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A primeira página da história: configuração material e funções da folha de rosto em livros de história alemães do século XVIII

The First Page of History: Material Configuration and Functions of the Title Page in German 18th-Century History Books

RESUMO

A partir da análise de 192 folhas de rosto de obras históricas alemãs setecentistas impressas predominantemente com tipos móveis, este artigo investiga quais foram os elementos e os agentes históricos envolvidos no processo de composição gráfica dessas peças, quais as funções que elas exercem no mercado editorial alemão setecentista e que tipo de conexões suas configurações materiais revelam. A primeira seção deste artigo tem por objetivo apresentar os parâmetros definidores do corpus documental da pesquisa, bem como oferecer uma análise formal da folha de rosto nos termos de um dispositivo gráfico setecentista. Em seguida, observam-se os padrões de composição tipográfica das peças aqui investigadas com o objetivo de salientar a dimensão cultural e, consequentemente, histórica das escolhas operadas pelos compositores ao configurar as folhas de rosto nas oficinas de impressão. Na terceira seção, confere-se destaque à operação gráfica levada adiante por editores, impressores e gravuristas, tanto para analisar as transformações visuais verificadas no corpus documental da pesquisa a partir de uma perspectiva cronológica quanto para compreender a função que os elementos impressos na folha de rosto exercem. Na seção seguinte, examinam-se os vestígios materiais deixados pelas mãos dos agentes envolvidos na produção das folhas de rosto setecentistas alemãs com o objetivo de destacar a natureza coletiva do trabalho do qual resulta o artefato impresso. Por fim, investiga-se na quinta e última seção deste artigo a presença de ornamentos estampados em distintas peças produzidas ao longo da década de 1780 com o objetivo de estabelecer, a partir da análise material das imagens impressas, conexões entre os agentes que deixaram as suas marcas já na primeira página dos livros de história.

PALAVRAS-CHAVE:
História do livro; Época Moderna; Historiografia alemã setecentista; Cultura impressa; Cultura material

ABSTRACT

Based on the analysis of 192 title pages from German eighteenth-century history books, the goal of this article was to investigate the elements and historical agents involved in the graphic composition process of these pieces, the functions of this typographic device in the Early Modern editorial market, and what type of connections their material configurations reveal. To this end, the first section defines the parameters of the documentary corpus and presents an analysis of the formal elements of the title pages in terms of an eighteenth-century graphic device. Next, the patterns of the typographic compositions of the documents are analyzed to unveil cultural and, consequently, historical dimensions of the choices made by compositors when setting the title pages in printing shops. The third section focuses on the graphic operations carried out by editors, printers and artists. The aim was to analyze the visual transformations of the title pages from a chronological standpoint as well as their functions. The fourth section examines the material evidence left behind by the agents involved in the production of the title pages, revealing the collective nature of the work carried out in printing shops. Finally, the fifth and last section of this article explores some printed ornaments from a material perspective to establish connections between the agents that left their mark already in the first page of history books.

KEYWORDS:
History of the Book; Early Modern History; 18th-Century German Historiography; Print Culture; Material Culture

INTRODUÇÃO

O material que une e protege as páginas de obras impressas na Época Moderna revela mais as marcas identitárias de uma coleção do que as informações particulares de um título. Uma vez que as obras do período eram frequentemente comercializadas na forma de cadernos de texto dobrados - às vezes oferecidos por editores e livreiros com poucos pontos de costura, para assegurar provisoriamente o ordenamento das páginas -, cabia aos compradores dos exemplares fazer as escolhas que orientavam o trabalho dos encadernadores. Assim, o tipo e qualidade do revestimento a ser utilizado, bem como a presença de ornamentação aplicada à encadernação, aos cortes ou às seixas, refletem tanto as preferências estéticas e a dimensão do investimento econômico depositados na encomenda quanto a habilidade das mãos que recobriam a lombada e as pastas. No entanto, ao proteger e unir as folhas impressas, os encadernadores escondiam, com a introdução da capa, a identidade das peças produzidas nas oficinas de impressão.

Ainda que poucas palavras distribuídas na lombada dos volumes já encadernados pudessem indicar o conteúdo das obras, é sobretudo nas folhas de rosto que se revelam as informações particularizadoras dos títulos produzidos à época da prensa manual, sendo esta a primeira página impressa com a qual os leitores se deparavam ao abrir os livros. Entre os séculos XV e XVIII, a folha de rosto é o dispositivo gráfico por meio do qual editores e impressores identificam e apresentam o produto manufaturado, bem como orientam as primeiras expectativas dos leitores quanto à natureza da obra disponível em papel. Tanto é que, frustrado com a orientação enganosa presente na primeira página impressa dos volumes pelos quais ansiosamente aguardava, Andreas Friedrich Ursinus enviou uma carta, datada de 6 de setembro de 1768, ao editor Johann Justinus Gebauer, em Halle, na Saxônia. No dia anterior, Ursinus recebera seis exemplares previamente encomendados de uma nova obra sobre a história antiga, organizada por Friedrich Eberhard Boysen (1720-1800). Pela quantidade dos exemplares recebidos, pode-se seguramente inferir que o contratante colocaria os livros à venda. Porém, para o seu descontentamento, os exemplares apresentavam as folhas de rosto trocadas. As peças recebidas identificavam e apresentavam o primeiro volume da obra, enquanto as páginas internas correspondiam ao texto do segundo volume, sendo este o conteúdo esperado.2 2 “Es sind von Boysers Alter Historie, erster Band, sechs Exempl[are]. Beÿ mir defect. Das Titülblad [Titelblatt] und die erste Lage mit Küpfern sind vom ersten Bande, die Bücher selbst aber vom zweÿten Bande.” Ursinus (1768, f. 1r).

De fato, as folhas de rostos dos dois primeiros volumes da obra encomendada por Ursinus estampam uniformidades que justificam o engano ocorrido na remessa da casa editorial. Por um lado, a identidade visual das peças impressas no mesmo ano aponta para a continuidade gráfica da série. Tanto as dimensões do papel, quanto a disposição gráfica da informação, somadas ao uso alternado das cores preta e vermelha na impressão do texto e à presença da mesma gravura em metal na porção inferior central da página funcionam como elementos identificadores de volumes distintos de um mesmo título. Por outro lado, as diferenças textuais, aliadas às variações ornamentais, apresentam aos leitores informações que particularizam o conteúdo das páginas seguintes. Assim, apenas a folha de rosto do segundo volume poderia identificar com propriedade a sequência da obra produzida na oficina de Gebauer em 1767 e encomendada por Ursinus. Nesse sentido, aqui se pergunta: quais foram os elementos e os agentes históricos envolvidos no processo de composição gráfica da folha de rosto à época da prensa manual? Quais as funções que as folhas de rosto exercem no mercado editorial setecentista e que tipo de conexões a sua configuração material revela?

Nos estudos dedicados à história do livro, Margaret M. Smith estabelece a tese segundo a qual a folha de rosto é considerada uma inovação do impressor que responde às necessidades comerciais advindas da produção de livros em maior escala.3 3 Smith (2000, p. 11-15). Sua função precípua era garantir a proteção e a identificação do material impresso estocado em pilhas nas oficinas de impressão, antes, portanto, que os cadernos de texto circulassem e recebessem a costura e o couro. Para tanto, as primeiras folhas de rosto exibiam informações abreviadas e compostas de modo simplificado, uma vez que os blocos de papel precisavam inicialmente apenas ser identificados por impressores e livreiros com facilidade, inclusive para evitar as trocas involuntárias no momento de comercialização e distribuição da manufatura impressa. As considerações de Margaret M. Smith sobre as transformações históricas operadas por impressores na folha de rosto ao final do século XV com o objetivo de promover o livro impresso4 4 Smith (2000, p. 21-23). ganham uma dimensão estatística a partir dos trabalhos de Ursula Rautenberg, igualmente dedicados ao exame da configuração gráfica da primeira página impressa presente em cada um dos primeiros títulos levados à prensa.5 5 Cf. Rautenberg (2014; 2015). Para uma análise mais recente da história das folhas de rosto, cf. Trettien (2019). Essas duas análises de conjunto, portanto, voltam-se decididamente para as décadas iniciais do funcionamento da empresa tipográfica, de modo que ainda se registra a ausência de um estudo aprofundado sobre a forma e as funções das folhas de rosto ao longo da Época Moderna.6 6 Peil (2008, p. 301).

Com o objetivo de preencher parcialmente essa lacuna de pesquisa, uma série de publicações se ocupa mais recentemente com a análise formal e estatística das folhas de rosto em contextos particulares e a partir de uma perspectiva de estudo mais dilatada temporalmente, como é o caso da investigação empreendida por Goran Proot sobre uma série de impressos neerlandeses produzidos durante os séculos XVI e XVII,7 7 Proot (2014, p. 276-277). ou ainda da análise de Uwe Böker sobre as folhas de rosto presentes em relatos judiciais e calendários ingleses datados entre os séculos XVII e XIX.8 8 Cf. Böker (2008). Já a apresentação gráfica do gênero literário praticado por Friedrich Eberhard Boysen e encomendado por Ursinus tem sido estudada a partir de um ponto de vista quase que exclusivamente iconográfico. Sem operar clara distinção entre as gravuras localizadas em frontispícios ou nas folhas de rosto da produção historiográfica alemã dos séculos XVI a XVIII, Marion Kintzinger afirma que essas imagens visualizam o conteúdo dos títulos que apresentam.9 9 Cf. Kintzinger (1995). Também essa é a perspectiva que se encontra no estudo fundamental de Volker Remmert sobre a função das gravuras em metal na apresentação gráfica das ciências matemáticas no século XVII. Cf. Remmert (2005). Mas, no momento em que a série que chega às mãos de Ursinus circulou no mercado de impressos, a presença de frontispícios de valor alegórico inseridos em obras históricas já havia começado a cair em desuso.10 10 Recentemente, Alastair Fowler observa como os padrões gráficos dominantes no século XVII se transformam ao longo do século seguinte, de forma a dar mais espaço para folhas de rosto mais simples. Fowler (2017, p. 60-65). Assim, diferentemente da proposta de Kintzinger, este artigo se dedica à análise de folhas de rosto presentes em livros de história alemães setecentistas e impressas predominantemente com tipos móveis. A perspectiva de análise aqui adotada procura explorar a dinâmica social de organização do trabalho e de apresentação da informação que deixa rastros na configuração material dessas peças gráficas produzidas à época da prensa manual. Para tanto, este artigo foi dividido em cinco seções.

Após apresentar os parâmetros definidores do corpus documental deste estudo, de modo a considerar o universo editorial mais amplo a que a obra organizada por Boysen e publicada em 1767 pertence, oferece-se, em um primeiro passo, uma análise formal da folha de rosto nos termos de um dispositivo gráfico setecentista. Em seguida, observam-se os padrões de composição tipográfica das peças aqui investigadas com o objetivo de salientar a dimensão cultural e, consequentemente, histórica das escolhas operadas pelos compositores ao configurar as folhas de rosto nas oficinas de impressão. Na terceira seção, confere-se destaque à operação gráfica levada adiante por editores, impressores e gravuristas, tanto para analisar as transformações visuais verificadas no corpus documental da pesquisa a partir de uma perspectiva cronológica quanto para compreender a função que os elementos impressos na folha de rosto - ora pela prensa de tipos móveis, ora pela prensa calcográfica - exercem. Na seção seguinte, examinam-se os vestígios materiais deixados pelas mãos dos agentes envolvidos na produção das folhas de rosto setecentistas alemãs com o objetivo de destacar a natureza coletiva do trabalho do qual resulta o artefato impresso. Por fim, investiga-se na quinta e última seção deste artigo a presença de ornamentos estampados em distintas peças produzidas ao longo da década de 1780 com o objetivo de estabelecer, a partir da análise material das imagens impressas, conexões entre os agentes que deixaram as suas marcas já na primeira página dos livros de história.

