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Editorial

EDITORIAL

O presente volume teve como proposta temática uma discussão sobre as (des)figurações da subjetividade e da história no panorama do debate estético contemporâneo.

No artigo que abre o volume, João Camillo Penna parte da figuração da violência urbana na poesia de Armando Freitas Filho para discutir, de um lado, o modo específico como a relação entre o poema e o fato social é atravessada pela representação midiática na contemporaneidade, e, de outro, mais genericamente, os novos processos de (des)subjetivação que tal relação permite problematizar tanto no plano estético quanto no plano político. No segundo artigo, focado na abordagem da pobreza e da miséria na literatura (Clarice Lispector), na fotografia (Sebastião Salgado) e no cinema documentário (Estamira, de Marcos Prado), Ana Chiara, de certa forma, dá sequência à discussão do tema, orientando-se explicitamente por um esforço crítico em relação ao "olhar preconceituoso e/ou piedoso" com que em geral se pretende abordá-lo.

Em seguida, dois artigos retomam importantes discussões que permeiam a literatura europeia do século XX, buscando, numa perspectiva comparada, relacioná-las com questões que sejam nossas - em termos de cultura e de atualidade. Maria Aparecida Barbosa retorna com o poeta alsaciano Ivan Goll à discussão de certas tendências totalizantes e das categorias nacionais da primeira metade do século passado. Por meio da contextualização da recepção de sua obra e de suas querelas com Breton por Mário de Andrade, a pesquisadora se propõe a recuperar e a revitalizar a noção de cosmopolitismo no panorama contemporâneo. Em outra vertente de leitura, Marcelo Paiva de Souza apresenta-nos o escritor polonês Gustaw Herling-GrudziŃski (1919-2000) e sua obra Um outro mundo (1953). A partir dela, o autor retoma os debates em torno do totalitarismo e da literatura testemunhal, relacionando-os aos contextos da América Latina e da Polônia.

Em um terceiro bloco, três artigos abordam questões diretamente ligadas a autores franceses, mas que podem ser consideradas como centrais no âmbito do debate proposto. Paula Glenadel analisa o trabalho de experimentação formal realizado pela escritora contemporânea francesa Nathalie Quintane em suas "formagens", investigando a dimensão política de sua obra, a partir, em especial, de algumas inflexões em torno de Derrida. A seguir, Piero Eyben discute a tensão entre experiência e escrita na formação do ensaio, este gênero que se consolida como um gênero maior ao longo do século XX. O autor se vale, para tanto, de um diálogo com escritores - ensaístas - importantes no pensamento contemporâneo, como Maurice Blanchot e Jacques Derrida. Conclui a série de artigos do volume a reflexão de Jean-Pierre Zarader, em que, a partir da análise do lugar ocupado pelas esculturas e fetiches africanos nos escritos sobre a arte de André Malraux, o autor recoloca em questão, entre outras coisas, a ambiguidade da aceitação ocidental da arte africana, que não deixa de ser "uma forma mascarada e infinitamente sutil de colonização e, portanto, de etnocentrismo".

Compõem ainda o volume duas contribuições importantes: a inestimável tradução de Bruno Duarte do ensaio Sobre a incompreensibilidade, de Friedrich Schlegel, sobre uma questão talvez mais do nunca essencial para nosso tempo: a questão da comunicação; e a resenha, por João Camillo Penna, do livro póstumo de Philippe Lacoue-Labarthe, recém-publicado na França, e que retoma um dos temas fundamentais de sua obra: as relações entre a morte, a vida e a literatura.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Maio 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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