 b
2,17 a
Teste do Qui-quadrado (χ²)
18,54*
40,31*
0,01NS
7,61*
0,07NS
Médias com letras diferentes minúsculas na coluna diferem entre si a nível
de 0,05 de probabilidade pelo teste de Qui-quadrado. NS - não significativo,
* - significativo a 0,05 (P<0,05).
Na Tabela 2, avaliando-se as duas cores de
objetos e de alimentos, verifica-se, entre os tipos de cores de objetos e entre os tipos
de cores de alimentos, que as aves demoraram menos tempo para a decisão da escolha do
alimento e da esfera azul, evidenciando-se maior atração, em um primeiro momento, por
objetos ou alimentos à sua volta que transmitem comprimento de onda curto.
Tabela 2.
Valores médios dos comportamentos observados em relação aos
compartimentos
Compartimentos
Comportamentos observados
Latência (segundos)
Número de bicadas
Número de Bicadas sequenciais
Tempo total no compartimento (segundos)
Frequência de ocupação
Objeto vermelho
143,54a
0,00d
0,00d
46,53d
1,98bc
Objeto azul
95,78b
0,23c
0,02c
226,22a
2,55a
Alimento vermelho
79,90c
31,98a
1,29a
128,56b
2,79a
Alimento azul
67,67d
4,02b
0,20b
74,45c
1,66c
Teste do Qui-quadrado (χ²)
1954,65*
4387,86*
170,61*
9227,38*
27,73*
Médias com letras diferentes minúsculas na coluna diferem entre si a nível
de 0,05 de probabilidade pelo teste de Qui-quadrado. NS - não significativo,
* - significativo a 0,05 (P<0,05).
Entre as duas cores de esferas, menor período de latência, maior número de interações
(número de bicadas e bicadas sequenciais), bem como maior tempo de permanência no local
estiveram relacionados à esfera azul, verificando-se total preferência por esse objeto,
em detrimento dos demais compartimentos.
Ao avaliar os tipos de cores de alimentos, foi possível observar que as maiores médias
relacionadas ao número de bicadas e de bicadas sequenciais ocorreram com o alimento
vermelho. Dessa forma, embora em um primeiro momento o alimento azul tenha atraído as
aves com maior intensidade, a memorização e a familiarização com a ração vermelha
ocorridas durante o período de condicionamento influenciaram na escolha desses animais,
fazendo com que os mesmos ficassem mais tempo em contato com esse alimento.
As menores médias relacionadas ao período de latência estão associadas aos alimentos,
indicando que primeiramente os animais procuram o alimento e depois algo que
provavelmente os distraia, nesse caso, as esferas.
O maior tempo total no compartimento com as esferas azuis evidencia também que os pintos
preferiram o ambiente enriquecido com objetos em vez do alimento, o que pode ser devido
à condição de isolamento durante os testes, procurando, com o enriquecimento ambiental
proporcionado pelas esferas, aos quais estavam mais adaptados, suprir a falta do
companheiro social. Porém, as médias das variáveis respostas relacionadas ao número de
bicadas e de bicadas sequenciais foram baixas. Assim como no período de condicionamento,
na maioria dos casos, os animais apenas se mantiveram próximos às esferas. Portanto,
considera-se, como variável mais apropriada para avaliar a interação com os objetos, o
tempo total da ave no compartimento.
Observou-se também que os pintos permaneceram por um maior período de tempo e uma maior
frequência de ocupação nos compartimentos com o objeto azul e com o alimento vermelho.
Paralelamente, nenhuma interação foi evidenciada com o objeto vermelho, bem como um
baixo número de bicadas no alimento azul foi observado. Esse fato comprova que os
animais adquiriram um padrão de estímulo particular para si mesmos durante a fase de
condicionamento.
Para a variável relacionada ao primeiro compartimento ocupado, não houve interação entre
os sexos e os compartimentos (p>0,05). Entretanto, considerando-se que o primeiro
compartimento ocupado seja o mais atrativo para as aves, observou-se que para o sexo
feminino não houve diferença estatística entre as escolhas (χ² =
1,73; p>0,05), ou seja, não há um padrão de preferência entre as fêmeas. Para os
machos, a maior atratividade esteve voltada para o compartimento que continha a esfera
azul e para o alimento vermelho (χ² = 24,17; P<0,05). Tal
resultado evidencia que esse sexo estabeleceu um padrão de ambiente na fase de
condicionamento e optou pelo compartimento que estava mais próximo àquela situação,
associando da maneira correta a cor azul à esfera (Fig.
2).
Figura 2.
Número de observações para o primeiro compartimento ocupado por pintos
fêmeas e machos.
Embora se tenha oferecido aos animais opções de escolhas com as quais ainda não haviam
tido contato, ou seja, ração azul e esferas vermelhas, estes ainda preferiram a cor da
esfera e do alimento utilizado durante a fase de condicionamento, evidenciando total
associação da cor vermelha ao alimento, bem como da cor azul à esfera.
