Open-access DESEMPENHO DE TRICHOGRAMMA SPP. (HYMENOPTERA: TRICHOGRAMMATIDAE) EM OVOS DE DIAPHANIA HYALINATA (L.) (LEPIDOPTERA: PYRALIDAE) TRATADOS COM METARHIZIUM ANISOPLIAE E BEAUVERIA BASSIANA

PERFORMANCE OF TRICHOGRAMMA SPP. (HYMENOPTERA: TRICHOGRAMMATIDAE) IN EGGS OF DIAPHANIA HYALINATA (L.) (LEPIDOPTERA: PYRALIDAE) TREATED WITH METARHIZIUM ANISOPLIAE AND BEAUVERIA BASSIANA

RESUMO

Diaphania hyalinata (L., 1758) é uma das principais pragas de Cucurbitacea e ênfase tem sido dada ao controle biológico desta praga em substituição ao controle químico. A compatibilidade de agentes de controle biológico foi avaliada pelo desempenho de fêmeas de Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner, 1983 e Trichogramma pretiosum Riley, 1879 em ovos de D. hyalinata pulverizados com os fungos entomopatogênicos Metarhizium anisopliae (Metsh.) Sorok, 1883 e Beauveria bassiana (Balls.) Vuill. Vinte ovos de D. hyalinata foram imersos em suspensão de Metarril®, Boveril® e água destilada (testemunha) e oferecidos diariamente para o parasitismo por 24h até a morte dos parasitoides. Foram avaliados o parasitismo diário, acumulado e total, número de ovos parasitados, viabilidade, razão sexual e longevidade. Os fungos entomopatogênicos M. anisopliae e B. bassiana não afetaram as características reprodutivas e de sobrevivência das duas espécies do gênero Trichogramma, sendo que T. pretiosum apresentou maior parasitismo que T. atopovirilia em ovos de D. hyalinata. Os resultados obtidos neste trabalho mostram que é possível a integração de T. atopovirilia e os fungos entomopatogênicos M. anisopliae e B. bassiana em programas de manejo integrado de pragas de cucurbitáceas.

PALAVRAS-CHAVE Controle biológico; parasitóide; broca-das-cucurbitáceas; fungos entomopatogênicos

ABSTRACT

Diaphania hyalinata (L., 1758) is one

of the most important pests of the Cucurbitacae, and biological control is an alternative method to replace chemicals. Compatibility between biological control agents was evaluated measuring the performance of females of Trichogramma atopovirilia and Trichogramma pretiosum in eggs of Diaphania hyalinata treated with the entomopathogenic fungi Metarhizim anisopliae and Beauveria bassiana. Twenty eggs of D. hyalinata were immersed in a suspension of Metarri®, Boveril® and distilled water (control) and offered daily for the parasitism for 24 hours until the death of the parasitoids. Evaluation was made of the daily, accumulated and total parasitism, number of parasitized eggs, viability, sex ratio and longevity. The formulations of M. anisopliae and B. bassiana did not affect the reproductive characteristics and survival of the two species of Trichogramma, and T. pretiosumshowed higher parasitism thanT. atopovirilia in eggs of D. hyalinata. The results obtained in this work showed that it is possible to integrate the use ofT. atopoviriliaand theentomopathogenic fungi M. anisopliae and B. bassiana in cucurbit IPM systems.

KEY WORDS Biological control; parasitoid; melonworm; entomopathogenic fungus

A broca-das-cucurbitáceas Diaphania hyalinata (L., 1758) (Lepidoptera: Pyralidae) é considerada uma das pragas-chave de cucurbitáceas, pelos danos causados nas folhas, ramos, flores e frutos, ocasionando redução na produção e inviabilizando os frutos para consumo humano (PICANÇO et al., 2000).

O controle químico ainda é o principal método empregado para manter a população de D. hyalinata abaixo do nível de dano econômico. Alguns inseticidas recomendados para cucurbitáceas podem reduzir em até 100% o parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 e Trichogramma galloi Zucchi, 1988 (Hymenoptera: Trichogrammatidae), utilizados no controle biológico de pragas (BROGLIO-MICHELETTIet al., 2006).

A integração de métodos de controle é fundamental para implantação de programas de manejo integrado de pragas (KOGAN, 1986). A utilização de entomopatógenos e parasitoides do gênero são táticas de controle que apresentam potencial de compatibilidade no manejo integrado de pragas. O fungo Metarhizium anisopliae (Metsch.) Sorok, 1883 apresenta potencial na integração com o parasitoide T. galloi sobre ovos de Diatraea saccharalis (Fabr., 1794) (Lepidoptera: Crambidae). No entanto, em função do isolado testado, é possível observar redução na capacidade de parasitismo (BROGLIO-MICHELETTI, 2006). As avaliações dos prováveis efeitos de entomopatógenos sobre os inimigos naturais de pragas são necessárias para integrar esses dois métodos de controle e minimizar possíveis efeitos negativos quando na utilização em conjunto (ALVES, 1998).

