RESUMO
Como parte de um projeto de pesquisa de dois anos, o estudo examina a iconicidade diagramática da forma de mão Y de duas línguas de sinais não-cognatas; a língua de sinais americana e a língua de sinais grega. Em uma amostra de sessenta e quatro sinais, e através de uma metodologia de leitura próxima, o estudo demonstra a associação da forma de mão específica com referentes do mundo real que têm simultaneamente forma redonda e angular (por exemplo, cilíndrica, cônica), ou apenas forma angular/linear. Também apoia a sua associação histórica com o antigo signo mano cornuta, abordando sua metonímia em significados relativos à quantidade, terra, vida, perda, luz e cavidade.
forma de mão Y; mano cornuta; iconicidade; língua de sinais americana; língua de sinais grega
ABSTRACT
As part of a two-year research project, the study examines the diagrammatic iconicity of the Y-handshape of two non-cognate sign languages; the American Sign Language and Greek Sign Language. In a sample of sixty-four signs, and through a close reading approach, it demonstrates the association of the specific handshape with real-world referents that have simultaneously a round and angular form (e.g. cylinder, cone), or only an angular/linear shape. It also shows its historic association with the ancient traditional sign mano cornuta , addressing its metonymy in meanings relating to quantity, earth, life, loss, light and cavity.
Y-handshape; mano cornuta; iconicity; American Sign Language; Greek Sign Language
Introdução
O estudo faz parte de um projeto de pós-doutorado de dois anos (fevereiro de 2014 a março de 2016) sobre o simbolismo da fonologia fechada de línguas naturais (orais e de sinais), que foi realizado na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Pelotas - RS, Brasil. Em particular, examinou a forma de mão Y como um fonema fechado de línguas de sinus (SLs), ao lado de forma de mão A e suas alofones (por exemplo, as formas de mão S e Å), com base na iconicidade diagramática , de acordo com a qual formas (por exemplo, fonemas) são diagramas ou ícones que “representam as relações das partes de uma coisa por relações análogas em suas próprias partes” ( WAUGH, 1994WAUGH, L. R. Degrees of Iconicity in the Lexicon. Journal of Pragmatics , n.22, p.55-70. 1994. , p.56), assemelhando-se e/ou imitando objetos em relação à similaridade de relações entre suas partes. Assim, nas SLs e nas línguas orais há iconicidade em seu léxico, e a chave para sua compreensão é comparar suas correspondências estruturadas. ( EMMOREY, 2014EMMOREY, K. Iconicity as Structure Mapping. Philosophical Transactions of the Royal Society B , n.369, ago. 2014. Disponível em: <http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/369/1651/20130301. Acesso em: 15 mar. 2016.
http://rstb.royalsocietypublishing.org/c...
).
Uma conexão entre a forma, o significado e os referentes do mundo real é possível através do simbolismo quando as unidades livres de conteúdo transmitem significado em certos contextos lingüísticos ( AURACHER et al.2011AURACHER, J.; Albers, S.; Zhai, Y.; Gareeva, G.; Stavniychuk, T. P is for Happiness, N is for Sadness: Universals in Sound Iconicity to Detect Emotions in Poetry. Discourse Processes , n.48, p.1-25, 2011. ; PERNISS; THOMPSON; VIGLIOCCO, 2010PERNISS, P.; THOMPSON, R. L.; VIGLIOCCO, G. Iconicity as a General Property of Language: Evidence from Spoken and Signed Languages. Frontiers in Psychology , n.1(227), dez. 2010. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3153832/. Acesso em: 15 mar. 2016.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). Portanto, cada objeto pode ter um nome inerentemente correto conhecido a partir do próprio objeto, a partir de seus dados denotados ( PERNISS; THOMPSON; VIGLIOCCO, 2010PERNISS, P.; THOMPSON, R. L.; VIGLIOCCO, G. Iconicity as a General Property of Language: Evidence from Spoken and Signed Languages. Frontiers in Psychology , n.1(227), dez. 2010. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3153832/. Acesso em: 15 mar. 2016.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/article...
). O estudo adota a tipologia do simbolismo de Hinton, Nichols e Ohala (1994)HINTON, L.; NICHOLS, J.; OHALA, J. J. Introduction: Sound–Symbolism Processes. In: OHALA, J. J.; HINTON, L.; NICHOLS, J. (Ed.). Sound Symbolism. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1994. p.1-12. como a união direta entre forma e significado, onde certos fonemas e supra-segmentais “são escolhidos para representar consistentemente propriedades visuais, táteis ou proprioceptivas de objetos, como tamanho ou forma”. Essa relação é mais transparente nas SLs, já que eles fazem uso da iconicidade em uma extensão muito maior do que as línguas faladas (TAUB, 2001). Sua modalidade visual-manual fornece “recursos mais ricos para criar semelhanças estruturais entre forma e significado fonológico,” já que sua modalidade tridimensional visual “permite a expressão icônica de uma ampla gama de estruturas conceituais básicas, como ações humanas, movimentos, locais e formas de objetos” ( EMMOREY, 2014EMMOREY, K. Iconicity as Structure Mapping. Philosophical Transactions of the Royal Society B , n.369, ago. 2014. Disponível em: <http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/369/1651/20130301. Acesso em: 15 mar. 2016.
http://rstb.royalsocietypublishing.org/c...
, p.1574).
A investigação de tal analogia baseia-se no fato de que objetos visuais são caracterizados por fronteiras ou contornos que delimitam suas propriedades geométricas no espaço visual (por exemplo, tamanho, forma, localização) ( BREITMEYER; TAPIA, 2011BREITMEYER, B. G.; TAPIA, E. Roles of Contour and Surface Processing in Microgenesis of Object Perception and Visual Consciousness. Advances in Cognitive Psychology , n.7, p.68-81, 2011. ), e sua codificação deriva de combinações “de um número modesto de primitivos categorizados baseados em contrastes perceptivos simples” ( BIEDERMAN, 1987BIEDERMAN, I. Recognition-by-Components: A Theory of Human Image Understanding. Psychological Review , n.94(2), p.115-147, 1987. , p.145), que podem permitir configurações canônicas. Foi então hipotetizado que a forma de Y é culturalmente selecionada para se assemelhar aos contornos encontrados em cenas naturais, especialmente aquelas de referenciais do mundo real.
