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EFEITO DE FUNGOS CONTAMINANTES NA PRODUTIVIDADE DE DOIS ISOLADOS DE AGARICUS BLAZEI EM DUAS FORMULAÇÕES DE COMPOSTO

EFFECT OF CONTAMINANT ON THE PRODUCTIVITY OF TWO AGARICUS BLAZEI ISOLATES IN TWO COMPOST FORMULATIONS.

RESUMO

O efeito dos fungos contaminantes Trichoderma sp. e Chaetomium olivacearum foi avaliado no cultivo dos isolados ABL 99/30 e ABL 04/49 de A. blazei, em duas formulações de composto, à base de palhas de tyfton (Cynodom dactylon) e aveia (Avena sativa). O delineamento experimental foi em esquema fatorial 2 x 2 x 3, inteiramente casualizado, com 6 repetições cada. A unidade experimental constou de 12 – 12,5 kg de composto úmido. Nos tratamentos envolvendo o Trichoderma sp. e o C. olivacearum durante a inoculação do A. blazei, foram adicionados 150 g de inóculo de cada um destes fungos contaminantes no momento da inoculação do A. blazei. O experimento foi conduzido em câmara climatizada, com umidade relativa entre 75-90% e temperatura média de 28 ºC. De acordo com os resultados obtidos, verificou-se que as médias de produtividade do isolado ABL 99/30 de A. blazei foram superiores às do isolado ABL 04/49; os fungos contaminantes C. olivacearum e Trichoderma sp. influenciaram negativamente na produção do A. blazei e os diferentes compostos (à base de palha de tyfton e aveia) não influenciaram na produção de basidiomas.

PALAVRAS-CHAVE
Cogumelos; fungos contaminantes; isolados; composto

ABSTRACT

The effect of the contaminant fungi Trichoderma sp. and Chaetomium olivacearum on the cultivation of the ABL 99/30 and ABL 04/49 isolates of A. blazei in two compost formulations made up with tyfton (Cynodom dactylon) and oat (Avena sativa) was evaluated. The experimental design was a totally randomized 2 x 2 x 3 factorial design with 6 repetitions. The experimental unit consisted of 12-12.5 kg of wet compost. During the spawning, 150 g of Trichoderma sp. and C. olivacearum were added to the compost. The experiment was carried out in a climatized room, with humidity between 75-90% and temperature of 28º C. The productivity averages of the ABL 99/30 isolate of A. blazei were higher than those of ABL 04/49 and Trichoderma sp. and C. olivacearum negatively influenced the production of A. blazei. The different composts (based on tyfton and oat straw) did not influence the production of basidiomata.

