Resumo
Em 1975, Georges Perec publica W ou le souvenir d'enfance, obra ao mesmo tempo ficcional e autobiográfica, na qual dois regimes diferentes de enunciação aparecem lado a lado. Em seu livro, Perec coloca em cena esse indecidível entre o imperativo de narrar o que ele não viveu e sua impossibilidade absoluta, desenvolvendo uma estratégia narrativa na qual, através da ficção, ele procura enfrentar sua falta de lembranças. O objetivo deste artigo é analisar o modo como esses dois regimes operam, permitindo a criação de um espaço duplo em que autor e narrador não cessam de se confundir em um jogo em que o sujeito só pode existir sob o risco de sua completa dissolução.
Palavras-chave:
Perec; memória; cinzas; desaparecimento