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ANÁLISES DE LIVROS

NORMAL AND PATHOLOGIC DEVELOPMENT OF THE HUMAN BRAIN AND SPINAL CORD. MARIA DAMBSKA, KRYSTYNA E. WISNIEWSKI. ISBN 0 86196 591 4. Um volume (20 x 24 cm) em brochura, com 192 páginas. London, 2000: John Libbey & Co. Ltd. (PO Box 276, Eastleigh SO50 5YS England UK; e-mail johnlibbey@aol.com)

Trata-se de uma obra essencialmente de caráter didático, porque aborda aspectos básicos da morfogênese das estruturas do sistema nervoso central (SNC) fetal em desenvolvimento, acompanhando o texto com ilustrações representadas por desenhos esquemáticos das estruturas e fotos de cortes anatômicos macroscópicos bem como histológicos, microscópicos e ultraestruturais.

Essencialmente descritivo e sequencial, o texto fornece material completo para o estudo da embriologia e o desenvolvimento fetal do SNC, tanto por parte do estudante de medicina como do patologista, neuropediatra e pediatra em início de especialização.

A organização da obra em duas partes, uma enfocando o desenvolvimento normal e a outra o anormal, praticamente abrangendo de uma forma resumida todos os tipos de malformações isoladas e sindrômicas, e com as respectivas ilustrações, torna a obra muito útil para o docente na organização de aulas sobre malformações de uma forma geral ou específica.

Considerei particularmente interessante o enfoque do desenvolvimento da mielinização, vascularização, meninges e ossos do crânio, nas páginas finais da primeira parte, e dos distúrbios da migração neuronal na segunda parte. Entretanto convém salientar que a obra analisa fundamentalmente a morfogênese e histogênese normal e patológica do SNC fetal, referindo-se apenas superficialmente a aspectos de etiopatogenia, sobretudo os ligados à genética molecular, aspectos clínicos e de neuroimagem.

As referências bibliográficas, extremamente abundantes, permitem ao leitor se inteirar destes demais aspectos, completando a abordagem do assunto.

UMBERTINA CONTI REED

EARLY DIAGNOSIS OF ALZHEIMER'S DISEASE. LEONARD F. M. SCINTO, KIRK R. DAFFNER (eds). ISBN 0 89603 452 6. Um volume (18,5 x 26 cm) encadernado, com 359 páginas. Totowa, 2000: Humana Press (999 Riverview Drive, Suite 208, Tutowa NJ 07512 USA; Fax 1973 256 8341; e-mail humana@humanapr.com)

O diagnóstico precoce da doença de Alzheimer (DA) torna-se cada vez mais importante, na medida em que começam a surgir drogas reconhecidamente eficazes para o tratamento da doença. Frente aos substanciais avanços e à diversidade de métodos diagnósticos que têm sido avaliados nos últimos anos, uma revisão adequada sobre o tema era desejável. É exatamente neste contexto que se insere o livro editado por Leonard Scinto e Kirk Daffner, Early Diagnosis of Alzheimer's Disease.

Os editores são pesquisadores com grande experiência na área e selecionaram os tópicos mais relevantes sobre o tema. Participam também do livro outros investigadores, com importantes contribuições nos campos da clínica, biologia e genética molecular e da neuroimagem.

Após uma Introdução geral, em que são apresentados os tópicos a serem discutidos nos capítulos subsequentes, segue-se capítulo que discute a atual conduta diagnóstica clínica na DA, oferecendo algoritmo bem estruturado de como investigar um caso com suspeita de demência, além de incluir os critérios diagnósticos de demência e de DA vigentes e os testes de avaliação cognitiva global mais utilizados na prática clínica.

A patologia, a fisiopatologia e os aspectos relacionados a testes genéticos são apresentadas nos três capítulos seguintes. No primeiro, destacam-se os critérios para o diagnóstico anátomo-patológico; no segundo é feita uma excelente revisão sobre os mecanismos moleculares envolvidos na patogenia da doença. Uma breve revisão da genética molecular da DA é apresentada a seguir, com recomendações formais de quais testes genéticos e em que situações devem ser utilizados.

Posteriormente o livro discute o papel dos métodos de neuroimagem estrutural e funcional no diagnóstico precoce da DA, com ênfase nas medidas volumétricas por ressonância magnética das estruturas mesiais temporais, particularmente dos hipocampos.

O tema dos marcadores biológicos é discutido no capítulo seguinte, em que uma extensa revisão é feita sobre o assunto. O tópico principal deste capítulo diz respeito à detecção de proteínas específicas no LCR e no sangue, e a possíveis marcadores imunológicos e inflamatórios.