KEY WORDS
Edible mushrooms; contaminants fungi; compost

A influência de fungos contaminantes no cultivo de fungos comestíveis vem sendo estudada há alguns anos (Chen; Moy, 2004CHEN, A.W.; MOY, M. Mushroom cultivation: building mold contamination. In: ROMAINE, C.P.; KEIL, C.B.; RINKER, D.L., ROYSE, D.J. (Ed.). Science and cultivation of edible and medicinal fungi. Mushroom Science XVI. Penn State University, University Park, USA, p.625-632, 2004.; Oei, 2005OEI, P. Mushroom cultivation. 3.ed. Leiden, The Netherlands: Backhuys Publishers, 2005. 429p.; Coutinho et al., 2006COUTINHO, L.N.; ANDRADE, M.C.N.; FIGUEIREDO, M.B.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A. Mildio em cogumelos cultivados (Agaricus blazei) no estado de São Paulo. In: CONGRESSO PAULISTA DE FITOPATOLOGIA, 29., 2006. Botucatu, SP. Anais. Botucatu, 2006. p.21.; Jandaik et al., 2004JANDAIK, S.; GULERIA, D.S.; PARMAR, Y.S. Effect of Cladobotryum dendroides on the yield of Agaricus bisporus: Inoculum factors and timing of infection. In: ROMAINE, C.P.; KEIL, C.B., RINKER, D.L.; ROYSE, D.J. (Ed.). Science and cultivation of edible and medicinal fungi – Mushroom Science XVI. Penn State University, University Park, USA, 2004. p. 503-505.; Andrade; Graciolli, 2005ANDRADE, M.C.N.; GRACIOLLI, L.A. Controle de fungos contaminantes no cultivo do cogumelo comestível shiitake em toros de eucalipto. Acta Scientarium Agronomy, v.27, n.2, p.293-299, 2005.; Figueiredo; Mucci, 1985FIGUEIREDO, M.B.; MUCCI, E.S.F. Doenças e pragas do cogumelo comestível Agaricus campestris..). . Biológico, São Paulo, v.51, n.4, p.93-111, 1985.). Entretanto, para o cultivo de Agaricus blazei, poucos trabalhos avaliaram o efeito destes fungos na produção de basidiomas (Andrade et al., 2007aANDRADE, M.C.N.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A.; COUTINHO, L.N.; FIGUEIREDO, M.B. Productivity, biological efficiency, and number of Agaricus blazei mushroom grown in compost in the presence of Trichoderma sp. and Chaetomium olivacearum contaminants. Brazilian Journal of Microbiology, v.38, p.243-247, 2007a.; Nascimento; Eira, 2003NASCIMENTO, J.S.; EIRA, A.F. Occurrence of the false truffle (Diehliomyces microsporus Gilkey) and damage on the himematsutake medicinal mushroom (Agaricus brasiliensis S. Wasser et al.). International Journal of Medicinal Mushrooms, v.5, n.1, p.87-94, 2003.) e alguns são relatos de ocorrência e/ou características morfológicas destes fungos (Coutinho et al., 2006COUTINHO, L.N.; ANDRADE, M.C.N.; FIGUEIREDO, M.B.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A. Mildio em cogumelos cultivados (Agaricus blazei) no estado de São Paulo. In: CONGRESSO PAULISTA DE FITOPATOLOGIA, 29., 2006. Botucatu, SP. Anais. Botucatu, 2006. p.21.).

Existem inúmeras formulações de compostos que podem ser utilizadas no cultivo de agaricáceos e essas são comumente determinadas pela disponibilidade e custos dos materiais (Sánchez; Royse, 2001SÁNCHEZ, J.E.; ROYSE, D.J. Adapting substrate formulas used for shiitake for production of brown Agaricus bisporus. Bioresource Technology, v.77, p.65-69, 2001.). No Brasil, tem-se utilizado diversas palhas (braquiária, coast-cross, tyfton, trigo, arroz, cevada, entre outras) no processo de compostagem de cogumelos agaricáceos (Minhoni et al., 2005MINHONI, M.T.A.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; ANDRADE, M.C.N. Cultivo de Agaricus blazei Murrill ss. Heinemann. Botucatu: FEPAF, 2005. 141p.). No entanto, poucos trabalhos científicos têm comparado a eficiência destes materiais na produtividade de isolados de A. blazei (Kopytowski Filho, 2006KOPYTOWSKI FILHO, J. Produtividade e eficiência biológica de Agaricus blazei (Murrill. Heinemann, em diferentes condições de cultivo. 2006. 134 f. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura)–Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2006.).

A formulação do composto é crucial para o processo de compostagem, sendo fundamental na obtenção de um balanço adequado entre os nutrientes, especialmente carbono e nitrogênio (Wood; Smith, 1987WOOD, D.A; SMITH, J.F. The cultivation of mushrooms. In: NORRIS, J.R.; PETTIPHER, G.L. (Ed.). Essays in agricultural and food microbiology. Avon: The Bath Press, 1987. p.309-343.). O crescimento micelial pode ser influenciado pela redução ou excesso na concentração de nutrientes, produção de metabólitos secundários e o pH, o que pode comprometer a produção de basidiomas (Ramírez et al., 2001RAMÍREZ, L.; MUEZ, V.; ALFONSO, M.; BARRENECHEA, A.G.; ALFONSO, L.; PISABARRO, A.G. Use of molecular markers to differentiate betwenen commercial strains of the button mushroom Agaricus bisporus. FEMS Microbiology Letters, v.198, p.45-48, 2001.).

