RESUMO
Objetivo verificar os efeitos da oscilação oral de alta frequência sonorizada (OOAFS), do sopro sonorizado em tubo de silicone e da associação das duas técnicas em idosos com presbilaringe, quanto à fonação e respiração.
Métodos ensaio clínico randomizado com 51 idosos diagnosticados por otorrinolaringologista, alocados em três grupos: G1 – OOAFS; G2 – tubo de silicone com sopro sonorizado; G3 – associação das técnicas. Foram realizados oito encontros semanais. As variáveis de desfecho foram: tempo máximo de fonação (TMF), capacidade vital (CV) e qualidade vocal perceptivo-auditiva (escala GRBASI). As avaliações incluíram análise perceptivo-auditiva, espirometria e medidas de tempo máximo de fonação. Os dados foram analisados por Análise de Variância e Equações de Estimação Generalizadas. O estudo encontra-se registrado no Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos, sob o número RBR-46hk7r.
Resultados antes da intervenção, o TMF médio da vogal /a/ foi de 8,1s e, após a terapia, 10,1s; a CV aumentou de 4,04L para 4,52L. As mudanças foram estatisticamente significativas (p<0,001). Não houve alterações na qualidade vocal pela escala GRBASI e não se observaram diferenças relevantes entre técnicas isoladas e combinadas.
Conclusão Os exercícios com OOAFS e sopro sonorizado em tubo de silicone promoveram melhora significativa em tempo máximo de fonação e capacidade vital, sem efeito perceptível na qualidade vocal perceptivo-auditiva. A melhora aerodinâmica observada pode favorecer a resistência vocal, a projeção e a participação comunicativa no cotidiano, ampliando a autonomia e a qualidade de vida dessa população.
Palavras-chave:
Idoso; Envelhecimento; Disfonia; Reabilitação; Voz
ABSTRACT
Purpose To investigate the effects of high-frequency oral oscillation with phonation (VOHFO), sonorous blowing into a silicone tube, and the combination of both techniques in older adults with presbylarynx, regarding phonation and respiration.
Methods Randomized clinical trial with 51 older adults diagnosed with presbylarynx by an otolaryngologist, allocated into three groups: G1 – VOHFO; G2 – silicone tube with sonorous blowing; G3 – combination of the techniques. Eight weekly sessions were conducted. Outcome variables were: maximum phonation time (MPT), vital capacity (VC), and perceptual-auditory vocal quality (GRBASI). Assessments included perceptual-auditory analysis, spirometry, and MPT measurements. Data were analyzed using ANOVA and Generalized Estimating Equations. The study is registered in the Brazilian Clinical Trials Registry (REBEC), number RBR-46hk7r.
Results Before the intervention, the mean MPT for the vowel /a/ was 8.1s, and after therapy, 10.1s; VC increased from 4.04L to 4.52L. These changes were statistically significant (P < 0.001). No changes were found in vocal quality by GRBASI, and no relevant differences were observed between isolated and combined techniques.
Conclusion VOHFO and sonorous blowing into a silicone tube significantly improved MPT and VC, with no perceptible effect on GRBASI. The observed aerodynamic improvement may favor vocal resistance, projection, and communicative participation in daily life, enhancing autonomy and quality of life in this population.
Keywords:
Aged; Aging; Dysphonia; Rehabilitation; Voice
INTRODUÇÃO
As mudanças provenientes do processo de envelhecimento resultam em um declínio progressivo de órgãos e mecanismos necessários para a vida diária. No entanto, essas alterações podem ser minimizadas com a adoção de hábitos saudáveis, como a prática regular de atividades físicas, alimentação equilibrada e estilo de vida ativo(1).
No sistema fonatório, o envelhecimento afeta diretamente as pregas vocais, causando a perda das propriedades elásticas e colágenas, provocando o seu enrijecimento, o que pode, consequentemente, levar à ocorrência de disfonia(2,3).
