Acessibilidade / Reportar erro

OCORRÊNCIA DE SALMONELLA SPP. E STAPHYLOCOCCUS COAGULASE POSITIVA EM PESCADO NO NORDESTE, BRASIL

OCCURRENCE OF SALMONELLA SPP. AND COAGULSE POSITIVE STAPHYLOCOCCUS IN FISH AND CRUSTACEANS IN THE NORTHEAST OF BRAZIL

RESUMO

O presente estudo foi conduzido com o objetivo de verificar a ocorrência de Salmonella spp. e Staphylococcus coagulase positiva em pescados e crustáceos provenientes da região nordeste no período de fevereiro de 2004 a dezembro de 2005. Das 143 amostras de peixes e crustáceos (camarão congelado e cauda de lagosta), 5 (3,5%) apresentaram-se positivas para Salmonella spp. Enquanto nas amostras de peixe e cauda de lagosta a contagem de Staphylococcus coagulase positiva foi < 1,0 x 102UFC/g estimado, nas amostras de camarão congelado, em duas a contagem foi 1,0 x 101UFC/g estimado e em uma 2,6 x 101UFC/g estimado, as demais <1,0 x 101UFC/g estimado. Com base nos resultados obtidos conclui-se que as amostras analisadas apresentaram baixos níveis de ocorrência de Salmonella spp. e Staphylococcus coagulase positiva e que, mesmo com estes baixos índices, constantemente deve-se buscar uma melhora na qualidade dos produtos da pesca, melhora esta que passa pelo treinamento constante em boas práticas de fabricação, procedimentos padrões de higienização e análise de perigos e pontos críticos de controle do pessoal que trabalha na pesca ou em fazendas de criação de camarão, bem como dos funcionários das indústrias.

PALAVRAS-CHAVE
Salmonella spp.; Staphylococcus coagulase positiva; peixe; crustáceo

ABSTRACT

The present study was carried out to evaluate the occurrence of Salmonella spp. and coagulase-positive Staphylococcus in fish and crustaceans from the Brazilian Northeast. Five out of the 143 samples (3.5%) were positive for Salmonella spp. While none of the fish and lobster tail samples were positive for coagulase positive Staphylococcus, two shrimp samples presented an estimated count of 1.0 x 101colony forming units per gram (cfu/g), and one presented 2.6 x 101 cfu/g. The results showed a low level of Salmonella and coagulase positive Staphylococcus occurrence. However, even with these low levels of bacterial numbers in fish and crustaceans we should search look for an improvement in their quality. This improvement should be associated to constant training for good manufacturing practice, a standard procedure of hygiene and analysis of hazards and critical control points related to employees that work as fishers or on shrimp farms, as well as those working in the industry as a whole.

KEY WORDS
Salmonella ; coagulase positive Staphylococcus; fish; crustaceans

Desde os tempos mais remotos os pescados fazem parte da dieta alimentar do homem (Food and agriculture organization, 1997FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. Documento técnico sobre pesca. Garantia da qualidade dos produtos da pesca. 1997. 176p.) e, atualmente, cada vez mais pessoas preferem consumi-los como alternativa mais saudável, em relação à carne bovina, suína e de frango, uma vez que são de fácil digestibilidade, possuem elevados níveis de vitaminas A, E e D, possuem grande quantidade de fósforo e iodo (peixes do mar) e são produtos que podem ser indicados para pessoas de qualquer idade (Lederle, 1991LEDERLE, J. Enciclopédia moderna de higiene alimentar. São Paulo: Manole Dois, 1991. 224p.).

Apesar da extensa costa marítima e da abundância de bacias hidrográficas que recortam o território nacional, no Brasil o consumo de pescado é baixo.

Assim como as carnes de bovinos, de suínos e de frango, os produtos da pesca (peixes e crustáceos) também podem ser veiculadores de uma grande quantidade de micro-organismos patogênicos para o homem, muitas vezes fruto de contaminação ambiental, devido a despejos de esgoto nas águas dos rios, lagos e mar, comprometendo assim a sua qualidade (Constantinido, 1994CONSTANTINIDO, G. A saúde do pescado depende diretamente da saúde do ambiente. Revista Higiene Alimentar, v.8, n.32, p.5-6, 1994.).

