Acessibilidade / Reportar erro

Is Germany incurable?: Richard M. Brickner

ANÁLISES DE REVISTAS

Is Germany incurable? Richard M. Brickner. Um volume com 318 páginas. J. B. Lippincott Company, Philadelphia - New York, 1943

A falha dos processos políticos e económicos empregados com o povo alemão após as guerras por êle provocadas, levou Brickner a estudar o assunto do ponto de vista psiquiátrico chegando à conclusão de que a cultura germânica vem demonstrando tendência paranóide, estado mental coletivo que necessita de cura e compreensão. É êste o inimigo verdadeiro que exige tratamento psiquiátrico e não tratamentos paliativos que só têm conseguido longos armistícios, mas não cura real. Brickner descreve a megalomania, as reações anti-sociais, o espírito da insatisfação, a agressão, os conceitos tìpicamente paranóides orientando a sociedade e as tentativas de imposição da hierarquia paranóide ao mundo todo. A Alemanha é considerada, pelo seu povo, como o Pai-Imperador-Mestre-Guia-Instrutor-Chefe-Herói do Universo. Tal estado mental é típico desde muitos séculos, independendo, pois, de Hitler e seus companheiros que, como alguns de seus predecessores, são apenas líderes transitórios que uma cultura paranóide inevitavelmente produziria. Embora a população alemã inteira não se enquadre neste conceito, estas caraterís-ticas envolvem sua inteira cultura ativa. Para que a ameaça alemã ao mundo possa ser melhor compreendida não deve ser esquecido que a única evolução lógica da paranóia é o assassinato para os indivíduos e a guerra para a sociedade.

Brickner analisa os sintomas da paranóia à luz das modernas aquisições psiquiátricas, salientando como principais a necessidade de dominar, a desconfiança (complexo de perseguição), a exagerada e elevada opinião de sua própria importância (megalomania), a falsa ruminação de acontecimentos passados (falsificação retrospectiva), o caráter absolutamente lógico (racionalização), o sintoma da projeção. O aspecto social da paranóia e a nefasta influência do paranóide sôbre as pessoas que com êle vivem e o perigo de um grupo paranóide para a sociedade em geral são minuciosamente analisados. O autor focaliza as teorias explicativas da paranóia, lembrando a importância da constituição e dos fatores ambientais infantis. Salienta a importância da psicoterapia pela reeducação, tentando ensinar o paciente a compreender seu próprio componente paranóide até que possa subjugá-lo. Transfere estas possibilidades de tratamento individual para a aplicação num grupo paranóico, o que constitui a principal esperança de suprimir a ameaça germânica no futuro. Estuda as tendências paranóides em grupos, salientando a influência da educação e da cultura do grupo sôbre as manifestações individuais e sociais. Apoia-se em dados antropológicos, para comprovar manifestações paranóides do povo alemão, expressas não sómente nas atividades como grupo nacional mas também nas instituições que moldam o comportamento indiviqual, tais como o código de honra pessoal, as etiquetas formais de reuniões sociais, a extrema disciplina aplicada à criança, a posição pontiíical do pai de família, a reverência alemã para os uniformes e posições oficiais. Baseado em inúmeros exemplos de expressões, descrições, atitudes e maniíestações políticas, cientílicas, literárias e jornalísticas, o autor conclui mostrando que o enigma alemão é, na realidade, a paranóia alemã.

Em capítulos seguintes, Brickner analisa e disseca a obra e vida dos grandes representantes da cultura alemã, portadores de tendências paranóides. Várias outras caraterísticas paranóides são focalizadas: o cuito da guerra e o culto à raça, o caráter obcessivo simbolizado nas palavras " ordem, limpeza e pontualidade", o absoluto respeito à hierarquia, a glorificação do militarismo. A imitação desta orientação pelas crianças origina um ambiente total de megalomania paranóide. O autor refere-se ao paranóide internacional, descrevendo as técnicas usuais do paranóide e como, pela disseminação de ódios, ameaças, queixas, confusão e fraude, podem ser trabalhadas as nações democráticas. Pessoas com pouca ou nenhuma tendência a interpretações paranóides podem eventualmente ser semi-hipnotizadas e aceitar o que ouvem repetidamente, usando o vocabulário paranóide, como que despertadas para perigos de que não tinham conhecimento anterior.

Finalmente o autor procura orientar sôbre o que fazer para o futuro, lembrando três métodos: o método de Versailles, que consiste no uso dos princípios formulados nos tratados de 1919; o da exterminação dos alemães; o esforço científico para vencer as tendências paranóides. Só o processo científico é plausível. São expostas normas práticas sôbre a maneira de aplicar os métodos psiquiátricos, nas bases de um programa bem organizado que deverá ser executado por peritos <íe diferentes campos - antropologia, direito, sociologia, economia, nutrição, transporte, propaganda, psicologia e psiquiatria. O livro de Brickner, escrito em linguagem acessível a leigos não se perde em rudimentos desnecessários, o que o torna de agradável leitura mesmo para o psiquiatra. As críticas sôbre êste livro, têm sido em geral favoráveis. Há, entretanto, uma que merece citada por se tratar de verdadeira falha, lamentável e inexplicável. Trata-se da omissão da conexão entre paranóia e homossexualidade, descoberta e inequivocamente provada por Freud há mais de 30 anos; esta crítica foi feita por Fritz Wittels (Collective Defense Mechanisms against homosexuality. Psychoanal. Rev. 31:19, janeiro, 1944).

JOY ARRUDA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1945
Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO R. Vergueiro, 1353 sl.1404 - Ed. Top Towers Offices Torre Norte, 04101-000 São Paulo SP Brazil, Tel.: +55 11 5084-9463 | +55 11 5083-3876 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.arquivos@abneuro.org