Acessibilidade / Reportar erro

SOROPREVALÊNCIA DE ANTICORPOS PARA O VÍRUS DA LEUCOSE ENZOÓTICA EM BOVINOS CRIADOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, PARANÁ

SEROPREVALENCE FOR BOVINE LEUKOSIS VIRUS (BLV) IN DAIRY CATTLE OF CURITIBA AND THE SURROUNDING AREA, PARANÁ, BRAZIL

RESUMO

A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma doença infecto-contagiosa causada pelo Vírus da Leucemia Bovina (VLB), um retrovírus oncogênico da família Retroviridae. O presente estudo teve como objetivo avaliar a soroprevalência e a respectiva influência de fatores etários da LEB em bovinos leiteiros das raças Holandesa Preta e Branca, Jersey, Pardo-Suíço e mestiços, criados na região metropolitana de Curitiba, PR. Foram testadas 268 amostras de soros sanguíneos pela prova de Imunodifusão em gel de Agar (IDGA), colhidas em cinco propriedades situadas nos municípios de São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul, Pinhais e Fazenda Rio Grande. Foram encontrados 151/268 (56,34%) animais positivos e 117/268 (43,66%) negativos. Animais mais velhos mostraram um aumento estatisticamente significativo de soropositividade. Pode-se concluir que a LEB está amplamente disseminada em bovinos leiteiros da região metropolitana de Curitiba e há necessidade de adequada aplicação de medidas de controle e prevenção da LEB.

PALAVRAS-CHAVE
Doenças infecciosas; ruminantes; imunodifusão

ABSTRACT

Enzootic bovine leukosis (EBL) is aninfectious and contagious disease caused by bovine leukemia virus (BLV), an oncogenic retrovirus of the family Retroviridae. The present study aimed to evaluate the seroprevalence and respective age influence of BLV in Holstein, Jersey, Brown Swiss and mixed-breed dairy cattle raised in Curitiba and the surrounding area, Paraná, Brazil. A total of 268 samples of bovine serum from five different herds in the counties of São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul, Pinhais and Fazenda Rio Grande were tested with immunodiffusion (ID). A total of 151/268 (56.34%) testedseropositive, while 117/268 (43.66%) were considered seronegative. Older animals prsented a significant rise in seropositivity. In conclusion, BLV is widely distributed among dairy cattle of Curitiba and the surrounding area, present in all tested herds, thus requiring adequate application of measures in EBL control and prevention.

KEY WORDS
Infectious diseases; ruminants; immunodiffusion

A Leucose Enzoótica Bovina (LEB) é uma doença causada por um vírus da família Retroviridae. que afeta 27,6% dos bovinos criados em diversas regiões do Brasil, e está difundida no mundo todo (Birgel Junior et al., 2006BIRGEL JUNIOR, E.H.; DIAS, W.M.C.; SOUZA, R.M.; POGLIANI, F.C.; BIRGEL, D.B.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo vírus da leucose bovina em animais da raça Simental, criados no Estado de São Paulo. ARS Veterinária, v.22, n.2, p.122-129, 2006). No Estado do Paraná, o primeiro registro da doença aconteceu em 1979, com achados anatomopatológicos de necropsias de bovinos (Diniz et al., 1979DINIZ, J.M.F.; BARONI, J.M.; FERNANDES, B.F.; MARTINS, D.M. Leucose bovina no estado do Paraná. Revista do Setor de Ciências Agrárias, v. 2, p. 33-38, 1979.). Três anos mais tarde foi realizado o primeiro estudo para se conhecer a prevalência da Leucose Enzoótica Bovina nos bovinos leiteiros do Paraná, e constatou-se a presença da LEB em 7 das 9 regiões pesquisadas (Kantek et al., 1982KANTEK, C.E.; KRÜGER, E.R.; WELTE, V.R. Infecção com o vírus da Leucose Enzoótica Bovina em um lote de vacas produtoras de leite importadas do Uruguai. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.2, n.2, p.125-126, 1982.).