Além da contaminação ambiental, as condições higiênico-sanitárias durante a captura e manuseio (Zican, 1994ZICAN, C.A. O Ministério da Agricultura iniciou o controle sanitário através do sistema de pontos críticos. O pescado é o carro chefe desse sistema. Higiene Alimentar, v.8, n.31, p.9-10, 1994. Trabalho apresentado no SEMINÁRIO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA PESQUEIRA: QUALIDADE DOS PESCADOS, 1., 1994, São Paulo.), a qualidade do gelo utilizado na conservação e os recipientes onde são transportados ou acondicionados (Germano et al., 1998GERMANO, P.M.L.; GERMANO, M.I.S.; OLIVEIRA, C.A.F. Aspectos da qualidade do pescado de relevância em saúde pública. Higiene Alimentar, v.12, p.30-37, 1998.) são fontes de contaminação de extrema importância para os produtos da pesca.

Dentre os micro-organismos que podem ser veiculados pelos pescados e crustáceos, destacamse Vibrio spp., Salmonella spp. e Listeria spp. Além dessa microbiota, ocorrem como consequência da manipulação inadequada o Streptococcus spp. e o Staphylococcus aureus, ambos de origem humana, encontrados na pele e mucosa (Forsythe, 2002FORSYTHE, S.J. Microrganismos causadores de doenças de origem alimentar. In: (Ed.). Microbiologia da segurança alimentar. Porto Alegre: Artmed, 2002. 424p. Cap.5.).

O gênero Salmonella, constituído por 2.532 sorovares (Popoff et al., 2003POPOFF, M.Y.; BOCKEMÜHL, J.; GHEESLING, L.L. Supplement 2001(no. 45) to the Kauffamann-White scheme. Research in Microbiology, v.154, p.173-174, 2003.), tem como seu habitat natural o trato intestinal de humanos e animais (doyle; cliver, 1990).

Os alimentos de origem animal, a água, bem como alimentos de origem vegetal têm sido identificados como veículos de transmissão deste micro-organismo (Doyle; cliver, 1990DOYLE, M.P.; CLIVER, D.O. Salmonella. In: CLIVER, D.O. (Ed.). Foodborne Diseases. London: Academic Press, 1990. p.185-201.).

O S. aureus é uma bactéria capaz de produzir enterotoxinas, as quais são responsáveis pelas intoxicações alimentares (Forsythe, 2002FORSYTHE, S.J. Microrganismos causadores de doenças de origem alimentar. In: (Ed.). Microbiologia da segurança alimentar. Porto Alegre: Artmed, 2002. 424p. Cap.5.).

Toxinfecções alimentares envolvendo S. aureus e pescados têm sido relatadas. No Reino Unido, 7% dos casos de toxinfecções alimentares causadas por S. aures, relatadas no período entre 1969 e 1990, tiveram como veiculador do agente, peixes e mariscos (Wieneke et al., 1993WIENEKE, A.A.; ROBERTS, D.; GILBERT, R.J. Stapylococcal food poisoning in the United Kindom, 1969 – 1990. Epidemiology and Infection, v.110, p.519-531, 1993.). Na França, nos anos de 1999 e 2000, 11% dos casos tiveram peixes e frutos do mar como alimento envolvido (Haeghebaert et al., 2002, apud Le Loir et al., 2003LE LOIR, Y.; BARON, F.; GAUTIER, M. Sathapylococcus aureus and food Poisoning. Genetics and Molecular Research, v.2, p.63-76, 2003.).

O presente estudo foi conduzido com o objetivo de verificar a ocorrência de Salmonella spp. e Staphylococcus coagulase positiva em produtos de pesca provenientes da região Nordeste.

No período de fevereiro de 2004 a dezembro de 2005, foram analisadas 143 amostras de pescado: peixe (n: 50), crustáceos e camarão congelado (n: 71) e cauda de lagosta (n: 22), provenientes dos Estados da Região Nordeste do Brasil, utilizando-se as técnicas de pesquisa de Salmonella spp. e contagem de Staphylococcus coagulase positiva, recomendadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2003BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 62, de 26 de agosto de 2003. Métodos analíticos oficiais para análises microbiológicas para o controle de produtos de origem animal e água. Diário Oficial [da. República Federativa do Brasil, Poder Excutivo, Brasília, DF, 18 de setembro de 2003. Seção I, p.4-50.).

