RESUMO
Os autores registram a ocorrência de Struthiolipeurus rheae parasitando Rhea americana de criatórios comerciais, em Pelotas e Passo Fundo, RS, de ave ornamental de Porto Alegre, RS, e de criatório conservacionista de Araxá, MG, Brasil.
PALAVRAS-CHAVE Rhea americana ; Struthiolipeurus rheae ; piolho; ema; Phthiraptera
ABSTRACT
The authors report the occurrence of Struthiolipeurus rheae parasitizing rheas from comercial breeding centers in Pelotas and Passo Fundo, RS, from an ornamental bird in Porto Alegre, RS, and from a conservationist breeding center in Araxá, MG, Brazil.
KEY WORDS Rhea americana ; Struthiolipeurus rheae ; comercial; louse; Rhea; Phthiraptera
A criação de aves ratitas para exploração comercial no Brasil vem crescendo nos últimos anos, destacando-se as emas (Rhea americana) e avestruzes (Struthio camelus), para a produção de carne e de plumas, entretanto, o conhecimento sobre as enfermidades que acometem estas espécies é incipiente.
Dentre os ectoparasitos que acometem estas espécies, destacam-se os ácaros plumícolas e os piolhos mastigadores, sendo estes, em intensidades elevadas de infestação, responsáveis por quadros de irritação, inflamação e prurido, causados pela movimentação pelo corpo do hospedeiro e pela atividade alimentar, provocando injúrias em seus hospedeiros e podendo atuar como vetores de patógenos (PRICE & GRAHAM, 1997).
WEISBROTH & SEELIG (1974) relacionaram para a ema os malófagos Meinertzhageniella latus, Struthiolipeurus rheae, S. renschi e S. nandu, citando para os Estados Unidos a ocorrência de S. rheae proveniente de emas juvenis capturadas em ambiente silvestre no centro-leste da Argentina, enquanto PRICE & GRAHAM (1997) informaram que S. rheae parasita Rhea americana e apresenta distribuição restrita à Argentina, estando, porém, presente nos Estados Unidos em emas mantidas em jardins zoológicos.
PONCE GORDO et al. (2002) realizaram um estudo de longa duração da parasitofauna de ratitas na Europa, citando o parasitismo de avestruzes (Struthio camelus) e emas (Rhea americana) pelos piolhos Struthiolipeurus nandu e S. rheae, presentes em penas de todo o corpo de ambos hospedeiros; relataram que em Struthio camelus, S. rheae foi encontrado durante quase todo o período de estudo e que, algumas aves com alta intensidade de parasitismo, apresentavam grande perda de penas na região dorsal próximo à cauda. Em Rheaamericana, o parasitismo foi causado por Struthiolipeurus nandu e S. rheae. Os autores observaram que, nestes hospedeiros, o parasitismo pelos malófagos foi mono-específico, com uma intensidade de parasitismo menor em avestruzes que em emas, não sendo observada perda de penas.
SILVA et al. (2003) registraram a ocorrência de Goniodes pavonis parasitando Rhea americana proveniente do Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, Sorocaba, SP.
No Rio Grande do Sul, MONTEIRO et al. (2002) notificaram a presença de Struthiolipeurus sp.parasitando Rhea americana, provenientes de cativeiro na região de Uruguaiana, RS, enquanto RIBEIRO et al. (2004) relataram a ocorrência de Struthiolipeurus struthionis em avestruzes (Struthio camelus) oriundos de um criatório em Porto Alegre.
Para Rhea americana foram relacionados os malófagos Meinertzhageniella lata, Struthiolipeurus nandu, Struthiolipeurus renschi e Struthiolipeurus stresemanni (DALGLEISH, 2004).
O Laboratório de Entomologia do Instituto de Biologia da UFPEL recebeu 4 amostras de ectoparasitos de emas (R. americana), sendo uma proveniente de Criatório Conservacionista em Araxá, MG (Centro de Desenvolvimento Ambiental da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração – CBMM, coletada em 9/1/1996), outra oriunda de uma ave ornamental de Porto Alegre, RS (Disciplina de animais silvestres da Faculdade de Veterinária – UFRGS, coletada em 17/1/1995), duas amostras de Criatórios Comerciais em Pelotas, RS (Coletada em 30/9/2004) e de Passo Fundo, RS (Coletada em 15/6/2002). Os artrópodos foram preservados em álcool 70ºGL e para identificação, foram clarificados em líquido de Nesbitt, desidratados em álcool, diafanizados em creosoto de Faia e montados em lâmina permanente com bálsamo do Canadá. A identificação específica baseou-se em WEISBROTH & SEELIG (1974) e PRICE & GRAHAM (1997) e todas as amostras foram identificadas como pertencendo à Struthiolipeurus rheae Harrison 1916, a qual se caracteriza pelas manchas escuras ventrais nos últimos segmentos abdominais da fêmea (WEISBROTH & SEELIG, 1974).
Uma amostra proveniente de criadouro comercial constava de 28 plumas secundárias e contendo 56 exemplares entre formas jovens e adultas, com uma média de 2 exemplares por pluma, o que foi considerado um alto grau de parasitismo. Em perdizes (Alectoris rufa) MILLAN et al. (2004) relataram que a prevalência, abundância e o número de espécies de malófagos foram correlacionados negativamente com a condição corporal do hospedeiro. As elevadas intensidades de parasitismo podem levar, em aves destinadas à exploração de plumas, a perda da qualidade destas, acarretando prejuízo econômico para o produtor.
A observação do parasitismo de Struthio camelus e Rhea americana por Struthiolipeurus rheae em criatórios comerciais (PONCE GORDO et al., 2002) pode indicar uma relativa baixa especificidade para esta espécie de malófago, o que deve ser observado na criação destas duas espécies de aves zoologicamente relacionadas.
RUFF (1999) relatou que mais de 40 espécies de malófagos tem sido citadas para aves domésticas e, que estas espécies apresentam uma especificidade relativamente baixa, no entanto, alguns gêneros de malófagos apresentam uma especificidade elevada para seus hospedeiros, sendo restritos à espécie hospedeira, gênero, família ou ordem; SMITH (2001) considerou que as espécies pertencentes à subordem Ischnocera são altamente especializadas para seus hospedeiros, apresentando um nível de especificidade de hospedeiro que é inigualado por outros insetos ectoparasitos.
PRICE & GRAHAM (1997) relataram que Goniodes é um parasito de Pavo cristatus (Phasianidae) com distribuição cosmopolita, e citaram que embora a transferência de uma espécie de malófago a um hospedeiro diferente do habitual possa ocorrer, tal fato pode acontecer quando hospedeiros de diferentes espécies são mantidos juntos e, mesmo assim a transferência ocorre em hospedeiros zoologicamente relacionados. Deste modo é questionada a ocorrência do parasitismo de Rhea americana por Goniodes pavonis (SILVA et al., 2003), devendo ser reavaliado para esclarecimento de um possível parasitismo acidental, sob condições específicas de manutenção do hospedeiro.
A identificação de Struthiolipeurus rheae em Rhea americana caracteriza o primeiro relato da espécie em emas de criadouros comerciais, criadouro conservacionista e em aves com fins ornamentais, bem como registra os Estados de Rio Grande do Sul e Minas Gerais como áreas de ocorrência desta espécie.
REFERÊNCIAS
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
24 Jun 2022 -
Data do Fascículo
Oct-Dec 2005
Histórico
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Recebido
09 Jun 2005 -
Aceito
06 Set 2005