O Estudo
Embora a forma de Y seja uma forma de mão marcada (em termos de sua frequência proporcional; não ocorre com frequência) na maioria das SLs (cf. VAN DER KOOIJ; CRASBORN, 2016VAN DER KOOIJ, E.; CRASBORN, O. A. Chapter 11: Phonology. In: BAKER, A.; VAN DEN BOGAERTE, B.; PFAU, R.; SCHERMER, T. (Ed.). The Linguistics of Sign Languages: An Introduction. Amsterdam: John Benjamins, 2016. p.251-278. ) como na Língua Americana de Sinais (ASL) e na Língua Grega de Sinais (GSL), o estudo tem como objetivo mostrar alguns mapeamentos convergentes em determinado contexto e para semelhantes e/ou os mesmos referentes. Para os fins deste exame, foram utilizados os seguintes dicionários: (i) o Online Dictionary of Concepts in GSL pelo Educational Policy Institute (2013)EDUCATIONAL POLICY INSTITUTE. Online Dictionary of Concepts in GSL .Athens, Greece: National Strategic Reference Framework ESPA 2007-2013, Operational Programme “Education and Lifelong Learning,” 2013. Disponível em: <http://prosvasimo.gr/el/onlne-lexiko-ennoiwn. Acesso em: 1 mar. 2016.
http://prosvasimo.gr/el/onlne-lexiko-enn...
, e o Dictionary of Sign Language por Magganaris (1998)MAGGANARIS, T.Sign Language Dictionary. Εγχειρίδιο νοηματικής γλώσσας (in Greek). Thessaloniki: European Social Fund “Employment – HORIZON” & Aristotle University of Thessaloniki, 1998. ; e (ii) o American Sign Language handshape dictionary por Tennant e Gluszak Brown (1998)TENNANT, R. A.; GLUSZAK BROWN, M. The American Sign Language Handshape Dictionary . Washington, D.C.: Gallaudet University Press, 1998. , dos quais 64 sinais envolvendo a forma de mão Y (nas mãos dominantes e não dominantes) foram extraídos (veja o Apêndice
Apêndice
SINAIS DE ASL
SINAIS DE GSL
AH-EU-VEJO
VACA
AMARELO
IMPOSSÍVEL
FICAR, PERMANECER, AINDA
AVIÃO
EU-TAMBÉM, EM-COMUM, MESMO, SIMILAR
SOBRINHO
VACA, TOURO
DAR-UM-PASSEIO
BÊBADO
ENTRETENIMENTO
LOIRO
ANIMAIS
TELEFONE
AZUL
HOLANDA, HOLANDÊS
PRIMO
BOBO, ABSURDO, LOUCURA, TOLO, RIDÍCULO
JOGO, BRINCAR
PENDURAR-SE-POR-CORDA
QUINTA-FEIRA
BARBEAR
CACHIMBO
ERRO, ERRADO
NUNCA
ONTEM
POUSAR (AVIÃO)
AQUELE
PARENTES
IMPOSSÍVEL
BANHEIRO, WC
HIPOPÓTAMO
AINDA
PASSAR-ROUPA
ETERNIDADE, CONTINUAMENTE
MEDIR
TRICOTAR
NOVA-YORK
TOURO
RINOCERONTE
ESPANHA
METRÔ
JUNHO
PORQUE
LENTO
JOGAR
PASSEIO
AGORA, PRESENTEMENTE
ATENAS
CONTRÁRIO, ANTAGÔNICO, CABEÇA-DURA, RABUGENTO
MAMÍFEROS
MEDIDA, RÉGUA, TAMANHO
PRESA
AINDA-ASSIM, AINDA
BEGE
UNIFORME, UNIVERSAL
HUMOROSO, CÔMICO
ELABORAÇÃO, ENGENHARIA
GORDO, OBESO
PAÍS
PALAVRA-GRANDE
JURAR, AMALDIÇOAR
HOJE
), seguindo a ordem de aparição nos dicionários.
Os sinais coletados também foram cruzados com os seguintes dicionários: para GSL, com o Dictionary of Sign Language por Logiadis e Logiadi (1985)LOGIADIS, N.; LOGIADI, M. N. Dictionary of Sign Language. Λεξικό νοηματικής γλώσσας (in Greek). Athens: Potamitis Press, 1985. , e o System of Greek Signs por Triantafyllides (1990)TRIANTAFYLLIDES, G. System of Greek signs. Σύστημα ελληνικών νευμάτων (in Greek). Thessaloniki: “The friends of the Deaf in Thessaloniki” Club, 1990. ; e para ASL, com o American Sign Language dictionary por Costello (2008)COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. , e o A historical and etymological dictionary of American Sign Language por Shaw e Delaporte (2015)SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. . Além disso, foi utilizado o dicionário online Spreadthesign (2012), permitindo que os itens lexicais das duas SLs sejam comparados globalmente.
Os dados são relatados qualitativamente, com base numa abordagem de leitura atenta (close reading approach) ( KANEKO; SUTTON-SPENCE, 2012KANEKO, M.; SUTTON-SPENCE, R. Iconicity and Metaphor in Sign Language Poetry. Metaphor and Symbol , n.27(2), p.107-130, 2012. ) que envolveu o modelo de construção analógica de três estágios ( TAUB, 2004TAUB, S. F. Language from the Body: Iconicity and Metaphor in American Sign Language. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. ) para demonstrar a relação entre a forma de mão Y, seu significado e referentes. Ao fazer isso, três etapas foram seguidas: a seleção de uma imagem mental associada ao conceito/referente original; a esquematização de características essenciais da imagem; e a codificação do esquema resultante, a própria forma de mão Y. Os dados também envolveram estatística descritiva devido à pequena amostra do estudo.
Resultados
Conforme as Tabelas 1 e 2 , a forma Y em ASL (n = 36) e GSL (n = 28) é usada em quase os mesmos domínios semânticos, embora sua frequência seja diferenciada em cada SL. Na ASL, a forma refere-se mais frequentemente aos significados de ‘quantidade, medição e tempo’ (por exemplo, MEDIDA, ONTEM, OBESO), e ‘terra, localização, referência e presença’ (por exemplo, PAÍS, NOVA-IORQUE, PRESENTEMENTE), enquanto na GSL, aparece com mais frequência nos significados de ‘movimento’ (por exemplo, BRINCAR, DAR-UM-PASSEIO, TRICOTAR), ‘quantidade, medição e tempo’ (por exemplo, ETERNIDADE QUINTA-FEIRA), e ‘vida / animais’ (por exemplo, VACA, ANIMAIS, MAMÍFERO). A comparação revela domínios comuns, embora a articulação da maioria dos sinais seja diferente.