O DISPOSITIVO GRÁFICO

Em 1767, o professor de história da Universidade de Göttingen Johann Christoph Gatterer (1727-1799GATTERER, Johann Christoph. Praktische Diplomatik. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1799.) escreveu um prefácio à obra dedicada à história antiga organizada por Boysen, reproduzido tanto no primeiro volume da edição dos extratos da obra impressa in-octavo e encomendada por Ursinus, quanto na publicação alemã in-quarto da série. Já que a edição em maior formato era extensa e comercializada por um preço relativamente elevado - sobretudo em função do custo do papel utilizado para imprimir cada tomo -, o editor de Halle decidiu ampliar a circulação do título ao imprimir extratos da obra mais copiosa em menor formato.11 11 Boysen (1767a, p. 44). Essa era uma prática editorial frequentemente adotada no século XVIII, especialmente para as publicações de ordem teológica, filosófica e histórica.12 12 Conrad (2010, p. 189). No mercado cada vez mais abundante de títulos impressos, publicavam-se obras mais reduzidas em extensão e formato, voltadas para o consumo e a instrução de um público mais amplo. No caso dos volumes in-octavo organizados por Boysen, o valor de venda dos cadernos impressos manufaturados foi reduzido em um terço.13 13 Conrad (2010, p. 143). Para os novos leitores, Boysen afirma ter se empenhado em não deixar de lado as coisas importantes e não se alongar na matéria desnecessária, como se depreende do prefácio datado de 2 de abril de 1767.14 14 Boysen (1767a, p. 46). Já as páginas do prefácio ao segundo volume do mesmo título, que na remessa destinada a Ursinus seguiram acompanhadas da folha de rosto correspondente ao volume anterior, encontram-se datadas de 24 setembro.15 15 Boysen (1767b, p. (6).

É certo que o relato manuscrito de Ursinus não apresenta detalhes. Mas é ainda possível que, para além das folhas de rosto trocadas, também parte do primeiro caderno de texto correspondesse às páginas introdutórias do primeiro volume da série nos seis exemplares enviados pelo editor Gebauer. Esses cadernos de texto introdutórios eram frequentemente preparados pelos compositores na etapa final de produção dos livros, de tal forma que as folhas de rosto, as dedicatórias, os índices e os prefácios pudessem exibir informações mais recentes e de maior destaque ou privilégio social. Ademais, as datas que figuram nos dois primeiros volumes do título encomendado por Ursinus igualmente sugerem a impressão sequenciada das partes que perfazem a obra, além de seguramente revelar a dinâmica comercial que regulamentava, na prática, o momento de lançamento de novos títulos no mercado de impressos na Alemanha setecentista.

Estimuladas pelo início dos semestres acadêmicos, as casas editoriais alemãs anunciavam a disponibilidade de obras mais recentes em catálogos preparados para circular nas feiras de livros que ocorriam por volta da celebração da Páscoa e ao final do mês de setembro, em data próxima à festa de São Miguel, de acordo com o calendário litúrgico. É, portanto, de forma vinculada à dinâmica de produção de obras impressas no contexto universitário germânico que o trabalho de edição da série à qual pertencem os volumes associados ao nome de Boysen foi realizado.16 16 Conrad (2010, p. 149-194). Tanto é que, no semestre de inverno de 1767/1768, Gatterer ofereceu preleções regulares na Universidade de Göttingen tanto sobre a história universal antiga quanto sobre aquela mais recente, como largamente anunciado nas páginas do periódico Göttingische Anzeigen von gelehrten Sachen no início de setembro de 1767.17 17 Göttingische Anzeigen… (1767, p. 867-868). Assim, para se compreender tanto os elementos envolvidos no processo de configuração gráfica das folhas de rosto inseridas nos dois primeiros volumes da obra organizada por Boysen e prefaciada por Gatterer quanto suas funções, deve-se investigar um conjunto editorial mais amplo.

O corpus documental analisado neste artigo compõe-se de livros dedicados à temática histórica e relacionados ao ambiente acadêmico da Universidade de Göttingen no século XVIII. Este é o caso da obra organizada por Boysen, uma vez que seu nome se encontra vinculado ao Instituto Real de Ciências Históricas dirigido por Gatterer, como consta na folha de rosto dos volumes publicados em 1767. Ainda que em alguns exemplares preservados do primeiro volume figure uma gravura em metal e uma parte dos estudos históricos contemporâneos não faça distinções formais entre folhas de rosto e frontispícios com o objetivo de analisar todos os modos de apresentação gráfica de um livro,18 18 Smith (2000, p. 12-13); Kintzinger (1995, p. 25). neste artigo faz-se clara distinção entre esses dois dispositivos gráficos, de forma a se considerar apenas o primeiro. Enquanto um frontispício, frequentemente gravado em metal, encontra-se preferencialmente de frente para o texto em uma obra encadernada, de modo a ocupar a posição do verso da primeira folha de papel inserida após a guarda, todas as folhas de rosto aqui analisadas foram compostas com tipos móveis e impressas predominante ou exclusivamente em relevo no recto da primeira página pertencente ou posteriormente conectada ao caderno de texto inicial. Assim, além das peças mencionadas na correspondência de Ursinus, fazem parte do conjunto documental considerado neste estudo as 74 folhas de rosto que acompanham os 66 volumes da edição alemã da História Universal publicada in-quarto por Gebauer entre 1744 e 1814, a que se somam as folhas de rosto de mais 118 volumes escritos por 16 autores distintos,19 19 Trata-se dos seguintes autores, com os respectivos anos que figuram nas folhas de rosto dos títulos integrantes do corpus documental analisado neste artigo: Anton Friedrich Büsching (1752, 1760, 1760, 1761, 1762, 1764, 1765, 1766, 1767, 1768, 1772, 1780, 1781, 1784, 1788, 1789, 1792), Arnold Hermann Ludwig Heeren (1793, 1799, 1805, 1812, 1824, 1827), August Ludwig Schlözer (1760, 1761, 1768, 1769, 1769, 1771, 1772, 1773, 1775, 1776, 1777, 1784, 1792, 1795, 1797, 1802, 1805, 1806, 1809), Christoph Meiners (1775, 1781, 1782, 1785a, 1785b, 1786, 1788, 1789, 1791, 1792, 1793, 1799, 1800, 1800, 1801, 1802, 1806, 1811, 1815), Friedrich Eberhard Boysen (1767a, 1767b), Friedrich Gottlieb Canzler (1791), Georg Christian Raff (1776, 1777, 1783, 1793, 1796), Heinrich Moritz Gottlieb Grellmann (1783), Johann Christoph Gatterer (1752, 1755, 1759, 1761, 1765, 1765, 1773, 1773, 1775, 1777, 1785, 1787, 1788, 1790, 1791, 1792, 1792, 1793, 1798, 1799), Johann David Köhler (1730, 1736, 1737, 1749, 1750, 1762), Johann Friedrich Reitemeier (1789, 1801), Johann Gottfried Eichhorn (1799), Johann Tobias Köhler (c.1755, 1759, 1760, 1767, 1769), Karl Traugott Gottlob Schönemann (1800, 1801, 1801, 1801, 1802, 1803), Ludwig Timotheos Spittler (1778, 1782, 1786, 1793, 1794, 1827), Michael Hißmann (1783, 1784) e a série Übersetzung/Fortsetzung der allgemeinen Weltgeschichte (74 folhas de rosto distribuídas em 66 volumes: 1744-1814). Note-se que nem todos os títulos listados acima encontram-se referenciados ao final deste artigo. Optou-se por fornecer a referência bibliográfica completa apenas das obras diretamente mencionadas no corpo do texto. Não foram consideradas como parte integrante do corpus documental da pesquisa as publicações de teses nas quais os autores aqui listados figuram apenas como presidente da disputatio. perfazendo o total de 192 peças20 20 Uma vez que a perspectiva de análise adotada neste artigo procura explorar a configuração material das folhas de rosto produzidas no período acima explicitado, o corpus documental da pesquisa se limitou às obras que puderam ser examinadas materialmente. Por essa razão não se apresenta, aqui, uma análise com significância estatística, a despeito do número relativamente elevado de folhas de rosto consideradas. impressas entre 1730 e 1827 e a que se associam o trabalho de pelo menos 31 casas editoriais.21 21 As atividades acadêmicas da Universidade de Göttingen tiveram início na década de 1730. Este estudo compreende obras publicadas ao longo de um século delimitado, por um lado, pelo início das atividades acadêmicas da universidade e, por outro, pela troca geracional dos docentes ativos na instituição, assim como também pelas mudanças técnicas na forma de impressão de livros gradualmente implementadas nas décadas iniciais do século XIX.

Para além de questões relacionadas ao posicionamento da peça impressa, a folha de rosto se define por apresentar informações particulares de uma obra em uma página graficamente destacada do início do texto principal. Trata-se de um dispositivo gráfico por meio do qual os leitores frequentemente identificam o título e a autoria intelectual da obra que têm em mãos, bem como os dados relacionados ao processo de produção material e comercialização do artefato impresso, tais como os nomes do editor e, eventualmente, do impressor e do livreiro envolvidos na produção e na venda dos cadernos de texto, além do local e da data de impressão. Sobretudo por conta da censura, do sistema de concessão de privilégios de impressão ou ainda de estratégias comerciais que impulsionavam as vendas de edições mais recentes de textos conhecidos, o valor de face das informações impressas na folha de rosto pode não ser inteiramente confiável. De todo modo, as folhas de rosto não apenas apresentam, mas também qualificam social e intelectualmente o produto da prensa. Tanto é que nas folhas de rosto dos dois primeiros volumes da história antiga organizada por Boysen seu nome aparece vinculado a instituições respeitáveis pela comunidade letrada e a que de fato pertenceu. Nesse sentido, as folhas de rosto são um veículo de difusão de prestígios sociais. Ao qualificar o autor e exibir os méritos particulares de textos premiados - como é o caso do exemplo reproduzido na figura 2 -, a folha de rosto conduz a expectativa dos leitores, que por sua vez viram a primeira página de um livro já confiantes na qualidade intelectual da peça manufaturada.

Figura 1
As folhas de rosto in-octavo dos dois primeiros volumes da obra de Friedrich Eberhard Boysen (1767aBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 1. Halle: Gebauer, 1767a.; 1767bBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 2. Halle: Gebauer, 1767b.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Figura 2
Elementos da folha de rosto da obra de Johann Friedrich Reitemeier (1789REITEMEIER, Johann Friedrich. Geschichte und Zustand der Sklaverey und Leibeigenschaft in Griechenland. Berlin: Mylius, 1789.). Acervo da Bayerische Staatsbibliothek, Munique.

Nas últimas décadas do século XVIII, frequentes são os casos nos quais as informações sobre a obra se encontram distribuídas na página em diversos blocos gráficos de texto, diferenciados ora pelo uso de tipos móveis de tamanhos distintos e eventualmente impressos em cores alternadas, ora pela presença de espaçamentos ou de fios. No caso da folha de rosto reproduzida na figura 2, o primeiro bloco de texto, localizado na porção superior da página, apresenta o título da obra. Logo abaixo do primeiro fio, vê-se o nome do autor intelectual do texto acompanhado, na linha imediatamente inferior - por sua vez impressa com tipos móveis de menores dimensões -, pela indicação da instituição universitária à qual ele se encontrava vinculado. O terceiro e quarto blocos de texto expõem, respectivamente, o prêmio que a obra recebeu e o local, o editor e a data de impressão do livro. Mas, para além de compreender a informação textual que as folhas de rosto literalmente expressam, é preciso considerar a variação das fontes tipográficas com as quais elas foram impressas, uma vez que a forma dos caracteres confere igualmente sentido às palavras a que dão relevo e expressão.

A COMPOSIÇÃO TIPOGRÁFICA

Para leitores e livreiros que encomendavam novos títulos históricos lançados no mercado editorial alemão ao longo do século XVIII, uma mudança era nítida. Enquanto as obras históricas publicadas em latim correspondiam a 23% dos títulos apresentados por diversos editores na feira de livros ocorrida na cidade de Leipzig em 1740, esse percentual declina gradativamente para cerca de 10% em 1770 e para menos de 3% ao final do século.22 22 Jentzsch (1912, Tafel II). A preeminência dos livros de história disponíveis em língua alemã se reflete, ainda mais fortemente, no conjunto documental aqui analisado: das 192 folhas de rosto consideradas neste estudo, 189 encontram-se impressas em alemão e apenas três em latim.23 23 Trata-se das seguintes obras: Gatterer (1752), Gatterer (1755) e Gatterer (1759). É certo que esse número seria maior caso este estudo considerasse as folhas de rosto de todas as obras históricas produzidas por autores vinculados à Universidade de Göttingen, sobretudo aquelas publicadas ao longo das décadas iniciais de funcionamento da instituição.

