Tanto dentro quanto fora da Argentina, a significação de Respiración artificial foi analisada, nas décadas de 1980 e 1990, em relação aos horrores do panóptico do Estado terrorista argentino (1976-1983). Voltar a Respiración artificial no início do século XXI implica situar a sua leitura não mais como uma resposta cifrada do Proceso, mas sim na lógica da dinâmica particular que a literatura nacional adquiriu no novo contexto histórico, caracterizado pela continuidade, consolidação e crise dos processos democráticos internos, no quadro internacional da hegemonia de uma economia de câmbio livre de corte neoliberal que afeta de modo singular o desenvolvimento das democracias locais e de suas literaturas. Desde essa nova conjuntura histórica, a presença do século XIX em Respiración artificial permite inscrever e conectar o presente de seu contexto de produção e enunciação - final da década de 1970 - com as origens do Estado moderno. Esse século XIX pode ser lido como chave para uma crítica da racionalidade moderna periférica.
Literatura argentina; Estado moderno; Literatura e política