A exceção é o sinal de VACA, pois é o mesmo em ambas as SLs, embora sua execução seja ligeiramente diferente no movimento da forma de mão ( Fig. 1 ). No geral, a forma Y parece expressar animais, especialmente mamíferos (por exemplo, em ASL, TOURO, HIPOPÓTAMO, RINOCERONTE), um resultado que também indica uma preferência tanto pela ASL quanto pela GSL em relação à fonologia fechada para a representação de animais e organismos vivos. Neste caso, a forma Y corresponde, por exemplo, a boca aberta do animal (o hipopótamo), ao chifre de rinoceronte e/ou aos chifres de uma vaca ou touro ( Fig. 2 ), em outras palavras, aos referentes cujos contornos visualmente formam um esquema arredondado e/ou carregam a redondeza, como os chifres cônicos dos animais. Na GSL, os sinais ANIMAIS e MAMÍFEROS são realizadas por essa forma específica, talvez devido à metonímia referente ao gado. Em ASL, os chifres também são executados pela forma de mão S ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ), um alofone da forma de mão A, que também imita a redondeza de seu referente. Ambas as mãos em uma forma O fechada imitam a exploração dos chifres, movidas para cima enquanto forma um pequeno arco, e terminam na forma S (veja a Fig. 1 ).
– O modelo de construção analógico para o sinal COW 1 1 Em ambos os SLs, o sinal VACA também é de duas mãos, normalmente, porém, é executado como uma mão. Na GSL, também é um composto pelos sinais de CHIFRE (articulado com a forma Y) e LEITE (articulado com a forma S), descrevendo a cabeça do animal e sua ordenha.
– O modelo de construção analógico para os sinais em ASL, HIPOPÓTAMO e RINOCERONTE 2 2 No hipopótamo, os dedos da forma Y combinam com os dentes salientes do animal.
Baseado no modelo de construção analógica de três estágios, a forma Y no domínio ‘terra, localização, referência e presença’, demonstra sua associação com o simbolismo ‘animal / vida’. Por exemplo, nos sinais ESPANHA 3 3 Este é um sinal antigo registrado por Triantafyllides (1991, p. 104). Atualmente, o sinal mudou e é articulado com a forma A. (na GSL) e HOLANDA 4 4 Outra versão deste signo refere-se ao chapéu tradicional de seu povo. (na ASL), representa a cabeça de uma vaca/touro, referindo-se, assim, à tourada na Espanha e ao gado para a pecuária leiteira na Holanda. Na GSL, o sinal ATENAS é gravado para ser expresso por tanto a forma Y ( LOGIADIS; LOGIADI, 1985LOGIADIS, N.; LOGIADI, M. N. Dictionary of Sign Language. Λεξικό νοηματικής γλώσσας (in Greek). Athens: Potamitis Press, 1985. ) e/ou por a forma A ( Fig. 3 ), uma descoberta que atesta sua função alternativa. Nesse caso, sua fonologia fechada representa o lugar, a cidade (Atenas) no meio da forma B, 5 5 Ambas as formas de mão denotam “terra/lugar”, mas a diferença está na primazia da mão. A forma de mão B tem um papel explicativo secundário em relação à forma em Y da mão principal. É subordinada, servindo como o locus onde o principal referencial (Atenas) está localizado. denotando coletividade (por exemplo, a cidade como um grupo de pessoas) e, portanto, entidade. A sua indicação para o centro da forma B indica o epicentro do país como capital.
Na ASL, o sinal PAÍS (ou TERRA) refere-se a um estado ou nação ou seu território, e a áreas rurais, ao contrário de cidades e vilas ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ). De fato, sua etimologia é baseada no sinal francês CAMPAIGNE (campo), que imita a ação de colheita, o corte de trigo com uma foice (veja a Fig. 4 ). Este sinal de ASL (PAÍS) com a forma Y é a segunda e alternativa versão daquele com a forma B, que também vem do seu correspondente francês (cf. SHAW; DELAPORTE, 2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. ), imitando a superfície da lâmina da foice. O fato de que o domínio ‘terra’ é expresso por uma forma fechada (como a forma Y), corrobora com a pesquisa atual de simbolismo sonoro que mostra fonemas fechados (meio-para-trás) para se conectar a significados de terra, grandeza e/ou magnitude ( MIALL, 2001MIALL, D. S. Sounds of Contrast: An Empirical Approach to Phonemic Iconicity. Poetics , n.29, p.55-70, 2001. ; NOBILE, 2011NOBILE, L. Words in the mirror: Analysing the sensorimotor interface between phonetics and semantics in Italian. In: MICHELUCCI, P.; FISCHER, O.; LJUNGBERG, C. (Ed.). Iconicity in Language and Literature 10: Semblance and Signification. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2011. p.101-132. ).
– A etimologia do sinal PAÍS em ASL 6 6 O sinal é originário do francês CAMPAIGNE (campo), que é exatamente o mesmo na GSL para COLHEITA, CAMPO, e AGRICULTOR.
O domínio ‘comunidade’ aparece apenas na GSL, em que a forma Y denota relações familiares, como PRIMO e PARENTES. Essa é mais uma indicação do mapeamento da fonologia fechada para significados de grupos e relações sociais (veja acima para ATENAS), que, em certa medida, se associam ao domínio ‘vida’, como se referem ao homem em geral (e assim, para uma entidade). Para a GSL, quanto mais próxima é a relação familiar, mais fechada é a fonologia do sinal. Por exemplo, relações familiares de primeiro grau (por exemplo, MÃE, PAI) são executadas pela forma de mão A (na cabeça), fonologicamente uma forma mais fechada do que a forma Y, que expressa o segundo e/ou terceiro grau relativo ( Fig. 5 ).
– Exemplos da forma de mão Y no domínio da comunidade 7 7 O fechamento da forma da mão indica uma direção centrípeta em direção ao usuário, e na cabeça (por exemplo, segurando a colher para alimentar no sinal MÃE). A forma de mão Y é fonologicamente mais aberta do que a forma de mão A, denotando direção longe de si mesmo, e facção.
