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APRESENTAÇÃO DO VOLUME 25, N.1 DE ALEA. ESTUDOS NEOLATINOS

PRESENTATION OF VOLUME 25, ISSUE 1, OF ALEA. ESTUDIOS NEOLATINOS

No Editorial do primeiro número de 2022 (GONZÁLEZ, 2022GONZÁLEZ, Elena Palmero. Apresentação do v. 24, n. 1 de Alea. Estudos Neolatinos. ALEA, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 9-15, 2022., p. 9), Alea declarou sua adesão ao Programa Ciência Aberta. Sem uma plataforma muito ambiciosa nesse primeiro momento, iniciávamos a inserção do nosso trabalho nas novas dinâmicas de produção e divulgação do conhecimento científico que Ciência Aberta estimula, com um conjunto de ações que sinalizavam para a progressiva abertura de dados e para o aumento da transparência e da produtividade do processo editorial. Estávamos cientes de que essas ações iriam aos poucos se consolidando e estendendo seus alcances.

Transcorrido um ano, podemos dizer que esse esforço inicial rendeu resultados muito estimulantes. Ao atualizar os formulários de submissão e avaliação, implementar a Declaração de Conformidade com as práticas de Ciência Aberta, abrir a possibilidade de submissão de artigos já disponibilizados no servidor da SciELO Preprints, estimular o diálogo entre pareceristas e autores (respeitando o anonimato dos avaliadores), publicar o Parecer Final dos Editores, disponibilizar a Declaração de Autoria e manter uma interlocução permanente com os colaboradores, conseguimos avançar na compreensão de Ciência Aberta por parte da comunidade acadêmica que colabora com a revista e, consequentemente, na criação de uma sensibilidade afim com as políticas desse programa. Consolidada essa primeira parte do nosso empenho, procedemos a organizar o trabalho interno dos editores, no intuito de dinamizar o fluxo editorial para uma divulgação mais rápida das contribuições que recebemos. Uma ação concreta sobre a qual nos debruçamos durante todo o ano 2022 esteve direcionada a criar as condições materiais para começar a divulgar os artículos já aprovados em regime de fluxo contínuo, paralelamente à preparação de números.

Assim, a partir do atual volume, passamos a disponibilizar na modalidade de Ahead of Print (AOP) os artículos aprovados para publicação que ainda não foram integrados a um número. Para esses fins modificamos o layout da página da revista no Portal de Periódicos da UFRJ, abrindo uma aba para esses artigos aprovados e que se encontram no aguardo de serem integrados a um número, visando uma divulgação mais rápida de seus conteúdos. Uma das principais vantagens dessa modalidade é justamente permitir que as pesquisas sejam publicadas com mais agilidade e, assim, os resultados trazidos por elas possam ser reconhecidos com maior imediatez, sem a necessidade de aguardar que todo um número seja composto para que a comunidade acadêmica tenha acesso. Outra vantagem é que os textos terão adjudicado DOI a partir desse momento, ficando disponíveis para citação e com o consequente reconhecimento da autoria do trabalho.

Paralelamente a esse movimento de fluxo contínuo, manteremos a organização de números, temáticos ou de tema livre, considerando as preferências da nossa comunidade letrada. Nesse sentido, na página da revista, aparecerão as duas modalidades de divulgação, visíveis para os leitores: uma aba destinada a artigos em fluxo contínuo (AOP) e outra destinada a números configurados com as seções já tradicionais da revista.

Acreditamos que com essa ação damos um passo importante na consolidação da nossa adesão a Ciência Aberta. Esperamos que o dinamismo no fluxo editorial que pretendemos e a conseguinte imediatez na divulgação de conteúdos permita manter os níveis de excelência com os que estamos comprometidos os editores de Alea.

