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Sôbre um caso de crianças desajustadas nas escolas públicas do Recife

Electrocncephalographic studies in intracranial vascular anomalies

Gonçalves FernandesI; J. J. ALves TavaresII

IProfessor da Fac. Ciênc. Méd. de Pernambuco. Chefe da Secção de Ortofrenia e Higiene Mental do Departamento de Saúde Pública do Estado de Pernambuco

IIAssistente da Fac. Ciênc. Méd. de Pernambuco. Assistente voluntário da Secção de Ortofrenia e Higiene Mental

RESUMO

Os autores estudaram, nas escolas públicas da cidade do Recife (Estado de Pernambuco, Brasil), sob o ponto de vista médico-psicológico, 23.057 escolares. Dentre êstes, 2.247 (9,74%) se mostravam desajustados, aberrando do tipo médio. O material humano foi apreciado de vários ângulos: raça, idade, série, situação no currículo, procedência e formas de desajustamento. Os autores concluem pela necessidade de mais amplo estudo do meio escolar sob o duplo aspecto sanitário e pedagógico, bem como pela necessidade de exame médico-psicológico no ato da matrícula, visando a constituição de classes homogêneas. Lembram, também, a possibilidade de certo número de desajustamentos ter como causa um primo-desajustamento : o da própria professora.

SUMMARY

The authors have studied 23,057 school-children in the public schools of Recife (Pernambuco - Brazil) under a psychologic-medical point of view. Among these 2,247 (9.74 per cent) showed themselves maladjusted, out of the medium type. The human material was studied from many angles: race, age, degree, situation in the curriculum, procedence and maladjustements' forms. The authors come to the conclusion that it is necessary more extensive study of the school's ambient under the sanitary and pedagogic aspects, as well as the necessity of a medical-psychological examination at the beginning of the school-year, observing the situation of the homogeneous classes. They remember also the possibility of a certain number of maladjustments having as a cause a prime maladjustment of the school-teacher herself.

O censo de crianças desajustadas nas escolas públicas do Recife, realizado pela Secção de Ortofrenia e Higiene Mental no ano de 1951, constitui o primeiro empreendimento desta natureza entre as atividades do Departamento de Saúde Pública do Estado de Pernambuco. Cumprindo sua missão de prevenir ao invés de curar, de "conservar normal a criança normal", mas também sem esquecer a face corretiva da Higiene Mental, a Secção de Ortofrenia estudou sob aspecto médico-psicológico um total de 23.057 crianças matriculadas no curso primário dos diversos estabelecimentos oficiais do Recife. Dentre esta população escolar, 2.247 crianças (9,74%) foram consideradas desajustadas e, portanto, merecedoras de maiores cuidados por parte de médicos, mestres e pais. O material humano foi estudado sob vários ângulos. Deu-se atenção a características raciais, especialmente cór, idade, classe, situação no currículo escolar e procedência, bem como às características do desajustamento. Para estudo posterior do ambiente escolar recifense determinou-se a percentagem de desajustados com que as diversas escolas concorreram na integração do total de crianças-problemas. Esta pesquisa corresponde a meses de exaustiva la-buta e não teria sido possível sem a colaboração dedicada de Sarah Times de Carvalho (funcionária da Assistência a Psicópatas, a cargo de quem ficou o manuseio de mapas e a apuração dos diversos dados aqui registrados) e a cooperação das diretoras de grupos escolares e professoras de escolas isoladas. Expomos, condensados, os resultados. Alguns não nos permitem tirar conclusões por falta de outros dados que os complementem e cuja obtenção independe da nossa vontade.

Predominam, entre as crianças desajustadas nas escolas públicas do Recife, as de raça branca; todas as raças concorreram com mais crianças do sexo masculino que do feminino (quadro 1). Entretanto, não é possível tirar conclusões quanto à suscetibilidade racial aos fatores desajustantes, pois, para isto, necessitaríamos de dados percentuais só possíveis se tivéssemos à mão números referentes a toda a população escolar do Recife, dados esses inexistentes na Secretaria de Educação.