Os rebanhos leiteiros são os mais afetados com a LEB devido ao constante manejo na produção, propiciando a transmissão iatrogênica (horizontal), causada pelo uso de fômites contaminados como o uso de equipamentos de ordenha, agulhas, instrumentos cirúrgicos e palpação retal (Birgel Junior et al., 2006BIRGEL JUNIOR, E.H.; DIAS, W.M.C.; SOUZA, R.M.; POGLIANI, F.C.; BIRGEL, D.B.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo vírus da leucose bovina em animais da raça Simental, criados no Estado de São Paulo. ARS Veterinária, v.22, n.2, p.122-129, 2006). Logo, de acordo com Távora; Birgel (1991)TÁVORA, J.P.F.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo Vírus da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos leiteiros criados na região do pólo Itabuna, estado da Bahia. Arquivo da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, v.14, n.1, p.164-183, 1991., os animais submetidos a um regime intensivo, com maior tecnologia, são mais infectados que os criados em criação extensiva.

A doença manifesta-se em três formas distintas: aleucêmica (presença de anticorpos), linfocitose persistente e pelo desenvolvimento de linfossarcomas. Entre 1% a 5% dos bovinos soropositivos desenvolvem o linfossarcoma, forma mais comum de neoplasia do gado bovino leiteiro e 30% desenvolvem linfocitose persistente (Ferrer et al., 1979FERRER, J.F.; MARSHAK, R.R.; ABT, D.S. Relationship between lymphosarcoma and persistent lymphocytosis in cattle. A review. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.175, p.705-708, 1979.). A maior incidência dos tumores ocorre de quatro a oito anos de idade, tendo uma mortalidade em torno de 10-15%. Os animais acometidos são descartados mais cedo devido a transtornos como infertilidade e queda na produção de leite, pois os órgãos e sistemas são atingidos com o linfossarcoma e isso pode originar problemas circulatórios, respiratórios, digestivos, reprodutivos, urinários e neurológicos (Silva et al., 2008SILVA, R.C.; FONTANA, I.; MEIRELLES, F.C.; RUGGIERO, A.P.M.; BENATO, N.; BORGES, J.R.J. Ocorrência de leucose enzoótica bovina na forma de linfossarcomas no distrito federal: relato de caso. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.75, n.4, p.507-512, 2008.). Além disso, os bovinos que apresentam o linfossarcoma podem desenvolver imunodepressão, predispondo-o a outras doenças, o que não ocorre com os que manifestam a forma aleucêmica, em que não há redução dos níveis de gamaglobulinas (Garcia et al., 2002GARCIA, M.; BASTOS, P.A.S.; SILVA, M.M.; MARTINS, M. de F.; LETTRY, V. Concentração sérica de gamaglobulinas em bovinos naturalmente infectados pelo vírus da leucose enzoótica bovina. Ars Veterinária, v.18, n.1, p.62-66, 2002.).

Essa enfermidade gera perdas econômicas com perda da produção leiteira devido ao descarte de bovinos soropositivos ou com linfossarcoma, sendo ainda uma barreira de comércio internacional pela grande exigência dos países importadores, uma vez que os animais devem estar livres da doença (D`Angelino, 1991D`ANGELINO, J.L. Leucose enzoótica dos bovinos, estudo retrospectivo da performance produtiva e reprodutiva de animais infectados e não infectados. 85p. Tese (Livre Docência em Clínica Médica) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991.).

O objetivo deste trabalho foi detectar a prevalência de bovinos leiteiros sororreagentes para a Leucose Enzoótica Bovina (LEB) criados na região metropolitana de Curitiba, PR, bem como a possível influência de fatores etários.

Foram colhidas aleatoriamente amostras de 268 bovinos, sendo 180 da raça Holandesa Preta e Branca, 63 da raça Jersey, 22 da raça Pardo-Suíço e 3 Mestiços originados de cinco propriedades dos municípios de Pinhais, São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul e Fazenda Rio Grande no decorrer do janeiro a outubro de 2007. Os animais eram criados em regime semi-intensivo e tinham por finalidade a produção leiteira.

A colheita das amostras foi realizada pela punção da veia jugular de animais jovens (um a doze meses de idade) ou veia coccígea dos animais maiores que doze meses. As amostras foram armazenadas em tubos (10 mL) e mantidas a temperatura ambiente por 3 a 4 horas para facilitar a retração do coágulo e posteriormente centrifugadas para obter o soro, que foi separado em três alíquotas de 1,5 mL por uma micropipeta e armazenadas em tubos de Eppendorf a -20° C até a realização do diagnóstico. Estes procedimentos foram realizados no Laboratório de Análises Clínicas da UFPR em Curitiba. A pesquisa de anticorpos séricos anti-VLB foi realizada no Laboratório de Virologia do Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti, pela prova de Imunodifusão em Gel de Ágar (IDGA), segundo a metodologia padronizada por Miller; Van Der Maaten (1976MILLER, J.M.; VAN DER MATTEN, M.J. Sorologic detection of Bovine Leukemia Vírus infection. Veterinary Microbiology, v.31, p.47-55, 1976.).