No mercado de impressos da Época Moderna, os compositores dispunham o texto de obras publicadas em latim tanto com tipos móveis góticos quanto latinos. Todavia, as três folhas de rosto reproduzidas na figura 3 apresentam os títulos para os quais foram compostas com tipos latinos em maiúsculas. Essa escolha tipográfica reflete, no corpus documental aqui analisado, uma tendência verificada no meio do século XVIII de reservar os tipos móveis romanos e itálicos para imprimir textos de história em latim, enquanto o desenho mais condensado dos tipos góticos - caracterizados sobretudo pelas hastes alongadas e frequentemente quebradas das letras que deixam uma mancha impressa no papel mais carregada de tinta - identificava preferencialmente o uso do idioma alemão. Ainda que essa oposição tipográfica não seja uma constante universal, no conjunto total das 189 peças publicadas em língua alemã consideradas neste estudo, apenas seis contrariam essa tendência. Nos dois primeiros casos, trata-se de uma série sobre a história mundial escrita por August Ludwig Schlözer (1735-1809) e publicada em 1769 em dois volumes de pequeno formato. Na verdade, esse breve escrito de ocasião, nas palavras do autor,24 24 Schlözer (1769, p. 123). já se encontrava impresso no ano anterior e não apresenta uma folha de rosto propriamente tipográfica, uma vez que o título da obra, seu impressor e local de produção encontram-se estampados na gravura em metal que antecede as páginas impressas em relevo. Significativas, portanto, são as quatro folhas de rosto impressas em tipos latinos para figurar nas obras escritas em alemão, publicadas ao final do século e dedicadas ao estudo da diplomática de Johann Christoph Gatterer - autor do prefácio à obra organizada por Boysen e encomendada por Ursinus - e Karl Traugott Gottlob Schönemann (1765-1802).

Figura 3
Folhas de rosto em latim: Gatterer (1752GATTERER, Johann Christoph. De ludo equestri ab Henrico VI. imperatore... Altorfii: Meyer, 1752.); Gatterer (1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. c. 1755. Germanisches Nationalmuseum Nürnberg, Hs. 28.889, Fasc. 1.); Gatterer (1759GATTERER, Johann Christoph. Commentatio historica de Ludovico IIII. infante... Göttingen: Pockwitz & Barmeier, 1759.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Se nesses quatro últimos casos os tipos móveis com os quais as folhas de rosto foram compostas poderiam contrariar, à primeira vista, as expectativas dos leitores que comparavam a primeira página desses livros com as folhas de rosto presentes nos títulos de história publicados nas décadas anteriores, a ordenação gráfica da página ainda obedecia ao mesmo costume. Organizadas em blocos de texto impressos com tipos latinos de tamanhos distintos e separados por fios, as peças apresentam o título das obras, anunciam e qualificam seus autores intelectuais, bem como exibem os dados relacionados à produção gráfica dos cadernos de texto na porção central inferior da página. No caso da obra de Schönemann, intitulada Codex für die practische Diplomatik, não apenas a folha de rosto do primeiro volume exibe tipos latinos, mas também todo o texto principal, como se nota na figura 4.

Figura 4
Folha de rosto e página interna do primeiro volume da obra de Schönemann (1800SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen. Erster Theil. Göttingen: Dieterich, 1800.). Acervo da Bayerische Staatsbibliothek, Munique.

No primeiro volume, o autor oferece diversas transcrições de documentos em latim, motivo pelo qual a obra foi integralmente composta com tipos latinos. Ocorre que, após a publicação do volume inicial, tanto o editor quanto o autor morreram. Mas, uma vez que Schönemann concluíra o manuscrito do segundo volume, Heinrich Dieterich assumiu o controle da prensa de sua família e levou à luz a parte conclusiva do título no ano de 1803. Com o objetivo de esclarecer os leitores sobre os motivos que interromperam a publicação da obra, cuja continuidade fora anunciada nas páginas do primeiro volume,25 25 Schönemann (1800, p. XVI). o jovem Heinrich preparou um prefácio ao volume final do título, no qual também incluiu o texto introdutório deixado por Schönemann. Nesse caso, tanto as notas recentes do editor e do autor quanto as transcrições dos documentos históricos alemães que ocupam as páginas do segundo volume foram integralmente impressas com tipos góticos.

Mas como se nota na imagem reproduzida na figura 5, o compositor não se valeu de tipos latinos apenas para compor a folha de rosto do segundo volume. Eles também foram empregados na impressão da transcrição do último documento que integra esse volume da obra, bem como nos índices finais, de acordo com a vontade deliberada do autor expressa no prefácio.26 26 Schönemann (1803, p. XIV): “Daß die dem zweyten, sonst fast ganz mit Teutschen Schriften gedruckten Theile angehängten Register nicht ebenfalls mit Teutschen, sondern mit Lateinischen Schriften gedruckt sind, war schon der Wille des Herausgebers, und da auch das letzte Diplom Lateinisch war, so würde die öftere Abweichung zu auffallend gewesen seyn. Zu dem Titel mußten ebenfalls Lateinische Schriften gewählt werden, weil mit diesen auch der des ersten Theils gedruckt ist.” Uma vez que as páginas 284 e 285 foram compostas lado a lado, visto que elas correspondem às assinaturas S6v e S7r do mesmo caderno de texto in-octavo, as mãos do compositor oscilavam entre as caixas tipográficas latina e gótica de acordo com as variações idiomáticas. Contrariando essa prática, a apresentação da obra feita em língua alemã na folha de rosto, no entanto, obedece ao mesmo padrão gráfico do primeiro volume, de forma a promover a identidade visual entre as partes integrantes do título.

Figura 5
Folha de rosto e páginas internas do segundo volume da obra de Schönemann (1803SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen. Zweyter Theil. Göttingen: Dieterich, 1803.). Acervo da Bayerische Staatsbibliothek, Munique.

Tal no como caso dos dois primeiros volumes da obra organizada por Boysen, registram-se, também no título de Schönemann, pequenas diferenças entre as peças inseridas no início de cada volume. Para além das variações textuais relativas à indicação do volume particular, da data de publicação e das mudanças do vínculo institucional do autor, assim como também do prenome do editor - em função de suas mortes -, destaca-se ainda uma discordância tipográfica. Enquanto o termo adjetivo practische, presente no título da obra, encontra-se tipografado com um s caudal na primeira folha de rosto, na peça de 1803 utilizou-se a forma redonda do grafema s, em detrimento da variante alográfica. Na verdade, essa variação é sintomática de um debate mais longo e profundo ocorrido sobretudo em terras germânicas, que por sua vez remonta ao argumento introduzido por Gatterer ao justificar a sua preferência pelo uso de tipos latinos em sua obra dedicada ao estudo da diplomática.

Na obra Abriss der Diplomatik, Gatterer afirma preferir o uso de tipos latinos, em detrimento dos tipos góticos, por motivos relacionados ao estudo histórico das formas caligráficas. Ao afirmar que os tipos góticos não são letras verdadeiramente germânicas,27 27 Gatterer (1798, p. [4]): “Dass ich aber Lateinische Lettern, an statt Teutscher, dazu wählte, geschah so gar aus diplomatischen Gründen selbst. Die Teutschen haben ja, so wenig als andere lateinisch-christliche Nationen in Europa, einige Buchstaben: diejenigen, die wir Teutsch nennen, sind verdorbene Lateinische aus dem spizfindigen Neugothischen Zeitalter. Es war also hier nicht Wahl zwischen Teutschen und Lateinischen Buchstaben, sondern zwischen ächt Lateinischen und elend verkünstelten.” No ano seguinte à impressão dessa obra, Gatterer publica um novo título dedicado ao estudo da diplomática e cuja folha de rosto foi igualmente composta com tipos redondos. Cf. Gatterer (1799). o autor questiona o fundamento diplomático da oposição parcialmente verificada na tradição editorial alemã que direciona as escolhas operadas pelas mãos dos compositores no momento de composição das páginas levadas à prensa. Nesse sentido, os compositores não seguiam apenas as instruções detalhadas por autores - como é o caso das indicações manuscritas deixadas por Schönemann e incluídas por Heinrich Dieterich no prefácio ao segundo volume do título publicado em 1803 -, mas também aquelas difundidas em diversos manuais de impressão da Época Moderna.28 28 Sobre as práticas editoriais e as estratégias comerciais propagadas nos manuais de impressão da Época Moderna, cf. Araújo (2020).

No início do século, Johann Heinrich Gottfried Ernesti (1664-1723) escreve um manual destinado a instruir os impressores no uso adequado de tipos alemães, latinos, gregos e hebraicos. De forma exemplar, reproduz-se, nessa obra, diversas passagens em alemão impressas com tipos góticos - com destaque para a apresentação das famílias tipográficas Schwabacher (bastarda) e Fraktur (fractura) -, assim como os trechos que se vinculam à tradição textual latina de Sêneca e Cícero encontram-se impressos com tipos latinos, sobretudo com aqueles pertencentes à classe de tipos denominada em alemão de Antiqua e conhecida em língua portuguesa como tipos serifados humanistas.29 29 Ernesti (1721, p. 3-12; 13-18). Essa mesma oposição pode ser verificada no manual de impressão publicado em 1791 por Christian Gottlob Täubel, por sua vez voltado sobretudo para iniciantes no ofício. Täubel (1791, Tab. I e Tab. II). Para compreender as equivalências entre diferentes classificações de tipos e verificar a normatização da nomenclatura tipográfica em língua portuguesa, cf. Farias (2016). Seu desenvolvimento remonta à forma caligráfica romana apreciada por humanistas já durante as primeiras décadas de funcionamento da prensa manual,30 30 Kapr (1993, p. 48). ainda que os títulos em latim associados ao humanismo renascentista tenham sido igualmente impressos com tipos latinos e góticos. Mas no século em que Ernesti publica as suas recomendações, o interesse do público letrado alemão pela história antiga e pela antiguidade greco-latina promove, por um lado, a procura por títulos que abordam os temas desenvolvidos nos volumes in-octavo da série organizada por Boysen e, por outro, o desenvolvimento de tipos móveis góticos com uma aparência mais clássica.31 31 Kapr (1993, p. 58). Para aprofundar essa discussão, consulte-se o estudo de Christina Killius sobre o debate em torno do uso da Antiqua ou dos tipos góticos de Unger no periódico Musen-Almanach, editado por August Wilhelm Schlegel e Ludwig Tieck. Cf. Killius (1999, sobretudo p. 427). Tanto é que no momento em que as obras dedicadas ao estudo da diplomática de Gatterer e Schönemann foram publicadas, amplia-se o número de títulos alemães compostos com tipos latinos, de modo a refletir o uso crescente de um novo padrão tipográfico, ao mesmo tempo em que neles se registra a diminuição gradual do emprego do s caudal. Variações dessa ordem também podem ser verificadas ao se considerar, em perspectiva cronológica, o uso de tipos móveis latinos nas citações inseridas nas folhas de rosto aqui analisadas.

No corpus documental considerado neste estudo, registram-se nove ocorrências tipográficas de lemas ou citações epigráficas32 32 No vocabulário de Genette (1997, p. 144), o termo epígrafe designa uma citação localizada próxima ao texto principal de um livro. No entanto, aqui se redimensiona a ideia de proximidade gráfica prevista por Genette para compreender a função que os lemas ou as citações epigráficas cumprem nas folhas de rosto. localizadas nas folhas de rosto. Em todos os casos, trata-se de citações em língua latina inseridas em meio à apresentação dos títulos impressos em alemão com tipos góticos e datados entre 1749 e 1815. Passagens em latim de Santo Agostinho,33 33 Cf. Gatterer (1777). Horácio,34 34 Cf. Köhler (1749). Ovídio,35 35 Cf. Schlözer (1771). Sêneca,36 36 Cf. Meiners (1781; 1782). Virgílio,37 37 Cf. Meiners (1792). assim como também do historiador romano Quinto Cúrcio Rufo38 38 Cf. Meiners (1811; 1815). e do poeta Claudiano39 39 Cf. Schlözer (1792). figuram nas folhas de rosto das obras de Johann David Köhler, Johann Christoph Gatterer, August Ludwig Schlözer e Christoph Meiners. De forma análoga, o espaço gráfico de inserção das citações é delimitado por fios tanto no livro de Gatterer publicado em 1777 quanto nos volumes da série publicada por Meiners no início do século XIX, como se verifica nas imagens reproduzidas na figura 6.

Figura 6
Folhas de rosto das obras de Gatterer (1777GATTERER, Johann Christoph. Abriß der Chronologie. Göttingen: Dieterich, 1777.) e Meiners (1811MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1811.) impressas com tipos móveis góticos, com exceção do texto da citação epigráfica. Acervos da Bayerische Staatsbibliothek, Munique, e da University of California [Hathitrust].