A correspondência fonológica também ocorre no domínio ‘cavidade-volume’ para os sinais AVIÃO e TELEFONE, em que a parte fechada da forma imita o volume do corpo das referências específicas, e seus dedos estendidos, as asas da aeronave e/ou o telefone. Na ASL, a forma H também se alterna com a forma Y para a articulação de AVIÃO. Neste domínio, a forma Y também imita a manipulação do referente (por exemplo, em ASL, FERRO e BARBEAR), mapeando assim parcialmente a sua redondeza, considerando, por exemplo, a forma redonda da pegada de um ferro e/ou a forma cilíndrica da aeronave (cf. BIEDERMAN, 1987BIEDERMAN, I. Recognition-by-Components: A Theory of Human Image Understanding. Psychological Review , n.94(2), p.115-147, 1987. , p.132). Embora haja alguma variedade no desempenho do FERRO em ASL, na GSL ele é assinado com a forma de mão Â, mostrando esse manuseio exato. Para o sinal BARBEAR, ambas as formas de mão aparecem, dependendo da forma da navalha, embora o movimento difira ( Fig. 6 ). Essa alternância de configuração de mão também demonstra a forte analogia da forma Y com a forma do referente.
– Os sinais BARBEAR em ASL e GSL 8 8 Em GSL, a forma de mão A é usada quando o sinal se refere à máquina de barbear. Quando a articulação se refere à navalha da imagem, a forma Y é usada.
No domínio ‘quantidade, medida e tempo’, a forma Y aparece em primeiro lugar nos conceitos de tempo. Por exemplo, o sinal AINDA (transmite o conceito de continuidade no futuro; cf. COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ; SHAW; DELAPORTE, 2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. ) aparece em ambas as SLs independentemente da sua articulação diferente. Além disso, o sinal ONTEM em ASL aparece com a forma de mão A e Y, enquanto na GSL, apenas com a forma A. Em outros casos, como na GSL para QUINTA-FEIRA, a forma Y é suportada para representar uma forma antiga do número cinco ( TRIANTAFYLLIDES, 1990TRIANTAFYLLIDES, G. System of Greek signs. Σύστημα ελληνικών νευμάτων (in Greek). Thessaloniki: “The friends of the Deaf in Thessaloniki” Club, 1990. ), que é encontrada em outras SLs europeias (por exemplo, romena, checa, francesa; cf. SPREADTHESIGN, 2012SPREADTHESIGN. Örebro, Sweden: European Sign Language Centre, 2012. Disponível em: <www.spreadthesign.com. Acesso em: 1 mar. 2016.
www.spreadthesign.com...
) ( Fig. 7 ), e no tradicional shaka havaiano que também representa o número cinco. A explicação mais provável para tal correspondência foi a antiga adoração generalizada de Vênus 9
9
Artefatos arqueológicos mostram que o polegar e o dedo mínimo, partes da forma de Y, eram dedicados a Vênus, o sol e a lua, e envolviam representações com chifres, como uma cabeça feminina com chifres ( ELWORTHY, 1900 ).
(como uma estrela da manhã e da noite, correspondendo ao sol e à lua), cujo símbolo de estrela de cinco pontas representava o número cinco. Portanto, a forma de mão, a mano cornuta bem conhecida, representava-a como a deusa da vaca (cf. MERTZANI, 2017MERTZANI, M. Iconicity in Ancient Languages. A Case Study of KA-RA in Greek. Cadernos do LEPAARQ , n.14(27), p.72-88, 2017. ). Curiosamente, o sinal de ASL QUINTA-FEIRA (e TERÇA) é realizado com a forma de mão T (também uma forma fechada) ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ), que na antiguidade era conhecida como mano fico (> Latin, fica: vulva), a forma de mão de Vênus também.
Na GSL, os meses de verão JUNHO e JULHO são gravados para serem assinados pela forma Y ( LOGIADIS; LOGIADI, 1985LOGIADIS, N.; LOGIADI, M. N. Dictionary of Sign Language. Λεξικό νοηματικής γλώσσας (in Greek). Athens: Potamitis Press, 1985. , p.72), embora suas formas inicializadas sejam preferidas atualmente. Além disso, Triantafyllides (1990)TRIANTAFYLLIDES, G. System of Greek signs. Σύστημα ελληνικών νευμάτων (in Greek). Thessaloniki: “The friends of the Deaf in Thessaloniki” Club, 1990. documentou junho com a forma Å, sugerindo sua origem na competição 10 10 Em língua de sinais italiana, junho também denota competição, realizado por mãos fechadas; seja pela forma A ou pela X ( SPREADTHESIGN, 2012 ). escolar no final do ano letivo. Seguindo essa interpretação, as formas de mão parecem significar duas entidades opostas, muito provavelmente, considerando a gravação mais antiga da forma Y, dois animais com chifres, como ocorre no sinal de ASL ANTAGÔNICO (ver abaixo). Esta noção de entidade pode ser reivindicada para o sinal ETERNIDADE, como se alguém se movesse para frente no futuro. Sob os significados da ‘medida’ (em ASL, MEDIDA, RÉGUA, TAMANHO), a forma Y se relaciona novamente com unidades padrão, como na GSL para o número cinco, e/ou para instrumentos marcando as unidades (por exemplo, a régua).
No domínio ‘movimento’, a forma Y se associa a significados como ‘caminhar’ e ‘brincar’ (por exemplo, DAR-UM-PASSEIO, BRINCAR). Nestes, a forma Y representa a entidade inteira agindo (um humano, um animal, etc.), como é encontrada em outras SLs ( FRISBERG, 1979FRISBERG, N. Arbitrariness and Iconicity: Historical Change in American Sign Language. Language , n.51(3), p.696-719, 1979. ; HERLOFSKY, 2007HERLOFSKY, W. J. Iconic Thumbs, Pinkies and Pointers. The Grammaticalization of Animate-Entity Handshapes in Japan Sign Language. In: TABAKOWSKA, E.; LJUNGBERG, C.; FISCHER, O. (Ed.). Insistent Images . Amsterdam, The Netherlands: John Benjamins, 2007. p.37-53. ; TANG; YANG, 2007TANG, G.; YANG, GU. Events of Motion and Causation in Hong Kong Sign Language. Lingua , n.117, p.1216-1257, 2007. ; TANG, 2003TANG, G. Verbs of Motion and Location in Hong Kong Sign Language: Conflation and lexicalization. In: EMMOREY, K. (Ed.). Perspectives on Classifier Constructions in Sign Language . Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2003. p.143-166. ). A iconicidade é mais forte quando a representação envolve máquinas/instrumentos (cf. PADDEN; MEIR; HWANG, et al., 2014), como dos sinais de ASL ELABORAÇÃO/ENGENHARIA e TRICOTAR, onde o manuseio também está envolvido (por exemplo, o manuseio de agulhas de tricô ou parafusamento). Com relação ao sinal BRINCAR em ASL, Shaw e Delaporte (2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. , p.203) associam sua etimologia ao sinal francês JOUER (brincar) representando os dois Js (como formas de mão inicializadas). O sinal, porém, é executado quase da mesma maneira em outras SLs (por exemplo, brasileira, turca, indiana; cf. SPREADTHESIGN, 2012SPREADTHESIGN. Örebro, Sweden: European Sign Language Centre, 2012. Disponível em: <www.spreadthesign.com. Acesso em: 1 mar. 2016.
www.spreadthesign.com...