Após o processamento das amostras e armazenamento dos resultados, estes foram analisados de acordo com métodos estatísticos para verificar a significância dos resultados. A avaliação estatística foi realizada pelo Método de Fisher, com significância de 5%, onde p < 0,05. O teste foi realizado via online no site http://www.quantitativeskills.com /sisa/statistics/fisher.htm.

Dos 268 bovinos testados, criados na região metropolitana de Curitiba, 151 foram sororeagentes, ou seja, 56,34%. Destes foram positivos 60,32% dos animais raça Jersey, 60% das Holandesa Preta e Branca, 22,72% das Pardo-Suíço e nenhuma mestiça. Estes dados são semelhantes com os de Leuzzi Junior et al. (2003)LEUZZI JUNIOR, L.A.; GUIMARAES JUNIOR, J.S.; FREIRE, R.L.; ALFIERI, A.F.; ALFIERI, A.A. Influência da idade e do tamanho do rebanho na soroprevalência da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos produtores de leite tipo B, na região de Londrina do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Ciências Veterinárias, v.10, n.2, p.93-98, 2003., que encontraram 40,7% de bovinos leiteiros criados na região norte do Paraná, soropositivos para a LEB, quase o dobro que o estudo de Kantek et al. (1982KANTEK, C.E.; KRÜGER, E.R.; WELTE, V.R. Infecção com o vírus da Leucose Enzoótica Bovina em um lote de vacas produtoras de leite importadas do Uruguai. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.2, n.2, p.125-126, 1982.; 1983)KANTEK C.E.; KRÜGER E.R.; WELTE V.R. Prevalência do vírus da Leucose Enzoótica Bovina no rebanho leiteiro do Paraná. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.3, n.4, p.125-129, 1983., cujos levantamentos sorológicos resultaram em 20,7% de prevalência no mesmo Estado. Recentemente, também no Paraná, Sponchiado (2008)SPONCHIADO, D. Prevalência de anticorpos séricos anti-vírus da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos da raça Holandesa Preta e Branca, criados no estado do Paraná. 2008, 101p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, 2008, Curitiba, 2008. relatou que 49,04% de bovinos da raça HPB foram sororeagentes. Ao analisar-se os dados retro citados e ao confrontar-se com os resultados deste estudo, pode-se notar que a LEB possui uma prevalência alta em bovinos leiteiros.

De acordo com Luders (2001)LUDERS, M.A. Prevalência de anticorpos contra o Vírus da Leucose Enzoótica Bovina em fêmeas com mais de dois anos no rebanho de bovinos leiteiros no Município de Mafra, SC. 2001. 30p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agroveterinárias/Sanidade Animal) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Lajes, 2001. e Megid et al. (2003)MEGID J.; NOZAKI C.N.; KURODA R.B.S.; CRUZ T.F.; LIMA K.C. Ocorrência de Leucose Enzoótica Bovina na microrregião da Serra de Botucatu. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, n.5, p. 645-646, 2003., que estudaram a prevalência da LEB nos estados de Santa Catarina e São Paulo, respectivamente, os estados vizinhos ao Paraná apresentaram uma soro positividade e 7,6% e 51,8%. Enquanto que, nos estados não fronteiriços com o Paraná, Minas Gerais (Leite et al., 1984LEITE, R.C.; MODENA, C.M.; MOREIRA, E.C.; ABREU, J.J. Evolução clínica da Leucose Enzoótica Bovina. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.36, n.1, p.47-57, 1984.) com 70,9 % e no Rio de Janeiro (Romero; Rowe, 1981ROMERO, C. H.; ROWE, C. A. Enzootic bovine leukosis virus in Brazil. Tropical Animal Health and Production, v.13, n.2, p.107-111, 1981.) com 53,3%, respectivamente, foram encontrados soroprevalências maiores e seme-lhantes aos encontrados na região Metropolitana de Curitiba, com resultados refletindo talvez os métodos de manejo adotados.

Os dados referentes à idade dos animais estão representados na Tabela 1. Houve relativa baixa soro positividade entre os animais do Grupo I e II, porém somente o grupo II foi significativo (p < 0,05). Já os animais dos Grupos III a VI aumentaram consideravelmente, no entanto, somente o aumento dos grupos V e VI foram significativos (p < 0,05).