Além das modificações laríngeas, o envelhecimento compromete de forma significativa o sistema respiratório, essencial para a produção vocal. Alterações como a diminuição da complacência torácica, a redução da força muscular respiratória, a menor capacidade vital e o aumento do espaço morto fisiológico reduzem a eficiência do suporte aéreo para a fonação(4,5). Essas mudanças repercutem diretamente no controle da intensidade, da estabilidade e da duração da emissão vocal, interferindo no tempo máximo de fonação e na resistência fonatória(6).
Com relação à ressonância vocal, o envelhecimento também pode alterar as propriedades acústicas do trato vocal. Posturas de cabeça e pescoço modificadas, juntamente com mudanças morfológicas do trato vocal, geram alterações na ressonância, reduzindo a projeção vocal(7). Essas modificações ressonantes podem acentuar a percepção de voz fraca e pouco clara em idosos, interferindo tanto na tolerância vocal, quanto na inteligibilidade para o ouvinte.
Nos idosos, as disfonias podem ter grande impacto comunicativo e social(8). Nesse contexto, tornam-se necessárias estratégias terapêuticas que promovam a melhor voz possível para essa população(9). Assim, destaca-se a importância de intervenções que fortaleçam os subsistemas de respiração e fonação, favorecendo o equilíbrio da ressonância no trato vocal(10).
Na Fonoaudiologia, a técnica de oscilação oral de alta frequência sonorizada (OOAFS), assim como outras técnicas dos Exercícios de Trato Vocal Semiocluído (ETVSO), pode melhorar a relação fonte-filtro, promovendo um efeito de massagem sobre a laringe e todo o sistema respiratório(11,12).
Apesar dos avanços no uso de ETVSO em diferentes populações, ainda há lacunas importantes no entendimento de seus efeitos em idosos com presbilaringe(13,14). Estudos prévios demonstraram efeitos imediatos de técnicas como a OOAFS e o sopro em tubo de silicone em parâmetros vocais e respiratórios, mas com foco em medidas de efeito imediato, sem considerar intervenções estruturadas de longo prazo(15,16). Achados anteriores ressaltam que, embora os ETVSO promovam ajustes fonte-filtro e benefícios aerodinâmicos, ainda são escassos os estudos que investiguem seus impactos funcionais em idosos(17-19).
Além disso, poucos trabalhos comparam o uso isolado e associado dessas técnicas, deixando em aberto se a combinação poderia potencializar efeitos sobre a respiração e a fonação. Essa lacuna justifica a necessidade de ensaios clínicos randomizados com delineamento rigoroso.
A hipótese deste estudo foi a de que tanto as técnicas isoladas, quanto associadas, promovam melhora significativa nos parâmetros aerodinâmicos (tempo máximo de fonação e capacidade vital) e, possivelmente, na qualidade vocal perceptivo-auditiva, sendo esperado que a associação potencialize esses efeitos em comparação ao uso isolado.
Dessa forma, este estudo teve como objetivo verificar os efeitos da técnica de OOAFS, da técnica com o tubo de silicone e da associação das duas técnicas sobre a fonação e a respiração de idosos com presbilaringe.
MÉTODOS
Aspectos éticos e delineamento do estudo
O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – CEP/UFCSPA, sob parecer nº 3.117.420 (CAAE 05024818.5.0000.5345), e registrado na base Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos (REBEC), sob o código RBR-46hk7r. Trata-se de um ensaio clínico controlado, conduzido com idosos diagnosticados previamente com presbilaringe, por médico otorrinolaringologista. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes do início da pesquisa.
Com o intuito de intensificar o efeito de massagem nas pregas vocais(20) e estimular a mobilidade da mucosa em borda livre(21), foram selecionados os seguintes Exercícios de Trato Vocal Semiocluído (ETVSO): a técnica de oscilação oral de alta frequência sonorizada (OOAFS), realizada com o dispositivo New Shaker, e o sopro sonorizado em tubo de silicone imerso em água. Originalmente usado na fisioterapia respiratória para facilitar a limpeza brônquica, o New Shaker gera vibração e variação no fluxo aéreo por meio de uma esfera metálica interna(22).