A experiência com o teste de reação pupilar à tropicamida, método proposto há alguns anos pelos próprios editores do livro, é abordada a seguir. São agregados novos dados sobre o assunto, sendo de particular interesse a discussão sobre a fisiopatologia, com dados sobre a anatomia-patológica do acometimento do núcleo de Edinger-Westphal na DA.

O livro é completado por dois últimos capítulos, nos quais são abordadas, respectivamente, as implicações do diagnóstico precoce para o desenvolvimento de novas drogas para o tratamento da DA e uma importante discussão sobre aspectos éticos relacionados à testagem pré-sintomática.

Ao final, sob forma de apêndice, são reproduzidas as recomendações de consenso do grupo de trabalho do Instituto de Pesquisa Ronald e Nancy Reagan sobre marcadores moleculares e bioquímicos para o diagnóstico da DA.

No geral o livro é excelente. Pelas suas características, é recomendado principalmente para os clínicos que lidam com pacientes idosos e portadores de demência, bem como para os pesquisadores que trabalham na área.

PAULO CARAMELLI

CARING FOR DEPRESSION. KENNETH B. WELLS, ROLAND STURM, CATHY D. SHERBOURE, LISA S. MEREDITH. Um volume (15 x 23 cm) com 252 páginas. ISBN 0-674-09730-0. Cambridge, 1997: Harvard University Press, a Rand Book (79 Garden Street, Cambridge, Mass 02138 USA).

Os Estados Unidos estão sofrendo um grande problema na área da saúde. Como organizar de uma maneira que não seja exorbitantemente cara para os pacientes e seus familiares, os serviços de saúde num país que não tem um sistema governamental de saúde. Além da bem conhecida dedicação psicológica dos americanos para o "free enterprise system" (capitalismo livre), existem politicamente poderosas empresas de seguros de saúde, farmacêuticas e outros grupos financeiros que, até agora, evitaram que os Estados Unidos tenham um sistema governamental de saúde; tais sistemas existem na Grã-Bretanha e na maioria dos países da Europa Ocidental desde 1948. A única exceção nos Estados Unidos é o programa Medicare e Medicaid que fornece todos os tratamentos médicos que pessoas com mais de 65 anos precisem.

Este livro trata desta situação, com atenção especial ao tratamento das depressões. Os autores estudaram durante quatro anos 974 pacientes deprimidos de Boston, Chicago e Los Angeles. Os diversos tipos de questionamento e os critérios neste estudo estão registrados num apêndice de 61 páginas; 250 referências, publicadas nos últimos 15 anos, completam o livro.

Os autores incluíram, entre os seus trabalhos, dados sobre (a) os efeitos da depressão na eficiência de indústria e firmas comerciais e (b) os impactos de depressões em pacientes, suas famílias, empregadores e a comunidade em geral. O total do custo anual de depressões nos Estados Unidos é de 44 bilhões de dólares.

Em breve, o livro demonstra que o povo americano merece um melhor sistema de saúde, e que a situação atual é lamentável, ineficiente e cara. Somente 4,5 em cada 10 pessoas deprimidas recebem uma dose eficaz de remédios antidepressivos; esta porcentagem é bem melhor quando os pacientes são tratados por psiquiatras, mas os programas das empresas de saúde ("managed care", ou tratamento gerenciado) tentam colocar a máxima porcentagem possível deste tratamento na mão de médicos não psiquiatras, porque as empresas pagam a eles menos pelo seu trabalho.

Leitores brasileiros vão ter a surpresa de descobrir que o tratamento de uma depressão por medicamentos e períodos de aconselhamento, com duração entre 3 e 10 minutos, custa, em geral, 4000 dólares (5000 reais no câmbio atual), numa base ambulatorial nos Estados Unidos. Exatamente o mesmo tratamento no sul e sudoeste da Bahia, onde nós clinicamos, custa mais ou menos 10% desta importância, feito por psiquiatras.

Mesmo assim, uma metade destes 974 pacientes, ao fim de dois anos, ainda continuava ou estava com nova depressão. Suicídio é a sétima maior causa de morte nos Estados Unidos, e é maior em adolescentes e adultos jovens. A maioria destes suicídios é causada por depressões. Et cetera. Et cetera.

O Brasil tem muitos problemas no campo de fornecimento de serviços de saúde, mas este livro indica que nós não vamos achar soluções nos sistemas dos Estados Unidos, ao menos na área das depressões.