A escolha do isolado é outro fator de fundamental importância para se obter sucesso no cultivo de fungos comestíveis, pois, ela pode diferir quanto à velocidade de crescimento, resistência a fungos contaminantes, temperatura e umidades ótimas de “frutificação”, incubação, tamanho, aspecto dos basidiomas e produtividade (Andrade et al., 2007bANDRADE, M.C.N. CALONEGO, F.W.; MINHONI, M.T.A.; SEVERO, E.T.D.; KOPYTOWSKI FILHO, J. Avaliação do crescimento micelial de linhagens de shiitake, da produção em toras de eucalipto e de alterações físicas da madeira. Acta Scientarium. Agronomy, v.29, n.1, p.23-27, 2007b.; Kopytowski Filho, 2006; Campbell; Racjan, 1999CAMPBELL, A.C.; RACJAN, M. The commercial exploitation of the white rot fungus Lentinula edodes (shiitake). International Biodeterioraton & Biodegradation, v.43, p.101-107, 1999.).

Desse modo, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do Trichoderma sp. e do C. olivacearum na produção dos isolados ABL 99/30 e ABL 04/49 de A. blazei, em compostos à base de tyfton e aveia.

O experimento foi conduzido nas dependências do Departamento de Produção Vegetal, da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Botucatu, SP.

Na produção de matriz secundária de A. blazei foram utilizadas culturas puras (matriz primária) dos isolados ABL 99/30, de procedência desconhecida, e do isolado ABL 04/49 procedente de Mogi das Cruzes, SP, reisolada de material coletado em cultivo do Município de São José do Rio Preto, SP, ambas conservadas no banco de matrizes do Módulo de Cogumelos Departamento de Produção Vegetal, Defesa Fitossanitária, FCA/UNESP.

O substrato utilizado para a produção da matriz terciária e inóculo foi à base de grãos de sorgo, gesso e calcário. Inicialmente, os grãos foram cozidos em água, por 40 minutos após o inicio da fervura. Após o escorrimento do excesso de água, adicionou-se 20 g kg-1 de calcário calcítico e 160 g kg-1 de gesso, em relação ao peso dos grãos.

Para a obtenção da matriz terciária, 400 g de substrato foram dispostos em frascos de vidro (800 mL), com papel de filtro nas tampas. Na produção do inóculo, 1.200 g do substrato foram colocados em sacos de polietileno de alta densidade (PEAD), com filme Tyvek® na parte superior. Nos dois casos, o substrato foi autoclavado a 121º C por 3 horas.

Após resfriamento até temperatura ambiente, os frascos foram inoculados, em câmara de fluxo laminar, com a matriz secundária (2% em relação ao peso úmido) e dispostos em BOD a 28 ± 1° C por 20 dias. Após este período, a matriz terciária foi utilizada para inocular os pacotes de PEAD sob as mesmas condições assépticas. Foi utilizado cerca de 1% de matriz terciária (em relação à massa fresca do substrato). Após 30 dias de incubação a 28 ± 1º C, os substratos já estavam colonizados pelo fungo, sendo então denominados inóculo.

Tabela 1
Teores de umidade (U), carbono (C), nitrogênio (N) e relaçao C/N dos ingredientes utilizados na formulação dos compostos à base de palhas de tyfton e aveia.
Tabela 2
Formulação dos compostos à base de palha de tyfton e aveia.

Na produção do inóculo dos fungos contaminantes Trichoderma sp. e C. olivacearum seguiu-se os mesmos procedimentos adotados no preparo do inóculo dos isolados de A. blazei (conforme item anterior). Os fungos contaminantes foram coletados em propriedade rurais situadas nos municípios de Atibaia e Botucatu no Estado de São Paulo, respectivamente (Coutinho et al., 2006COUTINHO, L.N.; ANDRADE, M.C.N.; FIGUEIREDO, M.B.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A. Mildio em cogumelos cultivados (Agaricus blazei) no estado de São Paulo. In: CONGRESSO PAULISTA DE FITOPATOLOGIA, 29., 2006. Botucatu, SP. Anais. Botucatu, 2006. p.21.), e armazenados na Micoteca do Módulo de Cogumelos – FCA/UNESP.

Os ingredientes utilizados na formulação dos compostos foram previamente analisados no Laboratório de Fertilizantes e Corretivos – FCA/ UNESP (Tabela 1) e, a partir destes dados, foram formulados dois tipos de compostos à base de palha de tyfton (Cynodom dactylon) e aveia (Avena sativa) (Tabela 2).

