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Caminhos da visibilidade: a ascensão do culto a jurema no campo religioso de Recife

Resumos

Neste artigo discutimos a ascensão da jurema no campo religioso de Recife - PE. Esta religiosidade tem origem indígena e está, muitas vezes, presente nos terreiros de candomblé, xangô e umbanda. A visibilidade que a jurema tem no cenário religioso atual é vislumbrada a partir da confluência de dois rituais, o Kipupa e a Caminhada dos Terreiros de Pernambuco. Tomamos estes dois momentos como eventos que envolvem questões relacionadas à religião, à política, à tradição, à etnicidade e questões de identidade. Numa tentativa de perseguir a rede latouriana, podemos perceber disputas entre campos de poder distintos que envolvem não só as comunidades religiosas, mas que se estendem às instituições governamentais e a todo conjunto social. A mediação entre as formas culturais e políticas será um espaço privilegiado para a compreensão de como se dá a ascensão da jurema no campo religioso pernambucano.

jurema; campo religioso; política; cultura


This article discusses the ascension of jurema in the religious sphere of Recife, Pernambuco, Brazil. This religiosity has its indigenous origin and is frequently present in terreiros of Candomblé, Xangô, and Umbanda. The visibility that jurema suffers in current religious scenario is glimpsed from the confluence of two rituals: the Kipupa and the Caminhada of Terreiros of Pernambuco. We will observe these two moments as events that involve issues related to religion, politics, tradition, ethnicity, as well as issues of identity. In an attempt to pursue the Latourian network, we can perceive disputes between distinct fields of power involving not only religious communities, but the disputes that extend to governmental institutions and to the whole social set. The mediation between cultural forms and policies will be a privileged strategy for understanding how the ascension of jurema occurs in the religious sphere of Pernambuco.

Jurema; religious sphere; politics; culture


  • 1
    1 Georg Simmel, Religião Ensaios vol. 1, São Paulo: Olho d'Água, 2010.
  • 2
    2 Citamos como exemplo alguns trabalhos: Mário de Andrade, Música de feitiçaria no Brasil, São Paulo: Martins Editora, 1983;
  • Luiz Assunção, O reino dos mestres: a tradição da jurema na umbanda nordestina, Rio de Janeiro: Pallas, 2006;
  • Roger Bastide, "Imagens do Nordeste místico em branco e preto", O Cruzeiro (1945);
  • Maria do Carmo Brandão e Luís Felipe Rios, "O catimbó-jurema do Recife, in Reginaldo Prandi (org.), Encantaria brasileira: o livro dos mestres, caboclos e encantados (Rio de Janeiro: Pallas, 2001), pp. 160-81;
  • Luís da Câmara Cascudo, Meleagro: depoimentos e pesquisa sobre a magia branca no Brasil, Rio de Janeiro: Agir, 1978;
  • Álvaro Carlini, Cachimbo e maracá: o catimbó da missão (1983), São Paulo: CCSP, 1993;
  • Maria Rosário Carvalho, Edwin Reesink e Julie Cavignac (orgs.), Negros no mundo dos índios: imagens, reflexos, alteridades, Natal: EDUFRN, 2011;
  • Clarisse Novaes Motta e Ulisses Pessoa Albuquerque (orgs. ), As muitas faces da jurema: da espécie botânica à divindade afro-indígena, Recife: NUPEEA, 2006;
  • Roberto Motta, "A jurema do Recife: religião indo-afro-brasileira em contexto urbano", in B. C. Labate e S. L. Goulart (orgs.), O uso ritual das plantas de poder (Campinas: Mercado de Letras, 2005), pp. 279-99;
  • Sandro Guimarães de Salles, À sombra da jurema encantada: mestres juremeiros na umbanda de Alhandra, Recife: UFPE, 2010;
  • Waldemar Valente, Sincretismo religioso afro-brasileiro, São Paulo: Nacional, 1955;
  • René Vandezande, "Catimbó: pesquisa exploratória sobre uma forma nordestina de religião mediúnica" (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Pernambuco, 1975).
  • 3 Clarice Novaes da Mota e José Flávio Pessoa de Barros, "O complexo da Jurema: representações e drama social negro-indígena", in Clarice Novaes da Mota, Ulysses Paulino de Albuquerque (orgs.), As muitas faces da Jurema: de espécie botânica a divindade afro-indígena (Recife: Bagaço, 2002), pp. 19-60.
  • 10 Roberto Motta, "O corpo e a religião no xangô e na umbanda", Revista de Teologia e Ciências da Religião, ano VII, n. 7 (2008), pp. 55-69.
  • 11 Marshal Sahlins, Ilhas de História, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
  • 12 Sahlins, Ilhas de História, p. 191.
  • 13 Michelle Gonçalves Rodrigues, "Conhecimento e alteridade: história, estrutura, função, cultura e significado em três perspectivas antropológicas", CSOline Revista Eletrônica de Ciências Sociais, ano 2, v. 5 (2008), pp. 242-65.
  • 15 Clifford Geertz, Nova luz sobre a Antropologia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 157.
  • 17 Geertz, Nova luz sobre a Antropologia, pp. 151-2.
  • 18 Clifford Geertz, A interpretação das culturas, São Paulo: LCT, 1989, p. 90.
  • 19 Roberta Bivar Carneiro Campos e Eduardo Henrique Araújo de Gusmão, "Religião em movimento: relações entre religião e modernidade", Campos, v. 11, n. 1 (2011), pp. 65-83.
  • 27 Roberta Bivar Carneiro Campos, "Les Défis de Xambá: un terreiro Devenu Quilombo: analyse du syncretisme et de l'africanité", Cahiers du Brésil Contemporain, n. 75/76 (2010), pp. 91-112.
  • 30 Fonte Associação Caminhada dos Terreiros de PE (ACTP), "5ª Caminhada dos Terreiros de Pernambuco", Folheto impresso. 2011.
  • 31 Mattjs van der Port, "Candomblé in Pink, Green and Black. Re-scripting the Afro-Brazilian Religious Heritage in the Public Sphere of Salvador, Bahia", Social Anthropology, v. 13, n. 1 (2005), pp.3-6.
  • 32 Sahlins, Ilhas de História, p. 182.
  • 33 Quando utilizamos o termo linguagem nos remetemos a Jürgen Habermas, "Religion in the Public Sphere", European Journal of Philosophy, v. 14, n. 1 (2006), p. 1-25.
  • 34 Gabriel Tarde, A opinião e as massas, São Paulo: Martins Fontes, 2005.
  • 35 Max Weber, A ética protestante e o espírito do capitalismo, São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
  • 36 Georg Simmel, "O conceito e a tragédia da cultura", in Jessé Souza e Berthold Öelze (orgs.), Simmel e a modernidade (Brasília: Editora da UnB, 2005).
  • 37 Geertz, Nova luz sobre a Antropologia, p. 157
  • 40 Marshal Sahlins, "O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um objeto em vias de extinção. Parte I", Mana, v.3, n.1 (1997), pp. 41-73.
  • 41 Sahlins, "O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica", p. 41.
  • 46 Desejamos destacar que o processo de compreensão dessas alianças ocorre nos moldes metodológicos propostos por Bruno Latour em duas obras: Jamais fomos modernos, São Paulo: Editora 34, 2005;
  • e Changer de Société. Refaire de la Sociologie, Paris: La Découverte, 2006.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 2013
  • Data do Fascículo
    2013

Histórico

  • Recebido
    23 Ago 2012
  • Aceito
    24 Out 2012
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