DISCUSSÃO
De acordo com os resultados obtidos neste estudo, verifica-se a preferência de pintos ao
objeto de cor azul, devido ao maior tempo de permanência das aves nesse local e menor
tempo para abordar o alimento e o objeto da cor mencionada, indicando que a mesma atraiu
os animais com maior intensidade em relação às demais opções de escolha.
A aproximação de pintos a objetos e sua relação com a preferência dessas aves foram
citadas em outros estudos. Em experimento realizado por Salzen et al. (1971), estes verificaram a preferência de
pintos a cores de discos levando-se em consideração apenas a aproximação dessas aves aos
objetos, se demonstraram algum sinal de contentamento ou mesmo se ficaram quietos quando
se aproximavam dos objetos. Ainda, segundo Bolhuis
(1999), quando um pinto está perto de um objeto, irá abordá-lo e tentar
aconchegar-se a ele. Com base nesses estudos e nos resultados encontrados, o tempo de
permanência no local é variável crucial para se entender a preferência por pintos a
objetos de diferentes cores.
Os resultados evidenciam também a maior interação da fêmea com o ambiente à sua volta.
Entretanto, o primeiro compartimento ocupado pelos machos foi o com esferas azuis e
alimento vermelho, com o qual estavam mais familiarizados, ou seja, o mesmo tipo de
objeto e de alimento utilizados durante a fase de condicionamento. Esses dados se opõem
aos encontrados por Vallortigara (1996), em que
os pintos fêmeas, treinados com caixas verdes e vermelhas, apresentaram maior
preferência para a cor com que estavam habituadas no momento do teste em relação aos
machos. Porém, a partir do 9º dia, essa maior familiaridade pela cor foi verificada
nos machos.
As diferenças de comportamento entre os sexos encontradas no presente trabalho estão de
acordo com Jones (1986). Esse autor afirma que
pintos fêmeas alimentam-se significativamente mais cedo e apresentam maiores interações
com o alimento em relação aos machos. Além disso, apresentam menor inibição
comportamental quando colocadas num ambiente novo ou de campo aberto (Jones, 1977). Essas diferenças entre os sexos
devem-se à maior quantidade de testosterona nos machos que possui relação com o medo que
sentem à nova situação à qual foram expostos, em comparação com as fêmeas (Jones, 1986).
Neste estudo, observou-se que a tendência dos machos foi visitar primeiramente o
ambiente com o qual estavam condicionados, ou seja, adaptados. Esse fato corresponde às
observações de Jones (1977) e Andrew (1972). Esses autores afirmaram que, quando
um determinado padrão de comportamento foi estabelecido, este possui uma maior duração
para os machos em relação às fêmeas, o que influencia no maior tempo de latência para a
escolha do primeiro compartimento a ser visitado pelos pintos machos, diante à exposição
ao novo ambiente.
A partir dos resultados encontrados, foi verificado que o condicionamento inicial
influenciou significativamente na escolha dos animais no período de teste. Comportamento
de imprinting semelhante foi relatado em estudo realizado por Salzen et al. (1971). Esses autores
verificaram que aves criadas com discos vermelhos os escolheram quando testadas com os
estímulos azuis, uma tendência oposta ao grupo controle, sem experiência anterior de
estímulos de cor. No mesmo estudo, aves criadas com o estímulo azul mostraram uma forte
preferência por azul sobre o vermelho. Também o autor Horn (1993) comenta que, quando os filhotes tornam-se progressivamente mais
familiarizados com um objeto, eles tendem a abordar esse objeto com maior intensidade e
ao mesmo tempo desenvolver uma tendência a evitar objetos diferentes.
A predisposição à preferência por determinadas cores de alimentos por pintos também é um
fator relevante na escolha do alimento. Miklósi
et al. (2002), ao testarem rações de coloração azul e
laranja, observaram a preferência pelo alimento de coloração laranja, que, assim como o
vermelho, transmite luz de comprimento de onda longo. Os autores Roper e Marples (1997) também verificaram que as aves preferem
rações de coloração vermelha, em relação às preta e verde.
A falta de interação entre os dois sexos e o compartimento visitado evidenciam que os
animais, independentemente do sexo, possuem preferência prévia por determinados tipos de
cores de objetos e de alimentos. A maior atração dos animais pelo compartimento onde
havia objetos azuis em relação ao alimento vermelho, verificado pela análise do primeiro
compartimento visitado pelas aves, está de acordo com as observações efetuadas por Regolin et al. (2005). Segundo o
autor, os pintos possuem uma maior habilidade em encontrar o objeto social, em relação
ao alimento. Entretanto, essa evidência está associada ao fato de os pintos serem
animais que vivem em grupo. Assim, apresentam maior complexidade no funcionamento e
desenvolvimento de sua capacidade cognitiva em relação aos animais que não apresentam
comportamento social (Broom, 2007). Esses
procuram o enriquecimento ambiental para suprirem a falta do companheiro social e como
consequência tem-se a minimização dos níveis de estresse decorrentes da separação do
grupo (Jones, 1982) e a otimização da alimentação
pelo animal (Jones, 1977).