), que não estão relacionadas com a Língua Francesa de Sinais (LSF), como GSL, dentro de uma grande distância geográfica.
Menos frequentemente, o exame semântico de GSL e ASL demonstrou que a forma Y denota conceitos de ‘luz’ em termos do espectro de luz. Assim, a forma de mão refere-se a cores brilhantes como AMARELO e LOIRO em ASL, e AZUL e BEGE em GSL ( Fig. 8 ). O resultado dessa comparação corrobora a pesquisa psicolinguística que associa a fonologia fechada (por exemplo, as vogais redondas /o/ e /u/) para as mesmas cores ( MARKS, 1982MARKS, L. E. Bright Sneezes and Dark Coughs, Loud Sunlight and Soft Moonlight. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, n.8(2), p.177-193, 1982. ; TAMBOVTSEV, 1988TAMBOVTSEV, Y. A. Associations of Colors with Russian Vowels. Bulletin of the Psychonomic Society , n.26(4). p.353-354, 1988. ). Em ASL, o sinal AMARELO também é usado como a segunda forma de mão para o sinal OURO, que, por sua vez, é usado para o sinal CALIFÓRNIA, devido à conexão do estado com a extração de ouro ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ; SHAW; DELAPORTE, 2008). Neste sinal, a forma de mão Y refere-se etimologicamente à inicialização do francês <J> da palavra jaune (amarelo) (SHAW; DELAPORTE, 2008), que, posteriormente, leva à palavra iaune e, portanto, a Io ou a Vênus (cf. MERTZANI, 2017)MERTZANI, M. Iconicity in Ancient Languages. A Case Study of KA-RA in Greek. Cadernos do LEPAARQ , n.14(27), p.72-88, 2017. , cujo símbolo foi a vaca como acima mencionado.
No domínio ‘perda/dano’, a forma Y se refere ao manuseio de objetos como em ASL, o sinal PENDURAR-SE-POR-UMA-CORDA, que é executado tanto pela forma de mão A quanto pela forma de mão Y. Neste caso, a extensão dos dedos corresponde à linearidade do referente (por exemplo, a corda), como ocorre no domínio ‘quantidade, medição e tempo’ para MEDIDA, TAMANHO e RÉGUA em ASL (cf. COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ; SHAW; DELAPORTE, 2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. ) ( Fig. 9 ). Outra representação mimética é o sinal ANTAGÔNICO (cf. CONTRÁRIO, CABEÇA-DURA, RABUGENTO), cuja forma Y representa dois animais se opondo um ao outro, com suas cabeças e chifres se encontrando ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ), correspondendo assim aos domínios ‘vida/animal’ e ‘cabeça/borda’ ( Fig. 10 ).
Em ASL, IMPOSSÍVEL está etimologicamente ligado ao seu signo cognato francês ( SHAW; DELAPORTE, 2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. ), em que a forma Y parece representar a cabeça, correspondendo, portanto, à ‘borda/cabeça’ e, por extensão, aos domínios ‘vida/animal’. O sinal sob o mesmo conceito existe na GSL (por exemplo, na GSL, IMPOSSÍVEL, NUNCA), embora a execução seja diferente ( Fig. 11 ). Curiosamente, a etimologia de ERRADO em ASL (cf. ACIDENTALMENTE, POR-ENGANO; COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ), também mostra sua conexão com o sinal francês TROMPER (enganar), que foi baseado na mano cornuta. Além disso, sob este mesmo domínio de ‘perda/dano’, esta conexão com a mano cornuta é mostrada para o sinal de ASL BOBO ( SHAW; DELAPORTE, 2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. ), bem como para os sinais IRONIA e SARCÁSTICO ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ), que são executados tanto pela forma Y como pela forma H.
Embora seja encontrada uma vez em ASL e GSL no domínio ‘felicidade’, a articulação do sinal ENTRETENIMENTO concorda com o sinal DAR-UM-PASSEIO (cf. domínio do movimento) e sua etimologia dada através do sinal BRINCAR. Além disso, o sinal de ASL CÔMICO/HUMOROSO é etimologicamente explicado pela mano cornuta, justificando assim a sua fonologia fechada para os domínios ‘cabeça/borda’ e/ou ‘animal/vida’.
O significado ‘líquidos’ foi encontrado apenas no ASL, como no sinal BÊBADO, em que a forma Y representa a ação física de beber de uma garrafa. Representações similares são documentadas em ASL para os sinais LOÇÃO e PERFUME ( COSTELLO, 2008COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008. ), enquanto em GSL, a forma de mão Å é preferida (por exemplo, ÓLEO, BEBER) imitando a forma redonda de garrafas, copos e vasos (cf. also BAKER; COKELY, 1980BAKER-SHENK, C. L.; COKELY, D. American Sign Language: A Teacher’s Resource Text on Grammar and Culture. Washington, DC: Gallaudet University Press, 1980. ).
Discussão e conclusão
Embora a frequência da forma Y seja rara, sua comparação em ASL e GSL demonstrou convergência fonológica quase sob os mesmos domínios semânticos. De fato, essa correspondência parece ser devida à função metonímica da forma Y, sob o significado principal de uma vaca. Seguindo a etimologia do ASL na LSF, o sinal VACA encontra-se no domínio ‘terra’ (por exemplo, ESPANHA, HOLANDA, CALIFÓRNIA); no domínio ‘luz’ (OURO, AMARELO, LOIRO); no domínio ‘perda/dano’ (ANTAGÔNICO, IMPOSSÍVEL, BOBO, ERRADO); e nos domínios ‘felicidade’ (CÔMICO, HUMOROSO) e ‘movimento’ (ENTRETENIMENTO). Da mesma forma, GSL usou este sinal nos significados de ‘animal/vida’, ‘quantidade/medida’ (por exemplo, QUINTA-FEIRA), e nos domínios ‘luz’ (AZUL, BEGE) e ‘movimento’ (BRINCAR). Sob todos esses significados, o sinal VACA está ligado ao antigo mano cornuta, que era sagrado para Vênus e Deusa Mãe em geral. Esta explicação também confirma a conexão francesa e as etimologias de Y na letra <J> (cf. SHAW; DELAPORTE, 2015SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015. ).
