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"Maria Crioula", "José Pretinho" e o "Mulato claro de olho de gato": Representações de mestiços, pretos e negros no sertão baiano (1870 1930)

Resumos

Esse artigo tem por propósito discutir acerca das representações construídas sobre a população afro-descendente (mestiços, pretos, negros) por diferentes atores da realidade do sertão baiano, entre os anos de 1870 a 1930, particularmente na região de Vitória da Conquista, sudoeste do Estado da Bahia. As fontes que utilizo são, sobretudo, jornais e processos crimes, por se tratar de documentos que possibilitam adentrar no universo cotidiano da população mais pobre.

representações sociais; afro-descendentes; sertão baiano


This article intends to discuss the constructed representations of the population of African descent (mestizos and blacks) by different actors in the reality of the backlands, between the years 1870 to 1930, particularly in the region of Vitoria da Conquista, in the southwest of the state of Bahia. The sources used are, above all, newspapers and crimes cases, as it is possible that such documents facilitate entrance into the everyday world of the poorer population.

social representations; african-descendants; backlands Bahia


  • 2 Ver Pierre Bourdieu, A distinção: crítica social do julgamento, Porto Alegre: Editora Zouk, 2007;
  • e Pierre Bourdieu. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 2005.
  • 3
    3 Ver Bourdieu, A distinção, p. 447.
  • 5 Ver Homi K Bhabha, O local da cultura, Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998, p. 20.
  • 7 Ver Josildeth Gomes Consorte, "A mestiçagem no Brasil: armadilhas e impasses", Revista Margem, n.10 (1999), p. 109.
  • 8 Parafraseando aqui Eneida A. Reis, Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco, São Paulo: Altana, 2002.
  • 11 Ver Eduardo Martins, Os pobres e os termos de bem viver: novas formas de controle social no Império do Brasil (Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual Paulista, 2003) p. 102.
  • 13 João Batista Mazzieiro, "Sexualidade criminalizada: prostituição, lenocínio e outros delitos - São Paulo 1870/1920". Revista Brasileira de História [online] vol.18, n.35, 1998.
  • 14 Esse processo foi localizado por Itamar Aguiar e citado em sua dissertação. Para mais detalhes, ver Itamar Pereira de Aguiar, "As religiões afro-brasileiras em Vitória da Conquista: caminhos da diversidade"(Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1999), p. 66.
  • 23 Parece-me que Balbina tinha recebido santo, quando ela disse "Recebo a vós senhô" e o curandeiro pediu que a entidade saísse, "O curandeiro dissera discunjura de sinhô que aqui está doutô". O que seria esse conjuro? Analisando o México Colonial, Serge Gruzinski diz que o conjuro era uma forte idolatria entre a população indígena, que, por meio dela, chegava até o outro plano. Segundo ele " é mais um poder sobre os seres e as coisas do que um saber, é uma práxis, um estabelecimento de relações, mais do que uma especulação intelectual. O que não significa que a exclua completamente: curandeiros e outros poderem ter sido levados a pensar o conjunto dos conjuros que conheciam, mas este não era seu objetivo imediato e habitual". Continua ele que o conjurador é aquele que recebe por um período de tempo a energia divina, como fazem os homens deuses pré-hispânicos; ele é a encarnação do próprio deus e poderia manipular como bem quisesse uma determinada situação, mesmo que não fosse fácil transmitir por meio de palavras o mundo criado pelas invocações. Quanto aos medicamentos utilizados pelo curandeiro, existe o uso de elementos do universo medicinal indígena, como o ananás e a banha. A utilização de óleos e/ou banhas constitui-se numa prática comum entre os curandeiros/feiticeiros do Brasil Colônia. Laura de Mello e Souza descreve vários exemplos de utilização de untos de carneiros (sebo), banhas e diferentes tipos de óleos. Para mais informações, ver Serge Gruzinski, A colonização do imaginário, São Paulo: Companhia das Letras, 2003;
  • e Laura de Mello e Souza, O diabo e a Terra de Santa Cruz. Feitiçaria e religiosidade popular no Brasil Colônia, São Paulo: Companhia das Letras, 1986.
  • 25 Analisando as religiões afro-brasileiras em Vitória da Conquista (1930 a 1999), Itamar Aguiar nos diz que, nessa cidade, em algumas casas a entidade do caboclo aboiador foi sincretizada com Bom Jesus da Lapa e em outras com Oxalá. Segundo John Thornton, dos elementos culturais de matriz africana, indubitavelmente as religiões foram aquelas que alcançaram um grau maior de mu-tabilidade nas Américas. Para mais informações, ver Pereira de Aguiar, "As religiões afro-brasileiras em Vitória da Conquista", p. 110 e 132;
  • John Thonrnton, A África e os africanos na formação do mundo atlântico, Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
  • 62 Parafraseando aqui Gislene Aparecida dos Santos, A invenção do ser negro, São Paulo/Rio de Janeiro: Pallas/EDUC/Fapesp, 2002.
  • 76 Uma discussão sobre a presença negra em Ituaçú e a atuação de Themístocles Álvares Lima pode ser encontrada em Washington Santos Nascimento, "Famílias escravas, libertos e a dinâmica da escravidão no sertão baiano (1876-1888)", Afro-Ásia, n. 35 (2007), pp. 220-40;
  • e Washington Santos Nascimento, "Escravidão e memória: os negros no Arraial do Brejo Grande e na cidade de Ituaçu, Ba", Memória Conquistense, n. 7 (2007), pp. 19-38.
  • 78 Bourdieu, A distinção, p. 444.
  • 79 Ver Consorte, A mestiçagem no Brasil, p. 110-1.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Abr 2014
  • Data do Fascículo
    Dez 2013

Histórico

  • Recebido
    23 Jan 2009
  • Aceito
    10 Ago 2012
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