Resumo
O presente artigo tenta caracterizar a substituição das letras latino-americanas pelas artes visuais, no que se refere a sua projeção internacional, nos últimos cinquenta anos. Enquanto o Boom latino-americano da literatura dos anos 60 se extinguia paulatina e quase imperceptivelmente, há críticos que afirmam que a difusão, a demanda no mercado e o disparado valor monetário das artes visuais ameaçam a desaparecer repentinamente. Este fenômeno costuma ser evocado através da metáfora da bolha, que examinamos aqui em suas múltiplas facetas: econômicas, artísticas e literárias. Como motivo, a referida imagem plástica de fragilidade ilustra a fugacidade e, de modo paradoxal, a violência. Com relação aos processos descritos neste artigo, também cabe perguntar até que ponto a demanda do mercado é responsável pela criação e consolidação dos movimentos ou programas estéticos coletivos e homogeneizantes. O sucesso repentino e massivo de canonização, notoriedade e circulação sempre pode atuar como catalisador na formação de escolas. Na América Latina, o boom com impacto global fomenta também uma orientação panamericana e transnacional. Influentes curadores, colecionadores e feiras contribuíram de maneira decisiva para tirar as artes visuais da uma difusão reduzida, muitas vezes fragmentária, rizomática de indivíduos, na qual precisamente se movem atualmente os literatos.
Palavras-chave
Arte e literatura latino-americanas; Boom; bolha; fugacidade; transnacionalização; mercado; difusão; cânone; Valeria Luiselli e Teresa Margolles