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Associação Paulista de Medicina secção de neuro-psiquiatria

REUNIÕES CIENTÍFICAS

Associação Paulista de Medicina secção de neuro-psiquiatria

Sessão ordinaria - 5, Janeiro, 1943

Presidente - Dr. Carlos Gama

Contribuição ao estudo de alguns mecanismos esquizofrénicos. Dr. Paulo Lentino.

O problema da psicologia da esquizofrenia, que se resume em última análise ao problema da psicologia do inconciente, está ainda muito longe de ser resolvido e todo o estudo que procure esclarecer alguns aspétos parciais da sintomatologia será util, pois poderá servir de base para um ulterior estudo de conjunto. Ha casos clínicos que podem ser considerados como casos padrões, tais os esclarecimentos que nos podem fornecer. São no entanto de número limitado, pois a maioria é constituida de casos mudos, que pouca cousa nos ensinam e se apresentam monotona e estereotipadamente com sintomatologia pobre e uniforme. Dois casos de esquizofrenia de forma paranóide, considerados casos padrões, permitem considerações sobre os mecanismos psicológicos da esquizofrenia, pelo estudo da perda do contato com a realidade e do autismo observado. De acordo com as idéias de Minkowski, julgamos que o disturbio inicial da esquizofrenia - do ponto de vista estrutural psicopatológico - reside na perda do contato vital com a realidade, que, por sua vez, se reduz a distúrbios da afetividade passíveis de tradução, em linguagem psicanalítica, como o resultado da retirada da libido da esfera real, passando ela progressivamente de objetai a narcísica: a libido, como fóco luminoso, deixa de iluminar os objetos exteriores (que por isso se tornam vagos e invisíveis) para iluminar fortemente o mundo interior, voltando novamente a funcionar os mecanismos infantis, total ou parcialmente, profunda ou superficialmente, transitória ou permanentemente, conforme a importância e as características da regressão. Em ambas as pacientes estudadas surge claramente a importância da perda do contato vital com a realidade, do autismo, na primeira sob o aspéto temporal e, na segunda, sob o aspéto espacial. Na maioria dos esquizofrênicos ha um comprometimento global das relações com o mundo, tanto das noções espaciais como das temporais, devendo-se então falar de autismo total.

Biotipo e doença mental. Considerações em torno das concepções de Kretschmer. Drs. Edgard Pinto Cezar e Coriolano R. Alves.

Os autores passam em revista as concepções biotipológicas de Kretschmer aplicadas á psiquiatria, verificando inicialmente a exatidão de seus postulados fundamentais, isto é, a estreita afinidade entre o tipo pícnico e a psicóse maníaco-depressiva e entre os tipos leptosômico, atlético e displásico com a esquizofrenia. Entretanto, diante das grandes modificações biotiológicas observadas em esquizofrênicos no decorrer das idades, a tendência de apresentarem características de pícnicos quando se aproximam dos 40 ou 50 anos, fáto este tambem observado entre os indivíduos normais, resolveram os autores rever a questão, levando em conta o fator idade na apreciação da frequência dos diferentes tipos constitucionais. Estudando 207 esquizofrênicos, classificaram-nos em grupos de idade em função dos tipos constitucionais, o mesmo fazendo com 100 doentes portadores de psicóse maníaco-depressiva, concluiram que o fator idade é de magna importância para qualquer estudo de biotipologia aplicado à medicina. O estudo das afinidades bioti-pológicas com as doenças mentais só tem valor quando processado no período inicial da incidência das moléstias, pois que o mesmo indivíduo pode sofrer com a idade, profundas modificações em suas características biotipológicas. Certos esquizofrênicos que acusam na mocidade o tipo leptosômico ou atlético podem, ao ultrapassar os 40 anos, tomar todas as características dos pícnicos. Talvez se pudesse dizer que o indivíduo, enquanto leptosômico ou atlético, propenderia para a esquizofrenia e, mais tarde, poderia adquirir afinidades para a psicose maníaco-depressiva, ao se tornar pícnico. Com a mudança do tipo somático operar-se-ia correlata modificação do temperamento.

Sessão ordinaria - 5. Fevereiro, 1943

PRESIDENTE - DR. ANDRÉ TEIXEIRA LIMA

Considerações sobre 400 casos tratados pelo método de Von Meduna. Drs. Mário Yahn e Eugênio Mariz Oliveira Netto.

Do estudo e da observação de 400 pacientes do 5.ºpavilhão feminino do Hospital Central de Juquerí, portadoras de psicoses diversas e tratadas pelas convulsões cardiazólicas, poude mais uma vez ser comprovada a eficácia do método de Von Meduna. Entre as psicóses assim tratadas predominavam os casos de esquizofrênicas (310), episódios delirantes de personalidade psicopática (24), psicóse maníaco-depressiva (21), psicóse auto-tóxica (16) e em menor número, episodio delirante em debil mental, delírio alucinatório crônico, psicóses nevrósicas-histeria, psicóses de involução, psicóses por lesão cerebral, epilepsia e psicóses hetero-tóxicas (alcoolismo). O estudo estatístico, baseado no tempo de duração da moléstia e nos resultados obtidos - remissão completa, remissão social, melhora, não influenciado, falecido - permitiu verificar varios fátos: no campo complexo da esquizofrenia, particularmente nos casos agudos, o número de altas por ano passou de 10 para 80; ainda mais animadores foram os resultados com as psicóses auto-tóxicas, principalmente dada a frequência com que elas evoluem para estados crônicos, pois houve 50% de remissões completas entre as 16 doentes tratadas, havendo grande influência do tempo de duração da moléstia; nas psicóses maníaco-depressivas as recidivas se mostraram muito frequentes e assim, conseguida uma remissão, não convem procurar consolidar os resultados mas interromper o tratamento e reservar para as recidivas as restantes injeções; no grupo das personalidades psicopáticas será o caso clínico que deve sugerir ou não a aplicação de séries completas ou de injeções esporádicas, de acordo com as tendências no caso em questão; quanto aos outros casos, a escassez do material observado não permitiu considerações de órdem geral.

Particularidades do eletro-diagnóstico nas afecções crônicas do corno anterior da medula. Drs. Carlos V. Savoy e Maria E. Bierrenbach Khoury.

Este trabalho será publicado no proximo número desta revista.

Valor semiológico da medida do ângulo de convergência em patologia neuro-psiquiátrica. Apresentação de um aparelho do autor. Dr. Cândido da Silva.

Dentre os movimentos oculares conjugados, o de convergência é o mais vulneravel. O estudo clínico dos movimentos associados mostra a grande frequência dos distúrbios da convergência em relação aos demais movimentos conjugados. Mede-se a amplitude de convergência pela distância que uma pequena luz, aproximada dos olhos, provoca diplopia cruzada. Em indivíduos normais essa diplopia surge entre 8 e 10 centimetros. Sempre que existir paresia de convergência, e na mesma razão, cresce tambem a distância. No diagnóstico cumpre diferenciar a paresia da insuficiência de convergência (míopes, exofóricos, amblíopes de um ou de ambos os olhos, crianças em período de crescimento, exgotados, etc). Sendo grande a casuística sobre o assunto, o autor resolveu construir um aparelho para medir, com exatidão, a amplitude da convergência. O aparelho apresentado, de facil construção e manejo, permite, com a troca de um dispositivo, a medida da acomodação em dioptrias.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1943
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