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Infecção pelo vírus da hepatite C no nordeste do Brasil: alta prevalência inesperada do genotipo 3a e ausência de genotipos africanos

A organização e diversidade genômica do vírus da hepatite C define, pelo menos, 6 genotipos e 52 subtipos com peculiaridades clínicas e epidemiológicas. Há escassez de estudos referentes ao genotipo do vírus da hepatite C no Brasil, assim como sua epidemiologia biomolecular. Foram estudados a freqüência do genotipo e os aspectos epidemiológicos em 232 portadores do vírus da hepatite C, 133 (57,9%) homens e 99 (42,1%) mulheres, seguidos num centro de referência para doenças de fígado em Salvador, nordeste do Brasil. Todos os pacientes eram anti-HCV positivo por ELISA de terceira geração e HCV RNA positivo por RT PCR. O genotipo foi determinado por INNOLIPA. Os fatores de risco para o vírus da hepatite C verificados através de questionário padrão, demonstrou que 93 (40%) tinham história de transfusão, 14 (6%) eram usuários de droga venosa, 19 (18%) referiam inalação de cocaína, 28 (12%) tinham tatuagem, 15 (7%) eram trabalhadores da área da saúde, 5 (2%) referiram reutilização de seringas descartáveis, 5 (2%) tinham múltiplos fatores de risco e 53 (23%) não referiram nenhum fator de risco. O genotipo 1a foi observado em 75 (32%), 1b em 72 (31%), 3a em 61 (26%), 2a em 14 (6%), 5 (2,5%) tinham infecção por mais de um genotipo e 5 (2,5%) tiveram o genotipo indeterminado. Pacientes com genotipo 1 apresentavam média de idade mais alta (P <0,05) e nenhum fator de risco peculiar esteve associado a um genotipo específico. O genotipo 1 predominou amplamente no nordeste do Brasil, seguido pelo genotipo 3. Nesta população o genotipo 3 não parece estar relacionado ao uso de drogas venosas, em contraste ao que foi reportado nos estudos europeus. Embora 80% da população de Salvador seja composta por população negra ou miscigenada, nenhum genotipo africano foi identificado, o que pode significar que o vírus da hepatite C foi introduzido nesta região via imigração européia. Este estudo demonstra algumas peculiaridades da epidemiologia do vírus da hepatite C no Brasil e fortemente sugere que sua introdução nessa região esteve relacionada à imigração européia e não à africana.

Vírus semelhantes ao da hepatite C; Genotipo; Hepatite C


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