O compartimento contendo esferas vermelhas foi o que as aves demoraram mais a visitar,
permaneceram por menor período de tempo e com o qual não foram observadas interações.
Embora o período de condicionamento das aves possa ter influenciado em suas escolhas
futuras, alguns estudos evidenciam que pode existir a predisposição desses animais à
preferência por determinadas cores. Taylor et
al. (1969) observaram que pintos preferem ambientes de coloração
vermelha, após a exposição dos mesmos a paredes de cores azuis e vermelhas, e utilização
de métodos de imprinting convencional. Resultados semelhantes a esses
foram verificados pelo autor Jon Cherfas (1978)
que, ao aplicar testes de preferência utilizando modelo de labirinto com recompensa para
o estímulo azul e sem recompensa para o estímulo vermelho, ou vice-versa, verificou que
as aves obtiveram melhor desempenho para a escolha do ambiente com estímulo vermelho
(com recompensa). Segundo o autor, essas aves, ao se aproximarem do estímulo azul, têm
de primeiro superar sua preferência ao estímulo vermelho, o que leva a resultados de
aprendizagem mais lentos.
Em outros estudos, em que foram comparadas as cores vermelha e azul, Ham e Osorio (2007) observaram que pintos preferem
objetos com saturação de laranja, e/ou mesmo laranja insaturado, quando comparado com o
azul, bem como objetos com saturação de vermelho quando comparados com cores verdes e
cinzas. Assim também ocorreu com Herbert e Sluckin
(1969), que verificaram preferência a paredes de coloração vermelha, quando
testadas com as azuis. Porém, em testes com diferentes cores de pisos realizados por
Davis e Fisher (1978), não foram encontradas
diferenças significativas da preferência entre a cor azul e vermelha.
Observou-se, neste trabalho, clara preferência pela cor azul em detrimento das demais.
Entretanto, ao contrário do encontrado, Jones et
al. (2000) verificaram maiores períodos de latência de pintos para
cordas azuis, quando testadas simultaneamente com cordas de coloração vermelha, azul,
verde, amarela e branca, sendo esta última a preferida. Outro fator importante desse
estudo foi que, após cinco dias de teste, o período de latência para a escolha da cor
preferida (branca) diminuiu e as interações aumentaram. Esse estudo evidencia a
capacidade de aprendizagem dessas aves com o passar do tempo e preferência por
determinadas cores.
Com base nas variáveis analisadas, observou-se que, entre as cores de objetos, a
preferência esteve relacionada à cor azul. Em relação aos alimentos coloridos,
considerando-se o número de bicadas, número de bicadas sequenciais e tempo total de
permanência em cada compartimento, observou-se que a preferência foi pelo o alimento
vermelho. Comparando-se os objetos e os alimentos, foi possível observar que a
preferência esteve associada ao objeto azul, devido ao maior tempo de permanência dos
pintos no compartimento com esferas azuis.
Evidenciou-se neste estudo que pintos de corte possuem habilidades cognitivas que lhes
permitem realizar escolhas que sejam consideradas positivas para os mesmos. No âmbito da
senciência animal, estes resultados são importantes para entender como essas aves
pensam, e podem servir como base para auxiliar nas definições relacionadas a indicadores
de bem-estar de frangos de corte. Paralelamente, trabalhos como este podem auxiliar o
produtor na escolha por cores de equipamentos que compõem a instalação na qual pintos de
um dia serão criados, bem como nas cores de ração inicial, visto que, neste estudo, a
cor mais atrativa foi a azul.
CONCLUSÕES
Conclui-se que as aves reconheceram o alimento vermelho e o objeto azul, sendo esta
última a cor de maior atratividade para pintos de corte em relação à vermelha. Em
relação ao sexo, as fêmeas possuem menor inibição comportamental em relação ao ambiente
em que se encontram, o que foi evidenciado por maiores valores de interações com os
objetos/alimentos.
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Authorship
D.P.B. Fernandes
Universidade de São Paulo - Piracicaba,
SPUniversidade de São PauloBrasilPiracicaba, SP, BrasilUniversidade de São Paulo - Piracicaba,
SP
I.J.O. Silva
Universidade de São Paulo - Piracicaba,
SPUniversidade de São PauloBrasilPiracicaba, SP, BrasilUniversidade de São Paulo - Piracicaba,
SP
A.C. Nazareno
Universidade de São Paulo - Piracicaba,
SPUniversidade de São PauloBrasilPiracicaba, SP, BrasilUniversidade de São Paulo - Piracicaba,
SP
A.C. Donofre
Universidade de São Paulo - Piracicaba,
SPUniversidade de São PauloBrasilPiracicaba, SP, BrasilUniversidade de São Paulo - Piracicaba,
SP
K.B. Sevegnani
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho" - Registro, SPUniversidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
FilhoBrasilRegistro, SP, BrasilUniversidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita
Filho" - Registro, SP
Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de VeterináriaCaixa Postal 567, 30123-970 Belo Horizonte MG - Brazil, Tel.: (55 31) 3409-2041, Tel.: (55 31) 3409-2042 -
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Brazil E-mail: abmvz.artigo@gmail.com
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