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A recrudescência da sífilis congênita: um alerta

A sífilis congênita é causada pela transmissão do Treponema pallidum da gestante infectada para o feto. A maioria dos recém-nascidos com sífilis congênita é infectada no útero, porém, a contaminação também pode ocorrer por contato com uma lesão genital ativa, no momento do parto(11. Kwak J, Lamprecht C. A review of the guidelines for the evaluation and treatment of congenital syphilis. Pediatr Ann. 2015;44(5):e108-14. http://dx.doi.org/10.3928/00904481-20150512-10
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).

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no ano de 2013, 1,9 milhões de gestantes estavam infectadas pela sífilis, em todo o mundo. Embora a erradicação da sífilis congênita seja uma prioridade global (OMS), regional (Organização Pan-Americana da Saúde/OPAS) e nacional (Ministério da Saúde/MS), nos últimos dez anos houve um progressivo aumento na taxa de incidência da doença, no Brasil(22. Pan American Health Organization. 2014 update: elimination of mother-to-child transmission of HIV and syphilis in the Americas. Washington, DC: Unit of HIV, Hepatitis, Tuberculosis, and Sexually Transmitted Diseases; 2014 [citado em 11 nov 2015]. Disponível em: http://www.unicef.org/lac/Elimination_MTCT_in_the_Americas_2014_ENG.pdf
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,33. Sífilis 2015. Bol Epidemiol. 2015 [citado em 9 nov 2015];4(1). Disponível em: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/57978/_p_boletim_sifilis_2015_fechado_pdf_p__18327.pdf
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).

O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde sobre a sífilis, lançado em 2015, traz dados alarmantes. Uma das informações mais preocupantes dá conta que, em 2004, a taxa de infecção era de 1,7 casos para cada 1.000 nascidos vivos. Em 2013, essa taxa aumentou para 4,7, ou seja, um aumento de mais de 100%, em menos de dez anos. Apenas a título de comparação, em 2011, no Canadá, a mesma taxa era de 0,8 crianças infectadas para cada 1.000 nascidas vivas, ou seja, seis vezes menor que no Brasil. Acompanhando estes índices, a taxa de mortalidade infantil por sífilis também aumentou nos últimos dez anos, no Brasil, passando de 2,2 mortes por 100.000 nascidos vivos em 2004, para 5,5 em 2013(33. Sífilis 2015. Bol Epidemiol. 2015 [citado em 9 nov 2015];4(1). Disponível em: http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2015/57978/_p_boletim_sifilis_2015_fechado_pdf_p__18327.pdf
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,44. Infectious Diseases and Immunization Committee. Congenital syphilis: no longer just of historical interest. Paediatr Child Health. 2009;14(5):337.).

Junte-se a estes números o dado que indica que a perda auditiva é a deficiência sensorial congênita mais comum em todo o mundo, obtemos um panorama do problema em nosso país. Segundo a OMS, há, no mundo, 360 milhões de pessoas com surdez incapacitante, sendo que 50% dos casos poderiam ter sido evitados, como, por exemplo, ocorre com a sífilis(55. World Health Organization. Deafness and hearing loss. Geneva: World Health Organization; 2015 [citado em 9 nov 2015]. Disponível em: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs300/en/
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).

A multiplicidade dos quadros auditivos, vestibulares e neurológicos, assim como o polimorfismo clínico e as potenciais sequelas decorrentes da sífilis congênita justificam a atenção, face aos dados epidemiológicos recentemente apresentados pelo Ministério da Saúde.

Disacusias progressivas unilaterais ou bilaterais, sem etiologia definida, bem como vestibulopatias centrais e periféricas podem ter a sífilis congênita como pano de fundo. Importante lembrar, também, que, além da sífilis, fazem parte do diagnóstico diferencial das disacusias congênitas infecciosas outras doenças, como a toxoplasmose, a citomegalovirose, o herpes, a AIDS e a rubéola gestacional(66. Rashid U, Yaqoob U, Bibi N, Bari A. Symptomatic early congenital syphilis: a common but forgotten disease. J Coll Physicians Surg Pak. 2015;25(Suppl 2):S137-9. http://dx.doi.org/10.2015/JCPSP.S137S139.
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).

Portanto, a união de esforços entre os diferentes níveis da administração pública é essencial, a fim de promover iniciativas de melhoria de processos de cuidados e educação para profissionais que realizam pré-natal, triagem auditiva neonatal e acompanhamento clínico dessas crianças. Só estas iniciativas poderiam mitigar os danos e consolidar de forma mais eficiente a prevenção e o tratamento desta doença.

REFERÊNCIAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015
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