Participantes
A amostra inicial foi composta por 65 idosos. A randomização dos participantes foi realizada por meio do site Random(23) que gerou números aleatórios de 1 a 51, garantindo a distribuição imparcial entre os grupos. Não foi utilizado procedimento de ocultação de alocação (allocation concealment) e os avaliadores não foram cegados para os grupos de intervenção.
Foram incluídos no estudo indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, com diagnóstico otorrinolaringológico prévio de presbilaringe e que não haviam realizado terapia vocal anteriormente. Foram excluídos aqueles que apresentavam histórico de fonoterapia voltada à voz, distúrbios neurológicos adquiridos, como doença de Parkinson, acidente vascular cerebral e demências, doenças respiratórias graves descompensadas, a exemplo de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) em estágio avançado, ou asma não controlada, neoplasias de cabeça e pescoço, alterações cognitivas ou motoras que pudessem comprometer a execução dos exercícios vocais, bem como perda auditiva severa sem uso de prótese auditiva, que dificultasse a percepção da própria voz. Após a aplicação desses critérios, 14 indivíduos foram excluídos por histórico de fonoterapia prévia, resultando em uma amostra final de 51 participantes, conforme ilustrado na Figura 1.
Os participantes foram alocados em três grupos: Grupo 1 (G1) - grupo no qual foi aplicada a técnica de OOAFS; Grupo 2 (G2) - grupo que realizou a técnica de sopro sonorizado em tubo de silicone imerso em água; Grupo 3 (G3) - associação da técnica de OOAFS e sopro sonorizado em tubo de silicone imerso em água. As características dos grupos de participantes do estudo estão especificadas na Tabela 1.
Intervenções
As intervenções foram conduzidas por um fonoaudiólogo especialista em voz, com os participantes sentados em postura ereta, com a mão não utilizada repousando sobre as pernas. As sessões ocorreram semanalmente, durante oito semanas, com duração de 30 minutos, no laboratório de voz e fala da UFCSPA.
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G1 (OOAFS): os participantes realizaram a emissão do som /u/ em tom e intensidade habituais por três minutos, soprando pelo dispositivo New Shaker, que foi mantido em ângulo de 90º em relação ao filtro labial, evitando o inflar das bochechas(24).
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G2 (sopro sonorizado em tubo de silicone imerso em água): foi utilizada uma garrafa plástica de 510 ml, preenchida com dois terços de água. Os participantes foram orientados a submergir o tubo de silicone, com 35 cm de comprimento e 9 mm de diâmetro interno, a uma profundidade de 2 cm em relação à superfície da água, produzindo o som /vu/ em tom e intensidade habituais, durante três minutos. A profundidade de 2 cm foi selecionada por representar um nível baixo de resistência, adequado para indivíduos idosos com presbilaringe, favorecendo a retroalimentação aérea sem gerar sobrecarga excessiva ao trato vocal. Tal parâmetro técnico buscou assegurar a execução segura do exercício e a comparabilidade com estudos prévios que utilizaram configurações semelhantes(25).
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G3 (associação das duas técnicas): os participantes realizaram a técnica de OOAFS por um minuto e 30 segundos, seguida imediatamente pela técnica de sopro em tubo de silicone por um minuto e 30 segundos, totalizando três minutos de exercício vocal.
Todos os participantes receberam os dispositivos necessários para a realização domiciliar dos exercícios, com a orientação de realizá-los duas vezes ao dia, durante três minutos, conforme o protocolo de cada grupo.
Procedimentos
Todos os registros e avaliações foram feitos em dois momentos: o primeiro deles antes da primeira sessão de intervenção e o segundo após a última sessão de intervenção.
Registro e gravação das vozes
Em ambiente silencioso, foi solicitada a emissão sustentada da vogal /a/ e fala encadeada por meio da contagem de 1 até 10. O registro foi efetuado individualmente, em um ambiente silencioso e com gravador digital, modelo Sony LCD-PX440, mantendo a distância de 5 cm na emissão da vogal sustentada e na emissão da fala automática, com os participantes em pé.
