SELEÇÃO DE ISOLADOS DE BEAUVERIA BASSIANA PARA O CONTROLE DE ADULTOS DO BICUDO-DO-ALGODOEIRO ANTHONOMUS GRANDIS (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE)

SELECTION OF BEAUVERIA BASSIANA STRAINS FOR THE CONTROL OF COTTON BOLL WEEVIL ANTHONOMUS GRANDIS (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) ADULTS

RESUMO

O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, é considerado uma das principais pragas da cultura do algodão, demandando uma grande quantidade de inseticidas para o seu controle. O objetivo do presente trabalho foi avaliar isolados deBeauveria bassianapara o controle deA. grandis. Para tanto, foram testados nove isolados provenientes de diferentes hospedeiros na concentração de 1 x 10⁸ conídios/mL, em condições de laboratório. Todos os isolados testados foram patogênicos ao bicudo-do-algodoeiro, causando entre 50 e 85% de mortalidade confirmada. Os tempos letais para matar 50% dos insetos (TL₅₀) variaram entre 2,30 e 8,66 dias. O isolado IBCB 241 destacou-se como o mais virulento, apresentando a maior percentagem de mortalidade confirmada e o menor TL_50, podendo assim ser considerado um promissor agente de controle biológico para o bicudodo-algodoeiro A.grandis.

PALAVRAS-CHAVE
Controle microbiano; fungos entomopatogênicos; patologia de insetos

ABSTRACT

The cotton boll weevil, Anthonomus grandis, is one of the most important pests of the cotton crop, requiring an elevated quantity of insecticides for its control.The objective of this work was to evaluate the effectiveness ofBeauveria bassianastrains for A. grandis control. In this assay, 9 strains from different hosts were tested in the concentration of 1 x 10⁸ conidia/mL, under laboratory conditions. All strains evaluated were pathogenic to the cotton boll weevil, causing between 50 and 85% confirmed mortality. The lethal time to kill 50% of insects (LT₅₀) ranged between 2.30 and 8.66 days. The IBCB 241 strain stood out as the most virulent, presenting the highest percentage of confirmed mortality and the shortest LT₅₀, and can therefore be considered as a promising agent for the biological control of the cotton boll weevil A. grandis.

KEY WORDS
Microbial control; entomopathogenic fungi; insect pathology

A cotonicultura destaca-seno agronegócio por apresentar grande interesse econômico no setor agrícola e industrial, além de ser importante cultura nos sistemas de rotação e capaz de gerar muitos empregos. No prognóstico divulgado pela CONAB, em fevereiro de 2008, o algodão será responsável por uma área cultivada de 1,13 milhões de hectares, 3,4% (37,1 mil hectares) superior à da safra anterior. Esse aumento deve-se, basicamente, aos contratos firmados para entrega futura. As regiões Centro-Oeste e Nordeste concentram 96,0% da produção nacional, com destaque para os Estados do Mato Grosso e Bahia, ambos com incremento de produção com relação ao ciclo anterior.

O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae), é considerado uma das pragas mais importantes da cotonicultura mundial pelos danos que causa e pela dificuldade de seu controle (RAMALHO; GONZAGA, 1992).

Esta praga tem ampla distribuição em regiões tropicais e temperadas quentes das Américas e foi detectada no Brasil em 1983, na região de Campinas, SP, em fevereiro e Campina Grande, PB, em junho. Sua rápida disseminação e seus severos danos à planta, resultando em queda de produtividade, foram responsáveis pelo deslocamento das áreas cultivadas, chegando a inviabilizar o cultivo do algodoeiro em alguns locais. Atualmente, seu controle é efetuado com sucessivas aplicações de inseticidas químicos nas lavouras, acarretando no aumento dos gastos de produção, problemas de resistência em sua população, além de serem potencialmente danosos ao ambiente (PERES et al., 2004).

A pesquisa científica e tecnológica aplicada à agricultura tem buscado alternativas sócio-ambientais de combate de pragas que visem o aumento da produtividade e a redução dos danos ao meio ambiente. Nesse contexto, os fungos entomopatogênicos destacam-se no manejo integrado de pragas devido sua especificidade, seletividade, compatibilidade com outros métodos e segurança ambiental (PATERNIANI, 2001; ALMEIDA, 2007).

