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Modelo de anestesia em coelhos para procedimentos no tórax

Anesthesia model in rabbits for thoracic surgery

Resumos

A intubação endotraqueal em coelhos é dificil. O risco anestésico não é desprezível pela estreita margem de segurança entre o plano anestésico e o óbito. Tais fatos despertaram nosso interesse por uma solução simples e segura. Dez animais machos receberam por via intramuscular acepromazina, cetamina e xilazina. Após dez minutos procedeu-se exposição do ligamentum cricothyroideum , o qual foi incisado para colocação de tubo endotraqueal iniciando-se a administração de oxigênio e halotano. A punção arterial foi realizada para controle da pressão arterial média. Procedeu-se toracotomia no quinto espaço intercostal esquerdo com biópsia do pulmão e colabamento pulmonar, iniciando-se a ventilação seletiva do pulmão contra-lateral. Amostras sangüíneas, para medida do pH, foram colhidas no início do procedimento, após o colabamento pulmonar e no final, antes da expansão do pulmão, 30 minutos após o colabamento. Fechado o tórax, foi retirado o tubo endotraqueal tão logo o animal apresentasse recuperação dos reflexos e a seguir suturado ligamentum cricothyroideum. Os animais foram submetidos a eutanásia 14 dias após, quando procedeu-se a nova biópsia pulmonar, a retirada da traquéia e da laringe, para exame. Concluiu-se que este é um procedimento simples e seguro de anestesia para cirurgia torácica em coelhos.

Anestesia; Sistema respiratório; Toracotomia; Coelhos


The endotracheal intubation of rabbits is difficult. The anesthetic risk is high because of the narrow difference between the effective and the lethal dose. We used a safe and simple method. Ten male animals received intramuscular injection of acepromazine, cetamine, and xylazine. Ten minutes later, an endotracheal canula was inserted trough a small cervical incision on the crico-tyroid membrane, to administrate oxigen and halothane. Thoracotomy was performed in the 5th. left intercostal space and a pulmonary biopsy too. The left lung collapsed and ventilation of the right lung remained for the next 30 minutes. Arterial blood pH was measured at the beginning of the procedure, after thoracotomy and after 30 minutes of selective ventilation. After 30 minutes, left pulmonary expantion was permited and thoracotomy closed without pneumotorax. As soon as the animals started breathing spontaneously the endotracheal canula was removed and crico-thyroid membrane closed with 7-0 polypropilene suture. Two weeks later the animals were submitted to euthanasia with a new lung biopsy and the trachea and laryng examined. During the procedure the animals had no important haemodinamics or gasometric disturbance. The results were good and brought us to the conclusion that it is a simple and effective method of anesthesia for thoracic surgery in rabbits.

Anesthesia; Respiratory system; Thoracotomy; Rabbits


6 – ARTIGO ORIGINAL

MODELO DE ANESTESIA EM COELHOS PARA PROCEDIMENTOS NO TÓRAX1 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Elias Kallas2 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Taylor Brandão Schnaider3 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Yara Juliano4 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Neil Ferreira Novo5 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Ibrahim Elias Kallas6 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Miriam de Fátima Brasil Engelman7 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Alexandre Carvalho Kallás8 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Luiz Fernando de Castro9 1 . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP. 6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA. 9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.

Kallás E, Schnaider TB, Juliano Y, Novo NF, Kallás IE, Engelman MFB, Kallás AC, Castro LF. Modelo de anestesia em coelhos para procedimentos no tórax. Acta Cir Bras [serial online] 2001 Abr-Jun;16(2). Disponível em URL: http://www.scielo.br/acb.

RESUMO: A intubação endotraqueal em coelhos é dificil. O risco anestésico não é desprezível pela estreita margem de segurança entre o plano anestésico e o óbito. Tais fatos despertaram nosso interesse por uma solução simples e segura. Dez animais machos receberam por via intramuscular acepromazina, cetamina e xilazina. Após dez minutos procedeu-se exposição do ligamentum cricothyroideum , o qual foi incisado para colocação de tubo endotraqueal iniciando-se a administração de oxigênio e halotano. A punção arterial foi realizada para controle da pressão arterial média. Procedeu-se toracotomia no quinto espaço intercostal esquerdo com biópsia do pulmão e colabamento pulmonar, iniciando-se a ventilação seletiva do pulmão contra-lateral. Amostras sangüíneas, para medida do pH, foram colhidas no início do procedimento, após o colabamento pulmonar e no final, antes da expansão do pulmão, 30 minutos após o colabamento. Fechado o tórax, foi retirado o tubo endotraqueal tão logo o animal apresentasse recuperação dos reflexos e a seguir suturado ligamentum cricothyroideum. Os animais foram submetidos a eutanásia 14 dias após, quando procedeu-se a nova biópsia pulmonar, a retirada da traquéia e da laringe, para exame. Concluiu-se que este é um procedimento simples e seguro de anestesia para cirurgia torácica em coelhos.