Avaliação perceptivo-auditiva
Utilizou-se a escala GRBASI(26,27), com a avaliação de seis parâmetros: G (grade, grau geral de alteração), R (roughness, rugosidade ou rouquidão), B (breathness, soprosidade), A (asteny, astenia ou fraqueza), S (strain, tensão) e I (instability, instabilidade). Cada item varia de 0 a 3: 0 corresponde a ausente, 1 a grau leve, 2 a grau moderado e 3 a grau intenso. Três juízes fonoaudiólogos, especialistas em voz e com experiência clínica, foram recrutados pelo método snowball. Eles receberam os arquivos de áudio numerados aleatoriamente, sem qualquer identificação dos participantes quanto a nome, gênero, idade ou momento da intervenção. Todos os avaliadores foram previamente treinados com estímulos-âncora, a fim de garantir maior consistência na análise perceptivo-auditiva. Para cada item avaliado, considerou-se a concordância mínima de dois juízes, adotando-se como escore final o valor atribuído pela maioria.
Medidas aerodinâmicas
Os tempos máximos de fonação (TMF) das vogais /a/ e dos sons /s/ e /z/ foram cronometrados duas vezes para cada um dos sons-alvo e os participantes foram orientados a ficarem em pé com os braços ao longo do corpo. Foi selecionado o melhor tempo das emissões para cada som e a relação s/z. Os valores de referência para idosos saudáveis indicam médias de 20,96 segundos para mulheres e 23,23 segundos para homens(28).
Avaliação espirométrica
Para a avaliação espirométrica, foi utilizado o espirômetro Minispir® - Medical International Research (MIR) para coletar os dados de capacidade vital (CV). Os participantes foram orientados a sentarem-se com os dois pés apoiados ao chão, com a coluna alinhada e com as narinas ocluídas para execução da expiração forçada no bocal por três vezes consecutivas, sendo escolhido para a análise o maior valor entre as três medidas(29).
Análise estatística
As análises estatísticas foram conduzidas conforme os pressupostos de normalidade, verificados pelo teste de Shapiro-Wilk, e de homogeneidade de variâncias, avaliados pelo teste de Levene. As variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio padrão, quando apresentaram distribuição normal, ou por mediana e amplitude interquartílica, quando apresentaram distribuição assimétrica. As variáveis categóricas foram descritas por frequências absolutas e relativas.
Para a comparação de médias entre grupos foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA), enquanto que, para as proporções, empregou-se o teste Qui-quadrado de Pearson. A comparação entre os dois momentos de avaliação (pré e pós-intervenção fonoaudiológica) foi realizada por meio do modelo de Equações de Estimativas Generalizadas (GEE), complementada pelo teste de Bonferroni. O modelo linear foi aplicado às variáveis com distribuição normal, enquanto o modelo Tweedie com transformação logarítmica foi utilizado para variáveis com distribuição assimétrica.
A concordância entre os três juízes da escala GRBASI foi avaliada pelo coeficiente de Fleiss’ Kappa. Ressalta-se que, nesse tipo de análise, o parâmetro de interesse é o valor de k, que expressa o grau de concordância além do acaso. Os valores de Kappa são classificados em: pobre (<0,00), leve (0,00–0,20), razoável (0,21–0,40), moderada (0,41–0,60), substancial (0,61–0,80) e quase perfeita (0,81–1,00). O nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05) e as análises foram conduzidas no software SPSS, versão 28.0. A concordância interavaliadores da escala GRBASI está apresentada na Tabela 2.