Das 143 amostras analisadas, 5 (3,5%) apresentaram-se positivas para Salmonella spp. Este resultado foi menor que os 6,9% obtidos por Heinitz et al. (2000)HEINITZ, M.; RUBLE, R.D.; WAGNER, D.E.; TATINI, S.R. Incidence of Salmonella in fish and seafood. Journal of Food Protection, v.63, n.5, p.579-592, 2000., em amostras de pescado, crustáceos e outras criaturas aquáticas que foram importados ou produzidas no Estados Unidos e que os 13,6% apresentados por Kumar et al. (2003)KUMAR H.S.; SUNIL, R.; VENUGOPAL, M.N.; KARUNASAGAR, I.; KARUNASAGAR, I. Detection of Salmonella spp. in tropical seafood by polymerase chain reaction. International Journal Food Microbiology, v. 88, p.91-95, 2003., em amostras de peixe, camarão e mariscos coletados em Mangalore, Índia.

Na Tabela 1 consta a ocorrência de Salmonella entre os produtos analisados. As amostras de cauda de lagosta tiveram a maior ocorrência (4,5%). As amostras de peixe apresentaram Salmonella em 4,0%, fato este que contrasta com os 11,8% obtidos por Heinitz et al. (2000)HEINITZ, M.; RUBLE, R.D.; WAGNER, D.E.; TATINI, S.R. Incidence of Salmonella in fish and seafood. Journal of Food Protection, v.63, n.5, p.579-592, 2000., em amostras de peixe produzidos e importados pelos Estados Unidos, contudo nas de camarão congelado a ocorrência foi de 2,8%.

Os dados obtidos para camarão congelado, foram maiores que os 1,6% encontrados por Koonse et al. (2005)KOONSE, B.; BURKHARDT III, W.; CHIRTL, S.; HOSKIN, G. Salmonella and sanity quality of aquacultured shrimp. Journal of Food Protection, v.68, p.2527-2532, 2005., em camarões provenientes de carcinicultura.

A contaminação por Salmonella spp., quando presente, em produtos da pesca e crustáceos pode ser proveniente da contaminação do ambiente de onde os mesmos foram retirados (Mohamed Hatha et al., 2003MOHAMED HATHA, A.A.; MAQBOOL, T.K.; KUMAR, S.S. Microbial quality of shrimp products of export trade produced from aquacultures shrimp. International Journal Food Microbiology, v.82, p.213-221, 2003.), ou provenientes de manipulação na despesca e no processamento (Kumar et al., 2003KUMAR H.S.; SUNIL, R.; VENUGOPAL, M.N.; KARUNASAGAR, I.; KARUNASAGAR, I. Detection of Salmonella spp. in tropical seafood by polymerase chain reaction. International Journal Food Microbiology, v. 88, p.91-95, 2003.).

Quanto ao Staphylococcus coagulase positiva, este agente etiológico, esteve presente em 3 (2,1%) das 143 amostras analisadas. A ocorrência de Staphylococcus coagulase positiva se deu nas amostras de camarão congelado, sendo que duas apresentaram como resultado 1,0x101 UFC/g e uma 2,6 x 101 UFC/g. As demais amostras de camarão congelado apresentaram como resultado valor < 1,0 x 101 UFC/g, entretanto as amostras de peixe e cauda de lagosta, os resultados encontrados foram < 1,0 x 102 UFC/g. Por meio dos dados obtidos para Staphylococcus coagulase positiva conclui-se que os mesmos encontravam-se de acordo com os padrões estabelecidos para amostras indicativas da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº12, regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos (Brasil, 2001BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução – RDC no 12, de 2 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial [da. República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 de janeiro de 2001. Seção I, p. 45-53.), porém como o Staphylococcus aureus é um indicador das condições de higiene e sanitização, quando presente em alimento pode indicar que durante o processamento e estocagem tenha ocorrido algum tipo de falha de manipulação e/ou estocagem inadequada e/ou contaminação cruzada (Simon; Sanjeev, 2007SIMON, S.S.; SANJEEV, S. Prevalence of enterotoxigenic Staphylococcus aureus in fishery products and fish processing factory workers. Food Control, v.18, p.1565-1568. 2007.).