A fase I da compostagem foi realizada em barracão coberto, com piso de cimento, laterais abertas e ventilação natural. Previamente à montagem das leiras, todas as palhas foram umedecidas e reviradas a cada dois dias, totalizando oito dias de umedecimento das palhas.

A montagem das leiras (1,8 m de altura e de 1,8 m de largura) foi iniciada com camadas alternadas de palha e bagaço de cana-de-açúcar (20 cm de altura) com a adição de farelo de soja e ureia equitativamente entre as camadas das leiras. Adicionou-se água manualmente para manter a umidade em torno de 70-75%. Os compostos foram revirados a cada dois dias, adicionando-se água sempre que necessário. No total, foram feitas seis reviradas, totalizando 12 dias de fase I.

Na fase II, os compostos foram transferidos para caixas treliçadas, de polipropileno, com dimensões de 56,5 x 46,5 x 28,5 cm (comprimento, largura e altura). A seguir, foram dispostas ao acaso no interior de câmara Dalsem, para pasteurização e condicionamento dos compostos. A pasteurização foi realizada por 6 h a 61 ± 1º C e o condicionamento por 11 dias a 48 ± 1º C.

Ao final das fases I e II da compostagem, foram coletadas ao acaso três amostras de cada composto, que foram desidratadas em estufa a 65º C por 48h e trituradas em moinho de facas com peneira 30 mesh. Os teores de carbono, nitrogênio, relação C/N e pH das amostras de composto foram determinados no Laboratório de Fertilizantes e Corretivos – FCA/UNESP (Tabela 3).

Tabela 3
Teores de umidade (U), carbono (C), nitrogênio (N), relação C/N e pH dos compostos à base de tyfton e aveia ao final das fases I e II da compostagem.

A inoculação dos compostos foi feita manualmente, adicionando-se 1,5 g de inóculo de A. blazei por quilo de massa úmida de composto. Para tanto, os compostos foram transferidos parceladamente para outras caixas, menores, de polietileno, revestidas internamente com filme plástico de polietileno transparente com orifícios de 1 cm na parte inferior. Simultaneamente, o inóculo dos isolados de A. blazei foi colocado e homogeneizado manualmente, juntamente com 15 g do inóculo de cada um dos fungos contaminantes por caixa, de acordo com cada tratamento. Repetiu-se este procedimento até que a massa úmida dos compostos atingisse de 12 – 12,5 kg. Após a inoculação, as caixas foram dispostas, ao acaso, em câmara climatizada (Dalsem Mushroom) para incubação por 13 dias e com a temperatura ambiente mantida a 28 ± 1º C.

Como camada de cobertura foi utilizada terra roxa de textura média da Fazenda Lageado (FCA/ UNESP). Para elevação do pH próximo a 7,0, foram adicionados 30 kg de calcário calcítico por m3 de terra. A seguir, foi umedecido com água a 60% e deixado em repouso por 20 dias. Posteriormente, foi adicionado 30% de carvão vegetal, com 1 a 2 cm de espessura, seguido de pasteurização a 62º C durante 8 horas. A adição da camada de cobertura sobre o composto foi feita manualmente. Cada caixa recebeu cerca de 15 kg da camada de cobertura, espessura de aproximadamente 4 cm. Finalmente foi recoberto o composto com plástico e incubado por 15 dias, em câmara, à temperatura de 28 ± 1º C.

Após a colonização da camada de cobertura, as caixas foram dispostas ao acaso em prateleiras, no interior de uma câmara Dalsem Mushrooms mantidas à temperatura média de 28 ± 1º C e umidade relativa do ar entre 75 e 90%. O umedecimento da camada de cobertura foi feita de forma manual.

O número (NB) e a massa fresca de basidiomas (MFB) foram determinados diariamente durante a fase de colheita. A produtividade (P) foi determinada pela relação entre a massa fresca de basidiomas (MFB) ao final do ciclo produtivo e a massa fresca do composto (MFC) ao final da fase II, segundo a equação: P = MFB/ MFC x 100. A eficiência biológica (EB) foi determinada ao final do período de colheita, conforme a equação: EB = MFB/ MSC x 100, onde MSC corresponde à massa seca do composto ao final da fase II.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, em esquema fatorial, 2 x 2 x 3 (2 isolados de A. blazei x 2 tipos de composto x 2 tipos de fungos contaminantes + 1 testemunha), com 6 repetições, cada qual correspondendo a uma caixa com 12 – 12,5 kg de composto úmido. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (Snedecor; Cochran, 1972SNEDECOR, G.W.E.; COCHRAN, W.G. Statiscal methods. 6.ed. Ames: Iwoa State University Press, 1972.), utilizando-se o software Sisvar 5.0 desenvolvido pelo Departamento de Ciências Exatas, da Universidade Federal de Lavras, MG (UFLA).