O cálculo amostral foi realizado no software G*Power, versão 3.1.9.7, com base em estudo publicado de Saters(17). Utilizou-se o teste F tests – ANOVA: Repeated measures, within–between interaction. Foram adotados o tamanho de efeito f = 0,35, o nível de significância α = 0,05, o poder estatístico (1-β) = 0,80, a correlação entre medidas repetidas de 0,60 e a correção de esfericidade ε = 1. Como resultado, obteve-se um tamanho de amostra recomendado de 30 participantes (dez por grupo). Considerando perdas de aproximadamente 20%, estimou-se um total de 36 participantes (12 por grupo) para assegurar a potência mínima de 80% para a interação grupo×tempo.
RESULTADOS
Escala GRBASI
Na análise perceptivo-auditiva da qualidade vocal pela escala GRBASI, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os momentos pré e pós-intervenção fonoaudiológica em nenhum dos parâmetros avaliados. As medianas de grau geral, rugosidade, soprosidade, tensão e instabilidade mantiveram-se estáveis nos três grupos, sem indicação de melhora clínica perceptível após o tratamento. A astenia apresentou valores constantes, impossibilitando o cálculo estatístico. Os resultados detalhados encontram-se na Tabela 3.
Tempos máximos de fonação
Os tempos máximos de fonação apresentaram evolução significativa após a intervenção em todos os grupos e para todos os sons analisados. Embora as médias iniciais tenham permanecido abaixo dos valores de normalidade descritos na literatura(30), verificou-se aumento nas medidas pós-terapia, com valores em vogais e fricativas.
Na vogal /a/ e nos sons fricativos /s/ e /z/, os três grupos obtiveram aumentos semelhantes, sem diferenças intergrupais relevantes.
A relação s/z apresentou discreta redução em todos os grupos após a intervenção, com significância estatística apenas para o Grupo 1 (p=0,024). Esses resultados estão descritos na Tabela 4.
Capacidade vital
Em relação à capacidade vital, os valores médios permaneceram dentro dos padrões de normalidade(31) em ambos os momentos avaliativos. Entretanto, verificou-se melhora estatisticamente significativa dentro de cada grupo após a intervenção (p<0,001).
Não houve diferenças significativas quando comparadas as técnicas isoladas e a técnica combinada, conforme demonstrado pelo valor de interação (p=0,113). Os resultados completos estão apresentados na Tabela 5.
DISCUSSÃO
Na avaliação perceptivo-auditiva pela escala GRBASI, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre os momentos pré e pós-intervenção. Esse achado pode estar relacionado às características da amostra, em que a média de idade foi superior a 70 anos. O envelhecimento natural das estruturas laríngeas — como atrofia da mucosa, adelgaçamento da lâmina própria, perda de fibras elásticas e colágenas e redução da mobilidade laríngea — compromete a qualidade vocal e pode limitar a magnitude dos efeitos terapêuticos(26). Além disso, a subjetividade inerente à avaliação perceptivo-auditiva(27) pode ter contribuído para a variabilidade entre juízes, como evidenciado pela baixa concordância observada em alguns parâmetros.
A escala GRBASI, embora amplamente utilizada na prática clínica, apresenta limitações em termos de sensibilidade para detectar alterações sutis, sobretudo em populações idosas, quando comparada a escalas como a CAPE-V (Consenso da Avaliação Perceptivo-Auditiva da Voz), que demonstra maior precisão na identificação de pequenas mudanças vocais(15,16). É possível, portanto, que as modificações objetivas identificadas neste estudo — como o aumento nos tempos máximos de fonação (TMF) e na capacidade vital (CV) — não tenham atingido magnitude suficiente para impactar a percepção vocal de forma significativa no curto período de intervenção. Cabe destacar, ainda, que a forma de análise estatística aplicada à GRBASI apresentou restrições metodológicas, pois se baseou em medidas de tendência central e dispersão em detrimento de modelos mais apropriados para variáveis ordinais. Essa abordagem pode ter obscurecido a real distribuição das respostas e reduzido a capacidade de identificar variações clínicas relevantes.