Por exemplo, a etimologia do sinal BRINCAR de jouer (> Latim iocārī > iocus > AG: ἡ ἰυγή: um grito de alegria ou dor) leva à vaca Io (cf. além disso ἰώ: exclamação de alegria ou tristeza), à mano cornuta, e seu sistrum, que este estudo sugere ser representado pelos sinais DAR-UM-PASSEIO (cf. também ἴω , to go), e BRINCAR (e ENTRETENIMENTO). Da mesma forma, para a etimologia dos franceses jaune-iaune para os sinais AMARELO, OURO e CALIFÓRNIA. Nesses casos, a forma Y representa a vaca (sua cabeça) e o manuseio e rotação do instrumento (o sistrum). Na verdade, o cabo do sistrum usado para representar a face da vaca da deusa ( Fig. 12 ). Além disso, suas cores sagradas foram as deste estudo (por exemplo, azul 11 11 Na Língua de Sinais Espanhola, a cor azul é articulada com as formas Y e H. e branco) ( GUBERNATIS, 1872)GUBERNATIS, A. Zoological Mythology or the Legends of Animals .v.I. London: Trubner & Co, 1872. , que também são denotados nos significados de aloha 12 12 A etimologia de aloha (e seus derivados, alohi, alohikea , etc.) envolve as palavras: alo , a face; ha , a cor azul; e oi , o fluxo de água, o mar ( ANDREWS, 1922 ). (por exemplo, brilhar, luz branca; cf. ANDREWS, 1922)ANDREWS, L. A Dictionary of the Hawaiian language . Honolulu, Hawaii: The Board οf Commissioners of Public Archives of the Territory of Hawaii, 1922. com o qual o shaka havaiano se associa. Em outras culturas, como nos aborígines australianos (o povo Walmajarri), a forma Y do sinal KUNGA significa mulher, que também concorda com os significados em discussão. Mais uma vez, a conexão da mulher com este sinal é explicada pela antiga representação do triângulo púbico (o útero e as trompas de falópio) como a cabeça da vaca ( MERTZANI, 2017)MERTZANI, M. Iconicity in Ancient Languages. A Case Study of KA-RA in Greek. Cadernos do LEPAARQ , n.14(27), p.72-88, 2017. .
No geral, a forma Y mapeia as formas de seus referentes. Na maioria dos casos, corresponde ao semicírculo e/ou à forma U, isto é, a foice da lua, os chifres, as mandíbulas e o tubo; em outras palavras, aos referentes que carregam simultaneamente redondeza e angularidade/linearidade, ou apenas angularidade/linearidade ( Fig. 13 ). No que diz respeito a este último, os dedos estendidos da mão Y correspondem à forma linear de, isto é, a corda, a régua e a lâmina, um resultado que lembra Gibson (1929)GIBSON, J. J. The Reproduction of Visually Perceived Forms. Journal of Experimental Psychology , n.12(1), p.1-39, 1929. argumentando sobre a representação da angularidade e/ou linearidade através da redondeza, mas não o contrário. Ou seja, uma forma redonda não pode ser representada por formas lineares/angulares. Neste caso, o fechamento da forma Y é análoga ao fechamento do círculo, que, nos sinais em estudo, corresponde, por exemplo, ao volume de uma pessoa obesa, ao corpo cilíndrico do plano, e ao manejo dos itens (o telefone, ferro, garrafa, etc.). Essa relação é mais clara em sinais articulados tanto pela forma Y quanto pela forma A (ou seus alofones), já que a segunda é uma forma de fechamento completa e, portanto, análoga ao círculo.
Há também poucas ocasiões em que a forma Y se alterna com a forma H que também se conecta à mano cornuta. Devido a essas associações, o estudo aborda a necessidade de estabelecer um quadro comparativo em que lingüística, arqueologia e/ou antropologia possam fornecer evidências pertinentes para melhor compreensão de tal convergência transcultural dentro de um continuum histórico. Tal análise, especialmente onde a forma Y é considerada para representar as letras das línguas orais (por exemplo, <J>), sugere um exame cuidadoso da etimologia dos signos lexicalizados, consultando a linguística histórica e comparativa. A mano cornuta é um exemplo ilustrativo, pois compartilha um passado histórico e cultural com as SLs modernas, cognatas e não-cognatas.
Baseada em abundante iconografia arqueológica e artefatos, a forma de mão específica (como uma forma Y e H) é registrada não apenas na Europa e no Mediterrâneo, mas também nas Américas do Norte, Central e do Sul, e em Ásia (China, Índia, etc.) através da história. Além disso, pessoas surdas usaram línguas de sinais indígenas na América do Norte antes de entrar em contato com a LSF ( MCKEE; KENNEDY, 2000MCKEE, D.; KENNEDY, G. Lexical Comparison of Signs from American, Australian, British, and New Zealand Sign Languages. In: EMMOREY, K.; LANE, H. (Ed.). The Signs of Language Revisited: An Anthology to Honor Ursula Bellugi and Edward Klima. Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2000. p.49-76. ; STOKOE, 2001STOKOE, W. C. Language in Hand. Why Sign Came Before Speech . Washington, DC.: Gallaudet University Press, 2001. ), enquanto, baseado em fontes gregas antigas (por exemplo, Platão), os surdos da época deveriam estar familiarizados com o contexto e o uso de mano cornuta. Como resultado, ao longo do processo de convencionalização diacrônica ( DEMEY; VAN HERREWEGHE; VERMEERBERGEN, 2008DEMEY, E.; VAN HERREWEGHE, M.; VERMEERBERGEN, M. Iconicity in Sign Languages. In: WILLEMS, K.; DE CUYPERE, L. (Ed.). Naturalness and Iconicity in Language . Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2008. p.189-214. ), parte de suas qualidades icônicas permaneceu intacta e, à medida que seu léxico se desenvolveu, analogias estruturais foram criadas (principalmente por causa da polissemia lexical) de acordo com fatores contextuais, devido aos quais ela perdeu sua iconicidade original. A Fig. 14 exibe tais conexões em ASL e GSL, com base nos resultados deste estudo para a forma Y.
O estudo limitou-se a examinar as categorias conceituais sob as quais os sinais de mãos Y das duas SLs foram classificados. Assim, o objetivo não foi revelar - em uma comparação sinal-sinal (como na metodologia da lexicostatística) - sinais idênticos e/ou similares, principalmente porque a pequena amostra não permitiria tal conduta de pesquisa. No entanto, sua metodologia de leitura atenta permitiu a compreensão profunda das conexões semânticas, determinando possíveis relações históricas dos signos e analogias significativas no vocabulário das duas SLs.