Os lemas ou as citações em epígrafe selecionadas por autores e editores para figurar na folha de rosto das obras produzidas à época da prensa manual representam, por um lado, uma estratégia letrada para elevar a identidade intelectual dos títulos ao estampar sinais de autoridade na página impressa. Assim, a primeira página dos livros de história orienta as expectativas dos leitores quanto ao gênero e à natureza literária da obra disponível em papel. Por outro lado, a forma tipográfica reforça o vínculo visual do artefato impresso tanto com a tradição cultural a que se faz referência explícita quanto àquela a que ele pertence. Assim como é o caso da obra de Gatterer, em todas as citações impressas nas folhas de rosto datadas do século XVIII utilizou-se o s caudal para compor as porções dos textos latinos. Já na obra de Meiners publicada no início do século seguinte, nota-se a presença do s redondo nas passagens em destaque, de modo a refletir as preferências estéticas da comunidade letrada ativa no período em que a obra foi levada à prensa. Vistos em perspectiva histórica, os tipos móveis têm uma dimensão cultural. Mas não são apenas os tipos metálicos que têm as suas formas enredadas com a história dos textos que eles produzem e reproduzem. Também a operação gráfica realizada com as mãos por diversos gravuristas deixou marcas profundas no metal e nas folhas de rosto da produção historiográfica alemã setecentista.

A OPERAÇÃO GRÁFICA

A forma de organização gráfica da informação nas folhas de rosto da série dedicada à história antiga e organizada por Boysen apresenta uniformidades não apenas entre os volumes in-octavo que integram o título encomendado por Ursinus, mas também entre eles e os tomos mais extensos da edição in-quarto da História Universal publicada pelo mesmo editor entre 1744 e 1814. A disposição aproximadamente regular dos blocos de texto, o uso alternado das cores preta e vermelha e a presença de um motivo constante gravado em metal na porção inferior central das folhas de rosto de cada edição funcionam como elementos identificadores dos volumes e dos tomos de um mesmo título. Nos dois formatos, a estabilidade gráfica das folhas de rosto define visualmente a unidade da série.

À primeira vista, chamam a atenção nas páginas reproduzidas na figura 7 os termos impressos em destaque na cor vermelha: eles identificam as palavras centrais do título, a numeração, por extenso, do volume da obra, o acadêmico responsável pela compilação ou pela ampliação do texto e o editor da série, bem como o local e a data de impressão. No momento em que o primeiro volume da Uebersetzung der Allgemeinen Welthistorie circulou no mercado editorial alemão, o padrão gráfico recorrente das folhas de rosto barrocas não era estranho às oficinas de impressão. Nelas, compositores e impressores conduziam a operação gráfica que se valia de tipos de tamanhos variados e da alternância de cores para apresentar os novos títulos.40 40 Rautenberg (2015, p. 385). Entre aqueles aqui analisados, constata-se o uso da cor vermelha na folha de rosto de seis títulos,41 41 Cf. Köhler (1730; 1737); Uebersetzung der Allgemeinen Welthistorie (1744-1814); Gatterer (1755); Boysen (1767a; 1767b). todos eles inicialmente produzidos entre as décadas de 1730 e 1760, como no exemplo apresentado na figura 8.

Figura 7
Folhas de rosto da série Uebersetzung/Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie (1744Uebersetzung der Allgemeinen Welthistorie. Erster Theil. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1744.; 1771Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie. Ein und dreyßigster Theil. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1771.; 1814Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie. Sechs und sechzigster Theil. Halle: Johann Jacob Gebauer, 1814.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Figura 8
Alternância de cores na folha de rosto da obra Anleitung zu der Alten und Mittlern Geographie, escrita por Johann David Köhler (1730KÖHLER, Johann David. Kurtze und gründliche Anleitung zu der Alten und Mittlern Geographie. Nebst XII. Land-Kaertgen. Nürnberg: Lorenz Bieling, 1730.). Acervo da Bayerische Staatsbibliothek, Munique.

Quando os dois volumes in-octavo da história antiga organizada por Boysen foram levados à prensa, o uso alternado das cores vermelha e preta nas folhas de rosto já havia caído em desuso. Todavia, não apenas as palavras em vermelho, mas também o s caudal presente na apresentação da obra de Johann David Köhler de 1730 e no primeiro volume da série in-quarto publicada por Gebauer em 1744Uebersetzung der Allgemeinen Welthistorie. Erster Theil. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1744. figuram tanto nos extratos in-octavo encomendados por Ursinus em 1768URSINUS, Andreas Friedrich. Brief von Andreas Friedrich Ursinus aus Tondern, 06.09.1768, Stadtarchiv Halle. Número de catalogação: A 6.2.6 Nr. 10215, Caixa Número 39. quanto nos números subsequentes da edição mais extensa da obra histórica encerrada apenas em 1814. Desse modo, sobretudo em nome da função comercial que as folhas de rosto exercem ao promover a unidade visual da série, elas exibem um anacronismo gráfico.

Em todos os volumes publicados no formato in-quarto, nota-se a presença constante de uma gravura em metal, ainda que a composição e os traços artísticos das imagens revelem o uso de diferentes matrizes de impressão. A despeito das variantes gráficas, as gravuras exibem em comum o lema gravado em metal “MORES HOMINVM MVLTORVM VIDET ET VRBIS. HOR.”, sendo essa a única informação textual registrada na imagem em capital romana e inserida na página composta com tipos móveis góticos. Com leve modificação do tempo verbal, a frase foi extraída da Arte Poética de Horácio,42 42 Cf. Horácio, Ars Poetica, 142: “(...) [‘]qui mores hominum multorum uidit et urbes’.” Horace (1971, p. 60). Trata-se de uma referência conhecida nos círculos letrados setecentistas. Na forma epigráfica, o interesse de Horácio por aqueles que viram os costumes de muitos homens e cidades encontra-se igualmente impresso, entre dois fios simples, na folha de rosto do romance inglês Tom Jones (1749), de Henry Fielding. que por sua vez remete aos versos iniciais da Odisseia de Homero.

As palavras clássicas do lema apresentam a imagem alegórica. Sua unidade iconográfica se reconhece sobretudo pela presença de uma figura central feminina em posição elevada, sendo essa uma forma própria à representação visual da verdade.43 43 Conrad (2010, p. 67-68). Completam o primeiro plano da cena a figura alada de Chronos, os putti próximos a mapas, globos, livros, diplomas e selos, além de instrumentos destinados à mensuração do espaço. As diferenças de composição das gravuras presentes nas 74 folhas de rosto da série devem-se sobretudo às particularidades dos traços artísticos - uma vez que distintas matrizes em metal foram levadas à prensa, onze das quais de autoria identificada e atribuída ora a Gottfried August Gründler, em Halle, ora a Johann David Schleuen, em Berlim - e às transformações do padrão estético adotado principalmente na forma da moldura volumosa, com ornamentos vegetais e curvas acentuadas, própria ao padrão visual praticado na folha de rosto barroca, ou naquela de ângulos retos, tal como apreciado nas décadas finais do século XVIII.

O uso de matrizes metálicas distintas para imprimir vinhetas de mesmo padrão iconográfico nos diversos volumes de um mesmo título não é uma peculiaridade das obras produzidas por Gebauer. Antes, trata-se de uma operação gráfica frequente no período, uma vez que as matrizes metálicas das imagens gravadas com o buril se desgastam com frequência maior do que as matrizes das gravuras e dos ornamentos impressos em relevo. Em Hamburgo, o editor Johann Carl Bohn publicou uma série dedicada à descrição geográfica, natural e histórica do planeta Terra. Nas folhas de rosto dos volumes assinados por Anton Friedrich Büsching (1724-1793), encontram-se vinhetas em metal igualmente acompanhadas pelo lema bíblico constante: “Grandes são as obras do Senhor” - “Gross sind die Werke des Herrn”. Também aqui, as imagens de mesmo padrão iconográfico presentes nas folhas de rosto da obra Neue Erdbeschreibung foram gravadas pelas mãos de Christian Fritzsch e Johanna Dorothea Sysang. As diferenças na composição das cenas podem ser verificadas nas imagens reproduzidas nas figuras 10 e 11.

Figura 9
Diferentes versões da vinheta presente nas folhas de rosto da série Uebersetzung/Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie (1744; 1788). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Figura 10
Folhas de rosto da obra de Anton Friedrich Büsching (1762BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung. Vierter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1762.; 1768BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung. Fünfter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1768.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Figura 11
Variações nas gravuras das folhas de rosto da obra de Anton Friedrich Büsching (1762BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung. Vierter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1762.; 1768BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung. Fünfter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1768.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Tanto as folhas de rosto da série impressa em Halle por Gebauer quanto essas últimas impressas em Hamburgo por Bohn foram levadas duas vezes à prensa. Uma vez que a impressão do texto em relevo com tipos móveis era menos dispendiosa temporal e financeiramente do que a impressão das gravuras em metal, imprimia-se inicialmente os cadernos de texto para somente então entregar as folhas de papel já tipografadas aos impressores responsáveis por operar a prensa calcográfica. Assim, para além das funções alegórica e ornamental que as imagens cumprem nas folhas de rosto das obras históricas alemãs setecentistas, a onerosa operação gráfica mobilizada para a produção dessas peças lhes confere uma função adicional. As particularidades registradas pelas mãos dos artistas na chapa metálica e os custos envolvidos no trabalho de produção das folhas de rosto que passam por duas prensas distintas funcionavam, conjuntamente, como uma espécie de selo contra as contrafações.

O primeiro estatuto por meio do qual se procurou regulamentar os direitos de propriedade do produto livresco em terras germânicas data da década de 1790.44 44 Cf. Kawohl (2010); Wittmann (2011, p. 172). Do ponto de vista prático, diversas eram as dificuldades para se obter privilégios simultâneos em todos os territórios que integravam a fragmentada estrutura política e jurídica do Sacro Império Romano Germânico, motivo pelo qual o delito da contrafação - ou seja, da reprodução não autorizada da edição integral de uma obra - era frequentemente levado às cortes alemãs.45 45 Araújo (2020, p. 85). Desse modo, o investimento depositado no elaborado processo de produção gráfica das folhas de rosto fazia, desse dispositivo gráfico, não apenas uma peça de apresentação intelectual e comercial de um título, mas também uma prova de autenticidade do produto manufaturado.

AS MÃOS DOS AGENTES

Não foram apenas as mãos de compositores, impressores e gravuristas que estiveram envolvidas na produção gráfica e material das folhas de rosto produzidas na Época Moderna. Ainda que sejam poucas as peças manufaturadas no período e para as quais se preserva o manuscrito utilizado nas oficinas de impressão, também aqui as mãos de autores, copistas e editores deixam rastros do trabalho coletivo do qual resulta o artefato impresso. Do corpus documental analisado neste artigo, conhece-se apenas o caso da folha de rosto manuscrita de uma história genealógica escrita por Gatterer e cuja versão impressa estampa a data de 1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. Nürnberg: Fleischmann, 1755..

Elementos de ordem gráfica e material dão indícios do uso da peça manuscrita na oficina de impressão. Em primeiro lugar, as manchas arredondadas localizadas no centro e nas laterais da porção superior da folha de papel são vestígios da ação temporal da substância aderente utilizada para testar o posicionamento de uma grande gravura em metal que figura nas primeiras páginas da obra impressa e cuja prova se encontra solta entre as páginas iniciais do manuscrito. Mais relevante, no entanto, são as marcações feitas a tinta no texto manuscrito com o objetivo de organizar a composição tipográfica da folha de rosto impressa. Essas marcações revelam a existência de diferentes etapas de trabalho, como se vê no detalhe reproduzido na figura 13.

Figura 12
Folhas de rosto manuscrita e impressa, Historia Genealogica: Gatterer (c. 1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. Nürnberg: Fleischmann, 1755., f. 1r); Gatterer (1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. c. 1755. Germanisches Nationalmuseum Nürnberg, Hs. 28.889, Fasc. 1.). Hs 28889 © Germanisches Nationalmuseum, Nurembergue, digitalizado por Erika Elke, e Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen, respectivamente.

Figura 13
Detalhe da folha de rosto manuscrita, Historia Genealogica: Gatterer (c. 1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. Nürnberg: Fleischmann, 1755., f. 1r). Hs 28889 © Germanisches Nationalmuseum, Nurembergue, digitalizado por Erika Elke.