DESCRITORES: 1. Anestesia. 2. Sistema respiratório. 3. Toracotomia. 4. Coelhos.

INTRODUÇÃO

A anestesia operações de tórax apresenta problemas específicos decorrentes da instalação do pneumotórax, colabamento pulmonar e conseqüentes distúrbios da hematose.

Entre os animais utilizados em experimentação, os coelhos (Oryctolagus cuniculus) estão entre os mais requisitados, por serem dóceis, de fácil manuseio e de manutenção relativamente simples 1,2 .

Apresentam ainda porte físico adequado, facilitando uma série de experimentos, além de rápida recuperação após o ato anestésico. Justitifica-se pois a preocupação dos pesquisadores com o aprimoramento de técnicas adequadas para diminuir cada vez mais o risco das anestesias nestes animais 3 .

Mesmo assim, o risco anestésico não é despresível pela estreita margem de segurança entre o plano anestésico e o óbito 4.

Acrescente-se ainda a dificuldade de intubação endo-traqueal, referida por vários autores5,6,7,8,9,10 apesar de indispensável quando se pretende adequada ventilação pulmonar, durante o ato operatório.

Tais fatos despertaram nosso interesse por uma solução simples e prática, que resultasse num método seguro de anestesia para cirurgias torácicas em coelhos.

MÉTODOS

Foram utilizados 10 coelhos (Oryctolagus cuniculus) machos, brancos, da linhagem Nova Zelândia, provenientes do Biotério do Centro de Cirurgia Experimental (CCE) da Faculdade de Ciências Médicas de Pouso Alegre -UNIPA.

Os animais, com peso variando entre 2.560 a 4.000 gramas, foram mantidos em gaiolas individuais, sob iluminação artificial durante um período de 12 horas (h) diárias, temperatura constante de 16 graus Celsius, recebendo ração comercial apropriada para a espécie e água ad libitum, até o dia da experimentação.

No momento do experimento, após pesagem, realizou-se tonsura na face medial do membrum pelvinum dextri e dos membri thoracici dextra e sinistra, para permitir o contato dos eletrodos do eletrocardiograma com a pele e também na regio auricularis caudalis para cateterização da arteria auricularis caudalis. Foram então anestesiados com maleato de acepromazina a 1% na dose de 2 miligramas por quilograma (mg.kg), cloridrato de cetamina na dose de 35 mg.kg e cloridrato de xilazina a 2% na dose de 5 mg.kg e por via intramuscular na regio glutaea.

Decorridos dez minutos (min) após aplicação dos medicamentos, realizou-se a tonsura em duas áreas. Na regio colli, logo abaixo dos angulus mandibulae, para abordagem do ligamentum cricothyroideum e na regio pectoris lateralis sinistra, para realização da toracotomia esquerda.

Puncionada a arteria auricularis caudalis sinistra com agulha e introdução de uma cânula 20 Gauge, o sangue para análise dos gases foi colhido diretamente do sistema montado para a medida da pressão arterial média (PAM), em seringa de vidro contendo 0,01 mililitros (ml) de anticoagulante, nos seguintes momentos: A– imediatamente após a canulização arterial; B– início do colabamento pulmonar; C – 30 min após o colabamento, sob ventilação monopulmonar. Nestes três tempos também foram anotados os valores da PAM.

Após anotação da PAM, iniciou-se a administração de halotano com vaporizador universal tipo kettle, por meio de um cateter colocado no orofaringe. A seguir, com o animal devidamente posicionado em hiperextensão do pescoço, procedeu-se incisão cervical longitudinal, na frente da membrana crico-tireóide, localizada pela palpação, de aproximadamente 1,5 centímetro (cm) de comprimento. Após abertura e afastamento da pele, do tecido celular subcutâneo, identificou-se pela dissecção romba a membrana crico-tireóide, que foi incisada com bisturi lâmina 11, longitudinalmente na linha mediana (Fig.1). Com uma pinça Halsted procedeu-se a divulsão da parede anterior da membrana e introdução de tubo endotraqueal, transparente de diâmetro interno 2,5 a 3,5 milímetros (mm), sem balonete, escolhido o que melhor se ajustou à traquéia e evitou vasamento de gás. O correto posicionamento do tubo traqueal foi confirmado pela ausculta dos pulmões, sendo então fixado na pele com fio de algodão 00. Nesse momento foi acoplado o sistema de Mapleson A-Magill.