Com base nos resultados obtidos conclui-se que as amostras analisadas apresentaram baixos níveis de ocorrência de Salmonella spp. e Staphylococcus coagulase positiva, e que mesmo com estes baixos índices constantemente deve-se buscar uma melhora na qualidade dos produtos da pesca, melhora esta que passa pelo treinamento constante em boas práticas de fabricação, procedimentos padrões de higienização e análise de perigos e pontos críticos de controle do pessoal que trabalha na pesca ou em fazendas de criação de camarão, bem como dos funcionários das indústrias.

REFERÊNCIAS

  • BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução – RDC no 12, de 2 de janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre padrões microbiológicos para alimentos. Diário Oficial [da. República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 2 de janeiro de 2001. Seção I, p. 45-53.
  • BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa 62, de 26 de agosto de 2003. Métodos analíticos oficiais para análises microbiológicas para o controle de produtos de origem animal e água. Diário Oficial [da. República Federativa do Brasil, Poder Excutivo, Brasília, DF, 18 de setembro de 2003. Seção I, p.4-50.
  • CONSTANTINIDO, G. A saúde do pescado depende diretamente da saúde do ambiente. Revista Higiene Alimentar, v.8, n.32, p.5-6, 1994.
  • DOYLE, M.P.; CLIVER, D.O. Salmonella In: CLIVER, D.O. (Ed.). Foodborne Diseases London: Academic Press, 1990. p.185-201.
  • FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. Documento técnico sobre pesca. Garantia da qualidade dos produtos da pesca. 1997. 176p.
  • FORSYTHE, S.J. Microrganismos causadores de doenças de origem alimentar. In: (Ed.). Microbiologia da segurança alimentar Porto Alegre: Artmed, 2002. 424p. Cap.5.
  • GERMANO, P.M.L.; GERMANO, M.I.S.; OLIVEIRA, C.A.F. Aspectos da qualidade do pescado de relevância em saúde pública. Higiene Alimentar, v.12, p.30-37, 1998.
  • HEINITZ, M.; RUBLE, R.D.; WAGNER, D.E.; TATINI, S.R. Incidence of Salmonella in fish and seafood. Journal of Food Protection, v.63, n.5, p.579-592, 2000.
  • KOONSE, B.; BURKHARDT III, W.; CHIRTL, S.; HOSKIN, G. Salmonella and sanity quality of aquacultured shrimp. Journal of Food Protection, v.68, p.2527-2532, 2005.
  • KUMAR H.S.; SUNIL, R.; VENUGOPAL, M.N.; KARUNASAGAR, I.; KARUNASAGAR, I. Detection of Salmonella spp. in tropical seafood by polymerase chain reaction. International Journal Food Microbiology, v. 88, p.91-95, 2003.
  • LEDERLE, J. Enciclopédia moderna de higiene alimentar São Paulo: Manole Dois, 1991. 224p.
  • LE LOIR, Y.; BARON, F.; GAUTIER, M. Sathapylococcus aureus and food Poisoning. Genetics and Molecular Research, v.2, p.63-76, 2003.
  • MOHAMED HATHA, A.A.; MAQBOOL, T.K.; KUMAR, S.S. Microbial quality of shrimp products of export trade produced from aquacultures shrimp. International Journal Food Microbiology, v.82, p.213-221, 2003.
  • POPOFF, M.Y.; BOCKEMÜHL, J.; GHEESLING, L.L. Supplement 2001(no. 45) to the Kauffamann-White scheme. Research in Microbiology, v.154, p.173-174, 2003.
  • SIMON, S.S.; SANJEEV, S. Prevalence of enterotoxigenic Staphylococcus aureus in fishery products and fish processing factory workers. Food Control, v.18, p.1565-1568. 2007.
  • WIENEKE, A.A.; ROBERTS, D.; GILBERT, R.J. Stapylococcal food poisoning in the United Kindom, 1969 – 1990. Epidemiology and Infection, v.110, p.519-531, 1993.
  • ZICAN, C.A. O Ministério da Agricultura iniciou o controle sanitário através do sistema de pontos críticos. O pescado é o carro chefe desse sistema. Higiene Alimentar, v.8, n.31, p.9-10, 1994. Trabalho apresentado no SEMINÁRIO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA PESQUEIRA: QUALIDADE DOS PESCADOS, 1., 1994, São Paulo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Fev 2021
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2010

Histórico

  • Recebido
    17 Fev 2009
  • Aceito
    28 Out 2010
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br