Note-se que a versão manuscrita da folha de rosto prevê uma forma de distribuição do texto na página a ser impressa - caracterizada pelas quebras de linha e pelo alinhamento centralizado das palavras -, assim como também propõe uma hierarquia na informação, ao conferir destaque, em maiúsculas, aos termos-chave. No entanto, as barras verticais introduzidas nas linhas 9, 13, 15 e 18 do manuscrito propõem uma nova divisão do texto que se verifica, de fato, na versão impressa. Também o sublinhado da palavra Codex, grafada na décima quinta linha do manuscrito, assinala um destaque não previsto na primeira etapa de organização visual da informação na página.

A análise do comportamento material da tinta utilizada para fazer as intromissões à pena no texto confirma a existência de pelo menos duas etapas de produção gráfica do manuscrito. Na figura 13, as setas em vermelho assinalam as divisões das linhas - e o cancelamento de uma delas - marcadas à mão e respeitadas na composição tipográfica da folha de rosto. Note-se que há diferente concentração de pigmento na tinta com a qual se assinalam as interferências gráficas no fluxo da informação da peça manuscrita, comparando-se o registro mais escurecido no papel com a solução mais clara utilizada para grafar inicialmente o texto principal. Nesse caso, o veículo da escrita fornece indícios seguros de que os registros caligráficos foram depositados no papel em momentos distintos.

Ao final do século XVIII, Christian Gottlob Täubel publica um dicionário tipográfico destinado aos aprendizes na arte da impressão. Segundo Täubel, a folha de rosto “de um livro deve ser configurada pelo compositor de modo a chamar a atenção de forma clara, correta e bonita”. Para tanto, “o compositor deve examinar qual palavra, ou quais palavras devem compor a linha principal. Essas palavras devem ser compostas com um tipo de maior formato do que aquele utilizado em todas as outras linhas da folha de rosto”.46 46 Täubel (1791, parte 2, p. 61): “Titel eines Buchs muß vom Setzer so eingerichtet werden, daß er deutlich, gut und schön ins Auge fället. Zuerst muß der Setzer untersuchen, welches Wort, oder welche Wörter die Hauptzeile werden müssen, diese müssen aus einer größern Schrift gesetzt werden, als alle übrige Zeilen des Titels.” Na verdade, as recomendações de Täubel registram práticas já adotadas nas oficinas de impressão em todo o século XVIII, como se confirma no caso da folha de rosto da Historia Genealogica publicada em 1755. A operação realizada na oficina de impressão não apenas comprova a relevância do trabalho prévio do autor gráfico do manuscrito na escolha das palavras que receberiam ênfase na versão impressa, mas sobretudo informa a realização de uma segunda e posterior etapa de trabalho por meio da qual se regulamentou a quebra das linhas e o realce gráfico dos termos. Aos destaques operados na etapa de composição tipográfica do texto, sinalizados no manuscrito pela intromissão das barras verticais e das linhas sublinhadas, soma-se ainda a operação gráfica feita pelo impressor ao adotar o uso alternado de cores nas linhas do título, sendo esse mais um elemento hierarquizador da informação. Do ponto de vista das alterações textuais, aquelas referentes à identificação dos produtores gráficos da obra, localizadas na porção inferior central da página, apresentam as mudanças mais significativas. Nesse sentido, as mãos do editor, do compositor e do impressor dão a palavra final na composição gráfica da folha de rosto impressa. Assim, a peça gráfica por meio do qual uma obra impressa é apresentada aos leitores é aquela que provavelmente mais se distancia do controle operado pelo autor intelectual de um texto na Época Moderna.

Por meio desse caso em particular, percebe-se a interação constante entre os agentes responsáveis pela produção intelectual, gráfica e material de um livro na Alemanha setecentista. Tanto é que duas semanas antes da data registrada no prefácio ao primeiro volume da edição in-octavo da história antiga organizada por Boysen e escrito por Gatterer, seu autor intelectual informa expressamente ao editor Gebauer que não aprecia o uso de vinhetas nos livros.47 47 Gatterer (1767, f. 1r): “Die Wahrheit zu sagen, ich bin kein Liebhabe von Vignettes [...]”. Mas, a despeito da manifestação epistolar de Gatterer, o editor insiste na identificação visual da série pela folha de rosto, uma vez que essa era uma das funções principais do dispositivo gráfico produzido na sua oficina de impressão. De todo modo, a preferência de Gatterer sinaliza uma mudança em curso no mercado editorial setecentista. Segundo as instruções práticas publicadas por Täubel um pouco mais de três décadas à frente, o uso de vinhetas já saíra de moda na Alemanha,48 48 Täubel (1791, parte 1, p. 173). algo que se confirma no corpus aqui analisado. Excetuando-se as folhas de rosto da série histórica publicada no formato in-quarto por Gebauer, apenas 25% das peças aqui consideradas e datadas entre 1771 e 1789 não exibem vinhetas figurativas ou com motivos puramente ornamentais. Esse número se inverte na década em que as instruções de Täubel foram publicadas, quando mais de 70% das folhas de rosto integrantes do corpus documental deste artigo e datadas entre 1790 e 1827 não apresentam esse elemento gráfico. Entretanto, a análise material dos ornamentos impressos é capaz de revelar conexões entre os agentes que produziram os livros de história.

CONEXÕES MATERIAIS

A insistência de Gebauer em prezar pela identidade gráfica das folhas de rosto que acompanham e individualizam os volumes das séries publicadas em Halle reflete não apenas as expectativas de leitores e colecionadores quanto à continuidade visual dos cadernos de texto posteriormente entregues aos encadernadores para receber a costura e eventualmente o couro. Trata-se, igualmente, de uma estratégia comercial com a qual editores e impressores procuravam tanto otimizar o trabalho de composição tipográfica das folhas de rosto quanto facilitar o reconhecimento visual de diferentes títulos de um mesmo gênero destinado à comunidade letrada. Nesse sentido, não são raros os casos em que as oficinas de impressão adotaram padrões gráficos próximos entre as obras históricas nelas produzidas. Entre as 192 peças que integram corpus documental desta pesquisa, destaca-se, por exemplo, a semelhança gráfica entre os livros escritos por Christoph Meiners e impressos em Lemgo na década de 1780. Como se nota nas reproduções apresentadas na figura 14, as folhas de rosto das três obras publicadas pela mesma casa editorial em 1785 e 1786 obedecem a uma lógica predominantemente uniforme de composição do texto. Confere-se destaque à mesma categoria de palavras-chave no título das obras, bem como na identificação do autor, regularmente seguida de um ornamento impresso em relevo, de um fio duplo e das informações relativas à produção do título.

Figura 14
Folhas de rosto das obras de Christoph Meiners (1785aMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte aller Religionen. Lemgo: Meyer, 1785a.; 1785bMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Menschheit. Lemgo: Meyer, 1785b.; 1786). Acervos da Bayerische Staatsbibliothek, Munique, e da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Ocorre que, a despeito da proximidade gráfica entre as folhas de rosto de diferentes títulos, nem todos os exemplares de um livro produzidos pelo trabalho regular da prensa apresentam, necessariamente, as mesmas características materiais. A biblioteca da Universidade de Göttingen preserva um exemplar da segunda edição da última obra reproduzida na figura 14, impressa em 1789, cuja folha de rosto obedece ao padrão de organização gráfica da informação adotado na oficina de impressão três anos antes, por ocasião da publicação inicial do título Grundriß der Geschichte der Weltweisheit. Entretanto, ainda que o texto de todas as cópias remanescentes da edição datada de 1789 encontre-se delimitado pelas margens e pelos limites da mancha própria aos livros impressos em formato in-octavo, o exemplar de Göttingen foi estampado em um suporte material de maiores dimensões, na forma correspondente à divisão da folha de papel adotada por impressores ao preparar uma obra in-quarto. Trata-se, nesse caso particular, de uma nova tiragem.

A irregularidade particular das dimensões materiais de um livro não era de todo incomum na Época Moderna, nem resulta exclusivamente do corte dos cadernos de texto operado pelas mãos dos encadernadores ao seguir as instruções transmitidas ora por livreiros, ora pelos proprietários das obras no momento em que se encomendava a feitura da encadernação. Ainda que uma obra fosse tipograficamente composta em menor formato, o produto final da prensa poderia ser oferecido à comunidade letrada em papel de dimensões ou qualidade diferenciadas. No caso do exemplar reproduzido na figura 15, suas largas margens destinam-se sobretudo às anotações de leitores ou estudantes que eventualmente acompanhavam as preleções do docente. Já os exemplares dessa mesma edição da obra de Meiners preservados na biblioteca da Universidade de Harvard e na Biblioteca Nacional da Áustria mantêm as dimensões características dos livros in-octavo.49 49 Foram consultados, eletronicamente, os seguintes exemplares da segunda edição da obra Grundriß der Geschichte der Weltweisheit, de Christoph Meiners: Österreichische Nationalbliothek, Sammlung von Handschriften und alten Drucken, Número de catalogação: 593586-A; Harvard University, Widener Library, Número de catalogação: KC 17732. A prática de fornecer espaço livre no papel com o objetivo de facilitar o trabalho futuro da pena ao lado do texto impresso era possivelmente ofertada por impressores ou, mais frequentemente, por encadernadores, que acresciam folhas em branco entre as páginas impressas no momento em que os cadernos de texto eram unidos pela costura.

Figura 15
Folha de rosto e página interna da obra de Christoph Meiners (1789MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Weltweisheit. 2. Auflage. Lemgo: Meyer, 1789.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

É certo que as três folhas de rosto dos títulos de Meiners reproduzidas na figura 14 se assemelham do ponto de vista da organização gráfica da informação. Todavia, diferenças podem ser aferidas tanto no conjunto tipográfico utilizado particularmente na quinta linha da peça datada de 1786, quanto na variação dos ornamentos que figuram na primeira página de cada uma das obras impressas. Certo também é que essa variedade ornamental registrada nas publicações associadas à casa editorial de Lemgo deixa rastros materiais de conexões reveladoras do funcionamento do mercado de livros na Alemanha setecentista. Nesse sentido, note-se que a folha de rosto do título Grundriß der Geschichte der Menschheit impresso em 1785 apresenta um ornamento em relevo que já fora estampado em uma outra obra, por sua vez publicada por Anna Vandenhoeck, viúva herdeira da casa editorial vinculada à Universidade de Göttingen, como se verifica nas imagens reproduzidas nas figuras 16 e 17.

Figura 16
Folhas de rosto dos editores Vandenhoeck e Meyer: Spittler (1782SPITTLER, Ludwig Timotheos. Grundriß der Geschichte der christlichen Kirche. Göttingen: Im Verlag der Wittwe Vandenhoeck, 1782.) e Meiners (1785bMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Menschheit. Lemgo: Meyer, 1785b.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

Figura 17
Ornamento nas folhas de rosto dos editores Vandenhoeck e Meyer: Spittler (1782SPITTLER, Ludwig Timotheos. Grundriß der Geschichte der christlichen Kirche. Göttingen: Im Verlag der Wittwe Vandenhoeck, 1782.) e Meiners (1785bMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Menschheit. Lemgo: Meyer, 1785b.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

No mesmo ano em que a obra reproduzida na figura 16 e intitulada Grundriß der Geschichte der christlichen Kirche foi levada à prensa, Anna Vandenhoeck publicou inoctavo os escritos teológicos de Gottfried Less (1736-1797) que, por exclusão temática, não fazem parte do corpus documental desta pesquisa, mas cuja folha de rosto exibe o mesmo motivo ornamental presente no livro de Ludwig Timotheos Spittler (1752-1810).50 50 Cf. Less (1782). Ao se comparar as imagens impressas em 1782 nas duas obras in-octavo associadas à editora de Göttingen com aquela publicada em Lemgo em 1785, percebe-se que as zonas marginais da gravura nas quais há acúmulo de tinta e espessamento dos traços são exatamente as mesmas, como se pode verificar nos detalhes ampliados e identificados pelas setas vermelhas na figura 18.

Figura 18
Detalhes do ornamento, da esquerda para a direita: Spittler (1782SPITTLER, Ludwig Timotheos. Grundriß der Geschichte der christlichen Kirche. Göttingen: Im Verlag der Wittwe Vandenhoeck, 1782.), Less (1782LESS, Gottfried. Vermischte Schriften. Göttingen: Vandenhoeck, 1782.) e Meiners (1785bMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Menschheit. Lemgo: Meyer, 1785b.). Acervo da Niedersächsische Staats- und Universitätsbibliothek Göttingen.