Diversos curculionídeos de importância agrícola apresentam suscetibilidade ao fungo entomopatogênico Beauveria bassiana , como observado em Cosmopolites sordidus. Rhynchophorus palmarum e Sphenophorus levis (BATISTA FILHO et al., 2002; BADILLA; ALVES, 1991).

Devido à grande importância do bicudo-do-algodoeiro à cotonicultura e buscando alternativas para uma agricultura rentável e ecologicamente sustentável, esse trabalho teve como objetivo selecionar isolados de B. bassiana para utilização no controle de Anthonomus grandis.

O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Controle Biológico do Instituto Biológico, Campinas, SP (LCB/IB). Todos os isolados de B. bassiana utilizados fazem parte da Coleção de Entomopatógenos “Oldermar Cardim Abreu” do LCB/IB. Os adultos de bicudo-doalgodoeiro foram obtidos por meio da coleta dos insetos no campo, em botões florais de plantas de algodão. Esses foram colocados em gaiolas onde permaneceram até a nova emergência dos adultos. Quando recém emergidos, os adultos do bicudo foram agrupados em recipiente de plástico contendo botões florais sadios, os quais foram mantidos em estufa incubadora B.O.D. até o início do bioensaio.

Foram utilizados nove isolados de B. bassianaprovenientes de diversos hospedeiros e diferentes regiões geográficas (Tabela 1).

Tabela 1
Relaçao do número dos isolados de Beauveria bassiana, com suas respectivas procedências.

Denominaçao	Hospedeiros	Procedências
IBCB 18	Hypothenemus hampei	Tabiratiba, SP
IBCB 35	Cosmopolites sordidus	Cruz das Almas, BA
IBCB 66	H. hampei	São José do Rio Pardo, SP
IBCB 82	C. sordidus	Goiânia, GO
IBCB 87	C. sordidus	Goiânia, GO
IBCB 238	H. hampei	Campinas, SP
IBCB 239	H. hampei	Campinas, SP
IBCB 240	H. hampei	Campinas, SP
IBCB 241	Oryzophagus oryzae	Pindamonhangaba, SP

Os isolados do fungo foram repicados em placas de Petri no meio de cultura BDA e incubados durante 12 dias em B.O.D. em temperatura de 25,5º C e umidade relativa de 70 ± 10%. No teste de avaliação da mortalidade, para cada isolado, foram imersos 20 insetos em uma suspensão na concentração de 1 x 10⁸ conídios/ mL, divididos em cinco repetições de quatro insetos, por um tempo de 30 segundos. Para a testemunha, os insetos foram imersos apenas em água estéril. Em seguida, os insetos foram separados em recipientes de plástico contendo flores de hibisco (Hibiscus rosa-sinensis) e foram mantidos em câmaras climatizadas a 25,5^o C. A mortalidade foi avaliada durante dez dias. A fim de confirmar a mortalidade dos insetos pelo patógeno foram confeccionadas câmaras úmidas.

O ensaio foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado com 5 repetições. Os dados de mortalidade foram analisados pelo teste de Tukey e corrigidos pela da fórmula de ABBOT (1925). O tempo letal (TL₅₀) foi determinado pela análise de Probit (FINNEY, 1947).

Verificou-se que todos os isolados testados foram patogênicos ao bicudo-do-algodoeiro, causando entre 50 e 85% de mortalidade confirmada e os tempos letais (TL₅₀) variaram entre 2,30 e 8,66 dias (Tabela 2).

Tabela 2
Mortalidade confirmada (%) causada por Beauveria bassiana em adultos de Anthonomus grandis e TL₅₀, (concentração 1 x 10⁸ conídios/mL 25,5° C, fotofase de 12 horas).

Isolados	Mortalidade confirmada (%)	TL50 (dias)
IBCB 18	75 ab*	6,70
IBCB 35	50 b	8,02
IBCB 66	70 ab	5,30
IBCB 82	60 ab	8,66
IBCB 87	80 ab	4,33
IBCB 238	70 ab	6,79
IBCB 239	65 ab	7,04
IBCB 240	80 a	6,26
IBCB 241	85 a	2,30

• ^*
  Médias seguidas pela mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
• Coeficiente de Variação (C.V.) = 34,75 %.
• Teste F = 5,012.

As taxas de insetos adultos mortos por B. bassiana confirmam os resultados de COUTINHO; OLIVEIRA (1991), que constataram mortalidade variando de 50% a 100% nas concentrações entre 3,72 x 10⁶ a 3,72 x 10¹⁰ conídios/mL, em laboratório.