O animal foi colocado em decúbito lateral direito, com ampla exposição do seu lado esquerdo, possilitando a toracotomia no quinto espaço intercostal esquerdo . Aberta a cavidade pleural, colheu-se pequena amostra do parênquima pulmonar que foi imediatamente fixada em formol a 10 % tamponado. Ato contínuo, o pulmão esquerdo foi colabado e assim mantido com uma ou duas gazes umedecidas em soro fisiológico a 0,9 % durante 30 min. A anestesia neste período foi realizada com ventilação monopulmonar (pulmão contra-lateral direito) utilizando-se o sistema Mapleson D (Fig.2).As gazes umedecidas que mantinham o pulmão direito colabado foram retiradas e manobras ventilatórias exacerbadas o suficiente para expansão pulmonar, retornando-se ao sistema Mapleson A-Magill. Após o desaparecimento total das atelectasias , procedeu-se o fechamento da caixa torácica através da aproximação das costelas adjacentes com fio de categute cromado 00, para depois suturar o plano músculo-aponeurótico e finalmente a pele.


Terminada a intervenção, foi interrompida a administração do agente inalatório e mantido oxigênio em fluxo de 2 l.m-1 em sistema Mapleson A-Magill até apresentarem reação ao tubo endotraqueal, o qual foi retirado e o ligamentum cricothyroideum suturado com um a dois pontos de prolene 7-0, seguindo-se a sutura da pele cervical com pontos separados de categute cromado 00. No pós-operatório imediato, os animais foram mantidos em ambiente aquecido e confortável até a recuperação total que se deu em média após 3 a 4 horas, quando foram recolocados em suas gaiolas individuais no biotério, liberando-se a alimentação com ração comercial própria para a espécie e água ad libitum.

Nestas condições foram mantidos por 14 dias, novamente anestesiados pela mesma técnica anestésica utilizada no início do experimento e submetidos à eutanásia com injeção intra-cardíaca de cinco ml de solução de cloreto de potássio a 10%.

A necrópsia consistiu na abertura do tórax, exame macroscópico e retirada de novo fragmento pulmonar, da traquéia e da laringe, para exame histopatológico.

Para a análise estatistica dos resultados foram aplicados os seguintes testes:

1-Teste "t" para dados emparelhados, a fim de comparar o peso dos animais antes do ato operatório com o de antes da eutanásia;

2-Teste de análise de variância para grupos não independentes, a fim de comparar a pressão arterial média, assim como o pH arterial, entre os tempos estudados.

Em todos os teste fixou-se em 0,05 ou 5% o nível de rejeição da hipótese de nulidade, assinalando-se com um asterisco (*) os valores significantes.

RESULTADOS

Todos os animais apresentaram perda de peso corpóreo quando comparados os pesos antes do ato operatório e da eutanásia (Tabela 1).

A pressão arterial média registrada em três momentos, isto é, imediatamente após a canulização arterial (A), logo após o colabamento pulmonar (B) e , finalmente, decorridos 30 minutos após o colabamento sob ventilação monopulmonar (C), mostrou ligeira queda da PAM após o colabamento que persistiu até o final, antes da expansão pulmonar (Tabela 2).

O pH arterial durante os mesmos momentos, isto é, imediatamente após a canulização arterial (A), logo após o colabamento pulmonar (B), e decorridos 30 min após o colabamento sob ventilação monopulmonar (C), registrou pequenas variações (Tabela 3).

DISCUSSÃO

As anestesias torácicas freqüentemente necessitam de intubação endotraqueal para ventilação controlada. Caso contrário, quando da abertura pleural, o colabamento do pulmão interferirá sobremaneira na hematose, dificultando as trocas gasosas com aumento da pressão parcial arterial de dióxido de carbono (PaCO2) e diminuição da pressão parcial arterial de oxigênio (PaO2). Assim sendo, a medida do pH arterial constitue-se num parâmetro sensível para avaliarmos o equilibrio ácido-base, porquanto a retenção de dióxido de carbono (CO2) leva à acidose respiratória. A hiperventilação decorrente da ventilação controlada mecânica ou manual ocasiona alcalose hipocapneica11,12. No presente estudo tomamos a medida do pH arterial para avaliarmos a real situação ácido-base decorrente da ventilação controlada manual unicamente do pulmão esquerdo, observando-se alcalose.

Foi dedicado especial cuidado na coleta, armazenamento e transporte das amostras de sangue arterial até o labortatório, pois a análise dos gases sangüíneos arteriais, considerada como um dos mais adequados métodos de monitorização do padrão de trocas gasosas e ventilatória, foi utilizada como referência para a análise das trocas pulmonares de gases do coelho1,12.