Tabela 1
Infecção de bovinos pelo VLB obtidos pela IDGA, distribuição segundo faixa etária, números absolutos e relativos. Curitiba, 2010

Os resultado do presente trabalho corroboram os achados de autores como Birgel et al. (1988)BIRGEL, E.H.; D’ANGELINO, J.L.; GARCIA, M.; MARÇAL, W.S. Estudo Preliminar Sobre Ocorrência da Leucose do Bovinos Adultos Criados na Região de Campinas. In: CONFERÊNCIA ANUAL DA SOCIEDADE PAULISTA DA MEDICINA VETERINÁRIA, 43., 1988, Campinas-SP. Resumos. Campinas: SPMV, 1988. p.30., Birgel Junior et al. (1995) e Sponchiado (2008)SPONCHIADO, D. Prevalência de anticorpos séricos anti-vírus da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos da raça Holandesa Preta e Branca, criados no estado do Paraná. 2008, 101p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, 2008, Curitiba, 2008. que afirmaram haver um aumento da prevalência com o passar da idade dos bovinos. Birgel et al. (1988)BIRGEL, E.H.; D’ANGELINO, J.L.; GARCIA, M.; MARÇAL, W.S. Estudo Preliminar Sobre Ocorrência da Leucose do Bovinos Adultos Criados na Região de Campinas. In: CONFERÊNCIA ANUAL DA SOCIEDADE PAULISTA DA MEDICINA VETERINÁRIA, 43., 1988, Campinas-SP. Resumos. Campinas: SPMV, 1988. p.30. encontraram soro-positividade de 35,6% (26/73) de bovinos na faixa de 12 a 24 meses de idade e 78,6% (33/42) em animais acima de 84 meses. Em outro estudo realizado com 1.448 bovinos da raça Holandesa, a positividade foi de 34,5% de animais com 13 a 18 meses e 66,7% para animais com idade de 109 a 114 meses (Oliveira et al., 1997OLIVEIRA, A.R.; BARRETO, C.S.F.; MERICHELLO, D.; SANQUENTIN, W.M. Epidemiologia da Leucose Bovina: ocorrência de anticorpos em várias faixas etárias. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v.19, n.6, 1997.). Birgel Júnior et al. (1995)BIRGEL JÚNIOR, E.H.; D’ANGELINO, J.; BENESI, F.J.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo vírus da leucose dos bovinos em animais da raça Jersey, criados no Estado de São Paulo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.15, n.4, p.93-99, 1995. examinaram bovinos da raça Jersey e encontraram 24,6% (30/122) de animais positivos na faixa etária de 12 a 24 meses e de 86,2% (106/123) nos animais com até 72 meses. Em todos eles há um aumento da prevalência nas faixas etárias mais elevadas, refletindo uma exposição continuada a um risco de infecção crescente com o passar dos anos.

A expressiva sororeatividade de 30 % de bezerros de até seis meses de idade pode ser resultado da ingestão de colostro de mães positivas. Em 1981, FerrerFERRER, J.F.; PIPER, C.E. Role of colostrum and milk in the natural tranmission of the Bovine Leukemia Virus. Cancer Research, v.41, p.4906-4909, 1981.; Piper referiram a possibilidade de transmissão vertical via colostro. Os pesquisadores avaliaram o soro de bezerros antes da ingestão do colostro e o resultado foi negativo para todos. Após a ingestão do colostro de vacas positivas para o vírus da Leucose Bovina, 100% dos bezerros apresentaram soropositividade, comprovando a transferência passiva de anticorpos da mãe para os bezerros. Dos 7 aos 9 meses de idade estes bezerros apresentaram-se novamente negativos para o vírus. Molnár et al. (1998)MOLNÁR, L.; MOLNÁR, E.; SANTOS, A. M.; CORÔA, A.C.; TÚRY, E. Leucose em bovinos jovens; dados epidemiológicos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v.20, n.3, 1998. testaram bezerros de 2 a 3 meses de idade e 100% dos animais foram positivos à LEB. Após 3 meses estes mesmos animais foram retestados e poucos obtiveram soropositividade baixa, sendo a maioria negativa, demonstrando que no primeiro teste estes foram soropositivos devido à ingestão de colostro, tornando-se negativos após o desaparecimento dos anticorpos maternos. Outra possibilidade para essa alta positividade de animais = 6 meses seria a transmissão passiva de vírus via placentária (Hübner et al., 1997HÜBNER, S.O.; WEIBLEN, R.; MORAES, M.P.; SILVA, A.M.; CARDOSO, M.J.L.; PEREIRA, N.M.; ZANINI, M. Infecção intra-uterina pelo vírus da Leucose Bovina. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 21, n.4, p.8-11, 1997.). No entanto, a queda significativa dos sororeagentes na faixa etária dos 6 aos 12 meses sugere a maior influência do colostro na prevalência mais elevada no início da vida. Para esclarecer a real quantidade de bezerros infectados, e não somente soropositivos, poder-se-ia tentar o isolamento viral através de técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) (Dittrich, 2004DITTRICH, T.R.C. Produção de reagentes para o diagnóstico da infecção pelo vírus da leucose bovina. 2004. 136 f. Tese (Doutorado em Biotecnologia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.).