O objetivo deste trabalho foi estudar a influência dos fungos M. anisopliae e Beauveria bassiana na capacidade de parasitismo e sobrevivência de Trichogramma atopovirilia Oatman & Platner, 1983 e T. pretiosum quando as posturas de D. hyalinata tratadas com esses fungos foram oferecidas aos parasitoides.

O experimento foi desenvolvido no Núcleo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Manejo Fitossanitário (NUDEMAFI), do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA/UFES), em Alegre, ES.

Coleta e criação deD. hyalinata. Lagartas de D. hyalinata foram coletadas em folhas de abóbora Cucurbita moschata Duchesne var. jacaré (Cucurbitaceae) em plantio localizado na área experimental do CCA/ UFES e mantidas em dieta natural de folhas e frutos da mesma variedade até atingirem a fase de pupa em laboratório. Essas foram sexadas, com base nas características da genitália, e armazenadas em caixas plásticas tipo Gerbox (10 x 10 x 2 cm) até a emergência dos adultos. Vinte casais foram agrupados em tubos de PVC (40 x 20 cm) com solução de mel a 10% como fonte de alimento. Os tubos foram mantidos sobre placa de isopor e a parte superior foi fechada com tela de náilon no período diurno e com papel sulfite à noite. Pedaços de pepino foram colocados sobre o papel sulfite para estimular a oviposição de D. hyalinata.

Manutenção e criação deT. atopovirillaeT. pretiosum. As fêmeas T. atopovirilia e T. pretiosum utilizadas foram retiradas da coleção estoque do NUDEMAFI onde foram mantidas e criadas em ovos do hospedeiro alternativo Anagasta kuehniella (Zeller) (Lep., Pyralidae), seguindo a metodologia desenvolvida por PARRA (1997) com adaptações para as condições do laboratório.

Condução dos experimentos. Ovos de D. hyalinata, com idade inferior a 24h, foram colados em cartela azul celeste (8 x 2 cm) com goma arábica a 30%. Esses ovos foram tratados com (i)B.bassiana (Boveril®, 5 x 108conídios viáveis por grama, pó molhável, Itaforte Bio Produtos) (ii) M. anisopliae (Metarril®, 5 x 108 conídios viáveis por grama, pó molhável, Itaforte Bio Produtos) e (iii) água destilada (testemunha). A concentração de 5x108 conídios viáveis por grama corresponde àquela recomendada pelo fabricante para aplicação em campo, considerando a viabilidade econômica e eficiência de controle. As cartelas com ovos foram imersas por 5 segundos nessas caldas colocadas sobre papel toalha para absorver o excesso de umidade. As cartelas foram oferecidas, diariamente, a um espécime de T. atopovirilia ou T. pretiosumem tubos de vidro (8,5 x 2,4 cm) e vedados por filme plástico PVC por 24h. O experimento foi mantido em câmara climatizada a 25 ± 1° C, umidade relativa de 70 ± 10% e fotofase de 14h até a emergência dos descendentes.

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, sendo cada tratamento composto por 15 repetições. Os parâmetros avaliados foram o parasitismo diário, acumulado e total, número total de ovos parasitados, viabilidade do parasitismo, razão sexual e longevidade dos adultos de T. atopovirilia e T. pretiosum. Os dados de parasitismo total, viabilidade, número total de ovos parasitados e razão sexual foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% com o programa SAEG, versão 9.1 e a longevidade foi submetida a análise de sobrevivência pelo teste de Log-Rank (proc lifetest, SAS System for Windows versão 8.0).