Na Tabela 4, encontram-se os valores de F obtidos na análise de variância dos dados de número de basidiomas, massa fresca de basidiomas, produtividade e eficiência biológica dos isolados ABL 99/30 e ABL 04/49 de A. blazei. Houve efeito significativo do isolado e do contaminante nas médias de todas as variáveis analisadas.

Tabela 4
Valores de F obtidos na análise de variância de número de basidiomas (NB), massa fresca de basidiomas (MFB), produtividade (P) e eficiência biológica (EB) das linhagens ABL 99/30 e ABL 04/49 de Agaricus blazei, em função do tipo de fungo contaminante inoculado, cultivados em três tipos de compostos à base de palhas de tyfton e aveia.

A média do número de basidiomas do isolado ABL 99/30 foi 106% superior a do isolado ABL 04/49 (Tabela 5), independentemente do tipo de composto utilizado, estando de acordo com os resultados obtidos por Kopytowski Filho (2006)KOPYTOWSKI FILHO, J. Produtividade e eficiência biológica de Agaricus blazei (Murrill. Heinemann, em diferentes condições de cultivo. 2006. 134 f. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura)–Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2006., que também obteve produtividades superiores do isolado ABL 99/30 em relação à ABL 04/49.

Tabela 5
Comparação dos valores totais médios do número de basidiomas, massa, produtividade e eficiência biológica de Agaricus blazei em função do isolado.

Os tratamentos testemunha e Trichoderma sp. obtiveram as maiores médias de número de basidiomas. Já o tratamento C. olivacearum obteve a menor média, se comparado aos demais tratamentos avalia-dos (Tabela 6). Possivelmente, isto tenha ocorrido devido à competição estabelecida entre o A. blazei e o fungo contaminante (C. olivacearum), ocorrendo uma elevação de temperatura dos compostos durante o período de colonização, resultando assim numa queda significativa de produção de basidiomas. Entretanto, Andrade et al. (2007a)ANDRADE, M.C.N.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A.; COUTINHO, L.N.; FIGUEIREDO, M.B. Productivity, biological efficiency, and number of Agaricus blazei mushroom grown in compost in the presence of Trichoderma sp. and Chaetomium olivacearum contaminants. Brazilian Journal of Microbiology, v.38, p.243-247, 2007a. observaram que, em compostos previamente colonizados pelo A. blazei, a inoculação superficial do composto com inóculo dos contaminantes Trichoderma sp. e C. olivaciarum não afetou a produção de basidiomas.

Tabela 6
Comparação dos valores totais médios do número de basidiomas, massa, produtividade e eficiência biológica de Agaricus blazei em função do fungo contaminante inoculado.

O isolado ABL 99/30 obteve as maiores médias de número de basidiomas, massa, produtividade e eficiência biológica independente do tipo de substrato de cultivo utilizado (Tabela 5), estando de acordo com os resultados obtidos por Kopytowski Filho (2006)KOPYTOWSKI FILHO, J. Produtividade e eficiência biológica de Agaricus blazei (Murrill. Heinemann, em diferentes condições de cultivo. 2006. 134 f. Tese (Doutorado em Agronomia/Energia na Agricultura)–Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2006..