Com os resultados deste trabalho pode concluir que a Leucose Enzoótica Bovina está disseminada em bovinos leiteiros da região metropolitana de Curitiba devido, possivelmente, à falta de programas de controle da doença e a pouca conscientização dos produtores e técnicos sobre os prejuízos advindos da presença do VLB no rebanho. Os animais menores de seis meses de idade apresentam uma maior soropositividade que os bovinos de até 36 meses provavelmente em decorrência à transferência de anticorpos pelo colostro ou via placentária. A maior sororeatividade para os animais mais velhos ocorre pelo fato de ser uma doença de caráter crônico, com maior probabilidade de transmissão com o passar do tempo. Devido à alta prevalência da doença e pela importância econômica desta, medidas preventivas e sanitárias devem ser realizadas por meio de exames sorológicos e um constante acompanhamento veterinário, visando o saneamento gradativo do rebanho. O controle deve ser focado principalmente para rebanhos leiteiros, pela maior prevalência da doença e facilidade de transmissão representada por criações com manejo intensivo.

Tabela 2
Valores estatísticos de “p” e sua significância no teste de Fisher, para a comparação entre resultados dos grupos etários bovinos, reagentes ao VLB na IDGA (p < 0,05). Curitiba, 2010.

AGRADECIMENTO

Ao Instituto Tecnológico do Paraná – TECPAR pela cessão dos kits de diagnósticos.