Agradecimento
Este estudo foi financiado pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Código: 42003016039P5). Agradeço à minha colega Mirna Xavier Gonçalves UFPEL, de Pelotas - RS, por suas ilustrações em língua de sinais neste estudo. Ela possui os direitos autorais deste trabalho.
REFERÊNCIAS
- ANDREWS, L. A Dictionary of the Hawaiian language . Honolulu, Hawaii: The Board οf Commissioners of Public Archives of the Territory of Hawaii, 1922.
- AURACHER, J.; Albers, S.; Zhai, Y.; Gareeva, G.; Stavniychuk, T. P is for Happiness, N is for Sadness: Universals in Sound Iconicity to Detect Emotions in Poetry. Discourse Processes , n.48, p.1-25, 2011.
- BAKER-SHENK, C. L.; COKELY, D. American Sign Language: A Teacher’s Resource Text on Grammar and Culture. Washington, DC: Gallaudet University Press, 1980.
- BIEDERMAN, I. Recognition-by-Components: A Theory of Human Image Understanding. Psychological Review , n.94(2), p.115-147, 1987.
- BREITMEYER, B. G.; TAPIA, E. Roles of Contour and Surface Processing in Microgenesis of Object Perception and Visual Consciousness. Advances in Cognitive Psychology , n.7, p.68-81, 2011.
- COSTELLO, E. American Sign Language Dictionary . New York, NY: Random House, 2008.
- DEMEY, E.; VAN HERREWEGHE, M.; VERMEERBERGEN, M. Iconicity in Sign Languages. In: WILLEMS, K.; DE CUYPERE, L. (Ed.). Naturalness and Iconicity in Language . Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2008. p.189-214.
- EDUCATIONAL POLICY INSTITUTE. Online Dictionary of Concepts in GSL .Athens, Greece: National Strategic Reference Framework ESPA 2007-2013, Operational Programme “Education and Lifelong Learning,” 2013. Disponível em: <http://prosvasimo.gr/el/onlne-lexiko-ennoiwn Acesso em: 1 mar. 2016.
» http://prosvasimo.gr/el/onlne-lexiko-ennoiwn - ELWORTHY, F. T. Horns of Honour and Other Studies in the By-Ways of Archaeology . London: John Murray, 1900.
- EMMOREY, K. Iconicity as Structure Mapping. Philosophical Transactions of the Royal Society B , n.369, ago. 2014. Disponível em: <http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/369/1651/20130301 Acesso em: 15 mar. 2016.
» http://rstb.royalsocietypublishing.org/content/369/1651/20130301 - FRISBERG, N. Arbitrariness and Iconicity: Historical Change in American Sign Language. Language , n.51(3), p.696-719, 1979.
- GIBSON, J. J. The Reproduction of Visually Perceived Forms. Journal of Experimental Psychology , n.12(1), p.1-39, 1929.
- GUBERNATIS, A. Zoological Mythology or the Legends of Animals .v.I. London: Trubner & Co, 1872.
- HERLOFSKY, W. J. Iconic Thumbs, Pinkies and Pointers. The Grammaticalization of Animate-Entity Handshapes in Japan Sign Language. In: TABAKOWSKA, E.; LJUNGBERG, C.; FISCHER, O. (Ed.). Insistent Images . Amsterdam, The Netherlands: John Benjamins, 2007. p.37-53.
- HINTON, L.; NICHOLS, J.; OHALA, J. J. Introduction: Sound–Symbolism Processes. In: OHALA, J. J.; HINTON, L.; NICHOLS, J. (Ed.). Sound Symbolism. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 1994. p.1-12.
- KANEKO, M.; SUTTON-SPENCE, R. Iconicity and Metaphor in Sign Language Poetry. Metaphor and Symbol , n.27(2), p.107-130, 2012.
- LOGIADIS, N.; LOGIADI, M. N. Dictionary of Sign Language. Λεξικό νοηματικής γλώσσας (in Greek). Athens: Potamitis Press, 1985.
- MAGGANARIS, T.Sign Language Dictionary. Εγχειρίδιο νοηματικής γλώσσας (in Greek). Thessaloniki: European Social Fund “Employment – HORIZON” & Aristotle University of Thessaloniki, 1998.
- MARKS, L. E. Bright Sneezes and Dark Coughs, Loud Sunlight and Soft Moonlight. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, n.8(2), p.177-193, 1982.
- MCKEE, D.; KENNEDY, G. Lexical Comparison of Signs from American, Australian, British, and New Zealand Sign Languages. In: EMMOREY, K.; LANE, H. (Ed.). The Signs of Language Revisited: An Anthology to Honor Ursula Bellugi and Edward Klima. Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2000. p.49-76.
- MERTZANI, M. Iconicity in Ancient Languages. A Case Study of KA-RA in Greek. Cadernos do LEPAARQ , n.14(27), p.72-88, 2017.
- MIALL, D. S. Sounds of Contrast: An Empirical Approach to Phonemic Iconicity. Poetics , n.29, p.55-70, 2001.
- NOBILE, L. Words in the mirror: Analysing the sensorimotor interface between phonetics and semantics in Italian. In: MICHELUCCI, P.; FISCHER, O.; LJUNGBERG, C. (Ed.). Iconicity in Language and Literature 10: Semblance and Signification. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2011. p.101-132.
- Padden, C.; Meir, I.; Hwang, S.; Lepic, R.; Seegers, S.; Sampson, T. Patterned Iconicity in Sign Language Lexicons. Gesture , n.13(3), p.287-308, 2013.
- PERNISS, P.; THOMPSON, R. L.; VIGLIOCCO, G. Iconicity as a General Property of Language: Evidence from Spoken and Signed Languages. Frontiers in Psychology , n.1(227), dez. 2010. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3153832/ Acesso em: 15 mar. 2016.
» https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3153832/ - SHAW, E.; DELAPORTE, Y. A Historical and Etymological Dictionary of American Sign Language . Washington, DC: Gallaudet University Press, 2015.
- SPREADTHESIGN. Örebro, Sweden: European Sign Language Centre, 2012. Disponível em: <www.spreadthesign.com. Acesso em: 1 mar. 2016.
» www.spreadthesign.com - STOKOE, W. C. Language in Hand. Why Sign Came Before Speech . Washington, DC.: Gallaudet University Press, 2001.