Este primeiro número do ano é de tema livre e, como sempre, o sumário propõe ao leitor um percurso de leitura. Um primeiro núcleo está constituído por sete textos cujo objeto de estudo se perfila no universo da literatura brasileira. Os três primeiros colocam a obra de Clarice Lispector como eixo central da reflexão comparatista, aproximando de maneira muito original sua produção como narradora, tradutora e cronista à obra de Jorge Luis Borges, à de Oscar Wilde e à de Machado de Assis. Universos aparentemente distantes são estudados aqui em uma rede de complementariedade, articulando, com esse proceder, um tipo de trabalho crítico que dinamita as formas retilíneas, contiguas e uniformes de pensar uma tradição literária. Na sequência, quatro textos fecham esse movimento de leitura focado na literatura brasileira. Agora são estudadas as obras de Machado de Assis, de Graciliano Ramos, de Guimaraes Rosa e de Campos de Carvalho. Personagens, motivos, estratégias comunicativas e de composição são objeto de reflexão desse conjunto de artigos, sendo que o último se volta para o exercício comparativo, nesse caso, a obra do grande mestre francês Louis-Ferdinand Céline é o eixo de referência para pensar o paródico em A lua vem da Ásia (1956CARVALHO, Campos de. A lua vem da Ásia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.), de Campos de Carvalho.

Outros sete textos articulam um segundo movimento de leitura, agora focado na reflexão teórica e teórico-crítica: uma revisitação à teoria da metáfora de Paul Ricœur (1975), apontando três ideias fundantes na reflexão do filósofo: a tensão constitutiva do ser metafórico; a suspensão da referência literal em favor de uma referência metafórica desdobrada e a ficção como heurística do real; uma aproximação à obra de Jacques Rancière, distinguindo o aproveitamento crítico que Rancière faz de Erich Auerbach em seus estudos sobre a prosa de ficção moderna; uma reflexão em torno à ideia de pertencimento e sua importância no âmbito dos estudos literários; uma problematização da noção de sujeito e sua variabilidade sócio-histórica; uma análise da heteronímia como procedimento que rompe o mito moderno do eu indivisível e autotélico, postulando um eu heteronímico poroso e aberto para fingir compreender o mundo; uma exploração das relações entre deserto, vazio e imaginação na crítica e na ficção contemporâneas a partir da noção moderna de paisagem; e uma aproximação a Ella escribía poscrítica (2005MATEO PALMER, Margarita. Ella escribía poscrítica. La Habana: Editorial Letras Cubanas, 2005.), da ensaísta cubana Margarita Mateo Palmer, que analisa a constituição genérica do livro, apontando para a liquidez das formas tradicionais do ensaio e a forma como essa estratégia de escrita se relacionou com o contexto cubano dos anos noventa.

O terceiro movimento de leitura que propõe nosso sumário está focado em dois textos, cujo eixo de reflexão é a figura animal. Um texto utiliza a figura do camelo para mostrar como na história da cultura ocidental o ideal de contiguidade entre o animal e o homem instaurou sempre uma relação problemática, acentuada, nesse caso, pelo sentido simbólico do camelo, tradicionalmente associado ao outro oriental. Há, conforme afirma o autor, duas questões em debate: uma diz respeito ao animal incômodo, na mediação entre culturas, aquele que é veículo e símbolo do outro e está prestes a atravessar a fronteira, criando desconforto no universo das taxonomias e no sistema de representações; outra relativa à constituição simbólica do dualismo global Oriente-Ocidente, na qual o camelo tem um importante papel simbólico. O outro texto acompanha o desenvolvimento de uma das figuras mais sugestivas da literatura greco-romana, o basilisco, destacando como suas caraterísticas legendárias foram se transformando no processo de transmissão e adquirindo aos poucos traços extraordinários de intenso dramatismo. Os autores estudam erros textuais que coadjuvaram para esse processo de transformação significativa da figura.