Os resultados obtidos nos diferentes tratamentos experimentais, em termos de massa fresca de basidio-mas e produtividade, diferiram entre si, sendo as menores médias observadas no tratamento C. olivacearum (Tabela 6). O efeito de fungos contaminantes no cultivo de cogumelos comestíveis já vem sendo relatado por vários autores (Andrade; Graciolli, 2005ANDRADE, M.C.N.; GRACIOLLI, L.A. Controle de fungos contaminantes no cultivo do cogumelo comestível shiitake em toros de eucalipto. Acta Scientarium Agronomy, v.27, n.2, p.293-299, 2005.; Andrade et al., 2007aANDRADE, M.C.N.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A.; COUTINHO, L.N.; FIGUEIREDO, M.B. Productivity, biological efficiency, and number of Agaricus blazei mushroom grown in compost in the presence of Trichoderma sp. and Chaetomium olivacearum contaminants. Brazilian Journal of Microbiology, v.38, p.243-247, 2007a.; Minhoni et al., 2005MINHONI, M.T.A.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; ANDRADE, M.C.N. Cultivo de Agaricus blazei Murrill ss. Heinemann. Botucatu: FEPAF, 2005. 141p.). No entanto, por tratar-se de fungos competidores, o efeito negativo na produção é comumente observado quando estes fungos oportunistas colonizam substratos antes do fungo de interesse (Andrade, 1999ANDRADE, F.A. Efeitos de fungos contaminantes na produção de shiitake (Lentinula edodes (Berk. Pegler. em toras de Eucapyptus saligna Sm. 1999. 61 f. Dissertação (Mestrado em Agronomia/ Proteção de Plantas)-Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1999.). Já em substratos previamente colonizados pelo micélio do cogumelo, este efeito é insignificante (Andrade et al., 2007aANDRADE, M.C.N.; KOPYTOWSKI FILHO, J.; MINHONI, M.T.A.; COUTINHO, L.N.; FIGUEIREDO, M.B. Productivity, biological efficiency, and number of Agaricus blazei mushroom grown in compost in the presence of Trichoderma sp. and Chaetomium olivacearum contaminants. Brazilian Journal of Microbiology, v.38, p.243-247, 2007a.). De acordo com Harvey (1982)HARVEY, C.L.; WUEST, P.J.; SCHISLER, L.C. Diseases, weed molds, indicator molds, and abnormalities of the commercial mushroom, In: WUEST, P.J.; BENGSTON, G.D. (Ed.). Penn State handbook for commercial mushroom growers. Penn State University, University Park, USA, 1982. p.19-33., Chaetomium spp. são bons decompositores de lignina e celulose, bem como de substâncias tóxicas liberadas durante o crescimento deste contaminante, as quais inibem o desenvolvimento micelial dos cogumelos.

Chen et al. (2003)CHEN, X.; OSPINA-GIRALDO, M.D.; WILKINSON, V.; ROYSE, D.J.; ROMAINE, C.P. Resistance of Pre- and Post-epidemic Strains of Agaricus bisporus to Trichoderma aggressivum .. aggressivum. Plant Disease. v.87, n.12, p.1457-1461, 2003., adicionando suspensão do Trichoderma agressivum no momento da inoculação dos compostos para a produção de A. bisporus, verificaram diferenças de 26% a 99% de redução de produtividade em relação à testemunha dependendo do isolado utilizado no estudo. Neste experimento, observou-se uma redução de produtividade de 23% e 64%, para os tratamentos Trichoderma sp. e Chaetomium olivacearum, respectivamente (Tabela 6).

A produção de metabólitos pelo próprio micélio do cogumelo pode também ser um agente positivo ou negativo para o desenvolvimento de Trichoderma (Chen et al., 2003CHEN, X.; OSPINA-GIRALDO, M.D.; WILKINSON, V.; ROYSE, D.J.; ROMAINE, C.P. Resistance of Pre- and Post-epidemic Strains of Agaricus bisporus to Trichoderma aggressivum .. aggressivum. Plant Disease. v.87, n.12, p.1457-1461, 2003.).

Os tratamentos experimentais obtiveram médias de número de basidiomas, massa, produtividade e eficiência biológica distintas entre si. No tratamento Trichoderma sp. e C. olivacearum estas médias foram inferiores ao da testemunha, confirmando o efeito negativo destes contaminantes nas condições de cultivo propostas (Tabela 6).

CONCLUSÕES

As médias de produção do isolado ABL 99/30 de A. blazei foram superiores as do isolado ABL 04/49.

Os fungos contaminantes C. olivacearum e Trichoderma sp. influenciaram negativamente na produção do A. blazei.

Os diferentes compostos (à base de palha de tyfton e aveia) não influenciaram na produção de basidiomas.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Set 2020
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2011

Histórico

  • Recebido
    31 Jul 2009
  • Aceito
    20 Abr 2011
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