A. H. CHAPMAN

DJALMA VIEIRA E SILVA

ELETRONEUROMIOGRAFIA: CONCEITOS DE IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA MÉDICA. JOÃO ARIS KOUYOUMDJIAN. Um volume (16 x 23 cm) em brochura, com 54 páginas. São José do Rio Preto, 1999: edição do autor (Avenida Bady Bassit 3896, 15025 São José do Rio Preto SP; Fax 17 232 7757; e-mail: jariz@zaz.com.br).

Com apoio de Novartis, Kouyoumdjian procedeu à revisão do primeiro texto desta mongrafia, primeiramente publicada em 1995. Trata-se de obra de caráter didático, voltada ao treinamento dos que se especializam em neurologia e áreas a ela afins.

A matéria é distribuída em dez capítulos: introdução e generalidades, lesões traumáticas do nervo periférico, polineuropatias, neuropatias compressivas, paralisia facial periférica, miastenia gravis e síndrome miastênica, doença do neurônio motor, radiculopatias, miopatias, doenças neuromusculares associadas ao HIV. A esses capítulos segue-se importante sinopse dos principais objetivos da avaliação eletrofisiológica em algumas síndromes periféricas. Finaliza o livro uma lista de indicações bibliográficas essenciais ao tema.

A necessidade didática ditou a clareza e a objetividade de cada um dos capítulos. Ao mesmo tempo em que serve de guia de estudo dos da matéria, esta obra serve de estímulo ao próprio autor para continuar. Com esta monografia, assume ele - a meu ver - o compromisso de preparar um livro sobre o tema e que contenha a análise elaborada de suas muitas contribuições à eletroneuromiografia como, particularmente, aquelas voltadas às neuropatias compressivas e, de modo todo particular, à síndrome do túnel do carpo.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

DOENÇA DE PARKINSON: ESTRATÉGIAS ATUAIS DE TRATAMENTO. LUIZ AUGUSTO FRANCO DE ANDRADE, EGBERTO REIS BARBOSA, FRANCISCO CARDOSO, HÉLIO AFONSO GHIZONI TEIVE. Um volume (16 x 24 cm) encadernado, com 215 páginas. ISBN 85-561-. São Paulo, 1999: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01326-010 São Paulo SP; Fax 11 251 4300; e-mail lemospl@netpoint.com.br).

A reprodução de um quadro de Charcot abre este livro sobre a doença de Parkinson, em singela homenagem dos autores ao vulto da Salpêtrière a quem se atribui a adoção do epônimo e do primeiro tratamento até certo ponto racional da enfermidade primeiramente descrita por James Parkinson como paralisia agitante, em 1817. Com um capítulo da farmacologista Karin M. Jorga, em nove outros capítulos os autores apresentam a matéria deste compêndio que enfoca o assunto à luz das medidas de terapêutica e suas eventuais complicações.

A propósito da doença que leva seu nome, a vida de James Parkinson é esmiuçada no Capítulo 1, que se completa com dados sobre o desenvolvimento do conceito de parkinsonismo e das abordagens terapêuticas medicamentosas e cirúrgicas através dos tempos, com as respectivas intercorrências e progressos (Barbosa e Teive). A fisiopatologia da doença e das suas flutuações induzidas por levodopa são analisadas no Capítulo 2 (Cardoso) e, no Capítulo 3 (Teive), os fatos, os mitos e as quimeras acerca da neuroproteção, com a necessária ênfase ao que teve um início polêmico, senão cientificamente incompleto. Barbosa (Capítulo 4) analisa com propriedade os agonistas dopaminérgicos e Jorga (Capítulo 5), o papel do tolcapone.

A vivência clínica guiou os autores no preparo dos magistrais capítulos sobre estratégias no tratamento da enfermidade no paciente jovem (Capítulo 6, Andrade) e no paciente idoso (Capítulo 7, Cardoso), assim como sobre as estratégias do tratamento das complicações não-motoras e disautonomias (Capitulo 8, Teive) e das complicações neuropsiquiátricas (Capítulo 9, Barbosa). Por último, o tratamento cirúrgico é avaliado segundo critérios clínicos (Capítulo 10, Andrade).

As referências bibliográficas estão listadas no final de cada capítulo do livro e este se encerra com índice remissivo de assuntos.