A análise ótica da configuração gráfica das imagens e do comportamento material da tinta no papel revela uniformidades difíceis de serem preservadas caso o ornamento impresso na folha de rosto mais tardia resultasse do uso na prensa de uma réplica da matriz de impressão. Ademais, se esse fosse o caso, não haveria motivo plausível para que uma eventual cópia do bloco original de impressão preservasse os sinais de envelhecimento da imagem registrados no papel já em 1782, uma vez que o ornamento não tem aqui por função produzir a contrafação perfeita de uma obra circulante, mas apenas adornar a apresentação gráfica de títulos comercializados como claramente distintos. Do ponto de vista econômico, também não parece plausível a hipótese de que a imagem tenha sido feita a partir de uma cópia em metal - cast copy - da matriz original. Por mais que o uso dessa técnica tenha se ampliado na década de 1780 e seus resultados apresentem impressões praticamente idênticas às gravuras originais,51 51 Cf. Schellmann (2010). complicações gráficas aliadas aos custos envolvidos em todo o processo não justificariam a complexa reprodução de um ornamento de características ordinárias. Assim, ao se considerar a configuração gráfica dos ornamentos estampados nas distintas folhas de rosto datadas de 1782 e 1785 e o comportamento material da tinta no papel, conclui-se que as três imagens foram impressas a partir da mesma matriz xilográfica.

O uso da mesma matriz em relevo de forma conjugada com o texto na prensa tipográfica encontra dois caminhos possíveis. Na produção de impressos do século XVIII, matrizes xilográficas de ornamentos, breves cenas figurativas e capitulares decoradas mudavam constantemente de mãos. Frequentes eram os empréstimos de blocos originais - sobretudo entre os círculos mais restritos e recorrentes de oficinas de impressão conectadas por laços de parentesco -, assim como também a venda de peças em madeira para outros editores e impressores na Época Moderna.52 52 Diversos são os trabalhos que se ocupam da temática. Consulte-se, paradigmaticamente: Moran (2017, p. 397). Desse modo, é provável que esse ornamento em particular tenha sido transferido, por venda ou empréstimo, da cidade de Göttingen para Lemgo entre 1782 e 1785. Outra possibilidade, igualmente plausível em função da proximidade geográfica entre as duas cidades, é que as casas editoriais das famílias Vandenhoeck53 53 A presença da livraria e casa editorial da família Vandenhoeck na cidade de Göttingen remonta à fundação da universidade na década de 1730. Na segunda metade do século, a empresa é administrada por Anna Vandenhoeck (1698-1787), viúva do fundador Abraham - como explicitado na folha de rosto reproduzida na figura 16 e datada de 1782 - conjuntamente com Carl Friedrich Günther Ruprecht (1730-1816), que por sua vez iniciara seu contato com a oficina dos Vandenhoeck em 1748. Cf. Ruprecht (1935). e Meyer54 54 A casa editorial de Lemgo, liderada por Johann Heinrich Meyer, passa a ser comandada a partir de 1754 por seu genro, Christian Friedrich Helwing (1725-1800), logo após a morte do sogro. Cf. Weißbrodt (1914). tenham contratado um mesmo impressor para levar as três obras à prensa. Por um lado, essa hipótese encontra reforço no fato de que o padrão gráfico das três folhas de rosto é muito semelhante. Por outro, no entanto, as duas obras publicadas por Anna Vandenhoeck em 1782 foram impressas com um conjunto tipográfico uniforme, enquanto a obra publicada por Meyer em 1785 se vale de tipos móveis diferentes daqueles adotados nos títulos publicados em Göttingen, como se verifica na figura 16. De toda forma, os dois caminhos possíveis percorridos pela matriz de impressão permitem que se chegue a um ponto em comum: as três folhas de rosto se encontram necessária e materialmente conectadas, seja apenas pelas mãos que talharam o ornamento em relevo, seja adicionalmente pelo esforço anônimo daqueles que moveram a prensa e colaboraram para a produção coletiva das páginas impressas.

As folhas de rosto não apenas revelam, portanto, a identidade de uma obra velada pela capa. Elas são sobretudo vestígio material da história de produção e circulação do livro impresso. É nesse sentido que o estudo da configuração material e das funções das folhas de rosto produzidas à época da prensa manual pode contribuir para ampliar a compreensão da história de um artefato feito de papel e tinta. Ao identificar conexões entre autores, copistas, editores, impressores, artistas e livreiros, pretende-se menos apresentar a história de um dispositivo gráfico, do que conferir destaque às formas sociais de organização do trabalho e de apresentação da informação de que resulta já a primeira página de toda história impressa.

FONTES MANUSCRITAS

  • GATTERER, Johann Christoph. Brief von Johann Christoph Gatterer aus Göttingen, 15.03.1767, Stadtarchiv Halle. Número de catalogação: A 6.2.6 Nr. 9389, Caixa Número 37.
  • GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim c. 1755. Germanisches Nationalmuseum Nürnberg, Hs. 28.889, Fasc. 1.
  • URSINUS, Andreas Friedrich. Brief von Andreas Friedrich Ursinus aus Tondern, 06.09.1768, Stadtarchiv Halle. Número de catalogação: A 6.2.6 Nr. 10215, Caixa Número 39.

FONTES IMPRESSAS

  • BOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 1. Halle: Gebauer, 1767a.
  • BOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 2. Halle: Gebauer, 1767b.
  • BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung Vierter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1762.
  • BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung Fünfter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1768.
  • ERNESTI, Johann Heinrich Gottfried. Die wol-eingerichtete Buchdruckerey... Nürnberg: J. A. Endters, 1721.
  • Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie Ein und dreyßigster Theil. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1771.
  • Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie Drey und sechzigster Theil. Halle: Johann Jacob Gebauer, 1803.
  • Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie Sechs und sechzigster Theil. Halle: Johann Jacob Gebauer, 1814.
  • GATTERER, Johann Christoph. De ludo equestri ab Henrico VI. imperatore... Altorfii: Meyer, 1752.
  • GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim Nürnberg: Fleischmann, 1755.
  • GATTERER, Johann Christoph. Commentatio historica de Ludovico IIII. infante... Göttingen: Pockwitz & Barmeier, 1759.
  • GATTERER, Johann Christoph. Abriß der Chronologie Göttingen: Dieterich, 1777.
  • GATTERER, Johann Christoph. Abriss der Diplomatik Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1798.
  • GATTERER, Johann Christoph. Praktische Diplomatik Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1799.
  • Göttingische Anzeigen von gelehrten Sachen. 108. und 109. Stück. Den 7. und 10. September 1767. Göttingen: Johann Albrecht Barmeier, 1767.
  • HORACE. Horace on Poetry: The ‘Ars Poetica’. Cambridge: Cambridge University Press, 1971.
  • KÖHLER, Johann David. Kurtze und gründliche Anleitung zu der Alten und Mittlern Geographie Nebst XII. Land-Kaertgen. Nürnberg: Lorenz Bieling, 1730.
  • KÖHLER, Johann David. Kurze und gründliche Anleitung zu der alten und mittlern Geographie Zweiter Theil. Nürnberg: Weigels, 1737.
  • KÖHLER, Johann David. Nutz der Wappenkenntnüß zur Entdeckung einer historischen Wahrheit... Göttingen: Hager, 1749.
  • LESS, Gottfried. Vermischte Schriften Göttingen: Vandenhoeck, 1782.
  • MEINERS, Christoph. Geschichte des Ursprungs, Fortgangs und Verfalls der Wissenschaften in Griechenland und Rom Erster Band. Lemgo: Im Verlage der Meyerschen Buchhandlung, 1781.
  • MEINERS, Christoph. Geschichte des Ursprungs, Fortgangs und Verfalls der Wissenschaften in Griechenland und Rom Zweyter Band. Lemgo: Im Verlage der Meyerschen Buchhandlung, 1782.
  • MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte aller Religionen Lemgo: Meyer, 1785a.
  • MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Menschheit Lemgo: Meyer, 1785b.
  • MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Weltweisheit Lemgo: Meyer, 1786.
  • MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Weltweisheit 2. Auflage. Lemgo: Meyer, 1789.
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  • MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1811.
  • MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Dritter Theil. Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1815.
  • REITEMEIER, Johann Friedrich. Geschichte und Zustand der Sklaverey und Leibeigenschaft in Griechenland Berlin: Mylius, 1789.
  • SCHLÖZER, August Ludwig. Kleine Weltgeschichte Num. I: Corsica. Göttingen; Gotha: J. C. Dieterich, 1769.
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  • SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen Erster Theil. Göttingen: Dieterich, 1800.
  • SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen Zweyter Theil. Göttingen: Dieterich, 1803.
  • SPITTLER, Ludwig Timotheos. Grundriß der Geschichte der christlichen Kirche Göttingen: Im Verlag der Wittwe Vandenhoeck, 1782.
  • TÄUBEL, Christian Gottlob. Praktisches Handbuch der Buchdruckerkunst für Anfänger Leipzig: In der Müllerschen Buchhandlung, 1791.
  • Uebersetzung der Allgemeinen Welthistorie Erster Theil. Halle: Johann Justinus Gebauer, 1744.