REFERÊNCIAS

  • BIRGEL, E.H.; D’ANGELINO, J.L.; GARCIA, M.; MARÇAL, W.S. Estudo Preliminar Sobre Ocorrência da Leucose do Bovinos Adultos Criados na Região de Campinas. In: CONFERÊNCIA ANUAL DA SOCIEDADE PAULISTA DA MEDICINA VETERINÁRIA, 43., 1988, Campinas-SP. Resumos Campinas: SPMV, 1988. p.30.
  • BIRGEL JÚNIOR, E.H.; D’ANGELINO, J.; BENESI, F.J.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo vírus da leucose dos bovinos em animais da raça Jersey, criados no Estado de São Paulo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.15, n.4, p.93-99, 1995.
  • BIRGEL JUNIOR, E.H.; DIAS, W.M.C.; SOUZA, R.M.; POGLIANI, F.C.; BIRGEL, D.B.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo vírus da leucose bovina em animais da raça Simental, criados no Estado de São Paulo. ARS Veterinária, v.22, n.2, p.122-129, 2006
  • D`ANGELINO, J.L. Leucose enzoótica dos bovinos, estudo retrospectivo da performance produtiva e reprodutiva de animais infectados e não infectados 85p. Tese (Livre Docência em Clínica Médica) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991.
  • DINIZ, J.M.F.; BARONI, J.M.; FERNANDES, B.F.; MARTINS, D.M. Leucose bovina no estado do Paraná. Revista do Setor de Ciências Agrárias, v. 2, p. 33-38, 1979.
  • DITTRICH, T.R.C. Produção de reagentes para o diagnóstico da infecção pelo vírus da leucose bovina 2004. 136 f. Tese (Doutorado em Biotecnologia) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
  • FERRER, J.F.; MARSHAK, R.R.; ABT, D.S. Relationship between lymphosarcoma and persistent lymphocytosis in cattle. A review. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.175, p.705-708, 1979.
  • FERRER, J.F.; PIPER, C.E. Role of colostrum and milk in the natural tranmission of the Bovine Leukemia Virus. Cancer Research, v.41, p.4906-4909, 1981.
  • GARCIA, M.; BASTOS, P.A.S.; SILVA, M.M.; MARTINS, M. de F.; LETTRY, V. Concentração sérica de gamaglobulinas em bovinos naturalmente infectados pelo vírus da leucose enzoótica bovina. Ars Veterinária, v.18, n.1, p.62-66, 2002.
  • HÜBNER, S.O.; WEIBLEN, R.; MORAES, M.P.; SILVA, A.M.; CARDOSO, M.J.L.; PEREIRA, N.M.; ZANINI, M. Infecção intra-uterina pelo vírus da Leucose Bovina. Revista Brasileira de Reprodução Animal, v. 21, n.4, p.8-11, 1997.
  • KANTEK, C.E.; KRÜGER, E.R.; WELTE, V.R. Infecção com o vírus da Leucose Enzoótica Bovina em um lote de vacas produtoras de leite importadas do Uruguai. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.2, n.2, p.125-126, 1982.
  • KANTEK C.E.; KRÜGER E.R.; WELTE V.R. Prevalência do vírus da Leucose Enzoótica Bovina no rebanho leiteiro do Paraná. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.3, n.4, p.125-129, 1983.
  • LEITE, R.C.; MODENA, C.M.; MOREIRA, E.C.; ABREU, J.J. Evolução clínica da Leucose Enzoótica Bovina. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.36, n.1, p.47-57, 1984.
  • LEUZZI JUNIOR, L.A.; GUIMARAES JUNIOR, J.S.; FREIRE, R.L.; ALFIERI, A.F.; ALFIERI, A.A. Influência da idade e do tamanho do rebanho na soroprevalência da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos produtores de leite tipo B, na região de Londrina do Estado do Paraná. Revista Brasileira de Ciências Veterinárias, v.10, n.2, p.93-98, 2003.
  • LUDERS, M.A. Prevalência de anticorpos contra o Vírus da Leucose Enzoótica Bovina em fêmeas com mais de dois anos no rebanho de bovinos leiteiros no Município de Mafra, SC 2001. 30p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agroveterinárias/Sanidade Animal) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Lajes, 2001.
  • MEGID J.; NOZAKI C.N.; KURODA R.B.S.; CRUZ T.F.; LIMA K.C. Ocorrência de Leucose Enzoótica Bovina na microrregião da Serra de Botucatu. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, n.5, p. 645-646, 2003.
  • MILLER, J.M.; VAN DER MATTEN, M.J. Sorologic detection of Bovine Leukemia Vírus infection. Veterinary Microbiology, v.31, p.47-55, 1976.
  • MOLNÁR, L.; MOLNÁR, E.; SANTOS, A. M.; CORÔA, A.C.; TÚRY, E. Leucose em bovinos jovens; dados epidemiológicos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v.20, n.3, 1998.
  • OLIVEIRA, A.R.; BARRETO, C.S.F.; MERICHELLO, D.; SANQUENTIN, W.M. Epidemiologia da Leucose Bovina: ocorrência de anticorpos em várias faixas etárias. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v.19, n.6, 1997.
  • ROMERO, C. H.; ROWE, C. A. Enzootic bovine leukosis virus in Brazil. Tropical Animal Health and Production, v.13, n.2, p.107-111, 1981.
  • SILVA, R.C.; FONTANA, I.; MEIRELLES, F.C.; RUGGIERO, A.P.M.; BENATO, N.; BORGES, J.R.J. Ocorrência de leucose enzoótica bovina na forma de linfossarcomas no distrito federal: relato de caso. Arquivos do Instituto Biológico, São Paulo, v.75, n.4, p.507-512, 2008.
  • SPONCHIADO, D. Prevalência de anticorpos séricos anti-vírus da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos da raça Holandesa Preta e Branca, criados no estado do Paraná 2008, 101p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Paraná, 2008, Curitiba, 2008.
  • TÁVORA, J.P.F.; BIRGEL, E.H. Prevalência da infecção pelo Vírus da Leucose Enzoótica Bovina em rebanhos leiteiros criados na região do pólo Itabuna, estado da Bahia. Arquivo da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, v.14, n.1, p.164-183, 1991.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2010

Histórico

  • Recebido
    13 Mar 2009
  • Aceito
    02 Ago 2010
Instituto Biológico Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana - São Paulo - SP, 04014-002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: arquivos@biologico.sp.gov.br