Este trabalho pretende demonstrar que o gênero pictórico dos bodegones, característico do Barroco transatlântico, tem uma de suas origens na pobreza, nos restos da mesa espanhola do século XVII, sendo a outra origem a abundância americana, plena de frutas e lendas exóticas de fecundidade. Zurbarán foi o grande pintor de temas americanos, mas uma de suas obras mais famosas foi interpretada como representação alegórica da epifania da Virgem Maria. Este artículo pretende problematizar essa leitura a partir de um dado revelado por raios X: Zurbarán incluiu no quadro um prato de batata-doce, um tubérculo americano, que depois apagou e reproduziu em um quadro independente. O bodegón, portanto, é um gênero mais americano, menos místico e mais barroco.
Bodegón; poéticas transatlânticas; Barroco