LIVROS, ARTIGOS E TESES

  • ARAÚJO, André de Melo. O conhecimento impresso: Práticas editoriais e estratégias comerciais nos manuais de impressão da Época Moderna. Varia Historia, v. 36, n. 70, p. 53-90, 2020.
  • BARCHAS, Janine. Graphic Design, Print Culture, and the Eighteenth-Century Novel Cambridge: Cambridge University Press, 2003.
  • BÖKER, Uwe. Title-Pages and Frontispieces of Popular Trial Accounts and Newgate Calendars (1600-1870). In: BUSCH, Werner; FISCHER, Hubertus; MÖLLER, Joachim (orgs.). Entrée aus Schrift und Bild: Titelblatt und Frontispiz im England der Neuzeit. Münster: LIT Verlag, 2008. p. 275-315.
  • BUURMA, Rachel Sagner. Epigraphs. In: DUNCAN, Dennis; SMYTH, Adam (eds.). Book Parts. Oxford: Oxford University Press, 2019. p. 165-175.
  • CONRAD, Marcus. Geschichte(n) und Geschäfte: Die Publikation der ‘Allgemeinen Welthistorie’ im Verlag Gebauer in Halle (1744-1814). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2010.
  • FARIAS, Priscila L. Estudos sobre tipografia: letras, memória gráfica e paisagens tipográficas. Tese (Livre-docência) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.
  • FOWLER, Alastair. The Mind of the Book: Pictorial Title Pages. Oxford: Oxford University Press, 2017.
  • GENETTE, Gérard. Paratexts: Thresholds of interpretation. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
  • JENTZSCH, Rudolf. Der deutsch-lateinische Büchermarkt nach den Leipziger Ostermeß-Katalogen von 1740, 1770 und 1800 in seiner Gliederung und Wandlung Leipzig: R. Voigtländer, 1912.
  • KAPR, Albert. Fraktur: Form und Geschichte der gebrochenen Schriften. Mainz: Schmidt, 1993.
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  • KINTZINGER, Marion. Chronos und Historia: Studien zur Titelblattikonographie historiographischer Werke vom 16. bis zum 18. Jahrhundert. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 1995.
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  • PROOT, Goran. Converging Design Paradigms: Long-Term Evolutions in the Layout of Title Pages of Latin and Vernacular Editions Published in the Southern Netherlands, 1541-1660. The Papers of the Bibliographical Society of America, v. 108, n. 3, p. 269-305, 2014.
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  • SMITH, Margaret M. The Title-Page: Its Early Development, 1460-1510. Londres: British Library, 2000.
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  • WEISSBRODT, Ernst. Die Meyersche Buchhandlung in Lemgo und Detmold und ihre Vorläufer Festschrift zum 250-jährigen Bestehen der Firma am 12. Juni 1914. Detmold: Meyer, 1914.
  • WITTMANN, Reinhard. Geschichte des deutschen Buchhandels München: Beck, 2011.
  • 2
    “Es sind von Boysers Alter Historie, erster Band, sechs Exempl[are]. Beÿ mir defect. Das Titülblad [Titelblatt] und die erste Lage mit Küpfern sind vom ersten Bande, die Bücher selbst aber vom zweÿten Bande.” Ursinus (1768URSINUS, Andreas Friedrich. Brief von Andreas Friedrich Ursinus aus Tondern, 06.09.1768, Stadtarchiv Halle. Número de catalogação: A 6.2.6 Nr. 10215, Caixa Número 39., f. 1r).
  • 3
    Smith (2000SMITH, Margaret M. The Title-Page: Its Early Development, 1460-1510. Londres: British Library, 2000., p. 11-15).
  • 4
    Smith (2000SMITH, Margaret M. The Title-Page: Its Early Development, 1460-1510. Londres: British Library, 2000., p. 21-23).
  • 5
    Cf. Rautenberg (2014RAUTENBERG, Ursula. Das Titelblatt: Die Entstehung eines typographischen Dispositivs im frühen Buchdruck [Alles Buch: Studien der Erlanger Buchwissenschaft, Vol. X]. 2014.; 2015RAUTENBERG, Ursula. Titelblatt. In: RAUTENBERG, Ursula (ed.). Reclams Sachlexikon des Buches: Von der Handschrift zum E-Book. Stuttgart: Reclam, 2015. p. 383-385.). Para uma análise mais recente da história das folhas de rosto, cf. Trettien (2019TRETTIEN, Whitney. Title Pages. In: DUNCAN, Dennis; SMYTH, Adam (eds.). Book Parts. Oxford: Oxford University Press, 2019. p. 39-49.).
  • 6
    Peil (2008PEIL, Dietmar. Titelkupfer/Titelblatt - ein Programm? Beobachtungen zur Funktion von Titelkupfer und Titelblatt in ausgewählten Beispielen aus dem 17. Jahrhundert. In: AMMON, Frieder von; VÖGEL, Herfried (orgs.). Die Pluralisierung des Paratextes in der Frühen Neuzeit. Berlin: LIT Verlag, 2008. p. 301-336., p. 301).
  • 7
    Proot (2014PROOT, Goran. Converging Design Paradigms: Long-Term Evolutions in the Layout of Title Pages of Latin and Vernacular Editions Published in the Southern Netherlands, 1541-1660. The Papers of the Bibliographical Society of America, v. 108, n. 3, p. 269-305, 2014., p. 276-277).
  • 8
    Cf. Böker (2008BÖKER, Uwe. Title-Pages and Frontispieces of Popular Trial Accounts and Newgate Calendars (1600-1870). In: BUSCH, Werner; FISCHER, Hubertus; MÖLLER, Joachim (orgs.). Entrée aus Schrift und Bild: Titelblatt und Frontispiz im England der Neuzeit. Münster: LIT Verlag, 2008. p. 275-315.).
  • 9
    Cf. Kintzinger (1995KINTZINGER, Marion. Chronos und Historia: Studien zur Titelblattikonographie historiographischer Werke vom 16. bis zum 18. Jahrhundert. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 1995.). Também essa é a perspectiva que se encontra no estudo fundamental de Volker Remmert sobre a função das gravuras em metal na apresentação gráfica das ciências matemáticas no século XVII. Cf. Remmert (2005REMMERT, Volker. Widmung, Welterklärung und Wissenschaftslegitimierung: Titelbilder und ihre Funktionen in der Wissenschaftlichen Revolution. Wiesbaden: Harrassowitz, 2005.).
  • 10
    Recentemente, Alastair Fowler observa como os padrões gráficos dominantes no século XVII se transformam ao longo do século seguinte, de forma a dar mais espaço para folhas de rosto mais simples. Fowler (2017FOWLER, Alastair. The Mind of the Book: Pictorial Title Pages. Oxford: Oxford University Press, 2017., p. 60-65).
  • 11
    Boysen (1767aBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 1. Halle: Gebauer, 1767a., p. 44).
  • 12
    Conrad (2010CONRAD, Marcus. Geschichte(n) und Geschäfte: Die Publikation der ‘Allgemeinen Welthistorie’ im Verlag Gebauer in Halle (1744-1814). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2010., p. 189).
  • 13
    Conrad (2010CONRAD, Marcus. Geschichte(n) und Geschäfte: Die Publikation der ‘Allgemeinen Welthistorie’ im Verlag Gebauer in Halle (1744-1814). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2010., p. 143).
  • 14
    Boysen (1767aBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 1. Halle: Gebauer, 1767a., p. 46).
  • 15
    Boysen (1767bBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 2. Halle: Gebauer, 1767b., p. (6).
  • 16
    Conrad (2010CONRAD, Marcus. Geschichte(n) und Geschäfte: Die Publikation der ‘Allgemeinen Welthistorie’ im Verlag Gebauer in Halle (1744-1814). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2010., p. 149-194).
  • 17
    Göttingische Anzeigen… (1767Göttingische Anzeigen von gelehrten Sachen. 108. und 109. Stück. Den 7. und 10. September 1767. Göttingen: Johann Albrecht Barmeier, 1767., p. 867-868).
  • 18
    Smith (2000SMITH, Margaret M. The Title-Page: Its Early Development, 1460-1510. Londres: British Library, 2000., p. 12-13); Kintzinger (1995KINTZINGER, Marion. Chronos und Historia: Studien zur Titelblattikonographie historiographischer Werke vom 16. bis zum 18. Jahrhundert. Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 1995., p. 25).
  • 19
    Trata-se dos seguintes autores, com os respectivos anos que figuram nas folhas de rosto dos títulos integrantes do corpus documental analisado neste artigo: Anton Friedrich Büsching (1752, 1760, 1760, 1761, 1762BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung. Vierter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1762., 1764, 1765, 1766, 1767, 1768BÜSCHING, Anton Friedrich. Neue Erdbeschreibung. Fünfter Theil. Hamburg: Johann Carl Bohn, 1768., 1772, 1780, 1781, 1784, 1788, 1789, 1792), Arnold Hermann Ludwig Heeren (1793, 1799, 1805, 1812, 1824, 1827), August Ludwig Schlözer (1760, 1761, 1768, 1769, 1769SCHLÖZER, August Ludwig. Kleine Weltgeschichte. Num. I: Corsica. Göttingen; Gotha: J. C. Dieterich, 1769., 1771SCHLÖZER, August Ludwig. Neuverändertes Rußland... Riga; Mietau: Johann Friedrich Hartknoch, 1771., 1772, 1773, 1775, 1776, 1777, 1784, 1792SCHLÖZER, August Ludwig. WeltGeschichte nach ihren HauptTheilen im Auszug und Zusammenhange. Erster Theil. Zwote, verbesserte, Auflage. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1792., 1795, 1797, 1802, 1805, 1806, 1809), Christoph Meiners (1775, 1781MEINERS, Christoph. Geschichte des Ursprungs, Fortgangs und Verfalls der Wissenschaften in Griechenland und Rom. Erster Band. Lemgo: Im Verlage der Meyerschen Buchhandlung, 1781., 1782, 1785aMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte aller Religionen. Lemgo: Meyer, 1785a., 1785bMEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Menschheit. Lemgo: Meyer, 1785b., 1786MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Weltweisheit. Lemgo: Meyer, 1786., 1788, 1789MEINERS, Christoph. Grundriß der Geschichte der Weltweisheit. 2. Auflage. Lemgo: Meyer, 1789., 1791, 1792MEINERS, Christoph. Geschichte der Ungleichheit der Stände unter den vornehmsten Europäischen Völkern. Erster Band. Hannover: Im Verlage der Helwingischen Buchhandlung, 1792., 1793, 1799, 1800, 1800, 1801, 1802, 1806, 1811MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1811., 1815MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Dritter Theil. Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1815.), Friedrich Eberhard Boysen (1767aBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 1. Halle: Gebauer, 1767a., 1767bBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 2. Halle: Gebauer, 1767b.), Friedrich Gottlieb Canzler (1791), Georg Christian Raff (1776, 1777, 1783, 1793, 1796), Heinrich Moritz Gottlieb Grellmann (1783), Johann Christoph Gatterer (1752GATTERER, Johann Christoph. De ludo equestri ab Henrico VI. imperatore... Altorfii: Meyer, 1752., 1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. c. 1755. Germanisches Nationalmuseum Nürnberg, Hs. 28.889, Fasc. 1., 1759GATTERER, Johann Christoph. Commentatio historica de Ludovico IIII. infante... Göttingen: Pockwitz & Barmeier, 1759., 1761, 1765, 1765, 1773, 1773, 1775, 1777GATTERER, Johann Christoph. Abriß der Chronologie. Göttingen: Dieterich, 1777., 1785, 1787, 1788, 1790, 1791, 1792, 1792, 1793, 1798GATTERER, Johann Christoph. Abriss der Diplomatik. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1798., 1799GATTERER, Johann Christoph. Praktische Diplomatik. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1799.), Johann David Köhler (1730KÖHLER, Johann David. Kurtze und gründliche Anleitung zu der Alten und Mittlern Geographie. Nebst XII. Land-Kaertgen. Nürnberg: Lorenz Bieling, 1730., 1736, 1737KÖHLER, Johann David. Kurze und gründliche Anleitung zu der alten und mittlern Geographie. Zweiter Theil. Nürnberg: Weigels, 1737., 1749KÖHLER, Johann David. Nutz der Wappenkenntnüß zur Entdeckung einer historischen Wahrheit... Göttingen: Hager, 1749., 1750, 1762), Johann Friedrich Reitemeier (1789REITEMEIER, Johann Friedrich. Geschichte und Zustand der Sklaverey und Leibeigenschaft in Griechenland. Berlin: Mylius, 1789., 1801), Johann Gottfried Eichhorn (1799), Johann Tobias Köhler (c.1755, 1759, 1760, 1767, 1769), Karl Traugott Gottlob Schönemann (1800SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen. Erster Theil. Göttingen: Dieterich, 1800., 1801, 1801, 1801, 1802, 1803SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen. Zweyter Theil. Göttingen: Dieterich, 1803.), Ludwig Timotheos Spittler (1778, 1782SPITTLER, Ludwig Timotheos. Grundriß der Geschichte der christlichen Kirche. Göttingen: Im Verlag der Wittwe Vandenhoeck, 1782., 1786, 1793, 1794, 1827), Michael Hißmann (1783, 1784) e a série Übersetzung/Fortsetzung der allgemeinen Weltgeschichte (74 folhas de rosto distribuídas em 66 volumes: 1744-1814). Note-se que nem todos os títulos listados acima encontram-se referenciados ao final deste artigo. Optou-se por fornecer a referência bibliográfica completa apenas das obras diretamente mencionadas no corpo do texto. Não foram consideradas como parte integrante do corpus documental da pesquisa as publicações de teses nas quais os autores aqui listados figuram apenas como presidente da disputatio.
  • 20
    Uma vez que a perspectiva de análise adotada neste artigo procura explorar a configuração material das folhas de rosto produzidas no período acima explicitado, o corpus documental da pesquisa se limitou às obras que puderam ser examinadas materialmente. Por essa razão não se apresenta, aqui, uma análise com significância estatística, a despeito do número relativamente elevado de folhas de rosto consideradas.