Como Andrade salienta na Introdução, esta obra é uma contribuição à comunidade neurológica resultante da experiência que seus autores adquiriram ao longo de anos dedicados à pesquisa e ao convívio com os pacientes. A meu ver, os autores alcançaram o seu propósito e, mais, demonstraram sua capacitação na matéria. Esta capacitação se reflete neste livro e, sem sombra de dúvida, ele se iguala ao que de mais notável podemos encontrar na literatura médica contemporânea em plano internacional.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

EPILEPSIA. CARLOS A. M. GUERREIRO, MARILISA M. GUERREIRO, FERNANDO CENDES, ISCIA LOPES-CENDES. Um volume (22 x 29 cm) encadernado, com 419 páginas. ISBN 85-7450-. São Paulo, 2000: Lemos Editorial (Rua Rui Barbosa 70, 01326-010, São Paulo SP; fax 11 251 4300; e-mail lemos@lemos.com.br).

Esta é a terceira edição deste livro-texto já tradicional no meio neurológico brasileiro. Seus editores são reconhecidas autoridades no assunto e suas contribuições têm projeção internacional, a partir de sua sede de trabalho, a UNICAMP. Reunem nesta presente edição os esforços de muitos dos mais destacados pesquisadores brasileiros em epileptologia, 37 ao todo. Buscam uma temática multidisciplinar, refletindo como as epilepsias devem ser presentemente abordadas - para o que chamam a atenção os editores no Prefácio.

São 34 os capítulos em que a matéria é distribuída. A partir de conceitos básicos sobre a epileptogênese e a eletrencefalografia, sucedem-se capítulos acerca das diferentes formas e apresentações das epilepsias no adulto e na criança, sua abordagem medicamentosa e eventualmente cirúrgica, condições desencadeantes particulares ou próprias ao nosso meio. As citações bibliográficas encerram cada um dos capítulos, e índice remissivo completa o livro.

Levando em consideração que a atual classificação da ILAE para as epilepsias e as síndromes epilépticas está sendo reavaliada, o conteúdo deste livro oferece elementos precisos. Exemplificam esta assertiva a matéria que consta do capítulo inicial, Considerações Gerais, da autoria dos quatro editores, sobretudo quanto aos fatores prognósticos. Ainda, a matéria reunida acerca das contribuições dos modelos experimentais para a compreensão da epileptogênese, preparado pela escola de Esper Abrão Cavalheiro, por ele e Emílio E. G. Sanabria.

Por outro lado, a importância de patologias regionais e endêmicas é devidamente salientada, como quanto à neurocisticercose. Ainda, são abordados com ênfase temas relativamente novos em nosso meio, como os relacionados à qualidade de vida do epiléptico. É de salientar também a devida importância dada à terapêutica das epilepsias no livro. Este assunto motiva a maioria dos capítulos e é a razão específica de outros, tanto medicamentosa como cirúrgica, tanto de manutenção como de eventos críticos do tipo de estado de mal epiléptico e da fronteira que ainda é a convulsão febril na infância. Com os editores, prepararam ou participaram do preparo dos capítulos sobre este grupo de assuntos: Alexandre Cunha Bastos, Maria Elisa Calcagnotto, Edwaldo E. Camargo, Carlos José Reis de Campos, Maria Fernanda C. Reis de Campos, Tânia A. M. Cardoso, Jaderson Costa da Costa, Alberto L. C. da Costa, Benito P. Damasceno, Luciano DePaola, Elba C. S. C. Etchebehere, Regina Maria R. Fernandes, Eliana Garzon, Marleide da Mota Gomes, Eliane Kobayashi, João Pereira Leite, Andréa A. Leone, Maria Luíza G. de Manreza, Renato L. Marchetti, Luiz Eugênio A. Mello, Li Li Min, Maria Augusta Montenegro, Maria Valeriana L. Moura-Ribeiro, Eliseu Paglioli Neto, André Palmini, Mirna W. Portuguez, Paulo Cesar Ragazzo, Américo C. Sakamoto, Katia Maria R. S. Schmutzler, Luciano N. Serafini, Anna Elisa Scotoni M. da Silva, Carlos Eduardo Silvado, Elisabete Abib P. de Souza, Jerônimo de Macedo Veras, Elza Márcia Targas Yacubian. Um desfile de nomes do melhor destaque na epileptologia pátria e na Liga Brasileira de Epilepsia (LBE).

Desnecessário é mencionar aqui ser este livro de interesse de todos os neurologistas. Ele se impõe por si só. Ele honra a neurologia de nosso país e mostra que seus editores e colaboradores - sob a égide da LBE - se encontram maduros para o preparo de uma edição internacional do livro, em inglês.

ANTONIO SPINA-FRANÇA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Dez 2000
  • Data do Fascículo
    Set 2000
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