THOMAZONI et al. (2005) trabalharam com vários isolados de B. bassiana, na mesma concentração utilizada nesta pesquisa. Os autores verificaram que, para os isolados IBCB 82, 87 e 241, as porcentagens de mortalidade observadas estiveram na faixa de 13, 30 e 13% respectivamente. Esses resultados diferem dos obtidos neste trabalho onde as mortalidades para os mesmos isolados foram maiores que 60%. Esses baixos índices de mortalidade podem ser explicados porque o tempo de contato dos insetos com a suspensão fúngica foi três vezes menor, podendo não ter sido suficiente para concentrar a quantidade de inóculo necessária para um índice maior de infecção.

Os resultados encontrados por SILVA (2001), utilizando isolados diferentes na concentração de 108 conídios/mL, atingiram índices de mortalidade variando de 15% a 83% e TL₅₀ no intervalo entre 5,30 e 11, 06 dias. Estes tempos letais maiores demonstram as diferenças existentes e a grande variabilidade genética entre os isolados.

Nas condições em que o experimento foi realizado conclui-se que o isolado IBCB 241 se destacou por ser o mais virulento, apresentando a maior percentagem de mortalidade confirmada e a menor TL₅₀, seguido pelo isolado IBCB 87. Esses isolados são promissores para o controle biológico do bicudo-do-algodoeiro Anthonomus grandis.

REFERÊNCIAS

• ABBOT, W.S. A method for computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology, v.18, p.265-267, 1925.
• ALMEIDA, J.E.M.; ROCHA, T.C.; BATISTA FILHO, A. Desenvolvimento de método para extração física de conídios de Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana para formulação pó seco e molhável de bioinseticidas. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.74, n.4, p.369-371, 2007
• BADILLA, F.F.; ALVES, S.B. Controle do gorgulho da cana-de-açúcar Sphenophorus levis Vaurie, 1978 (Coleoptera:Curculionidae) com Beauveria spp. em condições de laboratório e campo. Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.20, n.1, p.251-262, 1991.
• BATISTA FILHO, A.; TAKADA, H.M.; CARVALHO, A.G. Brocas da bananeira. In: REUNIÃO ITINERANTE DE FITOSSANIDADE DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 6., 2002, São Bento do Sapucaí, SP. Anais Campinas: Instituto Biológico, 2002. p.1-8
• COUTINHO, J.L.B.; OLIVEIRA, J.V. de Patogenicidade do isolado I-149Bb de Beauveria bassiana (Bals.) Vuil. a adultos de Anthonomus grandis (Coleoptera: Curculionidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, v.20, n.1, p.199-207, 1991.
• FINNEY, D.J. Probit analisis New York: Cambridge University Press, 1947. 255p.
• GUTIERREZ, G.S. Bioecologia de Anthonomus grandis Boheman, 1843 (Coleoptera: Curculionidae) e seu controle com Beauveria bassiana (Bals) Vuill. 1986. 107p. Dissertação (Mestrado) – Escola Superior de Agricultuea “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo,. Piracicaba, 1986.
• PATERNIANI, E. Agricultura sustentável nos trópicos. Estudos Avançados, v.15, n.43, 2001.
• PERES, T.B.; ANDRÉA, M.M.; LUCHINI, L.C. Agrotóxicos usados na cultura do algodão: efeito na atividade das enzimas desidrogenase e arilsulfatese do solo. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.71, n.3, p.363-369, 2004.
• RAMALHO, F.S.; GONZAGA, J.V. Methodology of the application of pyretroids against cotton boll weevil and pink bollworm. Tropical Pest Management, v.37, p.324-328, 1992.
• SILVA, C.A.D. Seleção de isolados de Beauveria bassianapatogênicos ao bicudo-do-algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, n.2, p.243-247, 2001.
• THOMAZONI, D.; ALVES, L.F.A.; PIRES, E.; SILVIE, P.; SANTOS, J.C. Seleção de isolados de fungos entomopatogênicos (Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae) visando o controle do bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis, Boheman 1843) (Coleoptera: Curculionidae). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 5., 2005, Salvador, BA. Anais Salvador, 2005. v.1, p.34-34.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  19 Out 2020
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2010

Histórico

• Recebido
  09 Set 2008
• Aceito
  04 Dez 2009