Em relação aos parâmetros aerodinâmicos, os dados de TMF foram inferiores à média de 11 segundos para a vogal /a/ relatada em estudo com idosos de idade semelhante(30), mas apresentaram aumento uniforme após a intervenção em todos os grupos. A CV dos participantes manteve-se dentro da normalidade para a faixa etária(31), ainda que se saiba que sua diminuição é um dos principais efeitos do envelhecimento respiratório, podendo comprometer a sustentação da emissão vocal e levar ao uso de padrões compensatórios, como maior tensão laríngea(32). Assim, mesmo que moderadas, as melhorias em TMF e CV podem ter relevância clínica, pois favorecem maior estabilidade, projeção e resistência vocal. Esses aspectos contribuem para reduzir o esforço fonatório durante situações de fala prolongada, aumentar a inteligibilidade e permitir que o idoso mantenha conversas em ambientes ruidosos ou com múltiplos interlocutores. Do ponto de vista funcional, tais ganhos podem facilitar a participação em interações familiares, atividades sociais e contextos comunitários, promovendo maior integração e reduzindo o risco de isolamento social — condição frequentemente associada ao envelhecimento e a perdas comunicativas. Além disso, uma voz mais estável e resistente pode aumentar a autoconfiança do idoso no uso da fala, fortalecendo sua autonomia e qualidade de vida.
No presente estudo, a utilização da OOAFS em idosos com presbilaringe mostrou benefícios aerodinâmicos, como o aumento nos tempos máximos de fonação e na capacidade vital, sugerindo melhora na coordenação pneumofonoarticulatória e maior eficiência fonatória. Esses resultados reforçam o potencial da técnica como recurso terapêutico para essa população, que apresenta alterações estruturais decorrentes do envelhecimento laríngeo. Ainda assim, a literatura aponta que a evidência sobre a eficácia da OOAFS permanece incipiente e carece de ensaios clínicos randomizados com maior poder estatístico(10). Nesse contexto, estudos primários adicionais também têm relatado resultados preliminares, com tendência a melhorias no desempenho vocal e aerodinâmico, o que reforça a necessidade de novas investigações(20).
Outro achado relevante foi a ausência de diferenças significativas entre o uso isolado das técnicas e sua associação, sugerindo que a combinação de exercícios não potencializa necessariamente os efeitos em idosos com presbilaringe. Esse resultado difere de achados em populações distintas: em indivíduos com disfonia comportamental, a OOAFS apresentou efeitos imediatos mais favoráveis do que o LaxVox (tubo de silicone imerso em água) na qualidade vocal e em sintomas autorreferidos(25); em idosas saudáveis, a técnica com tubo de ressonância reduziu rugosidade e aumentou a facilidade na contagem, efeito não observado com a OOAFS(24). Além disso, revisões sistemáticas e metanálises confirmam que os exercícios de trato vocal semiocluído produzem benefícios consistentes em medidas acústicas, perceptivas e de autoavaliação em disfonias(11,12). No contexto dos idosos com presbilaringe, o fato de não terem sido observadas diferenças entre o uso isolado ou combinado das técnicas indica que ambas podem ser aplicadas de forma independente, com potencial para gerar benefícios clínicos. Esse dado oferece subsídios para a atuação clínica fonoaudiológica, pois permite que o profissional selecione a técnica mais viável, de acordo com os recursos disponíveis, o perfil do paciente e a facilidade de execução, favorecendo a aplicabilidade em atendimentos clínicos e domiciliares.
É importante destacar, contudo, limitações metodológicas do presente estudo. O tamanho reduzido da amostra representou uma limitação metodológica importante, restringindo o poder estatístico para detectar diferenças sutis entre os grupos. Embora tenha sido realizado cálculo amostral com base em estudo de Saters(17), essa limitação persiste e deve ser considerada na interpretação dos resultados. Além disso, não houve cegamento completo dos avaliadores, o que pode ter introduzido vieses na análise perceptivo-auditiva. Houve baixa concordância entre os juízes em alguns parâmetros da escala GRBASI, como evidenciado pelos valores de Fleiss’ Kappa na Tabela 2, em que os coeficientes observados enquadraram-se majoritariamente nos níveis de concordância leve a razoável, o que indica variabilidade na avaliação perceptivo-auditiva. Também se destaca a ausência de medidas de magnitude de efeito e intervalos de confiança, que teriam contribuído para qualificar melhor a relevância clínica dos achados. O tempo de intervenção de oito semanas pode ser considerado relativamente curto e não houve seguimento longitudinal, o que impossibilita verificar a manutenção dos ganhos.