As maiores cifras correspondem, como se vê, às idades compreendidas entre 9 e 12 anos; as idades de 13 e 14 anos, correspondentes à fase da puberdade (no Nordeste do Brasil), dão, também, cifras expressivas; no sexo masculino sempre as cifras foram maiores (quadro 2).


A 1a série A dá o maior contingente de crianças excepcionais; sua maioria é constituída de meninas de baixo quociente intelectual, que poderiam obter maior aproveitamento escolar se ensinados por métodos especiais. A 2a série segue-lhe as pegadas. Os extremos apresentam menor número de escolares-problemas. Para assentarmos conclusões de conjunto fazem-nos falta os dados percentuais que reclamamos ao comentar o quadro i. De qualquer forma, demonstram estes números a necessidade de um estudo amplo e mais acurado do meio escolar, suas necessidades e falhas, quer sob o ponto de vista pedagógico, quer sob o ponto de vista sanitário.

Para o estudo estatístico do desajustamento tomou-se como modelo as fórmulas empregadas pelo Consultório de Neuro-Psiquiatria da Inspecção Médica Escolar do Consejo Nacional de Educación da República Argentina. O quadro 6 apresenta as diversas formas de desajustamento encontradas, em seus índices numéricos:


Os atrasados (oligofrênicos?) constituem a maioria (1.094 ou 48,68%) dos desajustados; seguem-se-lhes os distraídos, os nervosos e os portadores de defeito de linguagem. Entre estes últimos há a assinalar uma ostensiva predominancia entre os individuos do sexo masculino.

Êstes dados demonstram, a mais, a necessidade do exame médico-psicológico do escolar no ato da matrícula, com a decorrente triagem para classes especiais no caso dos de baixo quociente intelectual, providência que deveria ser extensiva aos portadores de defeitos orgânicos que necessitam de aprendizado corretivo ou especializado em classes separadas.

Estudando a percentagem de crianças com aproveitamento precário verificamos, ao contrário do que era de esperar, que as escolas de menor matrícula forneciam os maiores dados percentuais. Investigamos 72 escolas. Dentre estas, 22 tinham matrículas que se expressavam por dezenas; as 50 restantes tinham matrículas orçando em centenas. A percentagem de desajustados foi, de maneira geral, maior nas primeiras que nas últimas, fenômeno que representamos nos quadros 7 e 8.



Hipóteses várias nos ocorrem diante destes quadros. No quadro 7 tem-se uma escola com 100% de desajustados, uma segunda com mais de 90%, uma terceira com mais de 70% e outra com mais de 50%. Casos de pereentagem por agrupamento, no percentual por escola, tão elevado? que nos fazem interrogar: o fator desajustante não estará nestas próprias escolas, considerando a elevação global dum único tipo de desajustamento (atrasados)? Não terão sua origem num primo-desajustamento: o das suas próprias professoras?

Quanto ao fato das escolas com matrícula superior a 100 alunos apresentarem menor índice de desajustamento, uma razão provável nos ocorre: estas escolas, pelo seu próprio aglomerado estudantil e formação natural de círculos, equipes, incremento das relações "de igual para igual", teriam agido como uma forma, digamos espontânea, de "cura de comunidade", dando-nos, mercê de fatores "socializantes" diversos, menores ín- dices de desajustamentos. Uma interpretação impessoal destes últimos resultados, entretanto, dependerá de mais acurado estudo do meio escolar, empreendimento que ousaremos tentar, mau grado a deficiência em pessoal e material com que luta nosso Serviço desde sua fundação.

Rua Conde da Boa Vista, 829 - Recife - Pernambuco.

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    Electrocncephalographic studies in intracranial vascular anomalies
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Abr 2014
    • Data do Fascículo
      Set 1953
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