- SUPALLA, T. Revisiting Visual Analogy in ASL Classifier Predicates. In: EMMOREY, K. (Ed.). Perspectives von Classifier Constructions in Sign Language . Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2003. p.249-258.
- TAMBOVTSEV, Y. A. Associations of Colors with Russian Vowels. Bulletin of the Psychonomic Society , n.26(4). p.353-354, 1988.
- TANG, G. Verbs of Motion and Location in Hong Kong Sign Language: Conflation and lexicalization. In: EMMOREY, K. (Ed.). Perspectives on Classifier Constructions in Sign Language . Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, 2003. p.143-166.
- TANG, G.; YANG, GU. Events of Motion and Causation in Hong Kong Sign Language. Lingua , n.117, p.1216-1257, 2007.
- TAUB, S. F. Language from the Body: Iconicity and Metaphor in American Sign Language. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
- TENNANT, R. A.; GLUSZAK BROWN, M. The American Sign Language Handshape Dictionary . Washington, D.C.: Gallaudet University Press, 1998.
- TRIANTAFYLLIDES, G. System of Greek signs Σύστημα ελληνικών νευμάτων (in Greek). Thessaloniki: “The friends of the Deaf in Thessaloniki” Club, 1990.
- VAN DER KOOIJ, E.; CRASBORN, O. A. Chapter 11: Phonology. In: BAKER, A.; VAN DEN BOGAERTE, B.; PFAU, R.; SCHERMER, T. (Ed.). The Linguistics of Sign Languages: An Introduction. Amsterdam: John Benjamins, 2016. p.251-278.
- WAUGH, L. R. Degrees of Iconicity in the Lexicon. Journal of Pragmatics , n.22, p.55-70. 1994.
-
1
Em ambos os SLs, o sinal VACA também é de duas mãos, normalmente, porém, é executado como uma mão. Na GSL, também é um composto pelos sinais de CHIFRE (articulado com a forma Y) e LEITE (articulado com a forma S), descrevendo a cabeça do animal e sua ordenha.
-
2
No hipopótamo, os dedos da forma Y combinam com os dentes salientes do animal.
-
3
Este é um sinal antigo registrado por Triantafyllides (1991, p. 104). Atualmente, o sinal mudou e é articulado com a forma A.
-
4
Outra versão deste signo refere-se ao chapéu tradicional de seu povo.
-
5
Ambas as formas de mão denotam “terra/lugar”, mas a diferença está na primazia da mão. A forma de mão B tem um papel explicativo secundário em relação à forma em Y da mão principal. É subordinada, servindo como o locus onde o principal referencial (Atenas) está localizado.
-
6
O sinal é originário do francês CAMPAIGNE (campo), que é exatamente o mesmo na GSL para COLHEITA, CAMPO, e AGRICULTOR.
-
7
O fechamento da forma da mão indica uma direção centrípeta em direção ao usuário, e na cabeça (por exemplo, segurando a colher para alimentar no sinal MÃE). A forma de mão Y é fonologicamente mais aberta do que a forma de mão A, denotando direção longe de si mesmo, e facção.
-
8
Em GSL, a forma de mão A é usada quando o sinal se refere à máquina de barbear. Quando a articulação se refere à navalha da imagem, a forma Y é usada.
-
9
Artefatos arqueológicos mostram que o polegar e o dedo mínimo, partes da forma de Y, eram dedicados a Vênus, o sol e a lua, e envolviam representações com chifres, como uma cabeça feminina com chifres ( ELWORTHY, 1900ELWORTHY, F. T. Horns of Honour and Other Studies in the By-Ways of Archaeology . London: John Murray, 1900. ).
-
10
Em língua de sinais italiana, junho também denota competição, realizado por mãos fechadas; seja pela forma A ou pela X ( SPREADTHESIGN, 2012SPREADTHESIGN. Örebro, Sweden: European Sign Language Centre, 2012. Disponível em: <www.spreadthesign.com. Acesso em: 1 mar. 2016.
www.spreadthesign.com... ). -
11
Na Língua de Sinais Espanhola, a cor azul é articulada com as formas Y e H.
-
12
A etimologia de aloha (e seus derivados, alohi, alohikea , etc.) envolve as palavras: alo , a face; ha , a cor azul; e oi , o fluxo de água, o mar ( ANDREWS, 1922ANDREWS, L. A Dictionary of the Hawaiian language . Honolulu, Hawaii: The Board οf Commissioners of Public Archives of the Territory of Hawaii, 1922. ).
Apêndice
SINAIS DE ASL | SINAIS DE GSL |
---|---|
AH-EU-VEJO | VACA |
AMARELO | IMPOSSÍVEL |
FICAR, PERMANECER, AINDA | AVIÃO |
EU-TAMBÉM, EM-COMUM, MESMO, SIMILAR | SOBRINHO |
VACA, TOURO | DAR-UM-PASSEIO |
BÊBADO | ENTRETENIMENTO |
LOIRO | ANIMAIS |
TELEFONE | AZUL |
HOLANDA, HOLANDÊS | PRIMO |
BOBO, ABSURDO, LOUCURA, TOLO, RIDÍCULO | JOGO, BRINCAR |
PENDURAR-SE-POR-CORDA | QUINTA-FEIRA |
BARBEAR | CACHIMBO |
ERRO, ERRADO | NUNCA |
ONTEM | POUSAR (AVIÃO) |
AQUELE | PARENTES |
IMPOSSÍVEL | BANHEIRO, WC |
HIPOPÓTAMO | AINDA |
PASSAR-ROUPA | ETERNIDADE, CONTINUAMENTE |
MEDIR | TRICOTAR |
NOVA-YORK | TOURO |
RINOCERONTE | ESPANHA |
METRÔ | JUNHO |
PORQUE | LENTO |
JOGAR | PASSEIO |
AGORA, PRESENTEMENTE | ATENAS |
CONTRÁRIO, ANTAGÔNICO, CABEÇA-DURA, RABUGENTO | MAMÍFEROS |
MEDIDA, RÉGUA, TAMANHO | PRESA |
AINDA-ASSIM, AINDA | BEGE |
UNIFORME, UNIVERSAL | |
HUMOROSO, CÔMICO | |
ELABORAÇÃO, ENGENHARIA | |
GORDO, OBESO | |
PAÍS | |
PALAVRA-GRANDE | |
JURAR, AMALDIÇOAR | |
HOJE |
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Sep-Dec 2018
Histórico
-
Recebido
11 Jan 2018 -
Aceito
12 Maio 2018