M. anisopliae e B. bassiana não prejudicaram a capacidade de parasitismo e sobrevivência de T. atopovirilia e T. pretiosum sobre ovos de D. hyalinata. A porcentagem média de parasitismo total de T. atopovirilia em ovos de D. hyalinata na ausência dos fungos (controle) não diferiu estatisticamente na presença de M. anisopliae e B. bassiana (F = 0,813; g.l. = 42; P ≥ 0,05). A longevidade média dos adultos de T. atopovirilia não diferiu entre os tratamentos com 5,3; 4,9 e 4,6 dias, respectivamente (χ2 = 1,45; g.l = 2; P ≥ 0,05). A capacidade de parasitismo de T. pretiosum também não diferiu entre os tratamentos controle e na presença de M. anisopliae e B. bassiana (F = 0,543 ; g.l.=42; P = P ≥ 0,05). A longevidade dos adultos de T. pretiosum também não diferiu entre os tratamentos 7,6; 7,6 e 6,5 dias, respectivamente (χ2 = 1,26; g.l = 2; P ≥ 0,05). A viabilidade de T. atopovirilia e T. pretiosum em ovos de D. hyalinata não apresentou diferenças significativas (F = 0,267 ; g.l. = 28; P ≥ 0,05) e (F = 0,432; g.l. = 28; P ≥ 0,05) respectivamente. Assim como a razão sexual (F = 0,645 ; g.l. = 28; P ≥ 0,05) e (F = 0,467; g.l. = 28; P ≥ 0,05) respectivamente (Tabela 1) (Fig. 1).

Tabela1
Média (± EP) de parasitismo, viabilidade, número de ovos parasitados e razão sexual de T. atopoviriliae T. pretiosumalimentados com mel e ovos de D. hyalinatatratados com os fungos M. anisopliaee B. bassianaa 25 ± 1º C 70 ± 10% e fotofase 14h.
Fig. 1
Parasitismo diário e acumulado de T. atopocirilia e T. pretiosumalimentados com mel e ovos de D. hyalinata tratados com os fungos M. anisoplie e B. bassiana.

Para maior eficiência e sustentabilidade de um programa de manejo integrado de pragas numa cultura são imprescindíveis estudos que permitam a integração das táticas de controle disponíveis. Os fungos entomopatogênicos apresentam grande potencial na integração com outros métodos de controle. A integração de agentes entomopatogênicos com organismos não-alvo como, por exemplo, a seletividade de um isolado de B. bassiana ao predador Chrysoperla externa (Hagen, 1861) (Neuroptera: Chrysopidae) (PESSOA et al., 2005) e entre isolados da bactéria Bacillus thuringiensis Berliner e T. pratissolii e T. pretiosum (POLANCZYK et al., 2006). Porém, a seletividade desses agentes de controle microbiano pode ser dependente do isolado testado. BROGLIO-MICHELETTI et al. (2006) verificaram que dois isolados de M. anisopliae não afetaram a capacidade de parasitismo de T. galloi sobre ovos de D. saccharalis, no entanto, um isolado reduziu drasticamente a capacidade de parasitismo e a emergência do parasitoide, assim como a longevidade da segunda geração.

Embora em alguns casos a presença de fungos entomopatogênicos possa prejudicar o parasitismo, é possível ocorrer um efeito aditivo no emprego desses dois métodos de controle. Segundo SANTOS JÚNIOR et al. (2006), a pulverização de M. anisopliae e B. bassiana reduziu a capacidade de parasitismo do parasitoide Oomyzus sokolowskii (Kurdjumov, 1912) (Hymenoptera: Eulophidae) sobre lagartas de Plutella xylostella L., 1758 (Lepidoptera: Plutellidae). Entretanto, a pulverização desses fungos após o parasitismo por 24h proporcionou melhor controle do que os métodos utilizados isoladamente.

Embora o parasitoide T. atopovirilia apresente alto potencial para estabelecimento em regiões produtoras de cucurbitáceas na Bahia, com cerca de 33 gerações ao longo do ano sobre D. hyalinata (MELO et al., 2007), a espécie T. pretiosum apresentou maior capacidade de parasitismo e número total de ovos parasitados do que T. atopovirilia. Mas, ambas as espécies são adequadas para o controle biológico de D. hyalinata em cucurbitáceas, uma vez que não apresentaram diferenças quanto à viabilidade e razão sexual em ovos dessa praga (Tabela 1).

A estratégia mais comum de uso de fungos entomopatogênicos e parasitoides no controle de pragas é a introdução inundativa, com rápida supressão da população de insetos-praga (LACEY et al., 2001). Portanto, pelos resultados observados no presente trabalho, é possível realizar a liberação das espécies de T. atopovirilia e T. pretiosum após a pulverização dos fungos entomopatogênicos M. anisopliae e B. bassiana porque não afetaram a capacidade de parasitismo, embora seja ainda necessário avaliar essa integração positiva em condições de campo.

Os fungos M. anisopliae e B. bassiana não afetam o desempenho das espécies de parasitoides T. atopovirilia e T. pretiosum em ovos de D. hyalinata. Estes entomopatogênicos têm potencial para ser utilizados em futuros programas de manejo integrado de pragas para as cucurbitáceas.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Jun 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2009

Histórico

  • Recebido
    17 Mar 2008
  • Aceito
    08 Maio 2009
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