O quarto bloco de leitura que desenha nosso sumário está conformado por dois textos do universo literário francês: um artigo estuda a presença da figura feminina da avó na construção do narrador proustiano, acompanhando seu movimento de “Une soirée à la campagne”, primeira unidade narrativa de Lessoixante-quinze feuillets et autres manuscrits inédits (2021PROUST, Marcel. Lessoixante-quinze feuillets et autresmanuscritsinédits. París: Gallimard, 2021.), a “Combray”, primeiro capítulo de No caminho de Swann (1972PROUST, Marcel. No caminho de Swann. In: PROUST, Marcel. Em Busca do Tempo Perdido. Tradução Mario Quintana. 2 ed., 3 rev. Porto Alegre: Globo, 1972. v. 1. pp. 11-161.); o outro aprofunda a obra de Annie Ernaux, explorando a complexa relação que a autora desenvolve com o ficcional e o lugar do sujeito em seu projeto de escrita, um projeto que permanentemente externa o conflito com a ficção da qual, ao mesmo tempo, não se desvencilha.

Fecham o percurso de leitura que propomos, uma entrevista concedida pela poeta e ativista indígena Márcia Kambeba, a quem agradecemos sua colaboração desinteressada com Alea, e uma resenha dos dois primeiros tomos de Temas para uma história da literatura hispano-americana (2022), organizados por Alfredo Cordiviola (UFPE), Ana Cecilia Olmos (USP), Elena Palmero González (UFRJ), Miriam Viviana Gárate (UNICAMP) e editados pela Editora Letra1, de Porto Alegre. Trata-se de uma obra coletiva, de perfil historiográfico, que constará com cinco volumes, cujo objetivo é oferecer aos alunos dos cursos de graduação e pós-graduação de Letras do Brasil, assim como aos professores e pesquisadores da área, um material de consulta bibliográfica que, sem ânimo totalizador, possa sugerir linhas de reflexão em torno do processo histórico da literatura hispano-americana. A resenhista destaca, pertinentemente, como os volumes publicados acompanham metodologicamente os avanços da historiografia literária das últimas décadas, apresentando uma revisão atualizada de temas já canonizados pela crítica e pela historiografia literárias e incluindo também problemas que aparecem com os novos repertórios literários que dinamizam a vida cultural do século XXI. Conforme o título indica, não se trata de uma história total da literatura; mas de temas que possam tornar visível aspectos da construção sempre inacabada e por vir da história literária.

Participaram neste volume professores de diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Do Brasil, recebemos colaborações de pesquisadores das seguintes instituições: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Universidade Federal do Paraná; Universidade Federal do Maranhão; Universidade Federal de Minas Gerais; Universidade Federal de Goiás; Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidade Federal de Santa Maria; Universidade Federal do Norte do Tocantins; Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Instituto Federal do Triângulo Mineiro; Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Universidade de São Paulo; Universidade Estadual de Campinas; Universidade Estadual Paulista - Campus Araraquara e Universidade do Estado da Bahia. De Polônia recebemos colaborações de colegas da Adam Mickiewicz University e da University of Wrocław. Da Argentina recebemos colaborações da Universidad Nacional de Córdoba.

Externamos nosso agradecimento a todos os colaboradores que permitiram com seu trabalho organizar este volume, e aos nossos leitores, como sempre, desejamos uma agradável e produtiva leitura.

Referências:

  • CARVALHO, Campos de. A lua vem da Ásia Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.
  • GONZÁLEZ, Elena Palmero. Apresentação do v. 24, n. 1 de Alea. Estudos Neolatinos. ALEA, Rio de Janeiro, v. 24, n. 1, p. 9-15, 2022.
  • MATEO PALMER, Margarita. Ella escribía poscrítica La Habana: Editorial Letras Cubanas, 2005.
  • PROUST, Marcel. Lessoixante-quinze feuillets et autresmanuscritsinédits París: Gallimard, 2021.
  • PROUST, Marcel. No caminho de Swann. In: PROUST, Marcel. Em Busca do Tempo Perdido Tradução Mario Quintana. 2 ed., 3 rev. Porto Alegre: Globo, 1972. v. 1. pp. 11-161.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Abr 2023
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2023
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