  • 21
    As atividades acadêmicas da Universidade de Göttingen tiveram início na década de 1730. Este estudo compreende obras publicadas ao longo de um século delimitado, por um lado, pelo início das atividades acadêmicas da universidade e, por outro, pela troca geracional dos docentes ativos na instituição, assim como também pelas mudanças técnicas na forma de impressão de livros gradualmente implementadas nas décadas iniciais do século XIX.
  • 22
    Jentzsch (1912JENTZSCH, Rudolf. Der deutsch-lateinische Büchermarkt nach den Leipziger Ostermeß-Katalogen von 1740, 1770 und 1800 in seiner Gliederung und Wandlung. Leipzig: R. Voigtländer, 1912., Tafel II).
  • 23
    Trata-se das seguintes obras: Gatterer (1752GATTERER, Johann Christoph. De ludo equestri ab Henrico VI. imperatore... Altorfii: Meyer, 1752.), Gatterer (1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. c. 1755. Germanisches Nationalmuseum Nürnberg, Hs. 28.889, Fasc. 1.) e Gatterer (1759GATTERER, Johann Christoph. Commentatio historica de Ludovico IIII. infante... Göttingen: Pockwitz & Barmeier, 1759.). É certo que esse número seria maior caso este estudo considerasse as folhas de rosto de todas as obras históricas produzidas por autores vinculados à Universidade de Göttingen, sobretudo aquelas publicadas ao longo das décadas iniciais de funcionamento da instituição.
  • 24
    Schlözer (1769SCHLÖZER, August Ludwig. Kleine Weltgeschichte. Num. I: Corsica. Göttingen; Gotha: J. C. Dieterich, 1769., p. 123).
  • 25
    Schönemann (1800SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen. Erster Theil. Göttingen: Dieterich, 1800., p. XVI).
  • 26
    Schönemann (1803SCHÖNEMANN, Karl Traugott Gottlob. Codex für die praktische Diplomatik zum Behuf seiner Vorlesungen. Zweyter Theil. Göttingen: Dieterich, 1803., p. XIV): “Daß die dem zweyten, sonst fast ganz mit Teutschen Schriften gedruckten Theile angehängten Register nicht ebenfalls mit Teutschen, sondern mit Lateinischen Schriften gedruckt sind, war schon der Wille des Herausgebers, und da auch das letzte Diplom Lateinisch war, so würde die öftere Abweichung zu auffallend gewesen seyn. Zu dem Titel mußten ebenfalls Lateinische Schriften gewählt werden, weil mit diesen auch der des ersten Theils gedruckt ist.”
  • 27
    Gatterer (1798GATTERER, Johann Christoph. Abriss der Diplomatik. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1798., p. [4]): “Dass ich aber Lateinische Lettern, an statt Teutscher, dazu wählte, geschah so gar aus diplomatischen Gründen selbst. Die Teutschen haben ja, so wenig als andere lateinisch-christliche Nationen in Europa, einige Buchstaben: diejenigen, die wir Teutsch nennen, sind verdorbene Lateinische aus dem spizfindigen Neugothischen Zeitalter. Es war also hier nicht Wahl zwischen Teutschen und Lateinischen Buchstaben, sondern zwischen ächt Lateinischen und elend verkünstelten.” No ano seguinte à impressão dessa obra, Gatterer publica um novo título dedicado ao estudo da diplomática e cuja folha de rosto foi igualmente composta com tipos redondos. Cf. Gatterer (1799GATTERER, Johann Christoph. Praktische Diplomatik. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1799.).
  • 28
    Sobre as práticas editoriais e as estratégias comerciais propagadas nos manuais de impressão da Época Moderna, cf. Araújo (2020ARAÚJO, André de Melo. O conhecimento impresso: Práticas editoriais e estratégias comerciais nos manuais de impressão da Época Moderna. Varia Historia, v. 36, n. 70, p. 53-90, 2020.).
  • 29
    Ernesti (1721ERNESTI, Johann Heinrich Gottfried. Die wol-eingerichtete Buchdruckerey... Nürnberg: J. A. Endters, 1721., p. 3-12; 13-18). Essa mesma oposição pode ser verificada no manual de impressão publicado em 1791 por Christian Gottlob Täubel, por sua vez voltado sobretudo para iniciantes no ofício. Täubel (1791TÄUBEL, Christian Gottlob. Praktisches Handbuch der Buchdruckerkunst für Anfänger. Leipzig: In der Müllerschen Buchhandlung, 1791., Tab. I e Tab. II). Para compreender as equivalências entre diferentes classificações de tipos e verificar a normatização da nomenclatura tipográfica em língua portuguesa, cf. Farias (2016FARIAS, Priscila L. Estudos sobre tipografia: letras, memória gráfica e paisagens tipográficas. Tese (Livre-docência) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.).
  • 30
    Kapr (1993KAPR, Albert. Fraktur: Form und Geschichte der gebrochenen Schriften. Mainz: Schmidt, 1993., p. 48).
  • 31
    Kapr (1993KAPR, Albert. Fraktur: Form und Geschichte der gebrochenen Schriften. Mainz: Schmidt, 1993., p. 58). Para aprofundar essa discussão, consulte-se o estudo de Christina Killius sobre o debate em torno do uso da Antiqua ou dos tipos góticos de Unger no periódico Musen-Almanach, editado por August Wilhelm Schlegel e Ludwig Tieck. Cf. Killius (1999KILLIUS, Christina. Die Antiqua-Fraktur-Debatte um 1800 und ihre historische Herleitung. Harrassowitz: Wiesbaden, 1999., sobretudo p. 427).
  • 32
    No vocabulário de Genette (1997GENETTE, Gérard. Paratexts: Thresholds of interpretation. Cambridge: Cambridge University Press, 1997., p. 144), o termo epígrafe designa uma citação localizada próxima ao texto principal de um livro. No entanto, aqui se redimensiona a ideia de proximidade gráfica prevista por Genette para compreender a função que os lemas ou as citações epigráficas cumprem nas folhas de rosto.
  • 33
    Cf. Gatterer (1777GATTERER, Johann Christoph. Abriß der Chronologie. Göttingen: Dieterich, 1777.).
  • 34
    Cf. Köhler (1749KÖHLER, Johann David. Nutz der Wappenkenntnüß zur Entdeckung einer historischen Wahrheit... Göttingen: Hager, 1749.).
  • 35
    Cf. Schlözer (1771SCHLÖZER, August Ludwig. Neuverändertes Rußland... Riga; Mietau: Johann Friedrich Hartknoch, 1771.).
  • 36
    Cf. Meiners (1781MEINERS, Christoph. Geschichte des Ursprungs, Fortgangs und Verfalls der Wissenschaften in Griechenland und Rom. Erster Band. Lemgo: Im Verlage der Meyerschen Buchhandlung, 1781.; 1782MEINERS, Christoph. Geschichte des Ursprungs, Fortgangs und Verfalls der Wissenschaften in Griechenland und Rom. Zweyter Band. Lemgo: Im Verlage der Meyerschen Buchhandlung, 1782.).
  • 37
    Cf. Meiners (1792MEINERS, Christoph. Geschichte der Ungleichheit der Stände unter den vornehmsten Europäischen Völkern. Erster Band. Hannover: Im Verlage der Helwingischen Buchhandlung, 1792.).
  • 38
    Cf. Meiners (1811MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1811.; 1815MEINERS, Christoph. Untersuchungen über die Verschiedenheiten der Menschennaturen... Dritter Theil. Tübingen: In der J. G. Cotta’schen Buchhandlung, 1815.).
  • 39
    Cf. Schlözer (1792SCHLÖZER, August Ludwig. WeltGeschichte nach ihren HauptTheilen im Auszug und Zusammenhange. Erster Theil. Zwote, verbesserte, Auflage. Göttingen: Vandenhoeck und Ruprecht, 1792.).
  • 40
    Rautenberg (2015RAUTENBERG, Ursula. Titelblatt. In: RAUTENBERG, Ursula (ed.). Reclams Sachlexikon des Buches: Von der Handschrift zum E-Book. Stuttgart: Reclam, 2015. p. 383-385., p. 385).
  • 41
    Cf. Köhler (1730KÖHLER, Johann David. Kurtze und gründliche Anleitung zu der Alten und Mittlern Geographie. Nebst XII. Land-Kaertgen. Nürnberg: Lorenz Bieling, 1730.; 1737KÖHLER, Johann David. Kurze und gründliche Anleitung zu der alten und mittlern Geographie. Zweiter Theil. Nürnberg: Weigels, 1737.); Uebersetzung der Allgemeinen Welthistorie (1744-1814Fortsetzung der Allgemeinen Welthistorie. Sechs und sechzigster Theil. Halle: Johann Jacob Gebauer, 1814.); Gatterer (1755GATTERER, Johann Christoph. Historia genealogica dominorum Holzschuherorum ab Aspach et Harlach in Thalheim. c. 1755. Germanisches Nationalmuseum Nürnberg, Hs. 28.889, Fasc. 1.); Boysen (1767aBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 1. Halle: Gebauer, 1767a.; 1767bBOYSEN, Friedrich Eberhard (ed). Die Allgemeine Welthistorie, die in England durch eine Gesellschaft von Gelehrten ausgefertiget worden. In einem vollständigen und pragmatischen Auszuge. Alte Historie. Vol. 2. Halle: Gebauer, 1767b.).
  • 42
    Cf. Horácio, Ars Poetica, 142: “(...) [‘]qui mores hominum multorum uidit et urbes’.” Horace (1971HORACE. Horace on Poetry: The ‘Ars Poetica’. Cambridge: Cambridge University Press, 1971., p. 60). Trata-se de uma referência conhecida nos círculos letrados setecentistas. Na forma epigráfica, o interesse de Horácio por aqueles que viram os costumes de muitos homens e cidades encontra-se igualmente impresso, entre dois fios simples, na folha de rosto do romance inglês Tom Jones (1749), de Henry Fielding.
  • 43
    Conrad (2010CONRAD, Marcus. Geschichte(n) und Geschäfte: Die Publikation der ‘Allgemeinen Welthistorie’ im Verlag Gebauer in Halle (1744-1814). Wiesbaden: Harrassowitz Verlag, 2010., p. 67-68).
  • 44
    Cf. Kawohl (2010KAWOHL, Friedemann. The Berlin Publisher Friedrich Nicolai and the Reprinting Sections of the Prussian Statute Book of 1794. In: DEAZLEY, Ronan; KRETSCHMER, Martin; BENTLY, Lionel (eds.). Privilege and Property: Essays on the History of Copyright. Cambridge: Open Book Publishers, 2010. p. 207-240.); Wittmann (2011WITTMANN, Reinhard. Geschichte des deutschen Buchhandels. München: Beck, 2011., p. 172).
  • 45
    Araújo (2020ARAÚJO, André de Melo. O conhecimento impresso: Práticas editoriais e estratégias comerciais nos manuais de impressão da Época Moderna. Varia Historia, v. 36, n. 70, p. 53-90, 2020., p. 85).
  • 46
    Täubel (1791TÄUBEL, Christian Gottlob. Praktisches Handbuch der Buchdruckerkunst für Anfänger. Leipzig: In der Müllerschen Buchhandlung, 1791., parte 2, p. 61): “Titel eines Buchs muß vom Setzer so eingerichtet werden, daß er deutlich, gut und schön ins Auge fället. Zuerst muß der Setzer untersuchen, welches Wort, oder welche Wörter die Hauptzeile werden müssen, diese müssen aus einer größern Schrift gesetzt werden, als alle übrige Zeilen des Titels.”
  • 47
    Gatterer (1767GATTERER, Johann Christoph. Brief von Johann Christoph Gatterer aus Göttingen, 15.03.1767, Stadtarchiv Halle. Número de catalogação: A 6.2.6 Nr. 9389, Caixa Número 37., f. 1r): “Die Wahrheit zu sagen, ich bin kein Liebhabe von Vignettes [...]”.
  • 48
    Täubel (1791TÄUBEL, Christian Gottlob. Praktisches Handbuch der Buchdruckerkunst für Anfänger. Leipzig: In der Müllerschen Buchhandlung, 1791., parte 1, p. 173).
  • 49
    Foram consultados, eletronicamente, os seguintes exemplares da segunda edição da obra Grundriß der Geschichte der Weltweisheit, de Christoph Meiners: Österreichische Nationalbliothek, Sammlung von Handschriften und alten Drucken, Número de catalogação: 593586-A; Harvard University, Widener Library, Número de catalogação: KC 17732.
  • 50
    Cf. Less (1782LESS, Gottfried. Vermischte Schriften. Göttingen: Vandenhoeck, 1782.).
  • 51
    Cf. Schellmann (2010SCHELLMANN, Wolfgang. Ein Fall von Klischeeverwendung vom 16. bis 18. Jahrhundert im Bibeldruck. Archiv für Geschichte des Buchwesens, v. 65, p. 157-171, 2010.).
  • 52
    Diversos são os trabalhos que se ocupam da temática. Consulte-se, paradigmaticamente: Moran (2017MORAN, Bruce T. Preserving the Cutting Edge: Travelling Woodblocks, Material Networks, and Visualizing Plants in Early Modern Europe. In: VALLERIANI, Matteo (ed.). The Structures of Practical Knowledge. Cham: Springer, 2017. p. 393-419., p. 397).
  • 53
    A presença da livraria e casa editorial da família Vandenhoeck na cidade de Göttingen remonta à fundação da universidade na década de 1730. Na segunda metade do século, a empresa é administrada por Anna Vandenhoeck (1698-1787), viúva do fundador Abraham - como explicitado na folha de rosto reproduzida na figura 16 e datada de 1782 - conjuntamente com Carl Friedrich Günther Ruprecht (1730-1816), que por sua vez iniciara seu contato com a oficina dos Vandenhoeck em 1748. Cf. Ruprecht (1935RUPRECHT, Wilhelm. Väter und Söhne: Zwei Jahrhunderte Buchhändler in einer deutschen Universitätsstadt. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1935.).
  • 54
    A casa editorial de Lemgo, liderada por Johann Heinrich Meyer, passa a ser comandada a partir de 1754 por seu genro, Christian Friedrich Helwing (1725-1800), logo após a morte do sogro. Cf. Weißbrodt (1914WEISSBRODT, Ernst. Die Meyersche Buchhandlung in Lemgo und Detmold und ihre Vorläufer. Festschrift zum 250-jährigen Bestehen der Firma am 12. Juni 1914. Detmold: Meyer, 1914.).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Out 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    19 Abr 2020
  • Aceito
    11 Jun 2020
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