Deve-se considerar também a possibilidade de efeito de aprendizagem decorrente da prática domiciliar, que pode ter contribuído para os resultados de forma independente da intervenção supervisionada. Por fim, a generalização dos achados restringe-se a idosos sem comorbidades graves ou histórico prévio de terapia vocal, limitando a extrapolação para perfis clínicos mais heterogêneos.
Outro ponto a ser considerado é o de que a análise da função respiratória e fonatória foi realizada por medidas indiretas, como o TMF, que, embora útil clinicamente, apresenta menor precisão que métodos instrumentais mais robustos, como pressão subglótica e fluxo aéreo. O uso de medidas fisiológicas complementares poderia aumentar a sensibilidade para detectar mudanças decorrentes da intervenção.
Em conjunto, os resultados sugerem que os exercícios de trato vocal semiocluído empregados neste estudo podem auxiliar na manutenção do equilíbrio respiratório em idosos com presbilaringe. Estudos futuros com delineamentos metodológicos mais robustos, maior tempo de acompanhamento e inclusão de medidas fisiológicas adicionais são necessários para confirmar e expandir os resultados obtidos. Investigações subsequentes devem considerar amostras maiores e mais heterogêneas, incluindo idosos com diferentes perfis clínicos e histórico prévio de terapia vocal, de modo a ampliar a generalização dos achados. Além disso, a incorporação de medidas instrumentais mais precisas, como pressão subglótica, fluxo aéreo e análise detalhada da função respiratória poderia aumentar a sensibilidade na detecção de mudanças decorrentes das intervenções.
CONCLUSÃO
Os exercícios de oscilação oral de alta frequência sonorizada (OOAFS) e de sopro sonorizado em tubo de silicone imerso em água demonstraram efeitos estatisticamente significativos sobre as medidas aerodinâmicas de tempo máximo de fonação (TMF) e capacidade vital (CV) em idosos com presbilaringe. No entanto, não foram observadas mudanças na qualidade vocal perceptivo-auditiva (GRBASI), indicando que os resultados encontrados não se refletiram em alterações perceptíveis da fonação.
Além disso, não foram verificadas diferenças entre as técnicas aplicadas isoladamente e a associação entre elas, sugerindo que, para esse perfil populacional, os efeitos são equivalentes independentemente da forma de aplicação.
Do ponto de vista clínico, esses achados reforçam que exercícios de trato vocal semiocluído, como a OOAFS e o sopro sonorizado em tubo de silicone, podem ser incorporados de maneira segura e acessível em programas terapêuticos voltados a idosos, especialmente aqueles com presbilaringe. A melhora aerodinâmica observada pode favorecer a resistência vocal, a projeção e a participação comunicativa no cotidiano, ampliando a autonomia e a qualidade de vida dessa população. Investigações futuras, com amostras maiores, diferentes perfis clínicos e acompanhamento longitudinal são necessárias para consolidar protocolos de intervenção baseados em evidências e expandir a aplicabilidade dessas técnicas no contexto da reabilitação vocal geriátrica.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCSPA e ao Programa de Pós Graduação em Ciências da Reabilitação da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
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Trabalho realizado na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA – Porto Alegre (RS), Brasil.
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Declaração de Disponibilidade de Dados:
Os dados de pesquisa não estão disponíveis.
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Financiamento:
Nada a declarar.
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Editado por
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Editora-Chefe:
Maria Cecilia Martinelli Iorio.
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Editor Associado:
Leonardo Wanderley Lopes.
Disponibilidade de dados
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
01 Dez 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
24 Jul 2025 -
Aceito
28 Set 2025