O registro eletrocardiográfico em polígrafo foi usado nesta pesquisa para avaliar a freqüência e ritmo cardíacos. Não foi utilizado monitor cardíaco, porque como são desenvolvidos e calibrados para registro gráfico cardíaco de até 200 a 250 batimentos por minuto (bpm), não são eficientes para freqüências cardíacas como as que são encontradas nos coelhos, em torno de 220 bpm e, portanto, considerados indevidos para esta avaliação nestes animais7,8.

O exame microcópico do parênquima pulmonar, através da amostra colhida imediatamente após a abertura do torax (Fig. 3), serviu de comparação para estudo microscópico semelhante realizado 14 dias após (Fig. 4), quando o animal foi submetido à eutanásia e necrópsia. Também, tanto os exames macroscópico como histológico da traquéia e da membrana crico-tireóide encontravam-se normais, sem evidências de estenoses, deiscências ou reações inflamatórias importantes, observando-se boa cicatrização.



A variação das medidas ponderais observadas antes da anestesia e após 14 dias (Tabela 1), reflete a reação endócrino - metabólica ao trauma cirúrgico, com repercussões sobre o peso devido a agressão cirúrgica e alterações metabólicas normalmente observadas em tais condições, o que era esperado.

A redução da PAM observada no momento imediatamente após a canulização arterial provavelmente é devida aos fármacos xilazina e acepromazina. A continuidade de uma PAM menor do que a descrita na literatura (70-103 mmHg) provavelmente foi devida ao efeito do agente inalatório utilizado1,14.

CONCLUSÃO

Diante dos resultados apresentados, conclui-se que a técnica apresentada é um procedimento simples e seguro de anestesia para cirurgia torácica em coelhos.

Kallas E, Schnaider TB, Juliano Y, Novo NF, Kallas IE, Engelman MFB, Kallas AC, Castro LF. Anesthesia model in rabbits for thoracic surgery. Acta Cir Bras [serial online] 2001 Apr-Jun;16(2). Available from URL: http://www.scielo.br/acb.

ABSTRACT: The endotracheal intubation of rabbits is difficult. The anesthetic risk is high because of the narrow difference between the effective and the lethal dose. We used a safe and simple method. Ten male animals received intramuscular injection of acepromazine, cetamine, and xylazine. Ten minutes later, an endotracheal canula was inserted trough a small cervical incision on the crico-tyroid membrane, to administrate oxigen and halothane. Thoracotomy was performed in the 5th. left intercostal space and a pulmonary biopsy too. The left lung collapsed and ventilation of the right lung remained for the next 30 minutes. Arterial blood pH was measured at the beginning of the procedure, after thoracotomy and after 30 minutes of selective ventilation. After 30 minutes, left pulmonary expantion was permited and thoracotomy closed without pneumotorax. As soon as the animals started breathing spontaneously the endotracheal canula was removed and crico-thyroid membrane closed with 7-0 polypropilene suture. Two weeks later the animals were submitted to euthanasia with a new lung biopsy and the trachea and laryng examined. During the procedure the animals had no important haemodinamics or gasometric disturbance. The results were good and brought us to the conclusion that it is a simple and effective method of anesthesia for thoracic surgery in rabbits.

KEY WORDS: 1. Anesthesia. 2. Respiratory system. 3. Thoracotomy. 4. Rabbits.

Conflito de interesses: nenhum

Fontes de financiamento: nenhuma

Endereço para correspondência:

Prof. Dr. Elias Kallas

Rua Raquel de Paula Ribeiro, 7

Pouso Alegre – MG.

37550-000

e-mail: eliaskallas@uol.com.br

Data do recebimento: 17/01/2001

Data da revisão: 20/02/2001

Data da aprovação: 11/03/2001

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  • 1
    . Trabalho realizado no Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA.
    2. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA.
    3. Professor Titular do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA.
    4. Professora Adjunta da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP.
    5. Professor Adjunto da Disciplina de Bioestatística da EPM - UNIFESP.
    6. Professor Assistente do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA.
    7. Professora Adjunta do Departamento de Ciências Fisio-morfológicas e Patologia da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA.
    8. Professor Auxiliar Ensino do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina de Pouso Alegre - UNIPA.
    9. Médico Residente de Cirurgia Geral do Hospital das Clínicas Samuel Libânio - UNIPA.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Set 2003
    • Data do Fascículo
      Jun 2001

    Histórico

    • Aceito
      11 Mar 2001
    • Revisado
      20 Fev 2001
    • Recebido
      17 Jan 2001
    Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento da Pesquisa em Cirurgia https://actacirbras.com.br/ - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: actacirbras@gmail.com